quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mais Adivinhas

Adivinhas Embaralhadas


Esse é um material de que gosto muito. Trata-se de um kit estruturado de adivinhas com suas respectivas respostas apresentadas em letras móveis embaralhadas. Coloco as letras que compõem cada resposta dentro de um envelopinho com a pergunta colada nele. Abrindo os envelopes, surgem as letras que formam as respostas.

Gosto de usar esse material em minhas oficinas, pedindo para que cada um leia sua adivinha e tente responder. Quem conseguir, abre o envelope para confirmar e quem não souber responder, faz o mesmo e tenta descobrir a resposta a partir das letras que estavam dentro do envelope. Esse é um jeito legal de brincar com os alunos que já sabem ler e escrever com autonomia.
Trata-se de uma atividade de compor palavras, de escrita. Saber a resposta das adivinhas oralmente é necessário em muitos casos, mas para quem tem bom domínio de leitura de palavras, as letras podem ser dadas sem que saibam a resposta de antemão, pois a partir delas, podem tentar visualizar possíveis palavras considerando a pergunta da adivinha.
Entretanto, para os que não têm ainda o domínio da leitura e escrita convencional, é preciso que alguém leia as adivinhas, e é fundamental que os alunos saibam a resposta oralmente de antemão. Assim, vão saber que palavra têm que montar com as letras disponíveis no envelope.

Desse modo, para os alunos que apresentam escritas alfabéticas ou silábico-alfabéticas mais avançadas, os envelopes com as letras móveis podem ser dados sem que saibam as respostas. O desafio, além da leitura, é encontrar a resposta de acordo com as letras que são fornecidas, e montar as palavras sem deixar sobrar nem faltar nenhuma letra. A ortografia das palavras é a ênfase aí e, para os que estão escrevendo sob uma hipótese silábico-alfabética é muito interessante como desafio ter que usar todas as letras. 

Os alunos com escritas silábico-alfabéticas mais hesitantes, ainda com muita presença de segmentos escritos silabicamente, podem ser informados anteriormente da resposta das adivinhas propostas. Desse modo, podem apoiar-se no oral para encontrar as letras que formam as repostas, montando a palavra.

O desafio aí é ajustar o oral ao escrito e usar todas as letras, sem deixar faltar ou sobrar nenhuma. As intervenções do professor podem, nessas situações, ser fundamentais para provocar avanços na montagem da palavra.

Alunos que têm hipóteses silábicas podem, sabendo as respostas de antemão, montar, de preferência em duplas, as palavras segundo sua hipótese. Nesse caso, o desafio é buscarem as letras de que precisam apenas no universo das fornecidas, o que leva a usarem um menor repertório de possibilidades de letras para escrever as respostas (que sabem de cor).

Isso é particularmente importante para os que não levam em conta com muita firmeza o valor sonoro das letras ao montar suas escritas silábicas. Para esses é melhor dar um envelope por vez, o desafio pode ser grande.

Para os que consideram o valor sonoro das letras ou de algumas delas, pensar nos agrupamentos é bem interessante, pois, ao tentarem montar cada resposta em duplas, se essas duplas forem bem pensadas ao se planejar a atividade, as hipóteses de escrita de um e de outro aluno podem render discussões interessantes.

Por exemplo, se a resposta da adivinha é PIPOCA e fulano acha que começa com P e beltrano que começa com I, com boas intervenções para que cada um justifique sua hipótese, pode-se chegar à conclusão de que a sílaba PI tem duas letras, P e I, e não apenas uma, P ou I. Assim, POA ou IOA, para a palavra "pipoca" pode se tornar para eles insuficiente. Como o fato de a sílaba PI ter duas letras entra em choque com a hipótese geral de que para cada sílaba têm-se uma letra, muita discussão interessante pode surgir.

A depender do trabalho das duplas e do nível das hipóteses silábicas em questão, o professor pode desafiá-las a inserir as outras letras do envelope em suas palavras. Assim, no envelope da adivinha cuja resposta é PIPOCA, tem-se 6 letras, se usaram POA ou PIOA, onde caberia colocar o outro P e o C que sobram? Cabe? Deixar que reflitam, ver até onde vão, o que argumentam, mas não forçar que cheguem a uma resposta convencional. Já são, só nisso, muitas descobertas, pontos de conflito cognitivo, fumacinhas, coisas para pensar...

Para uma turma em que grande parte pensa sob um sistema silábico de escrita, pode ser interessante começar com adivinhas cujas respostas apresentem sílabas canônicas, padrão CV (consoante-vogal), como PIPOCA, BURACO, para favorecer a reflexão sobre os sons presentes das sílabas, nesse tipo de atividade. Mas nada impede que os desafios se apresentem, como o que fazer com o H que sobrar na palavra BARALO (baralho)? Não é interessante reforçar a ideia, que podem cultivar, de que as sílabas são sempre no padrão CV.

É bom ressaltar que para fazer essa atividade, poderiam ser usadas letras móveis normais, para responder a adivinhas orais, mas o material estruturado tal qual apresentado aqui com esse kit permite que, ao montar as respostas, o aluno possa controlar sua própria produção, pois as letras da palavra que responde às adivinhas já estão dadas de antemão.

Para crianças já mais avançadas em relação à compreensão do funcionamento alfabético, uma sugestão é fazer o kit com adivinhas que elas ainda não conheçam, que não saibam as respostas oralmente, então, com o repertório de letras dados no envelope, precisam pensar que palavra pode ser montada. Ela vai controlando tanto as letras quanto o sentido do texto, para tentar achar a resposta. É muito interessante. É como nós, leitores proficiente, fazemos. Outra proposta é, para essas crianças, dar as letras móveis de todo o kit embaralhadas, assim, o repertório de letras para montar cada palavra não está dado de antemão, e ela terá que buscar as que precisa para escrever as palavras. 

Percebem que, mesmo sendo um material que desafia enormemente os que estão na fase de se apropriar do funcionamento alfabético do sistema, pode também ser adaptado tanto para os que ainda não estão nessa fase e os que já compreenderam o princípio alfabético? 

Nunca é muito lembrar que antes de qualquer exploração das adivinhas por escrito - como de qualquer outro texto da tradição oral - seja com o material, seja em atividades na folha ou no quadro, é preciso uma rica exploração oral, brincando, memorizando, dizendo e, no caso das adivinhas, desafiando os outros, adivinhando... Se não, não faz sentido algum, já que o valor desses textos e sua circulação relacionam-se a sua natureza oral. Trabalhar a oralidade é estar na linguagem, enriquecê-la, criar repertório, formar-se sujeito. Inclusive sujeito leitor e que escreve... Lembrem-se sempre disso!
Bom, gente, por hoje é isso.
Lica

27 comentários:

  1. Pessoal, esse joguinho é muito legal, as minhas crianças adoram!
    Fiz de início com caixinhas de fósforos em vez de envelopes, lembra, Lica? Era para durar mais. É legal também. Mas a fonte do texto fica pequena e eu precisava de mais espaço para guardar tanta caixinha.
    Fiz de envelopinhos também.
    Façam os seus, vele a pena!
    Leila

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  2. Pessoas,
    Essa Lica é 10 mesmo!!! Além de trazer a ideia deste material maravilhoso, ainda nos mostra as estratégias de uso, tão importantes! Para mim é fundamental ter consciência do que se faz, pra quem se faz e porque se faz! Só assim há aprendizado!
    Beijos!

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  3. Oi, meninas!
    Para mim, só vale à pena se for assim, bem explicadinho... Se é um blog aberto e meu intuito é compartilhar, acho que devo isso aos que estão longe e não tem, ainda, a oportunidade de participar de uma oficina ao vivo, né?
    Obrigada pela participação,
    Lica

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  4. Lica,
    Você consegue isso muito bem! Parabéns!
    E em tempos folclóricos essa caixinha de adivinhas caem muito bem!
    Beijos,

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  5. Minha Eterna pró!!
    Quanta saudade.A sua generosidade para conosco não tem medição...Obrigada!!Seguindo o blog fica fácil.Sinto falta da oficina.Quando vai acontecer????
    Beijoss
    Karina

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  6. Ô, meninas, obrigada,
    Karina, querida, também sinto falta das oficinas. Só tem dado tempo para as mais pontuais, mas estou me programando para fazer uma daquelas mais longas e aconchegantes, que será algo tipo "Literatura e Alfabetização". Quero fazer essa só com as "Caixinhas de Livros" e os "Arquivos Poéticos", uma nova invencionice que estou aqui matutando. E a discussão sobre o tema, lógico.
    Espero que dê para ser logo!
    Beijos,
    Lica

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  7. Agradeço muito ser bem explicadinho....
    Pois moro em São Paulo e ainda não tive a oportunidade de participar do curso e com o blog e claro com a ajudinha da Lica, tenho conseguido confeccionar os jogos e realmente utiliza-los em sala com os alunos...
    No final de semana fiz e trabalhei ontem este jogo...
    Os alunos amaram... Fiquei tão feliz em ver a aprendizagem acontecer de uma maneira tão prazerosa e verdadeiramente significativa...
    Recomendo...
    Agradeço muiiiiiiiiiiiiiiito por tudo....

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  8. Oi, Lilian!
    Muuuuuuuito obrigada por seu comentário!
    Assim é mais fácil as pessoas que me escrevem acreditarem que podem ir fazendo seus próprios acervos também, mesmo de longe.
    Viu, minha gente?
    É uma grande contribuição sua, viu, Lilian?
    Além disso, o feedback do uso dos materiais com crianças é sempre, sempre, muito bem vindo. É o termômetro!
    Um abraço grande,
    Obrigada!
    Lica
    P.S. Tô gostando de ver você continuando a fazer mais e mais kits!

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  9. Eu é que agradeço...
    Um grande abraço....

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  10. Simples e genial. Funciona muito bem.
    Fiz o material com adivinhas que os alunos já conheciam e apliquei em sala. Foi muito aproveitado por todos e a participação deles na aula foi 100%.
    Obrigada pela dica, Lica. Muito bom.
    Parabéns pelo seu trabalho!
    Eliane

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  11. Obrigada, Eliane.
    Seja bem vinda!
    Que bom que já fez, já testou e já aprovou.
    Na sala de aula é que se confirma o valor de materiais assim, por vezes muito simples mesmo. Simples, mas muito produtivos, se fizermos um trabalho legal com os alunos, os textos, os kits. Que bom que foi bom!
    Apareça sempre!
    Lica

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  12. Achei o seu blog demais. Adorei a ideia da caixa de advinhas com os envelopes. Em que momento da rotina eu poderia utilizar essa atividade?

    Obrigada e parabens pelo seu trabalho

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  13. Oi, Elaine,
    Obrigada. Apareça, tem sempre novidades.

    As atividades com os materiais produzidos a partir de textos da tradição oral, como as adivinhas, são atividades de leitura e escrita como quaisquer outras e, portanto, cabem na rotina nos momentos reservados para isso mesmo. Promovem a reflexão sobre a língua em contexto de aprendizagem da linguagem.

    É importante considerarmos esses jogos e materiais como verdadeiros desafios à reflexão e, embora lúdicos, prazerosos, não devem ser vistos apenas como recreação. Aliás, nem mesmo os jogos e brincadeiras em geral são menores que as outras atividades escolares...

    Do mesmo modo, cabem bem em qualquer momento do ano e não apenas próximo à semana do folclore ou coisa do gênero. São parte de nossa herança cultural, da memória coletiva de nosso país, estado, cidade, familiariza as crianças com a sensibilidade da poesia e traz o jogo, o desafio, o "encantamento da linguagem".

    Em breve a brochura sobre esse tema será disponibilizada digitalmente, trazendo algumas dessas discussões.
    Abraço,
    Lica

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  14. Lica,
    Pensei de adaptar o joguinho para um paciente que tem trocas na escrita, colocar do envelope um letra a mais do que a palavra correta, por exemplo: PATO colocar a Letra B também, para ver se a criança monta certo!!! Bjão

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  15. Oi, Letícia,
    Bom, mas para saber qual é a palavra, é bom ter, por exemplo, a imagem do pato na frente do envelope. Afinal, "bato" também é uma palavra, não é?
    Você pode também propor aquela atividade de montar palavras passando uma tira por dentro de outra, trocando as letras iniciais que completam a parte fixa de uma palavra: ATO, por exemplo: Rato, pato, gato, mato, bato, cato... Procurei uma imagem para te indicar, mas não achei...
    Que bom que você está criando seus próprios materiais de acordo com as necessidades das crianças que vc cuida...
    Um abraço,
    Lica

    P.S. Indico também os dois posts aqui no blog:

    http://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com.br/2010/03/par-minimo.html

    http://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com.br/2013/02/troca-letras-e-palavras-flutuantes.html

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  16. Adoro os seus jogos e suas explicações. Você já sabe que sou sua fã.
    Quero é ter mais tempo e assim seguir todas as dicas e construir todos jogos.
    Beijos,
    Lica.
    Gina Carla Reis.

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  17. Devagarinho o acervo vai se formando Gina!
    E em breve, vou providenciar uma oficina!
    Bjos
    Lica

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  18. Achei maravilhoso a ideia da caixinha e da resposta está embaralhada.
    Ideias como essa favorecem cada vez mais o processo de aprendizagem das crianças, além do professor sempre está mediando e acompanhando todo o processo.
    Além da oralidade e escrita, as advinhas também favorecem o raciocínio e a logica das crianças.
    Outra possibilidade que também seria muito legal, era a inclusão de imagens.

    Parabéns!

    EDCB85- Alfabetização e Letramento
    Mariana Costa.

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    1. Sim, tem materiais com as adivinhas, a resposta escrita e a resposta em imagem...
      Adivinhas é muito bom para muita coisa!!!
      Liane

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  19. Os jogos de adivinhas embaralhadas abrangem uma vastidão de situações e possibilidades. Podem ser usados desde crianças pré-silábicas até as alfabetizadas. Eles trabalham além da situação ortográfica pois podem exercitar aspectos psicológicos como paciência, persistência e interação social. Podem e devem ser usados em outros ambientes além do escolar; com a família, amigos e nos processos terapêuticos em geral ( fonoaudiológicos, psicológicos, fisioterapêuticos etc). Para a produção de cada kit de adivinha embaralhado pode-se contextualizar com cada situação : interpretação de texto, temas específicos (animais, frutas etc), repertório de palavras conhecidas pelo grupo etc.
    Sempre usei com Pedro (meu filho) métodos de aprendizagem e estímulos mais informais por serem mais atrativos e consequentemente mais fácil de segurar a atenção. Os adivinhas nos acompanhavam no carro enquanto viajávamos e íamos criando as perguntas e o tempo de viagem era preenchidos com uma boa dose de aprendizagem, criatividade e estímulo. A ampliação do vocabulário é muito nítida quando se brinca de aprender e a atividade cria uma boa habilidade para a formação das palavras. Adivinhas são bem vindos em todas as idades, com diversos temas, para qualquer grupo e especificidade e em vários níveis de dificuldade. Obrigada Lica por mais esse conteúdo compartilhado. Eu sou Bruna Mariano de EDCB85

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    1. Bruna,
      Fiquei confusa e curiosa de como você pensou que esse material, estruturado como está, pode ser usado por crianças pré-silábicas, que ainda não compreenderam que a escrita nota a língua falada...Você poderia explanar mais sobre isso?
      Vejo como possibilidade apenas de cuidarem do repertório de letras e irem entregando as letras pedidas pelas crianças que já podem, de fato, seja silabicamente ou alfabeticamente, montar as palavras. Não vejo outra possibilidade de poderem brincar com o material. Você vê? Fiquei curiosa...

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    2. Acho que pensei em uma coisa e digitei outra. Seria desde as crianças silábicas até as alfabetizadas, e em várias faixas etárias pode-se jogar com as adivinhas embaralhadas!

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  20. Gostei muito do post sobre adivinhas. Alem de apresentar um material simples de fácil confecção, traz inúmeras possibilidades para sua utilização. Todas as ideias apresentadas são muito validas e inspiradoras, não tem como não desejar está em sala de aula para trabalhar com esse material.
    Adriana Araujo
    EDCB85- Noturno

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  21. Vamos lá, Adriana!
    Além de usar o material, manter acesa a chama dessa nossa rica herança cultural brincante! As adivinhas! Meu convite a vocês é esse...

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  22. FERNANDA OLIVEIRA RIBEIRO
    EDCB85 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO - 2019.2 - DIRUNO

    Oi pró!
    Gosto muito das postagens pois são bem explicadas e nos possibilita visualizar a forma que podemos trabalhar.
    É sempre bom pesquisar aqui no blog esses materiais pois a senhora sempre pensa nas fases e níveis de alfabetização de cada criança e traz possibilidades de como adaptar a mesma atividade para a especificidade de cada uma.
    Com a nossa atividade avaliativa em grupo, percebo que a maior dificuldade que estamos encontrando é a de poder pensar uma única atividade (trava-línguas) para uma única turma de alfabetização (em que nelas existem vários níveis de alfabetização entre as crianças).
    Mas acredito que quando o trava-línguas, por exemplo, já está no vocabulário/dia-a-dia da criança podemos fazer como a senhora, pensar nas crianças que ainda estão na fase fonológica e nas que já são alfabéticas.
    Beijinhos!

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    1. Oi, Fernanda!
      Os trava-línguas são muito bons para quando, no processo de apropriação da escrita alfabética, as crianças podem ser desafiadas a pensar nas aliterações (esses sons que se repetem e, em especial, os que se repetem no início de palavras). Os trava-línguas chamam atenção para essas unidades menores que as sílabas, como os encontros consonantais, os fonemas...
      Vocês viram o post sobre fonemas e sobre trava-línguas, não?
      Lá explica direitinho!

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