quinta-feira, 4 de julho de 2019

AULA ABERTA



Essa postagem refere-se a parte do estudo que fizemos no componente curricular EDC B85 – Alfabetização e letramento, na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (FACED/UFBA), no semestre de 2019.1. No estudo do campo atual das concepções de alfabetização e dos conceitos de alfabetização e letramento, geralmente articulamos as instâncias das teorizações, das políticas públicas e das concretizações na prática escolar. Esse estudo, esse semestre, envolveu a contextualização dessas discussões no cenário atual das políticas de alfabetização, que envolve desde a criação da Secretaria da Educação no MEC, a indicação de Carlos Nadalim como secretário, até a publicação do Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019, que instituiu a Política Nacional de Alfabetização, indicando uma varredura do letramento e uma redução da dimensão fonológica, fundamental na alfabetização, à consciência fonêmica.

A nomeação de Carlos Nadalim, youtuber que defende a educação familiar e o método fônico sintético como única metodologia válida de alfabetização, foi comemorada pelos defensores da abordagem fônica e criticada por profissionais do campo. A própria Magda Soares – atacada diretamente pelo youtuber – veio à mídia se manifestar, em duas entrevistas contundentes, aqui e aqui. A Associação Brasileira de Alfabetização – ABAlf lançou um Manifesto direcionado ao Ministro da Educação, questionando a indicação de um método único pelo MEC.  Essa discussão você pode ver aqui mesmo no blog, no post de contextualização, aqui

Como o conteúdo do nosso estudo é a alfabetização e o letramento, acompanhamos esses acontecimentos pela mídia, estudamos o campo das concepções de alfabetização, e uma das referências que tomamos para refletir sobre esse campo conceitual e essas polêmicas foi um dos vídeos do canal de Carlos Nadalim, intitulado “Letramento, o vilão da alfabetização”, anterior a sua indicação ao cargo no MEC. Por tratar, justamente, de alfabetização e letramento, nos pareceu importante nos dedicar a analisar esse vídeo. Uma análise detalhada do vídeo, com estudo da temática, está aqui, no blog.

A nossa indignação foi tamanha, diante das afirmações, da animosidade e dos equívocos conceituais desse vídeo - equívocos relativos também ao campo que ele defende - que muitas das produções dos estudantes do componente se apoiaram nas críticas ao pensamento reducionista do atual secretário. E eis a nossa primeira explanação do tema, essa produzida por mim, docente da turma:


Sim! conhecer e resistir. Por isso me empenhei esse semestre em esclarecer sobre essas questões, tanto nas aulas, quanto no blog.

Entretanto, sabemos que Nadalim não está trabalhando sozinho – e nem poderia, considerando o nível de simplismo e dos equívocos conceituais de suas propostas – e nos baseamos também, para essa apresentação, no Decreto nº 9.765, que instituiu a Política Nacional de Alfabetização (PNA). Por isso, essa referência ao final da receita. Como o Decreto foi tardio em relação ao nosso estudo inicial, foi menos abordada e, assim, concentrei, na minha parte dessa apresentação, nesse documento.

Assim, do mesmo modo que a receita acima, a consigna dada aos estudantes foi a de que, baseados em nossos estudos e nas fontes que acompanhamos na mídia, expressassem as aprendizagens e discussões através de algum gênero textual, considerando a discussão sobre a relação da diversidade textual e o letramento, conforme nossos estudos. E nossa ideia sobre isso vem também num gênero textual. Para tal, assinamos um contrato:

O Contrato fala, por si só, de nosso intuito ao tomar os gêneros nessa relação de metalinguagem, desviando de suas funções para falar, através de todos eles, desse cenário. E como, em seu parágrafo único, o Contrato refere a possíveis dúvidas sobre o léxico usado no texto, indicando a consulta aos verbetes do Glossário anexo, eis também o Glossário.

Dito isso e feitos os acordos necessários, avancemos! Para conhecer mais sobre a situação, com o nosso abre alas!


E para contextualizar melhor essa indignação, vamos de textos jornalísticos, de início, com jornal televisivo, com os jornalistas Iuri Silva e Perla Fonseca, bloguerinha estreante como repórter - dá pra notar, né? 😏😉


Fica claro aí que a questão do método não é panaceia para as complexas questões de alfabetização no Brasil, não é? E emendando... segue o cartaz da propaganda de uma Cartilha explicativa para instruir sobre esse assunto, elaborada por um dos grupos, e a própria Cartilha, que formou um livreto, pronto para circular, informando ao povo sobre a situação. A Cartilha explicativa informa, a seu modo, a situação polêmica envolvendo Magda Soares e a indicação do secretário da alfabetização, Carlos Nadalim. A linguagem simples, direta, o uso de recursos como quadros, imagens, figuras esquemáticas, balões de fala, garantem a explicação didática e, ao mesmo tempo, irônica.


Cartilha e Cartaz... Mais dois gêneros nessa nossa conversa! 





E como intervalo, pausa no jornalismo, vem aí alguns versos do mesmo grupo, que nos convocam a pensar.

E como é isso de ataque ao letramento? Por que esses versos terminam afirmando a alfabetização e o letramento? Vamos ver? Voltando aos textos jornalísticos, depois do intervalo comercial, com propaganda e versos, vamos a mais informações. Seguem as MANCHETES dos últimos acontecimentos sobre a Política Nacional de Alfabetização (PNA), no Jornal O LOBO, para nos deixar mais informados, e os CLASSIFICADOS, para entendermos o que querem vender de nossa educação!



Antes, porém, convém lembrar que o Decreto que institui a Política Nacional de Alfabetização (PNA), embora não indique o método fônico como único, define os componentes que julgam essenciais na alfabetização, que se afiliam a essa abordagem. Essa indicação é considerada, por diversos pesquisadores do campo, como um grave erro político e pedagógico, reduzindo a complexidade da linguagem escrita e de sua realidade multifacetada - coisa que a BNCC aponta.

Quanto ao currículo, é importante ressaltar que o Decreto não cita a BNCC, que traz perspectiva diversa dessa PNA. A BNCC, com todas as críticas que podemos fazer a ela – e não são poucas –, paradoxalmente, nos protege, hoje, de tal barbaridade. A BNCC, ao menos, compreende a alfabetização como um fenômeno complexo, e marca o contexto social que a criança está inserida, o grau de letramento familiar dentre outros aspectos, como importantes aspectos a serem considerados. 

Da mesma forma, o Decreto não utiliza o termo letramento, conceito que, embora não seja consensual no campo, é complexo e amplamente utilizado  e estudado  no Brasil. Mesmo os partidários de não usarmos o termo letramento, ou melhor, não de termos dois termos, alfabetização e letramento, o defendem considerando a alfabetização em sua dimensão mais ampla, sociocultural e discursiva. Entretanto, nesse caso da PNA, a opção semântica pelo termo literacia, usado em Portugal, não é uma opção neutra, tem implicações pedagógicas e ideológicas. Trata-se de conceito que reduz o letramento a conhecimentos e habilidades individuais,  banindo sua natureza sociocultural e sociopolítica, que envolve as diversas práticas sociais letradas, os usos e funções sociais da escrita nas diversas esferas da comunicação humana. Para saber mais sobre isso, veja esse post aqui no blog.

E vamos às manchetes e classificados! Role e veja! (pena que aqui não aparece rodando feito notícia de jornal em desenho animado, como no efeito na hora da apresentação...).



Sobre a manchete que fala das evidências científicas, podemos ler na matéria: "A PNA instaura uma retórica da alfabetização 'baseada em evidências científicas'. Embutida nessa linha argumentativa está a ideia de que há um tipo de ciência mais válido do que outro e uma suposta neutralidade na transmissão de conhecimentos vistos como objetivos, universais e estáveis.

Magda Soares, importante pesquisadora na área, afirma que há, nesse tipo de argumentação um privilégio concedido à pesquisa quantitativa, experimental, como únicas confiáveis, em detrimento de pesquisas qualitativas. A autora denuncia o pressuposto de que os resultados de pesquisas experimentais, com alto grau de controle de variáveis, possam  ser generalizados para toda e qualquer escola, sala de aula, professor e grupo de alunos. Já a professora Liane Araujo lembra que resultados de pesquisas precisam passar por interpretação pedagógica e se articular com outros fatores, inclusive de ordem sociocultural. Há resultados das pesquisas cognitivas que precisam ser considerados, diz a docente da UFBA, mas pesquisa não pode se confundir com prática pedagógica, na qual é preciso dar conta de diversos aspectos.

Ademais, esses resultados não podem se constituir em fundamento exclusivo para o ensino, pois é sabido que a prática também contribui para a construção do conhecimento pedagógico. Pesquisadores da área da alfabetização afirmam que julgar resultados de pesquisas como suficientes para validar reducionismos metodológicos é uma imposição que desconsidera a própria Pedagogia". 

Enfim, essas manchetes e classificados nos ajudam a problematizar os aspectos apontados no Decreto, e a seguirmos alertas quando ao lançamento da PNA.

E para continuar no jornal, vamos à tirinha do dia, de Aline e Natália, para entender esse negócio de método fônico na prática. A tirinha com seu humor conciso e sua ironia rasgada, nos ajuda nessa resistência.


Tirinha também é texto, texto híbrido de linguagem verbal e visual. E textão de Facebook é texto? Claro! E textinho, e tweet e tudo mais...é tudo texto e, nesse caso, de novos gêneros surgidos comas novas tecnologias. E como a tecnologia ampliou muito os gêneros de textos, eles não podiam ficar de fora aqui, não é? Embora os prints estejam aqui, a ideia é vocês irem ao post comentar. E Aleide os convida a ler e comentar no seu post de Facebook, nesse linkhttps://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2090200767775508&id=100003568144131



Vamos voltar aos versos, com cordéis...porque a poesia também denuncia e nos salva! 
O primeiro, uma prosa com o presidente, em forma de quadras.



E lembrando que, se por um lado, se trata de uma aproximação da métrica do cordel, por outro, o ritmo e o estilo próprio ao cordel se apresentam lindamente nesses versos, e em sua enunciação oral, que é o que, de fato, materializa o cordel. E foram lidos com a malemolência do gênero. E assim, vamos ao outro, esse em sextilha, mais usada no gênero, e com esquema de rimas de cordel mesmo:


O conceito de texto, como dissemos, é amplo, outros gêneros não parecem que são textos, mas são! Então, vamos aqui de outro gênero, os passatempos. Vamos jogar? De vez em quando precisamos esfriar nossa cabeça! Esfriar para umas coisas, mas fazê-la trabalhar, não é? Vamos de Caça-palavras e Palavras Cruzadas? Siiiiiim, os jogos de palavras são práticas socioculturais, circulam em jornais, revistas, revistinha de passatempos, e envolvem muita reflexão, atenção, desenvolvendo o raciocínio e a linguagem. Vamos a eles? Com direito a cartaz de lançamento e tudo!



Voltando à nossa indignação, que tal enforcar um desafeto, no jogo de Forca? Quem será? Role e descubra!


Gente, a indignação é tão grande, que até para o travesseiro levamos as preocupações que, todo dia, o MEC nos apresentou esse semestre. E não era de se espantar, que foi parar até em nossos Diários!!! Ou pelo menos, no diário de Dandara!


Diário relata coisas acontecidas, e mesmo as imaginadas, mas história é diferente... Ficcionalizar também é uma boa saída... E foi o que um grupo fez. Mas para apresentar a história, fizeram outro gênero: a sinopse.


Vamos à história?


Como a história traz o universo do Japão, como contexto para a nossa história do Brasil atual, temos também o manual de instruções para fazer o origami do tsuru, pássaro que, na cultura japonesa, simboliza a saúde, a boa sorte, a felicidade, a longevidade e a fortuna...Estamos mesmo precisando!


E sobre isso de ficcionalizar, como disse Ana Maria Machado, "narrativas falsas criam fake news, espalhando mentiras como se fossem reais. Mas o que vale é o contrário: a ficção que finge ser mentira para revelar a verdade". É ou não é?

Cantar também nos salva, não é gente? Pois vem aí, Carina, com o gênero canção, a letra da canção e também o gênero entrevista, numa conversa com a cantora e compositora...
Letra da canção


E vamos à entrevista:


De volta à palavra poética, poema-jogo de palavras, vem Letícia fazer sílaba virar resistência! Na apresentação oral, na Aula Aberta do dia 04/07/2019, os slides ressaltavam as palavras lidas, que ganham força aparecendo assim, concretas, ao modo de um jogo (que poderia até ser concretamente), nos lembrando que palavra e imagem, mesmo a imagem das palavras, amplificam os sentidos dos textos. Vejo ainda, cá na minha interpretação, como se fossem palavras gafitadas em muros, pintando o poema de força e luta.

SI-LA-BA versus RE-AÇÃO

Letícia Argolo

Nesse jogo da memória, a nossa busca pedagógica
lógica, não se perdeu
Passou-se num rumo que não foi à copa
nada entende de alfabetizar
inventa que o Brasil
Em 2014 não teve sorte
Já 2019 para as estruturas letradas
O COR-TE
nas mãos um título de eleitor
Eles que determinam a “qualidade da alfabetização”
O POR-TE
A não oportunidade funcional gerando na sociedade de privilégios
Aos excluídos do jogo de poder
os estudos é uma atitude outras formas de tentativa de ocupar
O NOR-TE.
Existe na aparência
grito de resistência
aprende cada sílaba
SO-LE-TRAR
Sem políticas públicas
Estado vendido
Desinventam
O LE-TRAR
povo pelo ódio rendido
como se alfabetizar?
Pelo amor
no fonema fluência
na classe consciência
produzir a escrita não se faz necessário
jogam-nos nas diretrizes do COPIAR
Sonhos perdidos
Desejos no olho do furacão
usam a palavra LITERACIA
Espera-se mudança
no fundo esperança
subjugam o papel da REPETIÇÃO
estratégia de condicionar a infância
Vontade de revolução
RE-VOLTA
Tudo que vem tem VOLTA
RE-VOL-TA
palavra verbo, ação
na busca política de professor
imperativo verbo
busque SOLUÇÃO
oposto do dita-a-dor
ditado de palavras opõe-se,
princípio substantivo
soletramos A-MOR
Saudação de POR FAVOR
acalma e encaminha a REAÇÃO
silenciosa ao mesmo tempo barulhenta
Políticas minuciosas que para o lado de cá princípio coletivo de EDUCAÇÃO
balbúrdia
para o lado direito tormenta
para o esquerdo pulsação
para a criança respiração
devolvendo os horizonte do terreno-caminho
não usa autoridade
Letramento de consciência o menino
PRI-O-RI-DA-DE
Nasce fora, reverbera
UNIVERSIDADE
Aqui faz-se com verdade incentivo
inventivo
científico
valor principal de APRENDIZAGEM
Gera-se decreto 9675/19
do que adianta gerar números
se o que vem de uma classe que nem de longe se comove?
Política nacional de alfabetização
condiciona, mas não gera compreensão
se eles prezam por DITAR-a-DOR
A gente EDUCAR-a-DOR
lembramos Paulo Freire, Grande Professor
Todos e todas, segura firme, não solta essa mão
O Brasil precisa mais que nunca desse
Campus-universo em seu princípio  EDUCA-a-AÇÃO.


Pena que a força poética da leitura de Letícia não pode ser aqui passada, nem a concomitante projeção das palavras na tela. Mas role e imagine como seria essas palavras "pularem" da tela enquanto são lidas no poema, unindo a força da palavra e a força das imagens:





E como estamos diante de um cenário político-pedagógico que pede, bem como, na apresentação, diante de um coletivo potente para tal, não podia faltar ele: o Manifesto, que foi lido por Juliana e devidamente passado para todos os presentes assinarem, afinal, Manifesto pede nossa mobilização, não é? Mesmo sendo poemático!




E para maior legibilidade:



Agora minha gente, se nada disso foi suficiente para lavar nossa alma – jornal, poesia, canção, tirinha, história, jogo, desabafo no diário ou no Facebook, então, jogamos a toalha, precisamos mesmo é de cura! E de riso! Então, vamos lá, com a cura proposta pelo grupo de farmacêuticas! Os "precisados" ganharam sua pílula de cura! 



Paulonato de Freiretoína certamente dará um gás para continuarmos na luta! Confiram a bula!
E vamos chegando ao fim de nossa Aula Aberta, fechando com riso e remedinho-chiclete, porque ninguém é de ferro! Mas sem esquecer do alerta:



Com esse alerta, costurado pela luta, pela criação e pelo riso, chegamos ao final dessa aula aberta. Vale ressaltar que terminamos o semestre do curso discutindo outros modos de abordar a dimensão fonológica, essencial à alfabetização, muito longe da abordagem mecânica e descontextualizada do método fônico, em contextos letrados lúdicos, reflexivos, significativos...

Para vocês que nos escutaram até aqui, temos uma coisa. Mas vocês vão ter que adivinhar. Depois role e confira:



Sim, temos uma declaração para vocês que nos assistiram, mas que serve também para vocês que nos acompanharam aqui no blog:

A declaração é para lembrar que agora podem ficar atentos aos próximos passos do que vem do MEC e do que vai circular na mídia sobre a temática. A alfabetização é um tema atualíssimo no campo da educação esse ano. 

Bom, falta ainda os nossos créditos... as referências, o “elenco”, agradecimentos, devidamente apresentados nesse formato de "créditos", enquanto ouvimos música, pois o seu olhar, o olhar de todos e de cada um, melhora o meu...o nosso!




P.S. Os créditos aqui não "rolam" feito créditos no final de um filme, mas lá lá hora da apresentação rolou!!! Isso pra dizer que, evidentemente, a postagem não substitui a presença na Aula Aberta, mas ao menos dá uma ideia para quem não pôde estar lá, não é?

Obrigada gente! Pela presença de todos! Foi bem bacana, teve público, apesar do esvaziamento da FACED, já em ritmo de recesso, e fiquei muito orgulhosas dos estudantes. Valeu, gente!

E aqui no blog, obrigada pela leitura!  Deixem seu recadinho aqui!