O Eco
O menino pergunta ao ecoonde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: "Onde? Onde?"
O menino também lhe pede:
"Eco, vem passear comigo!"
Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.
"Migo!"
(Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo)
Oficinas, recursos e estratégias didáticas para a alfabetização
O Eco
O menino pergunta ao ecoO menino também lhe pede:
"Eco, vem passear comigo!"
Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.
Voltando... O livro Pê de Pai apresenta imagens cúmplices de pai e filho/filha... mas dispensa palavras outras que as que definem o jogo entre eles. Por isso, não digo mais nada, conto em imagens:
Aliás, cada página do próprio livro também poderia ser o ponto de partida para muitas histórias: "pai avião"..."pai chocolate", "pai ambulância"... o que mesmo levou a essas cenas e o que aconteceu em seguida? Podem virar histórias coletivas interessantes.
Encontrei também outra dica bem legal, de brincar de adivinha, no próprio blog da Planeta Tangerina, aqui nesse link. Escreve-se em fichas outros tipos de pais: "pai pente", "pai termômetro", "pai chapéu" etc... e após sortear uma, sem ninguém ver, o adulto dá uma definição, para as crianças adivinharem que pai pode ser. E completo: no contexto da alfabetização, podem encontrar entre as fichas, a que corresponde ao pai descrito. Se já têm certa autonomia no reconhecimento das palavras, ou de parte delas, podem tentar adivinhar a partir da leitura. Se não, precisam antes adivinhar o que é, para então buscar reconhecer entre as fichas aquela com o pai que procuram.
É isso gente, o dia dos pais já passou...mas quem precisa de dia dos pais para falar deles? Nunca é fora de tempo lembrar das coisas bacanas que parecem tão prosaicas. E nunca é fora de hora para transformar as coisas de todo dia em poesia e arte e aprendizagem.
ARGEMIRO! ARGEMIRO? ARGEMIRO, ARGEMIRO...
Olha que eu vejo um ar gostoso batendo no corpo, dento do seu nome. Vejo um mar imenso que vem em ondas, que batem na praia e nas pedras. Tem cheiro, som e gosto salgado. Pode ser tocado, sendo frio ou quente, dependendo do sol. Está meio frio agora, mas é bom senti-lo no corpo. Olha quanta água no seu nome! Há um rio em Argemiro. Rio de águas limpas que correm levando folhas, batendo em pedras, que gemem. É tão limpinho este rio que vejo cardumes de peixes. E vou pelo seu mar ou rio, Argemiro, e remo e rio. Giro o ramo que geme. E vou para Roma e miro e remiro e oro e rimo. De poesia, o nome Argemiro tem até rima. Mas cuidado! Você sabe o que significa ira e ela está quentinha no seu nome, pronta para destruir quem dela se aproxima. Mas esqueça as coisas negativas e goste muito da poesia que mora no seu nome, Argemiro.
E aí, você não se animou em descobrir a poesia do seu nome?”
Elias José, A Poesia pede passagem: um guia para leva a poesia às escolas. São Paulo: Paulus, 2003.
Pois, então, já tentaram?
Para encontrar outras palavras dentro de seu nome, vale também duplicar letras que o compõe, especialmente as vogais. Depois de brincar disso, professor, que tal tentar com as crianças? Pode ser no papel, mas é muito, muito legal com as letras móveis. Sugiro, como material, ter muitos kits de letras móveis, para atividades e jogos diversos, e um kit de nomes próprios, os nomes (o tal crachá, pode ser) em fichas grandes e os nomes em letras móveis. Gosto de letras grandes também. Cada um com seu nome, formado com letras móveis, podem tentar fazer seus rearranjos, desarrumar e rearrumar, trocar e deslocar e, então, encontrar palavras, adormecidas ou falantes, escondidas em seus nomes.
E com as palavras, que tal poesia?
E é Bartolomeu Campos de Queirós quem faz, aqui, o segundo convite. No seu Diário de Classe, em vez de nomes completos, presenças, ausências, frequência, notas, resultados, conteúdos, rendimentos, registros de aulas e de habilidades e dificuldades, ele traz poemas dos nomes...de A a Z...
Ele caça palavras dentro dos nomes e depois, ele as poesia.
Diz ele:
“Se olho para uma palavra, descubro, dentro dela, outras palavras. Assim, cada palavra contém muitas leituras e sentidos. O meu texto surge, algumas vezes, a partir de uma palavra que, ao me encantar, também me dirige. E vou descobrindo, desdobrando, criando relações entre as novas palavras que dela vão surgindo. Por isso digo sempre: é a palavra que me escreve. Leia a palavra janela, tentando encontrar as outras palavras que nela estão debruçadas. Aí, você compreenderá como foi fácil escrever este Diário de Classe”.
. . . E L A
. A N E L .
J A N E . .
. A N E . .
. A N E L A
J A . . L A
E ele nem usa, nos poemas, todas as palavras que encontra... Dá até para fazer outros tantos poemas... Com Graça, ele fez graça e garça, falando da própria brincadeira de trocar letras. Deixou raça, rara e garra (duplicando o r nos dois casos) e outras de fora. Com Joseane, achou outros nomes dentro do nome. E com Luciana fez os dois, palavras e nomes. E assim vai...
GRAÇA
Se Graça trocar
de lugar as letras,
a garça voa.
E a menina,
sem graça,
fica sozinha.
.
JOSEANE
Jane ama José,
José casou com Ane.
Como nasceu Joseane?
E o que foi feito de Jeane?
.
LUCIANA
Lia na lua
recados
de Luci e Ana,
lembranças
de Lina e Lana
e saudades
de Luana.
Bartolomeu Campos de Queirós, Diário de Classe, São Paulo: Moderna, 1992.
Que tal, professores, tentar fazer pequenos poemas com as palavras que moram dentro dos nomes de seus alunos? Que tal eles ajudarem?
Pois bem... Sabe que muitos poetas se utilizaram desse recurso para fazer seus poemas? Encontram palavras dentro dos nomes ou dentro de outras palavras, duplicam letras para perseguir outras tantas e mudam uma letra, umazinha só, formando pares mínimos (lembram do post sobe pares mínimos?), que também formam sonoridades bem interessantes. Poema, vocês sabem, é um jogo com a linguagem, com os sons, com os sentidos articulados à sonoridade das palavras.
Querem ver um desses? É o Colar de Carolina, de Cecília Meireles.
nas colunas da colina.
CAROLINA: em Carolina tem coral, colar, cor, coroa, colo, cal, colina (e coluna, que com colina, faz um par mínimo!), todas palavras que Cecília colocou lá. E ainda tem colore e corre, que não se faz com a letra i, mas se faz com o som / i /, que quase aparece em Carolina (quem aparece é seu “irmão”, o fonema / ĩ /, um i nasal). CORADA também só acrescentou o D, as outras letras estão lá e a palavra ressoa em coral...
...
O mosquito sobe e desce.
Fiquem ligados,