POST 1 - Introdução - análise inicial das premissas do vídeo; concepção de letramento, de funções sociais e práticas letradas; letramento é uma invenção do construtivismo?
O ponto de partida dessa e das próximas postagens, que fazem parte da série sobre a situação das políticas de alfabetização nesse governo, é a análise do vídeo do canal de Youtube “Como educar seus filhos”, de Carlos Nadalim, o nosso atual secretário de alfabetização no MEC, que tem como título “Letramento, o vilão da alfabetização no Brasil”. Essa é a primeira postagem da série, após a de contextualização, que chamei de POST 0. Há um post com o "sumário" dessa série, para ajudar a "se achar" nos textos. Pode procurar também no marcador "Políticas públicas de alfabetização". Todas as postagens dessa série estarão lá. Para saber mais sobre Carlos Nadalim, ver aqui.
O ponto de partida dessa e das próximas postagens, que fazem parte da série sobre a situação das políticas de alfabetização nesse governo, é a análise do vídeo do canal de Youtube “Como educar seus filhos”, de Carlos Nadalim, o nosso atual secretário de alfabetização no MEC, que tem como título “Letramento, o vilão da alfabetização no Brasil”. Essa é a primeira postagem da série, após a de contextualização, que chamei de POST 0. Há um post com o "sumário" dessa série, para ajudar a "se achar" nos textos. Pode procurar também no marcador "Políticas públicas de alfabetização". Todas as postagens dessa série estarão lá. Para saber mais sobre Carlos Nadalim, ver aqui.
Mas vamos ao vídeo. O título do
vídeo, afirmativo – diferente do título dessa postagem, interrogativa –, já
causa bastante estranheza...estranheza essa que se confirma ao assisti-lo.
Claro que o vídeo é anterior a seu posto na pasta do Ministério e ele fala aí
de outro lugar, teremos que esperar para ver o que e como ele falará e
encaminhará as questões, efetivamente, como secretário no MEC. Mas é importante
entendermos o que ele pensa, o chão que ele pisa, para vislumbrarmos o que
esperar dessa gestão na secretaria. Por outro lado, essa postagem não se reduz
a analisar e criticar o vídeo, é também uma oportunidade de discutirmos
diversas questões envolvendo o campo da alfabetização e prepararmo-nos para
esse enfrentamento, seja na Universidade, formando professores, seja nas redes
dos municípios, que, por conta dos financiamentos da educação, talvez sejam
tentadas a “comprar” essas políticas federais. Assim, a crítica ao vídeo é
também oportunidade de discutirmos questões que são importantes enfrentarmos,
bem como minha contribuição para desmistificar assertivas que não se sustentam
nas argumentações que, possivelmente, vão vir de lá. Vejo comentários
favoráveis e cheios de elogio a Nadalim, sempre baseados em premissas errôneas
e avaliações leigas de sua qualificação. Nós, professores e futuros
professores, não podemos cair nessa! Como bem disse minha colega na Faced
e forte aliada nas lutas no campo da educação e linguagem, Giselly Lima, além
das premissas equivocadas, das falácias, da desonestidade intelectual, que irei comentar aqui, é revoltante a edição do
vídeo, a retórica para beneficiar suas assertivas mal-amanhadas, os exemplos fraudulentos, pois fora de contexto, as
falsas relações de causa e efeito, que ele força parecerem naturais... Se analisarmos bem, tem sofismas, deduções falsas, tudo levando, certamente, a um argumento bastante autoritário. Como disse Giselly, ele força interpretações do que é dito para reforçar, por vezes, o
oposto do que é dito, e dou, como exemplo, enfatizar e encaminhar a seu favor, falas descontextualizadas de José Morais, e distorcer falas de Magda Soares. Só isso já merecia mais do que as respostas dela na mídia, a manifestação da ABAlf, e nossas indignações todas. Merece
denúncia! Esse vídeo merecia, inclusive, uma análise de discurso. Quem se habilita?
Agora, como há aspectos do campo teórico e
didático que, de fato, contribuem para o engendramento desses discursos
críticos à alfabetização proposta nas políticas públicas e nos discursos
pedagógicos até aqui, vamos nos dedicar a analisar as premissas, as argumentações, para além do mau caratismo. Precisamos enfrentá-las! Por isso, sem defesas cegas, vou
analisar também as limitações que dão brechas à defesa de que a solução para os
problemas de alfabetização seja a questão dos métodos e que o método fônico é a
alternativa única a uma didática que negligencia o ensino sistemático do
sistema alfabético.
Assim, esse será mesmo um textão! Por
isso, de dividi-lo em várias postagens, numeradas e linkadas, para facilitar a
leitura sequenciada (ou não), vou também tentar dividi-lo em partes, quando achar necessário. Mas é
textão, aviso logo. Inclusive, montei meu componente de Alfabetização e
letramento, da graduação em pedagogia na UFBA, esse semestre, em torno dessa
discussão, e é material de estudo com os estudantes. Ou seja, é um post de
estudo, de esclarecimento, de luta – não me cobrem concisão! Combinado? Para
resumos, posts rápidos e com maior circulação – fan page do blog no Facebook!
Lá tenho também divulgado esses posicionamentos.
1. Para começar...
O vídeo já começa com esse título
inadmissível: letramento = vilão. Mas vamos por partes, desmisturando o que
está aí misturado, desmistificando certezas, premissas postas, falácias.
Na chamada do vídeo afirma-se: “No
Brasil, sobra letramento, mas ler e compreender textos bem é raridade. Conheça
um dos graves problemas educacionais que impede nossas crianças de aprender a
ler com eficácia”. Já aí aparece a incompreensão do conceito de letramento, de
sua amplitude, e de que ler e compreender textos faz parte desse processo. É
como se ler e compreender não fizesse parte do letramento. O vídeo contém, ele
mesmo, inúmeros equívocos conceituais, como esse.
O vídeo começa falando de informar e
instruir os pais para a tarefa de “livrar seus filhos do analfabetismo
funcional”. Ora, à parte a desqualificação da escola nessa fala, que comentarei
depois, o uso de tal conceito – analfabetismo funcional – parece inadequado aí.
Analfabetismo funcional refere-se, justamente, a quem tem algum domínio da
técnica de decifração e codificação do escrito, mas que não consegue
interpretar e produzir textos simples, ou seja, fazer uso desse conhecimento
técnico – conhecimento técnico que é o foco do método que ele defende. Analfabetismo
funcional equivale justamente a um baixo grau de letramento, não a não saber
decifrar. E se ele acha letramento vilão, há contradição aí...Mas não é
contradição, é desconhecimento mesmo! Ou seja, novamente sua fala denuncia a
incompreensão conceitual que reina em suas argumentações. Se o pressuposto está
equivocado, não tem como todo o resto não estar.
Embora, no video, Nadalim reconheça
que a questão da alfabetização é complexa e envolve problemas de diversas
ordens – que “estamos cansados de saber”, segundo ele diz com certo desdém –
enfatiza a questão dos métodos, dos procedimentos de alfabetização que
considera ineficazes, e a formação dos professores baseadas em teóricos e
práticas que ele julga, enfaticamente, como ineficazes, responsabilizando-os,
de algum modo, pelos fracassos da alfabetização das crianças (e aqui não entram
os outros problemas mais amplos, que ele deixa para trás...não se fala em
investimentos na estrutura das escolas, em valorização do profissional docente,
etc...).
Nem vou comentar sobre
sua vaidade exposta, quando se apresenta como o portador do Relatório do grupo de trabalho
sobre alfabetização infantil, em 2017, ao deputado federal Diego Garcia, membro
da comissão de educação, talvez já costurando sua possibilidade de estar
contemplado com alguma pasta no governo (note-se que esse relatório foi
apresentado, em 2003, à Câmara dos
Deputados, evidenciando a
polarização, referenciada, equivocadamente, como construtivismo X
método fônico); quando mostra “para quem não sabe” (!!!) o Diploma de Mérito
dado pela comissão de educação (o próprio deputado Diego Garcia é que foi a
Londrina entregar!!!), por ter sido indicado ao prêmio Darcy Ribeiro de
Educação 2016, prêmio que é realizado anualmente pela Comissão de Educação e
pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (indicado por quem mesmo?); e quando
indica as entrevistas com especialistas (de uma perspectiva única) que
entrevistou no seu blog, tudo isso como trunfos prévios para qualificar e
validar suas afirmações posteriores....e muitas costuras com intenções à
frente! Mas preciso indicar que prestem atenção como ele fala dos autores/pesquisadores que traz para supostamente validar sua perspectiva, principalmente José Morais, revelando seu complexo de vira-lata colonizado que precisa de tutelas teóricas estrangeiras, e elas têm, sempre, a última palavra. Nenhuma referência de identidade nossa (porque as nossas não prestam?), nenhum contraditório que nuance suas certezas inabaláveis...
Ao criticar a BNCC por continuar
propondo uma perspectiva construtivista (veremos adiante as inúmeras confusões
que faz em torno disso), diz ironicamente que o documento fez algumas CONCESSÕES
(sic!!!) à abordagem fônica, mas, segundo afirma, de forma muito confusa.
Concessões? Com isso, ele pressupõe que apenas a abordagem fônica assume a
importância da apropriação do princípio alfabético do sistema de escrita pelas
crianças, o que é uma visão completamente equivocada. Em seu e-book reaparece
essa ideia de que o método fônico visa o princípio alfabético, como se nenhum
outro visasse. A sua abordagem, o seu método fônico sintético, não é “dono” da
abordagem do sistema alfabético, não é o único que visa à apropriação do princípio
alfabético pelas crianças, nem mesmo da abordagem do phonics que, no Brasil, tem sido associado diretamente ao método
fônico, usado erroneamente como sinônimo daquele método.
Ele critica também a visão de que a alfabetização só exista no contexto do letramento. E quando explica, a partir de pergunta retórica irônica “o que é letramento?”, recorrendo à fala de Magda Soares – uma das “mães do letramento”, como ele diz com risinho irônico no canto da boca – se apega na expressão “funções sociais”, para arrogantemente debochar da autora, aparentemente “concordando” com ela, mas deixando nas entrelinhas a insinuação de que isso não é o importante, e forjando uma relação dessa expressão com uma suposta ideologização... Compreender a expressão “funções sociais” como algo necessariamente ideologizado é outra grande incompreensão conceitual. Funções sociais diz respeito a que funções a escrita/os gêneros de texto têm em diversas práticas/situações comunicativas da sociedade em que circulam. Nesse sentido, a fruição estética da literatura; a função instrucional, injuntiva, e de registro da memória implicadas em uma receita de bolo; a função injuntiva de um manual de instrução; a função lúdica de um trava-línguas infantil; a função informativa, argumentativa, de uma reportagem ou artigo de opinião em jornal; tudo isso envolve funções sociais desses gêneros. Até mesmo escritas pessoais, como um diário íntimo, que escrevemos para nós mesmos, tem função social – escrevê-los é uma prática em nossa sociedade, mesmo que não seja para interação com outros sujeitos. O diário é um texto que tem um quem escreve, para quem, para que, um quando dizer o que diz e um como dizer, tem características discursivas socialmente estabelecidas, é regulado socialmente (sabemos que é íntimo, lê-lo sem consentimento é, a depender da situação, violá-lo), quando publicizados, também sua recepção é estabelecida - sabemos as características do gênero. O fato de um texto concreto não mediar uma interação concreta com outro indivíduo, não tenha uma resposta concreta de um outro, não significa que o gênero textual não se constitua socialmente e não tenha função social. Enfim...é uma prática social, com funções sociais. Bem como uma lista de compras para si mesma, anotações na agenda... Todas essas práticas são sociais, mediadas por gêneros com funções sociais, com objetivos no âmbito da situação comunicativa, ainda que para si mesma. Uma lista de compras para nós mesmos serve para não esquecermos de nada – somos nós mesmos o destinatário daquele texto, cuja função social é registrar algo para lembrar – a função de registro é uma função social da escrita. É impressionante como até mesmo autores de peso fazem essa confusão de achar que função social diz respeito apenas a textos engajados ou de comunicação funcional com outros sujeitos. E se é assim, o que esperar de Nadalim, não é? E quando se quer ver cabelo em ovo...se implanta cabelo em ovo. Sua argumentação, em um momento do vídeo, desemboca na constatação de que há uma insistência nessas “práticas sociais” de leitura e escrita, como se essa expressão – insisto – tivesse um teor ideológico necessariamente nefasto. E ironiza novamente. Em suma, ele não sabe o que significam práticas sociais, função social, por isso, não sabe o que significa letramento.
Ele critica também a visão de que a alfabetização só exista no contexto do letramento. E quando explica, a partir de pergunta retórica irônica “o que é letramento?”, recorrendo à fala de Magda Soares – uma das “mães do letramento”, como ele diz com risinho irônico no canto da boca – se apega na expressão “funções sociais”, para arrogantemente debochar da autora, aparentemente “concordando” com ela, mas deixando nas entrelinhas a insinuação de que isso não é o importante, e forjando uma relação dessa expressão com uma suposta ideologização... Compreender a expressão “funções sociais” como algo necessariamente ideologizado é outra grande incompreensão conceitual. Funções sociais diz respeito a que funções a escrita/os gêneros de texto têm em diversas práticas/situações comunicativas da sociedade em que circulam. Nesse sentido, a fruição estética da literatura; a função instrucional, injuntiva, e de registro da memória implicadas em uma receita de bolo; a função injuntiva de um manual de instrução; a função lúdica de um trava-línguas infantil; a função informativa, argumentativa, de uma reportagem ou artigo de opinião em jornal; tudo isso envolve funções sociais desses gêneros. Até mesmo escritas pessoais, como um diário íntimo, que escrevemos para nós mesmos, tem função social – escrevê-los é uma prática em nossa sociedade, mesmo que não seja para interação com outros sujeitos. O diário é um texto que tem um quem escreve, para quem, para que, um quando dizer o que diz e um como dizer, tem características discursivas socialmente estabelecidas, é regulado socialmente (sabemos que é íntimo, lê-lo sem consentimento é, a depender da situação, violá-lo), quando publicizados, também sua recepção é estabelecida - sabemos as características do gênero. O fato de um texto concreto não mediar uma interação concreta com outro indivíduo, não tenha uma resposta concreta de um outro, não significa que o gênero textual não se constitua socialmente e não tenha função social. Enfim...é uma prática social, com funções sociais. Bem como uma lista de compras para si mesma, anotações na agenda... Todas essas práticas são sociais, mediadas por gêneros com funções sociais, com objetivos no âmbito da situação comunicativa, ainda que para si mesma. Uma lista de compras para nós mesmos serve para não esquecermos de nada – somos nós mesmos o destinatário daquele texto, cuja função social é registrar algo para lembrar – a função de registro é uma função social da escrita. É impressionante como até mesmo autores de peso fazem essa confusão de achar que função social diz respeito apenas a textos engajados ou de comunicação funcional com outros sujeitos. E se é assim, o que esperar de Nadalim, não é? E quando se quer ver cabelo em ovo...se implanta cabelo em ovo. Sua argumentação, em um momento do vídeo, desemboca na constatação de que há uma insistência nessas “práticas sociais” de leitura e escrita, como se essa expressão – insisto – tivesse um teor ideológico necessariamente nefasto. E ironiza novamente. Em suma, ele não sabe o que significam práticas sociais, função social, por isso, não sabe o que significa letramento.
Agora, um adendo: argumentar isso não
significa retirar a força sociopolítica do conceito de letramento, não. Afinal
de contas, como aprendemos com Bakhtin, a linguagem não acontece em um vácuo
social, os textos – sejam eles orais ou escritos – não têm valor fechado em si
mesmos, mas articulados aos interlocutores situados no mundo social, histórico
e político.
O argumento de Nadalim, falando sobre as crianças, segue na lógica do “se
não sabem o básico” – para ele, o funcionamento alfabético – como vão se ocupar
de funções sociais? Ou seja, vê a alfabetização propriamente dita como
pré-requisito para o letramento, coisa que inúmeros autores – não apenas Magda
Soares – relativizam. Ele pergunta: “Como é que elas vão ainda compreender e
interpretar textos (...)”, como vão compreender a função social de algum
gênero, se ainda não sabem relacionar grafemas e fonemas? Pois é, seu
Secretário...você não entendeu o conceito de letramento, você não sabe o que é
alfabetizar em contexto de letramento, você não sabe que as crianças estão
inseridas – se têm oportunidade para tal – no contexto de letramento, muito
antes de se alfabetizarem. Você subestima as crianças, que muito querem saber
sobre os textos e a língua se tem oportunidades de conviver amplamente com a
cultura escrita. E desde muito pequenas! Muitos autores discutem sobre os eventos de letramento ligados a práticas sociais letradas, que envolvem crianças pequenas e adultos não alfabetizados. Mas basta observar as crianças - elas mesmas confirmam isso!
O curioso nisso tudo é que Magda Soares, da qual ele debocha, sem
nenhum respeito, tem sido uma voz importante no campo da alfabetização, para,
justamente, não só defender o letramento, quanto defender a importância do
ensino explícito e sistemático do funcionamento alfabético, ao lado da inserção
das crianças na cultura escrita. Mas, sinceramente, ele não parece ter lido a
autora, e ainda assim, se julga em posição de criticá-la. O livro que empunha,
como bandeira, no vídeo, é um dos mais antigos da autora, de 1986 (!!!), “Linguagem e escola: uma perspectiva
social”, importante, mas que centra a discussão nas relações entre
linguagem, escola e sociedade e, especialmente, na variação linguística, para
compreender a questão do fracasso escolar de sujeitos das classes
desfavorecidas, no ensino de Língua Portuguesa – temática mais específica do
que as que a autora aborda hoje. Mas claro que ele ia escolher esse para
empunhar, não é? Lá, quando a análise do fracasso escolar e sua relação com a
variação linguística era uma questão premente, ela afirma que é “inadmissível
deixar de vincular o ensino da língua materna às condições sociais e econômicas
de uma sociedade” (SOARES, 1991, p.78). Ele recorta o que quer, para
validar suas críticas. Porque não empunhou o livro de 2016, último da autora?
Porque lá tem muitas coisas com as quais ele mesmo teria que concordar, não
fosse tão sectário. Secretário sectário!
Só alguém que não entende os conceitos
e não conhece a realidade de crianças tentando interagir com a escrita pode
subestimar a tal ponto as crianças, para afirmar que elas só conseguirão
aprender o sistema alfabético se for de forma instrumental, descontextualizada.
Sim, é preciso planejar situações de aprendizagem e estratégias didáticas
específicas para refletir sobre a notação da língua e sua base fonológica. Quando
Magda defende que a alfabetização se dá ao mesmo tempo que o letramento, está
falando de aprender o sistema como objeto cultural que se aprende nos processos
reflexivos, cognitivos, mediados pelos professores, no contexto da linguagem
viva, das práticas sociais significativas de leitura e escrita – aprende o
sistema para ampliar a participação nas práticas letradas. E isso porque
concebe a linguagem como interação social e o funcionamento da escrita
alfabética não como pré-requisito ou instrumento para a aprendizagem, mas como
um objeto de ensino efetivo, que é a escrita alfabética, usada para comunicar
os diversos textos, de diversos gêneros, em diversas situações comunicativas,
para interagir através da linguagem escrita. Mas essa visão de linguagem não
parece preocupá-lo, não é? É uma visão de linguagem perigosa para os que querem
que as camadas menos favorecidas fiquem restritas à língua como um código. Sim,
eles precisam ter acesso ao funcionamento da notação da língua, mas precisam
ter acesso a muito, muito mais!
2. Para continuar...
Bom, mas vamos lá, ainda tem muito. Vamos
analisar a afirmação que o youtuber faz nesse vídeo de que “no fundo, o
letramento nada mais é do que uma reinvenção construtivista da alfabetização”
e, mais adiante “o letramento é, em suma, a aplicação do construtivismo no
ensino de leitura e escrita. Ponto final. É uma reinvenção construtivista da alfabetização”.
Quanto descalabro! E quanto autoritarismo nesse “ponto final!”. É certo que, no
campo dos debates acadêmicos, há divergências conceituais e, embora, no geral
todas as perspectivas estejam atentas aos aspectos socioculturais da escrita,
os conceitos de alfabetização e de letramento não são sempre os mesmos nos
diferentes aportes teóricos. Nem todas as perspectivas assumem o letramento
como um conceito necessário, preferindo falar em alfabetização mesmo, abarcando
tanto as questões relativas ao sistema quanto à cultura escrita. Mas a despeito
dessas divergências, nenhuma perspectiva – salvo a que Nadalim traz – vê de
forma negativa esse aspecto sociocultural da escrita e de seu ensino, que pode
ser referido como letramento por uns, como cultura escrita por outros, como
alfabetização por outros. Ele coloca essa visada sociocultural da escrita como
o vilão da alfabetização!
Além disso, não há nada mais
equivocado do que dizer que o letramento é um conceito do construtivismo. Trata-se
aí de uma incompreensão gigantesca do campo das teorias que embasam as
concepções de alfabetização. Os estudos do letramento colocam foco nos aspectos
socioculturais da escrita. O construtivismo é, originalmente, uma teoria sobre
o processo de aprendizagem, relativa à epistemologia piagetiana. Depois,
agregou outros aportes, mas é, essencialmente, isso. A própria Emilia Ferreiro
– que desenvolveu sua pesquisa psicogenética sob o aporte do construtivismo
piagetiano – prefere não usar o termo letramento. O que ela refere como cultura
escrita é similar, quando defende a alfabetização no contexto das práticas de
leitura e escrita que circulam na cultura. O uso do termo “construtivismo” se
ampliou para abarcar outros aportes e é fato que terminou por constituir um
conceito vago, para o qual conflui diversos princípios, inclusive a questão de
aprender a ler e escrever no contexto das práticas de leitura e escrita. É
certo também que, no discurso pedagógico e em propostas das políticas públicas,
esses aportes – os estudos do letramento e a perspectiva construtivista – vieram,
muitas vezes, relacionados, complementando-se. Nos PCNs, por exemplo, há,
inclusive, certo apagamento da especificidade dos estudos do letramento e sobre
os gêneros discursivos, tudo isso sendo colocado na conta do construtivismo.
Mas justificar colocar tudo no mesmo saco pelos usos diversos de um conceito e satisfazer-se
com essa miscelânea para falar sobre o campo da alfabetização é uma
irresponsabilidade. Ainda que Nadalim fale para pais, leigos, essa distorção é
de má fé. Em vez de esclarecer,
obscurece, distorce, simplifica.
Atacar essas diferentes perspectivas –
a perspectiva do letramento e a perspectiva construtivista – como se fossem uma
coisa só, contrapondo-as, em conjunto, ao método fônico, é uma aberração
teórica, uma total imprecisão conceitual, e um modo altamente simplório de ver o
campo da alfabetização hoje, que conta com diferentes concepções em conflito ou
em diálogo. Confundindo numa coisa só concepções diversas, ele achata um campo
complexo reduzindo-o a uma disputa binária – todas elas, igualadas e
polarizadas, em conjunto, ao método fônico, apresentado como uma farcesca
novidade. Mesmo em diálogo (nem sempre, mas frequentemente), essas perspectivas
que ele ataca, amalgamadas, não são equivalentes, e a serem colocados no mesmo
saco. Há grandes diferenças. Um artigo de Mortatti, de 2010, aborda isso muito
bem. Porque, sim, essa reedição da defesa do método fônico não começou com
Nadalim, com esse governo, há uma tentativa antiga, desde o início dos anos
2000, de enfrentamento da perspectiva fônica em relação à hegemonia do
construtivismo nas políticas públicas. Esse enfrentamento, por vezes chama ao
diálogo com pesquisadores que colocam foco na perspectiva fônica – e temos
mesmo que debater –, mas, na maioria das vezes, associando-se a fônica
exclusivamente ao método fônico, chama ao confronto polarizado e desrespeitoso
com os pesquisadores de outras perspectivas. Como já era, antes, com João Batista Araújo e Oliveira (Instituto Alfa e Beto) e os Capovilla - e aqui, nesse outro artigo, de 2008, Mortatti aborda essa questão, analisando a proposta de Capovilla. E é desse lado que está o
secretário, insuflando, como nenhum outro, a animosidade. E sem argumentos sólidos, sem conhecimento de causa, sem estudo próprio...
A despeito de esclarecimentos
recorrentes de autores consagrados no campo, inclusive especialistas da
história dos métodos e concepções de alfabetização, no vídeo, Nadalim mistura
construtivismo e letramento a todo momento, como se fossem sinônimos. Os
estudos do letramento são estudos que não vieram associados à teoria
construtivista nem à didática de cunho construtivista. Há uma tradição
internacional e nacional de estudos sobre o letramento, como estudos de Brian
Street, Shirley Heath, do New London
Group, dentre outros, e os estudos brasileiros de Ângela Kleiman, Leda
Tfouni, Silvia Terzi, Roxane Rojo, e
outros tantos autores, que em nada se aproximam da perspectiva construtivista. Letramento
diz respeito às práticas sociais de leitura e escrita, às situações comunicativas
e aos gêneros discursivos de diversas esferas da comunicação humana e relaciona-se a uma
concepção de linguagem como interação social. Desde cedo, crianças que têm
oportunidade para tal se relacionam com muitas práticas letradas e aprendem
muito sobre os usos e funções da escrita em diversos gêneros de texto, podem
produzir discurso escrito, ainda que via oralidade, via escriba, e podem
compreender o discurso escrito, para além da decifração do escrito. Ignorar
essas aprendizagens é negar às crianças o acesso à cultura escrita, da qual
elas fazem parte, com a qual interagem, mais ou menos, a depender das
oportunidades familiares, sociais e escolares que têm para tal. Argumentar que
esse contexto é menos importante ou atrapalha a alfabetização é querer reduzir,
novamente, a linguagem a algo técnico, instrumental, neutro – bem ao gosto dos
interesses de quem não quer formar sujeitos conscientes e críticos, capazes de
ler, interpretar, compreender e se posicionar sobre os textos e sobre o mundo.
É importante ressaltar, no entanto, que não é o phonics que é, em si mesma, uma
perspectiva conservadora, necessariamente, ou até uma espécie de “complô da
direita”, mas sim o modo como essa
ênfase na fônica se dá, sob que organização discursiva e, sobretudo, ao ser alçada
não apenas a assunto educacional, mas a assunto político e religioso, como é o
caso (o e-book de Nadalim, de 2015, refere, na introdução, a um suposto recebimento
de sinal de Santa Teresinha do Menino Jesus que o iluminou a seguir o caminho
que seguiu na educação. E além de todas as motivações políticas e editoriais
que envolve, é digno que nota que ele refere, igualmente, ao “Curso Online de
Filosofia”, de Olavo de Carvalho, que, no cenário político atual, o indicou ao
MEC).
Ou seja, gente, está difícil de
engolir essa forçação de barra para letramento virar sinônimo de construtivismo.
No próximo post, continuação deste, analisaremos mais a fundo essa confusão de
letramento e construtivismo, pois é uma premissa equivocada básica para o
letramento ser tachado como o vilão da alfabetização.
A continuar...
EDCB85 Ana Virginia Gomes dos Santos
ResponderExcluirO vídeo com a entrevista de Nadalim (Secretário de alfabetização no MEC) retrata mais um absurdo vindo do Governo atual. Alem de afirmar que o Letramento impede que as nossas crianças de aprender a ler com eficácia.Nesse mesmo vídeo ele traz severa critica a formação dos professore e os métodos ensinados. Ele rebate o posicionamento da estudiosa em educação Magda Soares, que dedicou a sua vida nos estudos sobre a alfabetização. A minha preocupação é aonde vai para a educação nesse governo de amadores, aonde o presidente coloca pessoas despreparadas para comandar pastas de extrema importância.
Pois é...ando muito preocupada também...
ExcluirProfessora, Nadalim não fala só para pais leigos, ele tem conseguido atingir alguns professores que se mostram totalmente favoráveis ao "seu método", como ele faz questão de afirmar. Hoje o vídeo está desabilitado para comentários e os antigos foram apagados. Acho que esse assunto deu pano para manga. Teve o comentário de uma professora que me chamou a atenção na época, lembro que ela escreveu que o construtivismo destruiu a alfabetização. Como você pontuou no texto "Os estudos do letramento são estudos que não vieram associados à teoria construtivista nem à didática de cunho construtivista", será que essa "professora" não deveria saber disso? Há um outro vídeo "Alfabetizar aos 4 anos é prejudicial?" de 2015 em que ele sinaliza que pais que fizeram seu curso 'Ensine seus filhos a ler" conseguiram alfabetizar seus filhos aos 4 anos de idade com o seu método, o fônico. Ele diz que é possível alfabetizar crianças dessa idade porque a idade linguística é diferente da idade cronológica. Não consegui encontrar trabalhos que falem sobre a idade linguística, talvez eu não tenha procurado direito. Só sei de uma coisa, ele se coloca como o mago da alfabetização kkkkkk brincadeiras à parte, parece que ele já estava preparando terreno para o Homeschooling. Fico pensando no quanto esse povo vai faturar com cursos e materiais didáticos para treinar pais.
ResponderExcluirAline Rocha
EDC B85 Alfabetização e Letramento
Quinta-feira 18:30 - 22:10
Sim, Aline! Infelizmente, fala para leigos ou para professores desavisados...ou ainda para parte de professores que, descontentes com a negligência da didática construtivista com o ensino do funcionamento alfabético, acham que a única alternativa válida é o método fônico.
ExcluirEle é um engodo. Há pesquisas sérias sobre plasticidade cerebral, mas achar que alfabetizar crianças de 4 anos é treinar as crianças a relacionar letras a sons isolados dessas letras, é de uma desonestidade intelectual sem fim.
Sim, sua propaganda de homeschooling valoriza o trabalho do canal dele, seus cursos, não é? Todo o seu discurso é baseado na desqualificação da escola, dos professores, da Universidade que os forma e de todos os especialistas que não sejam da perspectiva que ele defende.
Isso mesmo...vão faturar muito! Esse filão é que move tanta animosidade...
Muito bom comentário, Aline!
ExcluirEDCB85 – Dandara Daltro
ResponderExcluirÉ nítido que tudo dito por Nadalim no vídeo, é um desserviço para quem realmente se preocupa com a educação, em um modo geral. O que mais me preocupa são as estratégias utilizadas por este para validar o seu discurso, que não possui fundamentos. 1. Utilizar nomes de “prestígio” para que, quem ouça, tenha a impressão de que há uma fundamentação e aprovação de quem está atuando no campo – todos homens, brancos e cis, diga-se de passagem... E, se eu estudei História corretamente, há evidentemente um problema quando está é contada apenas por esta classe privilegiada. 2. Apropriar-se uma verdade, que é o analfabetismo no Brasil, e, através da retórica, colocar a culpa no letramento. Mesmo que este termo não seja usado em seu sentido verdadeiro no vídeo, o que buscam os brasileiros se não culpados para aliviar a participação de cada um no processo? 3. Pegar o discurso de uma mulher e ridicularizá-lo. E isto o senhor Carlos Nadalim faz durante todo o vídeo. Através da retórica, utiliza os próprios fundamentos de Magda Soares para distorcê-los em favor do que ele defende. Qualquer um que saiba, minimamente, a perspectiva de alfabetizar letrando, identifica as falácias e contradições que vão sendo trazidas. Cabe a nós, nos apropriarmos ainda mais da área, afim de ter força e argumentação contra desserviços como este.
Olá, Dandara!
ExcluirExcelentes reflexões!
Não recorreu a nenhum mulher do campo da ciência cognitiva da leitura, massacrou duas de forma desrespeitosa, apelativa, e, de fato, utiliza e enfatiza os nomes de autores prestigiados para validar seu discurso. Todos homens, todos conservadores. Todos almofadinhas engravatados que se acham o suprassumo da ciência.
É até nojento esse estratagema de pegar uma verdade ampla e trazer, falaciosamente um antídoto, colocando a culpa (retoricamente, como vc disse) em um aspecto que ele estica a seu bel prazer, para criticar.
Muito bom seu comentário!
EDCB85 Natália Carneiro Monte
ResponderExcluirNo vídeo ele faz críticas a Magda Soares que defende o letramento e também a importância do ensino explícito e sistemático do funcionamento alfabético, ao lado da inserção das crianças na cultura escrita.Ele acha que as crianças só conseguirão aprender o sistema alfabético se for de forma instrumental, descontextualizada.Mas Magda Soares defende que a alfabetização se dá ao mesmo tempo que o letramento.Isso ocorre quando se faz reflexões tendo o professor como mediador da situação.Deve-se salientar que é através do ensino da escrita alfabética que os alunos vão desenvolver diversos textos, de diversos gêneros e em diversas situações.Não devemos misturar letramento e perspectiva construtivista, no campo da alfabetização.Eles não são equivalentes, há grandes diferenças.O letramento não é um conceito do construtivismo. Os estudos do letramentos colocam foco nos aspectos socioculturais da escrita.Ao passo que o construtivismo é uma teoria sobre o processo de aprendizagem, relativa à epistemologia piagetiana. No vídeo Nadalim mistura construtivismos e letramento, como se fossem sinônimos. Letramento diz respeito as práticas sociais de leitura e escrita,às situações comunicativas e aos diversos gêneros que existem. É de suma importância o contato e a interação com a cultura escrita, isso refletirá em sujeitos conscientes e críticos capazes de ler e interpretar o mundo. Há necessidade de se investir na formação dos professores, no conhecimento didático em relação aos procedimentos utilizados para se apropriar da língua escrita.Essa apropriação deve envolver muitas reflexões e não de maneira mecânica como o método fônico propõe.
Isso aí, Natália!
ExcluirEDCB85- Natália Carneiro Monte
ResponderExcluirAnalisando a situação política de alfabetização com base no vídeo "Como educar seus filhos" de Carlos Nadalim, atual secretário de alfabetização no MEC, que tem como título "Letramento o vilão da alfabetização no Brasil, nota-se que a alfabetização não é uma questão de métodos a serem usados, mas sim o ensino sistemático do sistema alfabético.O vídeo contém muitas questões que nos confundem, por exemplo quando salienta que ler e compreender não fazem parte do letramento.Ele cita também o analfabetismo funcional, que são pessoas que conseguem decifar e decodificar o que está escrito, mas não interpretam e não produzem textos simples, rebate-se essa afirmativa se considerarmos que o analfabeto funcional apresenta um baixo letramento. No meu entender acho que houve uma incompreensão de conceitos em suas argumentações. Nadalim diz que a questão da alfabetização é complexa e envolve métodos e procedimentos de alfabetização que considera ineficazes, e que os professores são responsáveis pelos fracassos da alfabetização das crianças.Faço as seguintes perguntas: Então há necessidade de se investir mais na capacitação do professor alfabetizador? Quem comanda todos essas questões sobre alfabetização deveria ter mais vivencia sobre o assunto e considerar os pressupostos dos estudiosos. No decorrer do vídeo ele critica também a BNCC por propor uma perspectiva construtivista da alfabetização.Ele acha que apenas a abordagem fônica que é importante para a criança se apropriar do sistema alfabético. Temos que pensar seriamente sobre isso. Ele faz críticas ao pressuposto de que a alfabetização só acontece , exista no contexto do letramento, e desconsidera as opniões de Magda Soares, sobre as funções sociais do letramento.Ele tece muitas críticas aos dizeres de Magda Soares, mas dá para perceber que ele pouco entende do assunto a que se propôs. Eu como aluna do curso, acho que todas as diversas práticas sociais levam ao letramento. Depois de muita discussão sobre o assunto percebo que na medida que se ensina as técnicas de codificação e decodificação ocorre o letramento, concomitantemente. Concluo com tudo que diferentemente do que aparece no vídeo o letramento não é vilão da alfabetização!
Natália,
ExcluirAcho mesmo que além de pouca compreensão - ele não é lá especialista no campo - há é má-fé mesmo.
Não má fé por defender a abordagem fônica - isso não! Há pesquisadores sérios na área, a ciência cognitiva tem pesquisas que é preciso, de fato, considerarmos. Agora, com interpretação pedagógica... Abordar a dimensão fônica, no entanto, não significa abordar SÓ essa abordagem, nem necessariamente da forma mecânica, sintética, que Nadalim propõe.
Sim, fica bem claro que ele repete coisas que nem ele entende direito, até mesmo do campo teórico que ele abraça...Só um adendo...o que Magda traz não é só "opiniões" (isso acham eles, que é tudo crença, opinião, ideologia - porque só validam pesquisa se for experimental e no campo cognitivo), ela se baseia em pesquisas, em experiência, em estudo, em todo um campo. E ela pode ser uma das representantes fundamentais do campo, mas não é sozinha, ela pertence a uma vertente, uma corrente, uma perspectiva, que envolve autores, pesquisas, vozes diversas, em diálogo ou em confronto. Agora, desrespeito desse tamamnho, muito poucas vezes vi - e vi tanto de Nadalim e outros de seus pares, quanto de representantes de um construtivismo mais sectário também. Por incrível que pareça!
Tá complicado...
Vivemos hoje tempos difícies, retrocessos políticos, ideológicos e de direitos que afetam diretamente a vida dos mais pobres. Na educação não foi diferente, sabemos que a escola por si só é um aparelho ideologico do estado, e ele utiliza ao seu próprio benefício.
ResponderExcluirAs mudanças feitas na BNCC são um exemplo prático disso,e percebemos que tipo de escola pública nossos líderes querem destinar para a população. Esvaziada de pensamento crítico,com os conhecimentos lacunados, uma escola que ao invés de pautar a emancipação do indivíduo, pauta a formação para o mercado de trabalho.
Nosso país vive as sombras de um legado histórico de altos níveis de analfabetismo e pagamos essa dívida até hoje. Mas Nadalim no seu vídeo responsabiliza isso a "incapacidade dos professores de alfabetizar", atribuindo a sua formação inadequada fazendo analogias loucas a Magda Soares especialista no campo da Alfabetização. Mas não é bem assim, o professores trabalham em condições precárias, com salas lotadas, sem estrutura física adequada, não dá para individualizar um problema que é coletivo.
Nadalim ainda pauta ainda no seu vídeo um método de alfabetização em 5 passos que a família pode fazer em casa com a criança, sem levar em conta os conhecimentos prévios dos alunos e especificidade de cada um. Essa homogenização do ensino valida uma concepção ideologica de educação que a sociedade hegemonica quer.Ou seja, uma educação mecanizada, desconectada da realidade.
Paulo Freire afirma que ser alfabetizado deveria significar ser capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tornar-se consciente da realidade e transformá-la. Considerando que o alfabetismo pode ser um instrumento tanto para a libertação quanto para a domesticação do homem percebemos o quanto é caro pra gente esse assunto.
Portanto nós que nos preocupamos com a educação pública temos que compreender os determinantes que atual política do MEC está impondo para além da aparência, qual o objetivo eles querem na verdade com o esvaziamento das aprendizagens.
Anônimo, sua reflexão está está muito boa. Entretanto, você não se identificou...
ExcluirUma pena!
Corre aqui e se identifica...
Ah, ok, vi que postou novamente embaixo, Perla!
ExcluirEDCB85-PERLA SILVA DA FONSECA
ResponderExcluirVivemos hoje tempos difícies, retrocessos políticos, ideológicos e de direitos que afetam diretamente a vida dos mais pobres. Na educação não foi diferente, sabemos que a escola por si só é um aparelho ideologico do estado, e ele utiliza ao seu próprio benefício.
As mudanças feitas na BNCC são um exemplo prático disso,e percebemos que tipo de escola pública nossos líderes querem destinar para a população. Esvaziada de pensamento crítico,com os conhecimentos lacunados, uma escola que ao invés de pautar a emancipação do indivíduo, pauta a formação para o mercado de trabalho.
Nosso país vive as sombras de um legado histórico de altos níveis de analfabetismo e pagamos essa dívida até hoje. Mas Nadalim no seu vídeo responsabiliza isso a "incapacidade dos professores de alfabetizar", atribuindo a sua formação inadequada fazendo analogias loucas a Magda Soares especialista no campo da Alfabetização. Mas não é bem assim, o professores trabalham em condições precárias, com salas lotadas, sem estrutura física adequada, não dá para individualizar um problema que é coletivo.
Nadalim ainda pauta ainda no seu vídeo um método de alfabetização em 5 passos que a família pode fazer em casa com a criança, sem levar em conta os conhecimentos prévios dos alunos e especificidade de cada um. Essa homogenização do ensino valida uma concepção ideologica de educação que a sociedade hegemonica quer.Ou seja, uma educação mecanizada, desconectada da realidade.
Paulo Freire afirma que ser alfabetizado deveria significar ser capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tornar-se consciente da realidade e transformá-la. Considerando que o alfabetismo pode ser um instrumento tanto para a libertação quanto para a domesticação do homem percebemos o quanto é caro pra gente esse assunto.
Portanto nós que nos preocupamos com a educação pública temos que compreender os determinantes que atual política do MEC está impondo para além da aparência, qual o objetivo eles querem na verdade com o esvaziamento das aprendizagens.
Muito boas reflexões, Perla!
ExcluirÉ fato que é preciso melhorar a formação de professores quanto à dimensão didática e também ao conhecimento linguístico sobre o funcionamento alfabético. Mas daí a desconsiderar que o problema maior são as condições das escolas e do trabalho e a valorização do professor, colocando todo o problema na conta dos métodos e da formação, é um pouco demais, né?
Enfim...temos muito a fazer pela frente!
Muito bom comentário!
EDCB85- Tiátira Melo Moreira
ResponderExcluirAo assistir o vídeo, fiquei indignada ao ver o novo Secretário de Alfabetização Nadalim, criticar Magda Soares, Paulo Freire, a BNCC, e a alfabetização e letramento. O secretário que é formado em Direito, se acha no direito de fazer isso só porque tem mestrado em Educação e foi coordenador pedagógico durante oito anos de uma instituição que foi fundada pela sua própria mãe.
Ele acha que não se pode alfabetizar com o método global e o método silábico, letramento não é nada alem do construtivismo no ensino da leitura e escrita.
Ele utiliza como referências o trabalho de pesquisadores como Luiz Carlos Faria da Silva e Fernando Capovilla, que são defensores do método fônico de alfabetização.
Pois não é, Tiátira?
ExcluirTodo mundo acha que pode dar pitaco em nossa profissão!
Ai de alguém que desconsidere a indicação de um engenheiro de que não pode derrubar uma pilastra que a casa cai, ou de um médico que indica que precisa de determinado tratamento. Ainda que possa discutir, ponderar, desconsiderar totalmente pode ser fatal, não é?
Pois com a docência, todo mundo acha que pode saber mais que nós. E ai de nós se não defendermos a competência teórico-metodológica e científica intransferível de nossa função docente.
E para isso, muito estudo e fundamentação são necessários!
Tiátira,
ResponderExcluirPois é...o vídeo provoca indignação mesmo.
Agora, além de descrever as posições e referências dele, que tal trazer suas reflexões sobre isso? Você até ensaia no primeiro parágrafo, mas pode ampliar mais essa perspectiva analítica, não acha?
Tente!
EDCB-85 - Vívian Gabriele de Brito Carneiro
ResponderExcluirA partir do vídeo de Carlos Nadalim, atual Secretário de Alfabetização, dos estudos referentes a alfabetização e letramento e as análises de conjuntura, reafirmo a frase de Darcy Ribeiro sobre a crise da educação do Brasil não ser uma crise, mas sim um projeto.
Logo de início Nadalim fala que as crianças não estão dando conta do "básico" (leitura e escrita) e que por isso era praticamente impossível esse processo assumir concomitantemente uma função social. O secretário reafirma com isso uma grande característica das sociedades ocidentais, a insistência em fragmentar os processos, ponto que precisa ser revisto em todo o sistema educacional, além de não acreditar na potência dos educandos, sendo forte seu comentário acerca da incapacidade dos mesmos de conseguirem dar conta de um processo de alfabetização que convergiria com a função social.
O discurso apresentado no vídeo sustenta a sua não crença na visão política da alfabetização, quando se anula a probabilidade de criar diálogos entre as realidades e experiências das crianças com o seu processo de alfabetização, excluí-se as possibilidades de não hegemonia do ensino e contribuí para um pensamento educacional ligado a reprodução e mecanização do ensino. Fica mais evidente ainda quando ele crítica grandes autores e autoras como Paulo Freire, Emilia Ferreiro e Magda Soares e ainda diz que o letramento não é nada mais que uma reinvenção construtivista da alfabetização.
Acredito que Carlos Nadalim não tem consciência de coisas básicas para assumir o cargo que tem, como consciência de classe. As suas falas afirmam um pensamento fragmentado e homogêneo acerca da educação brasileira, enxergo ele como uma peça para esse projeto de (des)governo que o Brasil vem assumindo.
Ótima análise, Vivian!
ExcluirSó lembre que ele fala de um lugar, de sua classe e para sua classe. A fala dele em seus vídeos revela que fala para uma camada bem específica da sociedade.
Enquanto youtuber ele pode escolher seu público preferencial, não é? Mas enquanto secretário no MEC, aí já vira um descalabro, não é?
A forma como ele defende a abordagem fônica como única válida, como verdade última, universal e neutra revela, em verdade, sua perspectiva alinhada a uma ideologia mercantil, meritocrática e neoliberal.
Sugiro que assista esse vídeo, que pode complementar suas reflexões:
https://www.youtube.com/watch?v=PbKVCOKdjWg&fbclid=IwAR0VlDmGJ3r_YdFy9kO-PwaBUWWcSEfT2euXPjSx6OQgkBxvWBlzn5xAaIs
Bacana a sua explanação! Sigamos estudando e resistindo!
EDCB85 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO/TER-08:50/12:30 - Diana Bispo Ribeiro da Silva
ResponderExcluirAntes mesmo de ler a introdução do post desse blog, fui assistir ao vídeo e, confesso, fiquei imensamente confusa a respeito das afirmativas que ali estavam sendo feitas. Acho essencial que todas as pessoas possam e tenham o direito de expressar as suas opiniões, mas sempre mantendo a linha da racionalidade, consciência e respeito para com as pessoas que construíram as obras e conceitos as quais se deseja criticar.
Enfim, após algumas discussões em sala de aula, assim como leitura a respeito da temática da alfabetização e letramento, considero como essencial a esse processo de inserção do indivíduo no campo da leitura e escrita, a valorização do letramento como um processo de ir para além da aprendizagem mecânica do sistema alfabético.
Pois é, Diana...
ResponderExcluirHá muito desrespeito, equívocos conceituais, estratagemas para confundir o espectador, e muito mais sectarismos e má fé nesse vídeo.
Uma coisa é debater ideias, outras é esse desrespeito, esse ataque pessoal, ad hominem, aos autores consagrados, de perspectiva diversa da dele. Não há respeito a um campo que é, por natureza, um campo de perspectivas diversas e é muita arrogância se apresentar como única posição válida e digna de respeito. Um horror!
Ao meu ver, as afirmações de Nadalim no vídeo, além de mostrar falta de conhecimento sobre os conceitos utilizados, evidenciam falta de caráter e uma posição política. Posição essa marcada pela falta de compromisso com a verdade e pautada na perpetuação de uma estrutura social altamente classista e desigual. Como citado na publicação, é totalmente desonesto e estratégico os recortes tirados de contexto da obra de Magda Soares em prol de sustentar argumentos fajutos.
ResponderExcluirMuita boa a iniciativa de desmistificar as falácias desse vídeo através de referências teóricas em seus devidos contextos ao contrário do autor do vídeo em questão.
EDCB85 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO/TER-08:50/12:30 THALINE PITA DE JESUS
Olá, Thaline!
ExcluirSim, muito desonesto mesmo, fica até bem feio...muito explícita a feiura da estratégia preconceituosa de desqualificar uma autora importante na área - uma das mais importantes!
Vamos ler outros posts e ampliar ainda mais a análise?
Professora é fundamental uma discussão como essa diante do desmonte na educação que estamos presenciando com esse desgoverno, por isso é necessário que busquemos cada vez mais como estudantes na área de educação nos manter informados para não cairmos em falácias como as que encontramos no vídeo do ministro Nadalim que só evidenciam sua ignorância e autoritarismo para com o conteúdo abordado, além de ser revoltante o desdém com que ele trata todo o estudo e contribuição de Magda Soares para a educação principalmente no campo da alfabetização e do letramento.
ResponderExcluirA forma como ele trata o processo de letramento como um vilão trazendo o método fônico como a única solução viável para o problema da alfabetização de forma totalmente técnica e descontextualizada é preocupante, pois ignora a capacidade das crianças interagirem com a escrita e a leitura antes mesmo do processo de alfabetização no contexto das práticas sociais.
EDCB85 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO/TER-08:50/12:30 - Lyz Carvalho Figueiredo
Isso aí, Lyz, vamos ler e comentar outros posts?
ExcluirOs posts são também de estudo. E você tem toda razão, estudar e estar informados - e fundamentados para discutir - sobre os últimos acontecimentos no MEC, é essencial na formação de vocês!