Os livros que dão origem às Caixinhas são da literatura infantil brasileira ou estrangeira, todos muito bacanas para as crianças nessa idade, em processo de alfabetização, e também para crianças menores. Meu filho, de 3 anos, adora!
Ouvir, contar, contar junto, fruir, apreciar, discutir, reler, ler junto, recontar, contar para um escriba, reescrever, fazer coletivamente listas de personagens, reconhecer as palavras na lista, brincar com as palavras... muitas são as práticas de leitura e escrita que podem favorecer o letramento e a alfabetização a partir de livros de literatura infantil.
Com os pequenos, a leitura oral feita – bem feita – pelo adulto já é essencial a sua formação como leitor. É comum começarem a contar partes, com a entonação de leitura, como se lessem também. As situações de “como se lessem” constituem-se em eventos de letramento muito importantes para a formação de comportamentos leitores. Formação de leitores.
No acervo de materiais que venho desenvolvendo, há Caixinhas de livros diversos, como Bruxa, Bruxa, A Casa Sonolenta, Bom Dia Todas as Cores, Os Amigos da Bruxinha, Dorminhoco, dentre outras. No momento estou preparando caixinhas a partir dos livros O Grúfalo, estudando possibilidades de um jogo de trilha, do livro Maria-vai-com-as-outras e do livro O rei Bigodeira e Sua Banheira. Essas caixinhas, todas elas, fazem parte das propostas do Módulo II das Oficinas de Produção de Material, constituindo-se como materiais produzidos a partir de gêneros textuais diversos, no caso, gêneros da cultura escrita, literária.
Aos poucos, vou publicar aqui algumas palavrinhas sobre cada kit, tá? Hoje vou postar sobre a Caixinha do livro Bruxa, Bruxa.

As crianças podem, a princípio, “ler” as primeiras frases, que são sempre o nome do personagem daquela página, em vocativo, e indicado pela ilustração, e o convite à festa: “Bruxa, Bruxa, por favor, venha à minha festa”, “Lobo, lobo, por favor, venha à minha festa”... E o professor lê as frases seguintes, “Obrigado, irei sim, se você convidar a (o)...”, e lê o nome do personagem, que vai figurar na próxima página. A última palavra que o professor lê, o nome do personagem seguinte, dá a pista para a próxima frase das crianças. Ex. “Obrigado, irei sim, se você convidar o Espantalho”: “Espantalho, Espantalho, por favor...”.
Com o tempo, as crianças podem ler essas frases em resposta também, usando algum recurso para saber o personagem que se segue, como, por exemplo, uma lista dos nomes ou fichas com esses nomes. Individualmente é comum ver as crianças “pescarem” virando o cantinho da folha para ver a ilustração da página seguinte, que guiará sua leitura. As ilustrações, aliás, de Pat Ludlow, são fantásticas, ao mesmo tempo belas, horripilantes e oníricas. Grandes e impactantes.
Por sua estrutura, é também uma ótima história para se recontar de memória, individualmente ou coletivamente. A única coisa que é preciso controlar, tendo as frases repetitivas memorizadas, é sequência dos personagens que vão aparecendo. Essa sequência pode, justamente, ser apoiada numa lista ou fichas de nomes numeradas ou dispostas na ordem de aparição dos personagens.
Assim, a forma como surgem os personagens da história, e sua estrutura recorrente, favorecem o uso do kit Bruxa, Bruxa de modo muito produtivo em atividades de alfabetização.
O Kit da Caixinha de Bruxa, Bruxa permite compor atividades de leitura e escrita de palavras que correspondem aos personagens da história, em três diferentes formas: palavras inteiras, segmentadas em sílabas e em letras móveis.
Assim, o kit pode ser usado de diferentes modos. No caso das palavras inteiras, pode ser proposta a produção de lista dos personagens, pela ordenação dos nomes a partir das ilustrações das páginas; a procura (leitura por estratégias diversas), entre as palavras, do personagem
A lista produzida com as fichas, com a sequência dos personagens, pode ser afixada na sala e proposta como apoio para o reconto. Essa é uma situação muito bacana de produção de lista, pois ela terá um objetivo bem definido, sua leitura terá um propósito comunicativo: apoiar a memória para que recuperem a sequência e recontem a história. Desse modo, a atividade de alfabetização, de reflexão sobre o sistema alfabético (compor a lista a partir do reconhecimento dos nomes escritos nelas) se integra completamente com a de letramento (recontar a história mantendo sua estrutura, seu sentido, a linguagem própria ao texto). Alfabetizar letrando... refletir sobre a escrita em atividades de produção de sentido.
Formadas as palavras, as mesmas atividades podem ser propostas. Além disso, pode-se comparar palavras pelo número de sílabas, pelas sílabas (iniciais ou não) idênticas, como co-bra e co-ruja (interessante também perceber que no som podem ser diferentes, embora na escrita não), pode-se identificar em palavras diversas a mesma sílaba em posições diferentes e pode-se ainda ler as palavras retirando-lhes uma das sílabas ou trocando-a por outra. Ex. em co-ru-ja, se substituirmos o ru pelo pi de pirata, como ficaria? (co-pi-ja). Pode-se então brincar: Essa palavra existe? E se existisse, o que acham que seria? Experimentar juntar as sílabas de palavras diferentes e tentar ler que "doidice" saiu também pode ser interessante. Um nome de personagem bem maluco e engraçado pode surgir, provocando situações de leitura, escrita, produção de novas histórias. Ex. ES-PI-LO-XA (ES de espantalho, PI de pirata, LO de lobo e XA de bruxa). O que - ou quem - seria isso?
Como nas atividades com sílaba, também aqui pode-se brincar de suprimir, acrescentar, deslocar letras das palavras formadas e ver que palavras ou palavras inventadas surgem, havendo inclusive a possibilidade de uma rica discussão sobre o que a língua permite como palavra (copija não é uma palavra que exista, que tenha significado, mas seria possível na língua portuguesa) e as sequências que não formam palavras possíveis, no âmbito das estruturas silábicas do português (ex. cpija). Essas situações podem se constituir em ricas reflexões para crianças com hipóteses silábico-alfabéticas e alfabéticas.
Para os que escrevem a partir de uma hipótese silábica, a composição de palavras com letras móveis é uma boa oportunidade para refletirem sobre a escrita, no âmbito de sua hipótese, bem como para confrontar sua hipótese com a dos colegas, especialmente se trabalharem em duplas ou pequenos grupos. Nesse caso, e especialmente se consideram o valor sonoro das letras em suas escritas, aparecem grafias como, por exemplo, crj, oua, cua, para a palavra coruja, produtivas e aceitáveis nesse nível de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita, pois consideram a sílaba como unidade que se grafa com uma letra.
Bom, é isso, gente, essa é a Caixinha Bruxa, Bruxa. Essas foram as possibilidades que couberam nessa caixinha em especial. Experimentem, tentem também criar outras possibilidades. Compartilhem!
Aguardem os posts sobre outras caixinhas, outras histórias... com o tempo, eles virão!
Lica