segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Laboratório de Acervos e Práticas (LAP)

Vamos falar do LAP, o Laboratório de Alfabetização da UFBA?


Como conto nesse blog, trabalho com recursos didáticos há muito tempo. Comecei fazendo jogos de matemática, quando era coordenadora pedagógica numa escola que trabalha com jogos em todas as áreas, e depois, no início dos anos 2000, com jogos e outros recursos voltados para a leitura e a escrita, em especial, a alfabetização.

A partir de 2014, esse trabalho convergiu, gradativamente, para a minha atuação no ensino, pesquisa e extensão na Universidade Federal da Bahia, onde sou professora pesquisadora, compondo, mais especificamente, as ações do LAP - Laboratório de Acervos e Práticas, que montei e coordeno na Faculdade de Educação. O LAP se constituiu a partir da pesquisa "Jogos e materiais pedagógicos na alfabetização", desenvolvida entre 2016 e 2020, no contexto de meu grupo de pesquisa, o GELING - Grupo de Estudo e pesquisa em Educação e Linguagem (FACED/UFBA), constituindo-se em um laboratório formativo. A constituição de um Laboratório de alfabetização era uma dos objetivos dessa pesquisa. Em 2017, a pesquisa foi financiada pelo PROPESQ - Programa de Apoio a Jovens Doutores (MITIC/UFBA), com recursos para equipamentos e custeios, por dois anos, e mais uma bolsista, por um ano. Com isso, o LAP pôde ser equipado e dispôs de materiais para produzir os recursos para seu acervo, e o apoio de mais uma bolsista. 

A partir dessa convergência, este post visa, então, a apresentar o LAP aqui no blog, pois, como o laboratório não tem um blog específico, nem acho que valha a pena fazer um, quero deixar aqui registrada essa vinculação desse blog às atividades do LAP a partir de sua consolidação. 

A pesquisa que deu origem ao LAP teve como objetivo geral identificar, analisar, mobilizar e divulgar práticas alfabetizadoras e materiais didático-pedagógicos nos processos de ensino e aprendizagem da língua escrita, em turmas de 4 anos da Educação Infantil ao 3º ano do Ensino Fundamental da rede municipal de Salvador, envolvendo recursos didáticos como jogos de linguagem e materiais a partir da tradição oral. Foram 11 escolas e 34 professoras envolvidas, mais as coordenadoras e os alunos das turmas em que houve observação e intervenção. Além da análise de acervos das escolas, dos discursos e práticas, através de entrevistas e observação da sala de aula, a pesquisa previa uma fase de intervenção, a partir do planejamento colaborativo com as regentes e seu desenvolvimento, realizados em conjunto com as professoras das turmas que compuseram a pesquisa, com posterior avaliação da intervenção junto às professoras regentes. Registramos também, em alguma medida, algumas falas das crianças no período de desenvolvimento das intervenções.

Para a intervenção, as bolsistas PIBIC e PROPESQ produziam os recursos a serem usados na intervenção, em oficinas que eram, ao mesmo tempo, atividade de extensão, abertas ao público interessado, em especial estudantes, professoras do Ensino Básico, participantes ou não da pesquisa. Foram cinco bolsistas trabalhando durante o tempo de desenvolvimento da pesquisa – Alessandra Ribeiro, Valnívia Conceição, Ana Paula Capistrano, Vanessa Bastos e Ana Paula Batista - de 2016 a 2019. Cinco estudantes do nosso curso, comprometidas, aprendendo a fazer pesquisa, estudando, elaborando junto instrumentos, colocando a mão na massa nas escolas, divulgando resultados parciais em relatórios, eventos e artigos, e mostrando, depois, em seus trabalhos de conclusão de curso, o quanto aprenderam! Algumas estudantes voluntárias também contribuíram de modo mais pontual durante esse tempo. 


Entre 2018 e 2019 apresentamos resultados em diversos eventos, como os Conbalf, Endipe, Anfope, Seminário estudantil no Congresso da UFBA, Criethus, Elege, e ainda apresentei a pesquisa e o LAP em grupos de pesquisa de outras Universidades: UFPE, UFMG e UFSC. 



Em 2020 foi o tempo de sistematizar os dados, escrever artigos, divulgar resultados, escrever o relatório da pesquisa. Há alguns artigos disponíveis sobre o projeto, sobre a pesquisa e sobre o LAP, como os do Conbalf 20152017, 2019 e 2021. O primeiro era ainda uma ideia inicial do projeto, os de 2017 e 2019 com a participação em dois trabalhos, um meu e outro em co-autoria com algumas das bolsistas. Os artigos de 2019 estão cada um em um volume dos Anais. 





O trabalho apresentado em 2021 já foi sobre o LAP, não mais sobre a pesquisa em si, pois o LAP se desvinculou dessa pesquisa específica a partir de 2020. Há nesse artigo um resumo da constituição do LAP e das três dimensões de suas ações.


Há também um artigo em periódico científico sobre a dimensão material do LAP (
2018), a primeira a ser tematizada e que deu origem ao laboratório, e outro artigo com resultados de parte da pesquisa (2020), em especial a parte dos discursos docentes, coletados via entrevistas. 



Essa pesquisa revelou a necessidade e o desejo de aprofundarmos mais os conhecimentos quanto à abordagem da tradição oral na alfabetização e, assim, deu origem a uma nova pesquisa vinculada ao LAP, intitulada "Textos da tradição oral na alfabetização", que se constitui em uma continuidade da pesquisa anterior, com metodologia semelhante. Nessa, discursos e práticas sobre a tradição oral são investigados como cultura lúdica, prática de oralidade e no letramento e alfabetização de crianças. Também sobre os dados que geraram essa nova pesquisa há um artigo no livro de nossa Linha de pesquisa no PPGE (FACED/UFBA) e um trabalho foi apresentado no EPEN, nossa reunião regional da ANPED, em 2020



E assim, o LAP vai congregando pesquisas, atividades de extensão, além de ir se relacionando a minhas atividades de ensino na UFBA. Assim, costuras vêm sendo realizadas entre o LAP e meus componentes de graduação e pós-graduação. Para saber mais, assistam à apresentação do Ciclo Ceale Debate indicado mais abaixo.

O LAP é um espaço de formação para a docência, que congrega ações de pesquisa, extensão e ensino, envolvendo experiências formativas em três dimensões: 1) a dimensão material da ação docente, com a pesquisa, mobilização, criação, produção, avaliação, validação e divulgação de jogos e outros recursos didáticos; 2) a dimensão simbólico-cultural, com a pesquisa e a ampliação de repertórios (literatura, tradição oral, cultura lúdica, história da escrita...); 3) a dimensão didático-pedagógica, com a pesquisa e a mobilização de saberes didáticos e estratégias de ensino a partir desses recursos e repertórios. Tem um foco na alfabetização e na cultura lúdica, mas extrapola esses campos, podendo agregar outros docentes e pesquisas que se alinhem a alguma dessas dimensões. O LAP tem potencial de apoiar ações no contexto de estágios, curriculares ou não, de programas diversos que envolvem a relação entre a Universidade e as redes de ensino, em especial, a rede municipal de Salvador, como PIBID, Residência Pedagógica, e também apoiar outras pesquisas. 


É interessante notar que a pesquisa que deu origem ao LAP, sob minha coordenação, envolvia, basicamente, mas não apenas, a dimensão material da ação e formação docentes, pois versava sobre recursos didáticos para alfabetizar, como jogos e materiais estruturados a partir de textos da tradição oral. Na sua fase de intervenção, contou com o planejamento conjunto e o desenvolvimento de estratégias didáticas envolvendo brincadeiras, recursos e repertórios. Dessa forma, a pesquisa se articulou também à dimensão simbólico-cultural e didático-pedagógica do LAP, estando essas três dimensões já presente no nascedouro do Laboratório.

Embora já em atividade na FACED/UFBA desde 2016, desenvolvendo ações ligadas à referida pesquisa, ganhou corpo a partir de 2020, já se articulando a outras pesquisas e atividades de extensão. Antes chamado de Laboratório de Acervos Pedagógicos, parecia focar na dimensão dos acervos materiais. Como se configura como um espaço/projeto voltado à formação para a docência - em especial, mas não exclusivamente, no campo da alfabetização - a troca de nome para "Laboratório de Acervos e Práticas" nos pareceu importante nesse momento de busca pela consolidação de sua atuação na FACED, pois traz, justamente, essa ideia mais dinâmica do LAP, com dimensões mais amplas, envolvendo acervos materiais, mas também simbólicos. Ademais, recursos didático-pedagógicos, uma vertente importante do trabalho do LAP, o são na medida em que são significados por concepções, perspectivas quanto ao conteúdo a ser ensinado, objetivos de aprendizagem, princípios e estratégias didáticas, e na medida em que são organizados e mediados pela ação docente. Nesse sentido, é esse "trabalho" de pensar e aprender a planejá-los e incluí-los na prática, de forma fundamentada e articulados a outras estratégias didáticas, que faz a diferença quando falamos na dimensão material da ação docente e da formação para a docência. Assim, o novo nome comporta melhor as três dimensões do LAP e sua perspectiva formativa.

O LAP ganhou maior visibilidade a partir de alguns aspectos: 1) a divulgação da pesquisa e do Laboratório em eventos e artigos; 2) as ações desenvolvidas ou em projeto a partir de 2020, já dissociadas da pesquisa original; 3) a criação da logomarca e a divulgação das ações e projetos do LAP nas redes sociais: Facebook e Instagram (ver observação ao final do post); 4) as parcerias interinstitucionais, estabelecidas informalmente desde 2017 com colegas de outras Universidades, com seus laboratórios em constituição, e oficializadas a partir do lançamento da Rede AlfaLABS, em dezembro de 2021, no contexto do Congresso da UFBA 75 anos. Nessa mesa, coordenadoras dos 4 laboratórios fundadores da Rede, que vêm interagindo já há algum tempo e fortalecendo a discussão sobre Laboratórios formativos nas Universidades, apresentaram as ações de seus Laboratórios e a Rede foi lançada ao final da mesa. Assista aqui.


A logomarca do LAP, criada no início de 2020, veio para contribuir com essa visibilidade e, consequentemente, com a consolidação de suas potencialidades de atuação na Faculdade de Educação e também no campo escolar - sempre ligadas ao campo formativo na Faculdade. E ela traz essa perspectiva de ampliação do nome do LAP. 

A logo, bem como outros produtos visuais ligados a ela, foi feita com carinho por Jasio Velázquez, que entendeu muito bem a proposta. Ela expressa tanto a ideia de guardar, na referência a uma caixa - remetendo aos acervos - quanto à ideia de dinâmica, trazendo elementos que remetem ao ato de mobilizar, de fazer junto, de movimentar, ideia mais condizente com o espaço do Laboratório, que se configura como um espaço de ações formativas, de estudo e experimentações de um ofício - espaço de trabalho! Afinal, o termo "laboratório" vem do latim medieval “laboratōrĭum”, remetendo ao local para trabalhar, originado, por sua vez do latim antigo “laboratus”, particípio do verbo “laborare”, que é, justamente, trabalhar. Além disso, evoca também algo do artesanal, na própria fonte usada na logomarca, remetendo não apenas à produção artesanal efetiva de recursos, mas à artesania própria ao ofício docente, tal como Jorge Larrosa o concebe, com suas "artes de fazer", como diz Miguel Arroyo.

Atualmente, como já referido, o LAP está articulado a uma nova pesquisa, intitulada "Textos da tradição oral na alfabetização", que se desdobrou da pesquisa original, pois os seus resultados indicaram ser produtivo investigar com mais aprofundamento os discursos e práticas docentes no que se refere à abordagem da tradição oral como cultura lúdica, prática de oralidade e na alfabetização e letramento de crianças. Vinculada a essa pesquisa, um projeto de extensão intitulado "Gêneros da tradição oral e cultura lúdica em tempos de isolamento social", foi proposto durante a pandemia, convidando famílias e escolas a mobilizar o repertório da oralidade lúdica com as crianças. O projeto segue em andamento com a retomada presencial das escolas, e você pode acompanhar no Insta ou Face do LAP. Essa ação virtual foi apresentada no Colóquio NEPESSI. O projeto teve a parceria com o NEPESSI - Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas sobre Infâncias e Educação Infantil, do qual também faço parte, bem como com a Escola Casa Via Magia e com a Canastra Real: contos em cantos


Tanto os recursos para alfabetizar, quanto o repertório da tradição oral, ligados às atividades de pesquisa e extensão do LAP, aparecem nas minhas atividades de ensino. No componente da graduação, EDC B85 - Alfabetização e letramento, além da abordagem dos recursos didáticos, análise de jogos e materiais a partir da tradição oral, tenho solicitado, articulada à atividade de extensão desenvolvida durante a pandemia, a elaboração de inventários culturais familiares ou Mini Acervos de memórias de tradição oral, que são, depois, mobilizados para pensarmos sobre esse repertório na alfabetização. Recentemente, a história da escrita se apresentou como um elemento importante na dimensão simbólico-cultural do LAP, constituindo-se como um estudo importante para pensarmos a escrita alfabética como um instrumento cultural potente que se relaciona de forma imbricada com as práticas sociais que lhes deram origem, contribuindo para pensarmos numa relação de interação e não de dicotomia entre as diversas facetas do ensino da linguagem escrita. E assim, esse conteúdo também se articula ao ensino, pesquisa e extensão. Outra pesquisa, em andamento, é intitulada "O abecê nordestino e a alfabetização na Bahia" e entra nesse escopo. O estudo da história da escrita proposto no componente da pós-graduação EDC C48 - Alfabetização, letramento e práxis pedagógica passa a relacionar-se também ao LAP.

Aos poucos, com as ações em desenvolvimento no LAP ou em articulação com outros Laboratórios, com as publicações e eventos, com o reconhecimento de nossos pares desse projeto formativo nas Universidades, vamos consolidando os pilares e as concepções que nos guiam, tanto a nós coletivamente na Rede de laboratórios, quanto em nossas singularidades. 

Os pilares, princípio e concepções que embasam o LAP vão dando corpo a esse projeto, e seguem sendo discutidos em publicações e eventos. 



Esses pilares e concepções do LAP foram tematizados, principalmente, nesses dois contextos: o Ciclo Ceale Debate e a nossa publicação sobre alfabetização, saberes, recursos e laboratórios. 

O LAP e suas ações foi apresentado em alguns contextos, mas no primeiro semestre de 2022, os 4 laboratórios parceiros, fundadores da Rede AlfaLABS participaram do Ciclo Ceale Debate - Laboratórios de alfabetização, realizado remotamente pelo Ceale da UFMG, importante centro de alfabetização do país. Aqui tivemos mais tempo de apresentação, podendo aprofundar mais em nossas ações e seus fundamentos. Está disponível no Canal do Ceale, aqui

Além da apresentação do LAP (UFBA), há nessa Playlist as outras três apresentações dos outros laboratórios: o LÁPIS (UFRGS), o LAPIL (FURG) e o LAL (UFMG). Tivemos o prazer de ser ouvidas por muita gente bacana da UFMG e de outras Universidades, como Francisca Maciel, Isabel Frade, Magda Soares, dentre muitas outras, e ter a presença e o apoio de nosso presidente da ABAlf - Associação Brasileira de Alfabetização, o professor Lourival José Martins Filho. Aqui o link da Playlist com todas as apresentações, dos 4 laboratórios, no Canal do Ceale.

Em breve teremos a publicação que aborda saberes, estratégias e recursos didáticos na formação docente, e traz capítulos sobre os laboratórios formativos, consolidando as parcerias entre laboratórios de diferentes Universidades. Organizo a publicação junto com as parceiras dessas outras Universidades. Nessa publicação, há capítulos desses 4 laboratórios, mas também de outros pesquisadores, docentes e estudantes que pesquisam recursos, repertórios e estratégias de ensino no campo da alfabetização. No prelo! A sair em breve, ainda esse ano. 

Com o lançamento da Rede AlfaLABS, outras ações parceiras também estão no horizonte - o LAP dando frutos, internas à Faced, e externas, abertas à comunidade ou articuladas a outros laboratórios, de outras Universidades. Embora já estivéssemos trabalhando em parceria desde 2017/2018, o lançamento da Rede concretiza essas parcerias, que ganham mais destaque e institucionalidade, reiterando as ações coletivas, ao lado das ações de cada laboratório específico de nossas Unidades. Mas os laboratórios já nasceram como rede, como parceria, como coletivo, pois bastou um gatilho para nossas antenas vibrarem num mesmo desejo e nessa ideia de parceria. 

Nossa Logomarca traz tanto marcas dessa nossa organização primeira - nossos 4 laboratórios evocados pelas cores - quanto a abertura para acolher outros laboratórios na Rede AlfaLABS, já que se apresenta como um fragmento de estrutura rizomática, sem centro e com várias possibilidades de nós - nós que se configuram a um só tempo, na verticalização de nossos laboratórios específicos, e nós que implicam nas inúmeras relações - sempre abertas - que podemos estabelecer entre nós e com novos laboratórios, que cheguem a esse coletivo.

Se laboratório vem de LABORAR, trabalhar, um coletivo acena ainda mais com a ideia de CO-LABORAR, CO-LABOR-AÇÃO, ação de trabalhar junto, COM! E nesse sentido podemos dizer, que nossos laboratórios estão se constituindo como CO-LABORATÓRIOS!

Sigamos adiante ampliando ações, parcerias, belezas e firmezas nessa trajetória de docentes e formadoras de docentes! E sempre aprendizes.

Para saber mais sobre os jogos e outros recursos didáticos do LAP, veja essa postagem aqui no blog. E sobre o processo de avaliação e validação dos recursos, aqui


*Observação: embora minha posição seja de que precisamos cuidar de não restringir a divulgação de ações da Universidade às redes ligadas a uma mega-empresa, as redes sociais constituem um canal de visibilidade (ainda que controlado por algoritmos) e de interação com estudantes, docentes e pesquisadores mais amplamente. Assim, as redes do LAP têm essa perspectiva, mas o seu trabalho é na Universidade e, evidentemente, estaremos em diversos outros canais de debate, divulgação e compartilhamento de experiências.