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sexta-feira, 17 de março de 2023
Abecê nordestino no Congresso UFBA 2023
Apresentação sobre o abecê nordestino no Congresso da UFBA 2023. José Rêgo (Pinduka), mestre em educação (FACED/UFBA) e doutorando em Artes cênicas (ETUFBA), é também o mestre da Canastra Real: contos em cantos. Pesquisador do campo da cultura infantil, também é artista que performa iguarias do cancioneiro e da poética popular, em repertórios para crianças e adultos.
Foi uma apresentação interativa, unindo relato de estudos e pesquisa e deleites culturais. Desenvolvo desde 2017 um estudo e uma pesquisa empírica sobre nosso abecê, como vocês que acompanham aqui as postagens sabem, pois tem bastante coisas sobre isso no marcador "Abecê nordestino" aqui no blog.
A investigação, que é exploratória, qualitativa e envolveu pesquisa bibliográfica e empírica, ficou parada durante a pandemia, em razão de desafios acadêmicos, profissionais e também pessoais. E agora retomo-a para comunicar resultados. E junto-me a José Rêgo nesse interesse pelo modo de pronunciarmos as letras em nosso abecedário nordestino, que ainda dura e resiste na Bahia. Essa parceria só enriquece a discussão, que extrapola o campo da alfabetização, pois envolve nossa cultura, nossos falares, algo que diz respeito a todos e todas nós.
Nessa apresentação no Congresso UFBA, primeira mais formal que fazemos juntos (como casal, já falamos, cantamos e recitamos muito o nosso abecê em roda de amigos), mesmo abordando estudos de diversos campos que nos ajudam a defender a validade cultural e linguística de nosso abecê, bem como resultados e discussão de pesquisa, foi uma apresentação leve, costurada à fruição poético-musical, à brincadeira com a língua, à interação com o público, que foi ficando craque no abecê nordestino a cada provocação.
Para acordar o abecê dentro de nós, a língua em estado de jogo, mostrando que é mais fácil para os que aprenderam as letras nordestinas, mas também que, esquentando a cada estrofe, a tarefa ia ficando mais fácil, Pinduka abriu com o Galope à Beira Mar Soletrado, de Xangai e Ivanildo Vilanova, começando a conversa sobre tudo isso. Mas que soletrado difícil, até para os "falantes" do abecê nordestino!!! Como método de alfabetização, a soletração é um procedimento proscrito, mas como brinquedo da língua, nos desafia, traz esforço de driblar a língua e riso, muito riso!
A fruição reflexiva seguiu com o ABC do sertão casadinho com A letra é rê e não erre, de Nonói Contador de causos, o Noédson Valois, apurando com o público o sabor desse abecê, no canto e na poesia. É interessante notar que Luiz Gonzaga e Zé Dantas falam de um abecê que, ao mesmo tempo, exaltam como nordestinos, mas também veem "de fora", achando engraçado "ouvir-se tanto ê". Já Nonói é mais aguerrido, separando "nós" e "eles", nós cá falando fê, correto, e eles lá que "errem" com o erre, em uma defesa bem regionalista, de quem afirma, com razão, a beleza e a justeza de nosso abecedário.
Nossa defesa do abecê nordestino, que nada mais é que um abecedário em que oito letras têm nomes diferentes das do abecê dito oficial, não é regionalizante, que afirme uma identidade cultural própria, fechada em suas fronteiras, naturalizando os recortes geográficos e simbólicos ligados à ideia de região de Nordeste, que, como imaginário, como espaços simbólicos, são invenções, construções.
Mas tampouco queremos nos alinhar ao discurso que anula as heterogeneidades e a diversidade presentes nas especificidades das culturas regionais, em prol da nacionalidade ou de uma visada global universalista. Afirmar o regional sem ser regionalista é um equilíbrio que exige uma perspectiva menos estanque de analisar os fenômenos culturais.
Entretanto, feitas essas ressalvas, digo com Nonói: "A letra é rê e não erre! Garanto que não errei. [...] Se você prefere, erre! Com o rê não errarei."
Depois desse introito, que contou também com boas reflexões de Pinduka sobre o sabor de nosso abecê, apresentei o estudo e a pesquisa que desenvolvi (e ainda estou estudando) sobre o assunto. Eu trouxe brevemente os argumentos de diferentes campos do conhecimento que nos permitem argumentar sobre a legitimidade cultural e linguística desse abecê. A historiografia da alfabetização e do alfabeto, os estudos sobre variação linguística, pesquisas atuais sobre o papel do nome das letras na alfabetização inicial, nos ajudam a entender o que está em jogo nisso de termos dois abecedários diferentes no Brasil e permitem validar o nosso modo de nomear as letras, que não é invenção de nordestino iletrado nem obra de professoras leigas da zona rural nordestina, como se pensa muitas vezes.
Nesses argumentos, a discussão sobre o princípio acrofônico se faz rainha, costurando tudo, todos os argumentos, pois, como diz Cagliari, ele é, ao mesmo tempo, a chave da constituição do sistema e da apropriação do funcionamento da escrita alfabética, ou seja, quando o sistema alfabético foi constituído com base nesse princípio, forneceu também a chave para a alfabetização. E o X da questão é justo esse, as letras nordestinas têm muito mais a ver com isso do que as letras ditas oficiais!!! Ao menos sete delas!
Bom, depois desse breve passeio pelos estudos que fiz, apresentei também o projeto e alguns dados da pesquisa realizada junto a docentes, que revelam que o abecê nordestino ainda está, sim, presente nas práticas alfabetizadoras, embora menos do que no passado, claro. Ideias advindas de desconhecimentos mostram que conhecer mais diversos elementos do nosso sistema de escrita ajuda a valorizar mais nosso abecê, para que ele possa seguir circulando nas escolas e não desaparecer, "colonizado" pelo abecê hegemônico, dito oficial, tido erroneamente como o correto, culto e belo.
E ao final da nossa apresentação, como toda situação de aprendizagem merece (rsrsrsrs), Pinduka fechou a mesa tomando a lição! E foi fácil, foi, com o Abecedário de Gerônimo, canto e resposta, e todo mundo craque no abecê!
Fizemos um compilado da apresentação, para vocês poderem ter um gostinho do que aconteceu lá, veja aqui.
E você aí? Já aprendeu o nosso abecê? Já começou a mudar seu conceito sobre ele?
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Livros de ABC
...E volto às postagens com um post com novas dicas de livros de ABC, abecedários contemporâneos que se multiplicam enormemente, com novas roupagens.
Os abecedários, as cartas de ABC
e os silabários foram utilizados para ensinar a ler e escrever nas escolas
brasileiras até meados do século XX, com um foco no aprendizado das letras, da
ordem alfabética e das sílabas. Os abecedários tinham, assim, primordialmente
uma função pedagógica.
De outro lado, a tradição oral e
alguns jogos também apresentam brincadeiras com as letras e a ordem alfabética,
a exemplo da parlenda que acompanha a brincadeira de pular corda: "Suco
gelado, cabelo arrepiado, qual a letra do seu namorado? A, B,C...Z” ou “Água
gelada, com pão e marmelada, qual é a letra da sua namorada?”. Ainda que essas
parlendas também possam ajudar a memorizar a ordem alfabética, sua função
primordial é acompanhar a brincadeira. Nesse sentido podemos dizer que é comum
o uso do alfabeto ter também funções lúdicas e poéticas.
Organizar conteúdos em forma de
alfabeto, com estratégias diversas como listas de palavras, verbetes,
repertório de determinada classe de objetos ou seres (como animais, que são
campeões em termos de organização alfabética) tem sido uma prática bem comum em
livros informativos e agora, também, em livros de literatura infantil.
Então, minha proposta é olharmos
para esses novos abecedários com novos olhos, pois eles têm aparecido no
domínio do livro para crianças que pouco a pouco se liberou do caráter pedagógico
para investir no terreno do estético, da criação, da arte literária.
Assim, no decorrer do tempo, embora
possa carregar ainda, de certa forma, sua marca de origem como manual de
aprendizagem da leitura, os abecedários encontraram novos fôlegos, outras vias para
se metamorfosear, entrar para a literatura e inscrever em cada uma das letras
que usamos para escrever um convite à poesia, ao sonho, à criação, à surpresa, ao
desvio, à beleza, enfim, à brincadeira com a linguagem. Como os gêneros de
texto em geral, os abecedários também foram se transformando com o tempo, bem
como são influenciados pela tendência contemporânea de esmaecimento das
fronteiras genéricas.
Hoje, os abecedários, ou seja, livros
organizados em forma de alfabeto, associando as letras a texto ou imagem, reaparecem
e se multiplicam nessa nova forma poética, não com uma função primordialmente
didática, mas sim literária. E com essa função estética, podem ainda ser fonte
riquíssima de boas aprendizagens sobre os signos da escrita, de forma lúdica,
gostosa e produtiva. Eles não têm necessariamente a função de ensinar as
letras, o alfabeto, mas de brincar com elas, de usar o alfabeto como pretexto
para pequenos textos literários, brincadeiras com a linguagem, motes para
criações verbais e visuais. Mas também aproximam as crianças desses signos da
escrita.
Afinal, para além da grafia das letras,
elas evocam sons, e não podemos esquecer que a matéria sonora dos textos
poéticos é também matéria riquíssima para a alfabetização, favorecendo a reflexão
sobre as sonoridades da língua. Em matéria de poesia o letramento literário se
imbrica ricamente com o processo específico de alfabetização.
Faz tempo que fiz dois posts
sobre esse tipo de livro, um com indicação de abecedários poéticos ou outros
livros de alfabeto,
e outro apresentando o material intitulado Arquivo Alfabético Poético.
E ainda teve um post introdutório sobre Abecedários.
Postei também alguns exemplos de
atividades a partir de textos poéticos desses abecedários literários, aqui e aqui.
Isso para mostrar como podem possibilitar aprendizagens interessantes que
articulam letramento literário, alfabetização e apropriação de vários aspectos
da língua.
Bom, agora trago novas dicas de
livros de alfabeto, alguns poéticos, com pequenos poemas ou enunciados poéticos
para cada letra, outros com outras estratégias, mas interessantes de algum
modo, afinal, os abecedários de hoje em dia constituem quase um gênero
específico no âmbito da literatura infantil, com características lúdicas e
estéticas, tanto em termos do texto, quanto da imagem.

Exemplo disso é o ABC
Curumim já sabe ler (Bia Hetzel, Ed. Manati).

Nesse caso, aproxima-se de um livro brinquedo, livro visual, mais próximo dos manuais de ABC de antigamente, mas ainda assim bonitos e com uma proposta brincante.
Dito isto, então vamos lá às
dicas de livros! Aos 16 livros indicados no post do Arquivo Alfabético Poético,
somam-se mais esses... por enquanto... Não paro de
descobri-los por aí...
Uns desses eu já tenho ou conheço
faz tempo, mas não entraram no Arquivo Alfabético, outros fui encontrando de lá
para cá. Alguns já tenho, outros estão na lista de desejos, mas já vi na
livraria ou na mão de alguém, outros foram indicados, mas ainda não vi.
Entretanto, as indicações são de livros bacanas, pois tem muitos outros por aí
nesse estilo, mas sem a qualidade que penso que devem ter.
Uns desses livros exploram mais
os sons das letras, outros as palavras iniciadas com cada uma delas, uns
investem no formato das letras, outros usam as letras como iniciais de palavras
que são apenas motes para o texto.
O livro Deu zebra no ABC, de Fernando Vilela (Pulo do Gato) vai emendando um animal no outros de forma divertida.
Assista aqui a leitura dele e há também um vídeo bacana do autor contando como fez o livro. Tem um livro interessante que brinca com essa ideia de bicho chamando outro, mas não é livro de alfabeto...o que vai chamando o próximo bicho é uma parte de seu corpo e uma espécie de adivinha, ou ao menos de dica que é dada. Chama "Os bichos também sonham", é bem legal!
Dois livros maravilhosos são: o Alfabeto escalafobético (Claudio
Fragata e Raquel Matsushita, Ed. Jujuba) e o ABC Doido (Ângela Lago, Ed. Melhoramentos). O Alfabeto
escalafobético é fantástico, unindo imagem e
grafia, sentido e letras. O ponto de partida das ilustrações é o próprio
desenho da letra. Em muitas é o próprio desenho tipográfico que comanda a cena tanto
nas ilustrações quanto no textinho que acompanha cada letra, mas nem sempre é o
principal. Veja o da letra i...

O que é, o que é?
Responda sem demora
O rouxinol tem
dentro,
E a xícara...do lado
de fora?
A letra X
Como começa pelo fim, é mais
desafiante saber a letra seguinte no alfabeto de trás pra frente, que faz a
gente ter que pensar um pouco para responder e para compreender o sentido da
resposta. Por exemplo, podemos até conseguir responder a adivinha por saber que
se trata da sequência alfabética e que, de trás pra frente, depois do V vem a
letra U, mas pense que para entender a brincadeira, precisa de algo a mais,
como nessa do U:
Pode gritar já, sem
dó:
O que é que a
assombração
Usa seis e de uma vez
só?
A letra U (UUUUUU!)

O rato Romualdo
Rói o rei, rói a
rainha
Rói a roupa do Romeu
Rói as rendas da
Rosinha.
A ararinha assanhada
Adora andar arrumada
Arruma a saia
amassada
Alinha a blusa
azulada
Amarra a rosa dourada
Arrasta a turma
animada.

Aliás, bichos e alfabeto parecem
que têm um longo namoro, pois sempre tem livros que os unem.

Esse de Mario Bag, o Abc e outros bichos, traz pequenas
frases para cada letra, contendo palavras iniciadas pela letra em questão, além
daquela referente ao animal representante daquela letra. Esse livro já está no Arquivo Alfabético Poético, mas não sei porque, acho que não entrou na lista dos livros no final do post. Então retomo-o aqui.
Já o ABC da bicharada traz uma quadrinha para cada animal, representante
de cada letra. Para a letra B, o besouro:
No ouvido de uma flor
Um zumbido brilha
ouro
Seja frio ou calor
Vem voando o BESOURO.
As quadrinhas exploram as rimas, o ritmo próprio a esse gênero e traz o nome do bicho em letras maiúsculas, o que pode favorecer as leituras e pseudoleituras das crianças.
Além do Bichonário citado, do Marco Hailer tem também o Um mundo chamado alfabeto
(Ed.Carochinha), em que cada letra traz um repertório de palavras, mas também
pequenos textos poéticos geralmente textos da tradição oral como parlendas,
cantigas e trava-línguas.

É um mote
bacana para construir pequenos poemas com os nomes das crianças de uma turma e
organizá-los em ordem alfabética. Aliás, as ilustrações são feitas por crianças!
Um abecedário diferente, que parece bem interessante, especialmente para nós aqui da Bahia (mas não apenas), é o Abecedário
Afro de poesia (Silvio Costta, Ed. Paulus). O livro traz textos
poeticamente trabalhados, embora não sejam poemas propriamente ditos, com um
rico vocabulário, de A a Z, que descende da cultura africana.
Traz palavras mais
conhecidas, integradas ao nosso dia a dia, como bagunça e xingar, outras menos usadas
fora de Estados com rica influência da cultura africana na linguagem, como a
Bahia, e outras, ainda, menos conhecidas. No final há um glossário com os
termos citados e suas significações.
Além de conhecer mais a cultura africana, a origem de palavras que usamos e sua forte presença no nosso léxico, o leitor pode também ampliar seu vocabulário. Ainda não vi o livro, mas adianto um exemplo, com a letra A:
Além de conhecer mais a cultura africana, a origem de palavras que usamos e sua forte presença no nosso léxico, o leitor pode também ampliar seu vocabulário. Ainda não vi o livro, mas adianto um exemplo, com a letra A:
“A azoeira estava pronta:
gente na casa que ninguém dava conta. Por sobre a toalha a enfeitar a mesa
posta, o abará em porção, num grande
tacho, pra saciar quem quisesse. E ainda, mais abaixo, recém-chegado da fervura
numa travessa que dava gosto, o acarajé
em fartura. Do lado oposto, pra acompanhar, reluzia quase dourada uma jarra
carregada de aluá. Mas não se dê por
saciado. Veja só o que vinha por lá: Num abadá
todo florido, espalhando axé com sua presença, Dona Florença, a dona da festa,
carregava o seu tesouro; o melhor angu que
já veio de Angola. Antes da ceia, num ritual, o afoxé se antecipou. Feito um som que lembrou um sino, o agogô deu um aviso: a festa afro
começou”.
Engraçadíssimo, como o nome já
diz, é o Abecedário Hilário (Nani, Ed.
Hedra). Cada letra gera um texto composto basicamente de palavras
começadas pela letra em questão, quase como um trava-língua. O textinho da
letra D, por exemplo:
Dado
Doado a
Dorival foi
Devolvido
Devido a
Dar o
Dois
Duas vezes.

Adivinhe qual é
A profissão do G?
Ele serve uma comida
muito gostosa.
Já o J, em forma de anzol,
mergulha em um mar de letras e diz:
O que será que o J
Preparou para o
janta?
Já sei! Sopa de
letrinhas!
A Editora Edelbra apresenta três livros de alfabeto poéticos, da Gláucia de Souza, um com frutas, outro com
flores e um com o tema do futebol. Não vi esse último ainda, mas o do pomar e do jardim são bem bacanas, dá vontade de ir pensando nomes de frutas e flores com todas as letras e fazendo novas quadrinhas para eles. São
eles Um pomar de A a Z e Um jardim de A a Z.

Não conheço, não vi o texto, mas tirando pelos outros da coleção, talvez seja legal.

Um livro diferente é o Alfabeto Perigoso (Neil Gaiman, Ed. Rocco - Pequenos leitores). É um abecedário de terror! É um livro ilustrado, com a imagem meio sépia do ilustrador Gris Grimly.
Duas crianças e
sua gazela de estimação entram com um mapa em um mundo subterrâneo
desconhecido, onde habitam monstros, fantasmas e outras criaturas estranhas.
Cada letra traz estranhezas diferentes que criam a atmosfera subterrânea do livro.
São assim 26 versos alfabéticos e tenebrosos a desvendar!

O esqueleto, quem diria,
não tem banheiro pra usar,
De menino, de menina?
Em qual ele deve entrar?
Da mesma autora tem o Números Assombrados, que
traz uma espécie de tangolomango com os números de 10 a...(zero, será?).
Indiquei este no segundo post do Tangolomango.

As letras do alfabeto dançam em um baile de cores vibrantes, um
misto de livro alfabeto e livro de arte. Em cada língua que o livro foi
traduzido, escolheram cantigas e parlendas próprias à cultura oral daquele país
ou criadas por um autor. No original em francês, o livro traz textos escritos
por Jacques Damase, que lembram parlendas, cada uma fazendo uma ligação com a
letra em questão.
Um livro bem diferente, que traz
o gênero anúncio de jornal (classificados), é o ABC Procura-se (Gwénola Carrère, Ed. Edelbra). A cada letra do
alfabeto temos um nome próprio que é o nome do bicho – novamente animais! – que
está a procura de alguma coisa. Por exemplo, na letra A, de Aline, uma
tarântula, diz:

No B, de Bruno, que é um bicho
que não dá para saber qual é, diz: “Todas as quartas-feiras, espero vocês na
minha casa para jantar. Cardápio surpresa!”
O interessante é que um vai se
ligando ao outro por algum elemento do texto, Aline pode jantar com o Bruno, o
Bruno puxa a Carol, que diz “Surpresa sou eu! Animadora profissional, alegro
suas noites. De hoje em diante, TV desligada”. Aí o próximo puxa algo com TV, e
alinhava com livros, o próximo puxa livros e fala numa fábrica de papel, que
puxa uma funcionária de uma fábrica de papel. Assim, o alfabeto de bichos e
anúncios vai sendo todo interligado.
A ideia é muito legal! Dá para fazer brincadeiras com classificados e até tentar fazer um ir puxando o outro também. Para ler todo e uma só vez, talvez seja muito, mesmo sendo textinhos pequenos. Mas lido aos poucos, restabelecendo os "links" a cada vez, explorando os anúncios, acho que promete alguns momentos de deleite.
A ideia é muito legal! Dá para fazer brincadeiras com classificados e até tentar fazer um ir puxando o outro também. Para ler todo e uma só vez, talvez seja muito, mesmo sendo textinhos pequenos. Mas lido aos poucos, restabelecendo os "links" a cada vez, explorando os anúncios, acho que promete alguns momentos de deleite.

Dois exemplos:
Troco o L de lama
Pelo F de fama
O C logo reclama
Seu lugar na cama.
O Z de zoada
Faz muita zoeira
Prefiro o T de toada.
É som de primeira.
Outros tantos livros de alfabeto
podemos encontrar em edições portuguesas. Chamo a atenção a três deles. Um tem
o título idêntico ao do nosso abecedário poético de Elias José, referido no
post sobre o Arquivo Alfabético... É O
que se vê no abc (Dafne W. Rocha e Danuta Wojciechowska, Ed. Caminho).
Os outros são O Livro das Letras (António Mota e Elsa Fernandes, Ed.
Gailivro) e O Hospital das Letras (José Jorge Letria, Portugália Editora). Outro
do Letria já fazia parte do Arquivo Alfabético, O Alfabeto dos Bichos (mais bichos). O do Hospital traz textos como A Otite do O e coisas do gênero. Interessante!
É isso, minha gente... são infinitas as possibilidades de brincar com esses livros, suas rimas, outras sonoridades, seus desafios, seus jogos de linguagem. Espero que tenham gostado das dicas... São modos belos de apresentar as letras, o alfabeto, junto à riqueza da linguagem e da literatura. Outros livros sempre poderão via a se juntar a esses. O acervo pesquisado já conta com mais de 30 livros de ABC!
Aliás, revendo os outros posts de abecedários, percebi que não apresentei todos os livros do Arquivo Alfabético, só alguns no post sobre livros de alfabeto, mas nem todos os que aparecem listados no post do Arquivo. Quem sabe retomo-os depois, para apresentar como fiz com esses aqui, não é?
Aliás, revendo os outros posts de abecedários, percebi que não apresentei todos os livros do Arquivo Alfabético, só alguns no post sobre livros de alfabeto, mas nem todos os que aparecem listados no post do Arquivo. Quem sabe retomo-os depois, para apresentar como fiz com esses aqui, não é?
E com certeza, há muitos outros e muitos que ainda vão chegar!
Abraço,
Lica
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Arquivo Alfabético Poético
Hoje eu vou postar sobre um material muito especial. Especial porque é um material que vem sendo feito há tempos. Porque é cheio de possibilidades.... nada está pronto de antemão..... Especial também porque é um material meio trabalhoso e dispendioso (mas pensaremos em adaptações). Mas, especialmente, porque foi o primeiro material todo pensado a quatro mãos. É o Arquivo Alfabético Poético. Esse é um dos kits de Arquivos Poéticos, junto com outros que venho pensando, como o de Sergio Capparelli, já postado aqui.
Veja na figura uma ideia do que é.
O Arquivo Alfabético não apresenta, nesse caso, atividades para esses textos/livros – ao menos não ainda, mas já temos planos de pensar em incluir sugestões – mas sim os próprios textos, com suas ilustrações. Vocês podem se perguntar “sim, mas se temos os livros, para que o arquivo?” – pergunta bem pertinente. Os livros são fundamentais. Mas pensamos que ter esse material em forma de fichas seria bem interessante, pois podemos manipulá-las independentemente, trabalhando com todos os textos de uma determinada letra, por exemplo, ou todos os textos de um mesmo autor/livro. A ideia do fichário com esse tipo de texto de alfabeto vinha me perseguindo faz tempo...
Pois bem, quando compartilhei essa ideia, ainda um esboço, com Ana Lúcia Antunes, minha amiga de longe e já parceira naquela essa altura, ela logo comprou a ideia e passamos a desenvolver juntas o projeto. Da ideia inicial foram surgindo outras, e também pequenas questões foram aparecendo. Primeiro selecionamos os livros – há muitos! – cada uma de nós conhecia um tanto, cada uma ia descobrindo novos, que cabiam no arquivo. Foi uma pesquisa muito bacana.
Assim, nessa primeira versão do Arquivo, que pode crescer ainda, entraram 16 livros, de vários autores e editoras (ver lista dos livros abaixo, na nota do post). Temos ainda o ABC Doido, de Ângela Lago, que estamos avaliando se entrará nesse arquivo ou constituirá um kit próprio. No fichário, de cada livro, tem as fichas correspondentes a cada letra e a capa.
Exemplo da parte correspondente à letra A do Arquivo:
Tomamos conhecimento, em nossas pesquisas, de uns livros desse tipo muito legais, de Portugal, mas apenas um deles consta no arquivo, pois Ana conseguiu encontrá-lo. Os outros conseguiremos em outra oportunidade.
O projeto foi todo pensado e elaborado junto com Ana, desde a escolha e a digitalização (escaner) dos livros até a concepção do material – como seriam as fichas, o tamanho delas, como resolveríamos a inclusão das imagens em alguns livros, o jeitão das fichas separadoras, o aumento da fonte dos textos em alguns casos etc. Nos complementamos muito bem em todas essas etapas, Ana sempre experimentava tudo rapidinho e trazia ótimas ideias e soluções. Uma decisão muito importante, que vislumbrei desde o início, foi a de colocar cada livro/autor em fichas de uma mesma cor, assim poderíamos tanto usar o material pela letra que o texto homenageia (tipo todos os textos que falam da letra A), como usar todos os textos de um mesmo autor/livro, indicado pela cor da ficha em que esses textos são colados. Mais tarde veio a ideia do “flex”... Volto a ela, já já.
Com todo o material digitalizado, pronto para imprimir, Ana, no entanto, saiu na frente na produção efetiva do Arquivo – impressão, montagem, plastificação, confecção da caixa. Como estou muito ocupada e com as vistas meio comprometidas, adiei um pouco a confecção do meu. Assim, o que mostro aqui nas fotos para vocês é o Arquivo de Ana, que já está prontinho, pois ela queria começar o ano já usando com sua turma. Nada como uma boa motivação para pormos a mão na massa, né?
Essa iniciativa de Ana foi muito importante para irmos testando e revendo algumas coisas do Arquivo, pois no fazer mesmo, com a mão na massa, apareceram muitas outras questões a serem resolvidas. Íamos discutindo as saídas, as possibilidades, experimentando e achando as soluções. Assim, Ana tem muitas dicas a dar sobre a confecção, e vai contribuir com isso num próximo post. Esse aqui é só para apresentar o material.
Para fazer a caixa do Arquivo mesmo, foi uma novela. Á medida que as fichas iam ficando prontas, é que íamos tendo a dimensão do tamanho da caixa que precisaríamos para guardá-las. E essa tal caixa ia aumentando, aumentando. Ana ia de lá mandando dizer quantos centímetros já mediam tantas fichas de livros prontas, e eu de cá tomando susto! Não tínhamos essa noção. Mas foi divertido nos surpreender com um tamanho jamais imaginado. Ou seja, íamos descobrindo como fazer o kit, fazendo-o. E descobrimos que era preciso mandar fazer a caixa sob medida, para ser forte e grande o suficiente, sem folgas desnecessárias nem apertos, pois o material era pesado também, quando plastificado na gráfica. Só foi possível descobrir isso com as fichas ficando prontas. Além disso, precisaria ficar esteticamente bem arrumadinho na caixa e com folga para manusear as fichas, procurar fichas pelo meio do arquivo, mexer os separadores para lá e para cá. O jeito que Ana pensou para a caixa é fantástico, bem como um arquivo mesmo, que ao abrir vemos as linguetinhas de fora. Mas demorou um pouco de acertarem fazer isso onde ela encomendou. A primeira caixa que ela mandou fazer ficou apertadinha, embora linda, vejam:
Os vendedores de lojas, bem como nossos maridos, nos acham meio doidinhas... Rsrsrs!!!
Com o material já sendo confeccionado por Ana, pensamos também em fazer as fichas separadoras “flex”. “Como é isso?” – perguntou Ana, achando que eu estava inventando coisa. Ah, nada mais é do que ter a ficha separadora de um lado com as letras do alfabeto, para separar no fichário o material por letras (todos os textos de cada letra do alfabeto) e, virando a ficha separadora, para separar por autor/livro, ter a linguetinha com a cor correspondente ao livro, a cor das fichas daquele autor.
Vejam que, assim, podemos arrumar o fichário de dois jeitos diferentes, por letra ou por cor, a depender de como vamos usá-los com as crianças. E Ana deu corpo a essa ideia fazendo com muito esmero suas fichas separadoras. Plastificadas, as linguetinhas com as letras de um lado e a cor do outro ficaram um show!
Como eu disse no início, o Arquivo Alfabético Poético não indica, em si, as possibilidades de uso do material, mas elas são infinitas. Ana pretende postar, em algum momento, algumas sugestões ou atividades que desenvolver em sua turma. Eu também prometo fazê-lo de tempos em tempos. Mas cada um pode – e deve – explorar o Arquivo, bem como os livros a partir do qual é feito, de muitos jeitos. Só ler os textos já é bem bacana. Trabalhar as letras assim, no contexto de textos poéticos, certamente será uma delícia! Por outro lado, cada livro/kit de fichas poderá apresentar possibilidades diversas, por sua própria natureza, assim como cada textinho pode dar atividades interessantes independentemente de seu conjunto, como fiz uma sugestão no post que está no link O que se vê no R, a partir do poeminha de Elias José para a letra R, ou no link O que se vê no Q, para a letra Q.
Bom, minha gente, por ora é isso, apenas para apresentar o material, o Arquivo... Ele está lindo assim, não acham? Mas é possível fazer adaptações para simplificar e baratear a confecção, para mais pessoas poderem experimentar fazer um Arquivo para o seu grupo, mesmo que não entrem todos os livros. Em breve postaremos mais sobre ele, com essas dicas.
Agradeço a Ana por compartilhar as fotos de seu Arquivo pronto com a gente, além, claro, pela parceria nesse projeto que agora é totalmente nosso, totalmente compartilhado. Vejam mais fotos no post de Ana, no link Álbum Arquivo Alfabético Poético. Não está lindo, colorido, maravilhoso?!!!! Pois é... A gente chega lá! Eu chego lá!!!
Para ver uma das propostas que Ana fez a partir do Arquivo, veja no blog dela, aqui.
Para ver uma das propostas que Ana fez a partir do Arquivo, veja no blog dela, aqui.
Ah, lembrem que, de qualquer modo, apenas a indicação dos livros usados no arquivo já é também uma boa sugestão para trabalhar com as crianças, heim? E, como sempre digo, ter os livros, manuseá-los, lê-los, é fundamental.
Espero que gostem,
Um abraço,
Lica
Lista dos Livros do Arquivo Alfabético Poético:
- Uma letra puxa a outra (José Paulo Paes). Companhia das Letrinhas
- O que se vê no abecê (Elias José). Ed. Paulus
- As Letras (Lalau e Laurabeatriz). Ed. Amarilys
- Palavras, muitas palavras (Ruth Rocha)
- No Balancê do Abecê (Elias José). Ed. Paulus
- O Batalhão das Letras (Mario Quintana). Ed. Globo
- Bichodário (Telma Guimarães). Ed. Escala
- De Letra em Letra (Bartolomeu Campos de Queiroz). Ed. Moderna
- Alfabetário (José de Nicola). Ed. Moderna
- ABC quer brincar com você (José Santos). Ed. Companhia Editora Nacional
- ABC das Rimas (César Obeid). Ed. Salesiana
- Bichionário (Nilson José Machado). Ed. Escrituras
- Quem lê com pressa tropeça (O ABC do trava-língua). (Elias José). Ed. Lê/Casa de Livros.
- ABC e Numerais: pra brincar é bom demais. (Tatiana Belinky). Ed. Cortez
- Alfabeto dos bichos (José Jorge Letria). Ed. Oficina do Livro
- ABC (Tatiana Belinky). Ed. Elementar
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