Oi, gente,
Se há um tipo de história de interesse quase unânime entre as
crianças, são as histórias com repetição e acumulação. Desde as pequeninhas até
as maiores, lá pelos 6, 7 anos, essas histórias encantam, prendem, provocam o
riso e a graça. As crianças adoram histórias e brincadeiras que contêm
elementos que se repetem, que são retomados.
O ritual, a repetição, o reconhecimento de situações, objetos, são
elementos importantes para a criança pequena e seu aprendizado. Elas gostam de
rever, refazer, repetir, redizer. Com a linguagem se dá a mesma coisa. Os jogos
de linguagem nos quais aparecem elementos repetitivos são muito apreciados, por
trazerem esse reconhecimento de formas à criança. Mesmo em relação às maiores,
o reconhecimento de um elemento que já foi trazido, dito, mostrado,
repetindo-o, acumulando-o, recriando-o, recontextualizando-o e mesmo torcendo-o
do avesso, provoca graça e prazer, e esses são recursos usados em narrativas
contemporâneas diversas, verbais ou audiovisuais, que buscam uma cumplicidade
lúdica e inteligente com os leitores-espectadores.
Mas
há no repertório narrativo, seja tradicional ou contemporâneo, histórias que se
estruturam essencialmente pela repetição. Nesses casos, reencontrar uma mesma
situação várias vezes na história e encontrar a recorrência dos enunciados, além
de promover um prazer especial à criança, pelo retorno do conhecido, o
reconhecimento, favorece a compreensão da história, a apropriação de sua
estrutura e a memorização do enredo e mesmo do próprio texto. Esses gêneros agradam
aos pequenos leitores pelo caráter repetitivo-acumulativo de fatos, situações e
enunciados presentes no enredo. E suas características são muito produtivas na
aprendizagem da leitura.
A
cultura popular é rica em contos desse tipo e são contos essencialmente de
tradição oral, quer dizer, em princípio, nascem em culturas orais, sendo constantemente
criados e recriados. Foram e são, por um lado, preservadas ao longo do tempo
através da narração oral e da memória – recursos típicos de culturas que não
dispõem da escrita – e, por outro lado, por isso mesmo, sofreram e sofrem modificações
que dão origem a várias versões. Assim, ainda que os contos populares sejam registrados
por escrito, retomados em recontos autorais ou reelaborados em versões autorais
contemporâneas, continuam marcados pela narrativa oral, pois mantêm
características próximas à oralidade. Como diz Ricardo Azevedo (2008), o
escritor aí escreve como quem fala e o leitor lê como quem ouve.
As histórias com repetição caracterizam-se
por apresentar uma estrutura que contém sequências recorrentes, ou seja, que se
repetem ao longo da trama. Falas, eventos e ações se repetem. Esse movimento
repetitivo da estrutura do texto pode se apresentar de forma mais ou menos
articulada, dando uma ideia de encadeamento. Geralmente essa recorrência se dá
de maneira curiosa e divertida, ressaltando o caráter de brincadeira desse tipo
de história. Há histórias em que a repetição se dá em todo o texto, como a
história “Bruxa, Bruxa, venha a minha festa”, e outras em que a repetição se dá
em situações mais pontuais, em certo trecho da trama, como em “O Grúfalo”. No
primeiro caso, quando a essência da história é a repetição de frases, palavras,
trechos, a leitura autônoma pelas crianças é bastante favorecida.
Muitas
vezes, nessas histórias essencialmente repetitivas, mais do que o enredo em si,
importam os recursos linguísticos que seus autores utilizam para criar essa
forma lúdica de organizar a linguagem, com um ritmo especial e muitos jogos de
palavras. Os acontecimentos ocorrem numa sequência linear que sempre repete ou
retoma, de algum modo, uma situação ou evento anterior e, muitas vezes, no fim,
ou retoma-se o início da narrativa, fechando-se o círculo, ou inverte-se algum
elemento, ou há uma saída surpresa da sequência de repetições.
São
muitas as histórias de repetição, tanto na tradição oral, quanto na literatura contemporânea,
como “A galinha Ruiva”, “Dona Baratinha”, “Bruxa, Bruxa, venha a minha festa”,“Qual
o sabor da lua?”, “Os bichos também sonham”, “O rei bigodeira e sua banheira”,
“Quer brincar de pique-esconde?”, algumas delas bem conhecidas e já citadas no blog. Algumas trazem enredos mais complexos e a
repetição é menos cadenciada, mais pontual, como em “O que tirou o sono dos
animais?”, “O Grúfalo”, “Macaco Danado”, “Você pegou o meu ronrom?”, dentre
muitas outras. Ou seja, algumas dessas histórias com repetição, além de
excelentes jogos de linguagem, também trazem um enredo delicioso. Em outras, é
a brincadeira com a repetição e com a linguagem que constitui a essência do
texto.
A repetição nas histórias pode se dar por justaposição de situações, de enunciados, quando um ou alguns personagens realizam ações sucessivas que se repetem, pode se dar por acumulação, daí as histórias acumulativas, e pode se dar por subtração, como no caso dos tangolomangos e afins. Vamos ressaltar aqui as histórias acumulativas, na fronteira com as repetitivas por justaposição e, em posts seguintes, falaremos dos tangolomangos.
Nas
histórias acumulativas, a repetição
de um mesmo evento se dá, assim, por acumulação. Além dos eventos ou alguma situação ou
situações semelhantes se repetirem várias vezes – bem como o modo como são
expressos pela linguagem – esses eventos, situações e os enunciados que os
expressam, vão se acumulando sucessivamente, até que a história se inverte ou
surpreende com alguma situação inusitada, que quebra o redemoinho que vem
acumulando coisas no caminho, e leva ao desfecho. Geralmente, uma mesma ação é
realizada por diversos personagens ou, a cada um que chega, uma ação diferente voltada para um mesmo fim é proposta, ou ainda uma ação
desencadeia outras, que são exigidas para que a anterior seja possível, e
assim sucessivamente. São narrativas cadenciadas, encadeadas, humorísticas, divertidas,
algumas se valem do nonsense, da
quebra repentina de sentido lógico. Também nas histórias acumulativas,
frequentemente, o jogo de palavras é mais importante do que o aspecto narrativo
propriamente dito, prevalecendo o aspecto lúdico. Há narrativas desse tipo
que são versificadas, outras não.
Para
Luis da Câmara Cascudo, pesquisador muito importante da literatura oral
brasileira, o que define os contos acumulativos é o fato de que os episódios
são sucessivamente articulados, as fases temáticas consecutivamente encadeadas.
No “Dicionário do Folclore Brasileiro” ele diz que são “narrativas em que as
palavras ou os períodos são encadeados, articulando-se numa longa seriação”. Assim,
além da acumulação em si, o encadeamento é essencial a esse gênero.
Desse
modo, embora nesses exemplos de histórias com repetição acima, as situações e
enunciados repetidos não se acumulem, algumas delas também ressaltam o caráter acumulativo
e são, por vezes, inclusive, considerados como tal, devido a sua estrutura
encadeada. A estrutura aí é repetitiva, havendo a recorrência de uma mesma
situação ou situações semelhantes, sem se acumularem a cada passagem, sem
repetir, no enunciado, a situação anterior. Algo, de fato, pode ser retomado
para seguir – veja o exemplo dos personagens de Bruxa, Bruxa, sempre retomados
para serem convidados à festa. Mas cada situação não vai, de fato, sendo
acumulada no texto, a cada passagem. A presença da repetição, em muitas
histórias com repetição, dá a ideia de que os personagens estão interligados. Por
esse motivo, nem sempre é tão simples diferenciar as histórias com repetição e
as histórias com acumulação. O modo de encadear pode fazer toda a diferença. Contos
como “O Macaco e o rabo”, “O Macaco que perdeu a banana”, “A Formiguinha e a
Neve”, bem como livros de literatura infantil como “A Casa Sonolenta” e “O Nabo
gigante” são acumulativos. É bom lembrar que as histórias acumulativas são, de
qualquer modo, um tipo especial de história com repetição.
É interessante ressaltar que numa história acumulativa como “A Casa Sonolenta”, as novas personagens e ações vão se agregando à trama, numa sequência recorrente, porém, estas não marcam a ideia da repetição de um mesmo evento, como em “A galinha ruiva” e “Dona Baratinha”, consideradas histórias de repetição, não de acumulação. É a essência da acumulação que está aí em jogo, como em muitos contos cumulativos tradicionais.
Um
exemplo muito interessante dessa fronteira meio fluida entre contos de
repetição e contos de acumulação é a história “A velhinha maluquete”, de Ana
Maria Machado, que é uma narrativa bem-humorada, com muita sonoridade e nonsense, de uma velhinha que quer fazer
com que os bichos de uma fazenda inteira caibam num cesto de balão.
Considera-se que a história remete aos contos cumulativos da tradição popular, pois
os personagens vão sendo acrescentados, há a repetições de motes de pergunta e
resposta e apresenta-se um encadeamento sucessivo de uma mesma sequência de
falas e ações, que caracterizam sua natureza cumulativa. O que se acumulam mesmo
são os personagens, que vão se amontoando dentro do balão, no espaço apertado
do cesto. Há um encadeamento, mas não há a retomada de cada situação para
apresentar a próxima. No final dessa história, tem uma passagem semelhante à da
“Casa Sonolenta”, quando todos começam a acordar:
“Daí começou a confusão inteira.
Porque acertou foi no cavalo...
...que se assustou e deu um coice na
cabra,
...que se assustou e deu uma marrada
no cachorro,
...que se assustou e deu uma mordida
no gato,
...que se assustou e deu uma patada
no rato,
...que se assustou e começou a roer
tudo no balão.”
Se
analisarmos as ações e as falas dos personagens ao longo do texto, no entanto,
diferentemente de “A Casa Sonolenta”, são expressas por enunciados que se
repetem sempre, a cada personagem, sendo a estrutura mais próxima da de “Bruxa,
Bruxa” – considerados por alguns como uma história de repetição – do que da
estrutura de “A Casa Sonolenta”, que é claramente acumulativa. Essas frases,
repetidas a cada personagem que chega, são:
"-Posso ir junto ?"
"-Poder, pode, mas trate de se
comportar."
As
ações se repetem, as frases (perguntas e respostas) também, mas não há
acumulação de ações e enunciados. Entretanto, o caráter acumulativo se deve,
nesse caso, ao encadeamento das ações e à acumulação dos personagens à medida
que o texto avança. E esse encadeamento parece ser, de fato, característico de
contos acumulativos.
Ou
seja, há contos acumulativos cuja acumulação é expressa pelas ações e pelos
enunciados que vão sendo acumulados e não apenas repetidos, e há contos
acumulativos cuja acumulação é expressa apenas pelo encadeamento sucessivo das
ações e enunciados, ao acréscimo sucessivo de personagens. Desse modo, podemos
compreender porque uma história como “Bruxa, Bruxa” e “Qual o sabor da lua” são,
por vezes, classificadas como acumulativas – e não apenas repetitivas – e
porque, por vezes, é difícil definirmos se é uma coisa ou outra. No livro “Uma
viagem desastrada e outros contos cumulativos”, de Zuleika Prado, a maioria dos
contos tidos como cumulativos são de estrutura repetitiva, por vezes encadeada,
mas apenas um, intitulado “O Paiol” tem, de fato, acumulação dos enunciados,
como nos contos cumulativos tradicionais de macaco e em “A Casa Sonolenta”.
Além
disso, os contos acumulativos podem apresentar uma acumulação ao avesso, ao
contrário, na medida em que ações, eventos e personagens vão sendo retirados de
cena, um a um, até o final, diferente da história, já citada, “A Velhinha Maluquete”,
em que os personagens vão sendo acrescentados um a um. É o caso do conto “Uma
viagem desastrada”, presente no livro de mesmo nome, de Zuleika Prado, em que os animais vão, de um a um, saíndo da carroça em que estavam amontoados. Seguindo
essa mesma ideia de conto cumulativo ao contrário (repetitivo e encadeado) entram
os Tangolomangos (do qual falaremos em outro post). Nesses casos, há repetição de enunciados e situações, sem
acumulação de enunciados, mas o encadeamento e a sucessão enumerativa, na ordem
decrescente, garantem o caráter cumulativo das narrativas.
Os
contos de repetição e os acumulativos estão presentes nas narrativas da
tradição oral de várias culturas. Na origem, os contos acumulativos, cumulativos
ou enumerativos, também conhecidos como contos de encadear, lengalengas, giros
ou parlendas longas, pertencem à classificação dos contos populares, de
tradição oral, mas sua estrutura aparece hoje em muitas obras de literatura
infantil e em outros gêneros que não contos.
Cascudo
propôs doze tipos de contos em seu livro "Contos Tradicionais do Brasil" e
registrou dois contos acumulativos: “O Menino e a avó gulosa” e “O Macaco
perdeu a banana”, referindo-se também, em nota, ao “Macaco e o rabo”, ao “O
Macaco e o Confeiteiro” e ao “O Macaco e a Viola”, dentre outros, registrados
por outros folcloristas. É interessante notar que esses contos de macaco, por
exemplo, dialogam também com os contos tradicionais de animais, como os de
macaco, onça, bode, etc. Isso justamente porque as classificações consideram
por vezes o critério temático e por vezes critérios formais, estruturais,
inclusive misturando-os em uma mesma categorização, como é o caso da de Cascudo.
Assim, seria natural que determinados contos pudessem ser classificados em mais
de uma categoria, apesar de poderem ter um aspecto mais determinante.
No
Dicionário do Folclore Brasileiro, Cascudo inclui na classificação de
acumulativos também o conto “O Macaco e a espiga de milho”, semelhante ao “O
Macaco perdeu a banana”. Esse conto, aliás, tem diversas versões, tradicionais
ou não, e uma delas é uma versão cantada, produzida pelo programa de TV Cocoricó,
no qual nem banana, nem milho, o macaco perde é um saco de amendoim. Confira
aqui aqui. A Cabriola Cia de Teatro, aqui de Salvador, apresentou no espetáculo O cordel das fábulas fabulosas, uma versão da história do macaco que perdeu a banana e de um jeito que achei muito interessante. Os personagens que vão entrando na história acumulativa são representados por origamis enormes, dobrados em folhas de duplex em pleno palco (mesmo pré-dobradas, o efeito é muito bonito). São, então, pendurados em um varal para a história seguir com novos personagens-origamis. Também é interessante, pois o que faz a ajuda não vir é, geralmente, traduzido por um ditado popular. O ferreiro, por exemplo, não ajuda o macaco porque "em casa de ferreiro, o espeto é de pau", o cão não ajuda porque "cão que late, não morde" e por aí vai... Tudo costurado com muita música...
E por falar em música, dica
fantástica é o conto acumulativo "Malaquias, o macaco cismado", outra versão do macaco que perde alguma coisa
- nesse caso, um docinho. A história, contada e cantada por Tom Zé no disquinho
de vinil da Coleção Taba, que você pode degustar aqui. Nesse link você pode
ouvir muitas outras histórias da Coleção de disquinhos de vinil da nossa
infância. Raridade!
Os
contos acumulativos são muito comuns nas Américas e em Portugal, mas aparecem
no folclore de diversas partes do mundo. Veja nota de cascudo sobre contos acumulativos em outros países, aqui. Muitos contos desse gênero e em
versões diversas já foram recolhidos no Brasil por diversos autores, em muitos
casos de origem portuguesa ou espanhola, com acréscimos locais.
Há versões
diferentes do conto sobre o macaco que perdeu o rabo, uma delas semelhante à “História
da Coca” e outra semelhante a outros contos, como “A História da Pimenta” e o
conto da galinha que subiu ao céu, referido abaixo. Veja essa versão do “Macaco
e o rabo”:
Confiram
alguns desses e outros contos aqui no site da Jangada Brasil, um ótimo site sobre
cultura popular do Brasil. Nesse post
tem doze contos cumulativos, mas no site sempre aparecem outros.
Baseado
em conto popular africano, temos o conto acumulativo de autoria de Tarak Hammam, com tradução do Tapetes Contadores de Histórias : “A história da galinha que
subiu até o céu”. Veja-a aqui.
No
livro de Ricardo Azevedo “Você diz que sabe tudo borboleta sabe mais”, podemos
encontrar também o conto cumulativo “O Macaco e a goiabeira” e, no seu outro
livro “Contos de bichos do mato”, mais alguns, como o conto “O cachorro-do-mato
e a galinha-carijó” e “O gato e o burro”, versão parecida com o do “Macaco e o
Rabo”. De fato, muitos desses contos cumulativos apresentam uma semelhança
muito grande entre si e há uma variedade de versões parecidas, com estrutura
muito próxima e pequenas variações, o que é próprio aos textos de tradição oral.
Entretanto,
cada tipo de história acumulativa tem sua forma peculiar de acumular e encadear
eventos e elementos, a depender do enredo e de sua temática. Não há uma fórmula
única.
Alguns acumulam personagens, as ações que fizeram, podendo também trazer
algum qualificativo deles, como em “O nabo gigante”, em que cada animal, cuja
ação é a mesma (ajudar a puxar o nabo), é apresentado com uma característica:
canários amarelos, galinhas pintadas, porcos barrigudos, e assim por diante. Já
em outros são as ações ou sugestões de cada um que são diversas.
Na “Casa
Sonolenta” são as ações de cada personagem que são acumuladas junto com eles:
avó roncando, menino sonhando, cachorro cochilando... e por aí vai. É
interessante também observar as semelhanças e diferenças nos modos de encadear
as situações. Isso mostra a variedade de
elementos que, inclusive, possibilita uma variedade de modos de ler, de
recontar, e de propostas e materiais que podemos pensar a partir de cada um
deles. Assim, cada um pode e deve ser visto como um, embora tenha uma estrutura
acumulativa semelhante.
Por
vezes, nos contos acumulativos, ditos também enumerativos, há, de fato, a
presença de enumeração. A acumulação das ações são acompanhadas de enumerações,
como a contagem dos personagens, por exemplo. Ainda no livro “O nabo gigante”,
os animais que vão ajudar a arrancar o nabo da terra são a cada vez em maior
número: uma vaca, dois porcos, três gatos, quatro galinhas, cinco gansos e seis
canários. No “E o dente ainda doía”, de Ana Terra, acontece a mesma coisa, bem como nos "Uma boa cantoria" e "O domador de monstros", ambos de Ana Maria Machado.
Outra
coisa interessante é que, por vezes, a história agrega naturalmente partes
cantadas. Na “História da Coca” o trecho acumulativo, por exemplo, é cantado:
“Lavadeira, me dê meu sabão
Sabão que a parede me deu
Parede comeu meu angu
Angu que minha avó me deu
Minha avó comeu minha coca
Coca recoca que o mato me deu”.
Alguns
autores ampliam a classe dos contos acumulativos, abrangendo outros gêneros que
não os contos propriamente. Na tradição oral, os contos cumulativos são
conhecidos também como lengalengas e por vezes são aproximados das parlendas e
trava-línguas. Assim, entrariam aí parlendas como “Cadê o toucinho que estava
aqui?”, “Hoje é domingo”, “Um elefante incomoda muita gente...”, dentre outros,
bem como o “Tangolomango” (falaremos dele em outro post). O próprio Cascudo, no seu livro “Literatura Oral no Brasil”,
incluiu os trava-línguas nos contos acumulativos, com o que não concordam
outros autores, a exemplo de Renato Almeida, no “Manual de coleta folclórica”.
O autor argumenta que os trava-línguas geralmente não são narrativas, mas jogos
de palavras. São, na verdade, brincadeiras com a linguagem. Alguns autores
falam que os próprios contos acumulativos são como uma parlenda longa. De
qualquer modo, os contos acumulativos aproximam-se das parlendas por sua
estrutura repetitiva, sonora, e, muitas vezes, por parecerem de fato uma longa
parlenda ou trava-língua, contada e recontada para divertir as crianças.
Cascudo
diz que os contos acumulativos são contos com palavras ou períodos encadeados,
ações ou gestos que se articulam numa longa seriação. As sequências narrativas
se repetem e se encadeiam com acréscimos e recorrências de alguns elementos,
sempre na mesma ordem, até o fim. Aproximam-se também, em alguns casos, dos "contos de nunca acabar", pois os episódios, que se articulam num
longo encadeamento, parecem não ter fim. Por vezes, por certas circunstâncias, de
fato não terminam ou não terminariam nunca. As histórias de nunca acabar trazem
trechos, mais ou menos longos, que se repetem e/ou se acumulam, e têm como
principal característica a ideia de um eterno recomeço, de um ciclo que nunca
se fecha, de circularidade: a história não tem desfecho, podendo seguir
indefinidamente ou volta para o começo. Um exemplo é o conto cumulativo “A Casa
que Pedro fez”, que às vezes é graficamente apresentado com fontes/letras que vão aumentando à medida que a acumulação aumenta:
Esta
é a casa que Pedro fez.
Este
é o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este
é o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este
é o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este
é o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa
que Pedro fez.
Esta
é a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato
que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Esta
é a moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que
espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro
fez.
Este
é o moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre
torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo
que está na casa que Pedro fez.
Este
é o padre de barba feita que casou o moço todo rasgado, noivo da moça mal
vestida que ordenhou a vaca de chifre torto que atacou o cão que espantou o
gato que matou o rato que comeu o trigo que está na casa que Pedro fez.
Este
é o galo que cantou de manhã que acordou o padre de barba feita que casou o
moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de chifre
torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o trigo
que está na casa que Pedro fez.
Este é o fazendeiro que espalhou
o milho para o galo que cantou de manhã que acordou o padre de barba feita que
casou o moço todo rasgado, noivo da moça mal vestida que ordenhou a vaca de
chifre torto que atacou o cão que espantou o gato que matou o rato que comeu o
trigo que está na casa que Pedro fez.
Além das
parlendas, os contos acumulativos se aparentam por vezes de outras formas
orais, como a cantiga, que pode também apresentar estrutura acumulativa. E
mesmo as formas poéticas literárias podem beber na fonte dos contos cumulativos
da tradição oral, como é o caso desse poema de Sérgio Caparelli, O Capitão sem
fim, que se assemelha a uma história de nunca acabar.
O capitão sem fim
No
mar tem um navio,
No navio, um capitão
O capitão desce a escada
A escada vai ao porão
No porão tem uma caixa
— caixinha e não caixão —
Dentro dela, um anel
De um mágico do japão
E no jade do anel
Encontra-se, escrita a mão,
A história de um mar
De um navio e de um capitão
Que desce por uma escada
Que conduz ao porão
Onde existe uma caixa
— caixinha e não caixão —
Que tem guardado um anel
De um mágico do Japão
E no jade do anel
Existe, escrita a mão,
A história de um mar,
De um mar com seu capitão
Que está em um navio...
In: AGUIAR, Vera (Coord.). Poesia fora da estante. Porto Alegre:
Projeto, 2009.
Alguns
autores intitulam de “contos de nunca acabar” também as pequenas narrativas
circulares, nas quais o desfecho retorna à fórmula do início, repetindo-a outra
vez, sem nunca chegar ao final, como “Era uma vez... três!”, “Era uma vez uma
velha atrás da ponte”, “Era uma vez uma
galinha pedrês” e “Era uma vez um gato maltês”. Não são exatamente
acumulativas, mas circulares e, muitas delas terminam com uma pergunta cuja
resposta afirmativa remete invariavelmente ao início da história, marcando sua
circularidade: “Era uma vez... três!/dois polacos e um francês./Quer que eu conte
outra vez?”. Abaixo, um exemplo do livro “Era uma vez...três: histórias de
enrolar”, de Regina Pamplona, que traz histórias de nunca acabar e
acumulativas, assim como outros textos, trocadilhos de enrolar a língua,
verdadeiros jogos de linguagem.
“Era uma vez um rei
sentado no sofá
que pediu para a sua babá
que contasse uma história.
A história começou:
Era uma vez um rei
sentado no sofá...”
Nesse livro, aliás, além dos contos de nunca acabar, tem dois contos cumulativos, um é "A verdadeira história da Carochinha", com dois blocos de acumulação, e o outro, "O céu está caindo", versão encontrada também com outros nomes, como indico mais adiante. No mais, o livro apresenta também histórias enroladas, meio parlendas, meio trava-línguas, cujo humor decorre de jogos de palavras típicos dos trocadilhos. O livro é muuuuuito divertido!
Nota-se,
assim, como o conto acumulativo dialoga com diversos outros gêneros de texto e
outras formas de narrativa. Acho, entretanto, que o melhor exemplo de diálogo
entre o gênero conto cumulativo e outras formas de estrutura semelhante é a
canção da tradição popular “A Velha a Fiar”, também conhecida como “A Velha a
Bordar”. Nessa canção os episódios são
encadeados com ações e gestos que se relacionam, se repetem e se acumulam. Essa
canção popular virou um filme, em 1964, do cineasta Humberto Mauro, obra que é
considerado como o primeiro videoclipe brasileiro, e está entre os primeiros do
mundo também. É uma versão antiga, mas muito interessante e significativa.
Vale à pena conferir. A canção é
executada pelo Trio Irakitã. Veja no site do Portacurtas.
Outras
versões da canção podem ser encontradas no Youtube,
contadas/cantadas por contadores de histórias contemporâneos, assim como
apropriadas por programas infantis, como o Cocoricó.
Outra
canção muito conhecida com estrutura cumulativa é “A Árvore da montanha”, como
vocês podem conferir aqui. Essa é geralmente acompanhada de gestos.
Contemporaneamente
muitos autores de literatura infantil recorrem aos contos acumulativos da
literatura oral, como já dito, bebendo nessa fonte para construir suas
histórias, propondo novas situações cumulativas dentro de seus enredos. A
presença da tradição popular e da oralidade na literatura infantil
contemporânea, seja em verso ou em prosa, é muito contundente e se apresenta de
formas diversas. No caso das histórias cumulativas, se apresentam, por um lado,
como histórias com estrutura similar aos contos cumulativos tradicionais, em
que a essência está na brincadeira com a linguagem, na acumulação das situações
ou, por outro, como histórias nas quais a estrutura cumulativa aparece, em algum
momento, no contexto de um enredo mais elaborado.
No
primeiro caso, temos histórias como “A Casa Sonolenta”, “O grande rabanete”, “E
o Dente ainda doía”, “Uma girafa e tanto”, “O maior nabo do mundo”, dentre outros. “A Casa sonolenta” já é um clássico e eu gosto muito
também de “E o dente ainda doía”. Nesses livros, como nos contos
tradicionais, o que seduz as crianças é essa maneira especial de contar aquela
situação, de jogar com a linguagem, e sua composição meio nonsense, própria da narrativa fantástica. Esses livros contam mais
uma situação – geralmente bem nonsense
ou engraçada – do que propriamente uma história, com enredo que guia o leitor
para o desfecho. O que prende aqui é o jogo da repetição e acumulação em si
mesmo, embora o desfecho seja quase sempre uma surpresa. Algumas, entretanto, têm
um enredo um pouco mais desenvolvido, como "O Nabo gigante". Recursos da linguagem poética se fazem
frequentemente presentes nessas histórias, seja na utilização de versos e rimas
ou no uso de elementos sonoros, como a repetição de palavras e as onomatopeias.
No final das contas, constituem um tipo de narrativa que interage com o
universo infantil naquilo que ele tem de mais precioso: a brincadeira.
Brincadeira com a repetição, a recorrência, a surpresa e também com a
linguagem.
Algumas histórias têm estrutura repetitiva e, lá em algum trecho, traz a acumulação. É o caso, por exemplo, do livro O caso do bolinho, de Tatiana Belinky, que tem elementos acumulativos no trecho que o bolinho fala que é redondo e fofinho e vai acumulando a enumeração dos personagens que não conseguem pegá-lo: a avó, a lebre, o lobo. Ver aqui.
Não é, como a Casa Sonolenta por exemplo, essencialmente acumulativo, pois nessa história, a estrutura do enredo é essencialmente acumulativa, desde a avó até o rato. O caso do bolinho, por sua vez, tem uma estrutura essencialmente repetitiva, seja na voz do narrador, seja quando todo personagem diz a mesma coisa do mesmo modo para o bolinho. Mas tem a acumulação na fala do bolinho...
É bom ressaltar que as definições de gêneros não são tão rígidas...elas são produtivas para organizar os diferentes gêneros e subgêneros, mas nunca devemos nos preocupar em colocar tudo em caixas muito bem definidas, pois essas fronteiras não são sempre tão bem delineadas. As obras em si mesmas são muito diversas e, frequentemente misturam esses elementos, ficando difícil delimitar. E, talvez, desnecessário. Bakhtin diz que os gêneros discursivos são enunciados relativamente estáveis...Então...não vamos ficar enlouquecidos buscando a todo custo querendo achar a "caixinha" onde classificar as histórias, ok?
No
segundo caso de apropriação da estrutura cumulativa na literatura infantil
contemporânea, temos enredos mais desenvolvidos, que de fato contam uma
história mais elaborada, constituída não essencialmente da sequência
acumulativa, mas agregando à trama elementos próprios aos contos acumulativos
em algum momento ou em certos trechos. Um exemplo de que gosto é o “Maneco
Caneco Chapéu de Funil”, no qual seu autor, Luis Camargo, lança mão de um recurso próximo à acumulação em uma parte da história, quando conta como foi criado o personagem.
Tatiana Belinky tem um conto intitulado "Que bagagem", no livro "Di-Versos Russos", em que uma mulher viaja com muita bagagem e com seu cãozinho, que, no decorrer da viagem, se extravia. E aí se apresenta a situação-problema. A lista da sua bagagem - "uma arca, um cestão, um quadro, um colchão, um saco, um caixote, mais um cachorrinho-filhote..." - é repetida a cada momento da história, variando apenas o refrão.
O livro “Tanto, Tanto”, de Trish Cooke, da Ática, utiliza-se também do recurso e a autora Eloí
Elisabet Bocheco apresenta dois livros em que usa bastante a acumulação para contar as aventuras da bruxinha Elisa: “O pacote que tava no
pote” e “Contra feitiço, feitiço e meio”, histórias que dão margem a muitas propostas inter e extratextuais e levantamento de hipóteses...
Bem interessantes são
as histórias da coleção Conta de Novo (FTD), de Ana Maria Machado que, com
maestria, retoma os elementos dos contos acumulativos tradicionais – alguns são
contos folclóricos recontados – e os insere em enredos engraçados, mirabolantes, que podem agradar bastante às crianças maiores, do primeiro ano. Traz um vocabulário também mais próprio a crianças dessa faixa etária. Cito “O Barbeiro e o Coronel”, “Pimenta
no Cocuruto”, “Uma boa Cantoria”, “Ah, cambaxirra se eu pudesse...” e “O Domador de Monstros”, todos
recorrendo a sequências acumulativas e repetitivas em seus enredos. E muitos devem lembrar de alguns deles de sua infância... Devo a Ana Lúcia Antunes a
lembrança dessa coleção, quando falei para ela que estava fazendo um post sobre histórias acumulativas.
Valeu, Aninha!
“Ah, cambaxirra se eu pudesse...” e “Pimenta no Cocuruto” são típicas
histórias de acumulação, bem próxima da estrutura dos contos tradicionais.
Aliás, como a autora mesma revela, em geral são contos que ouviu por aí
recontados por ela. O conto “Pimenta no Cocuruto” é uma versão do “O
cachorro-do-mato e a galinha-carijó”, registrado no livro citado de Ricardo
Azevedo, bem como do "O céu está caindo", no livro citado de Rosane Pamplona. Já em “O Barbeiro e o Coronel”
há um enredo mais elaborado e, em certo momento, aparece a estrutura
cumulativa, bem como trechos de repetição. Dá para ouvir um pedacinho dessa história, pois ela era uma das histórias da Coleção Taba, que citei anteriormente. Eu tenho ainda esses vinis, mas na internet só achei a versão pela metade...aqui.
Em “Uma boa cantoria” também há um
enredo mais elaborado, mas a acumulação é igualmente bem presente e marcante na
trama. No “O Domador de Monstros” – como também é o caso do “Maneco Caneco”, de
Luis Camargo, citado acima – aparece tanto sequências de repetição encadeadas quanto
de acumulação de enunciados propriamente.
O que é interessante ressaltar é que,
nessas histórias, não se trata de enredos simples, cadenciados, nos quais a
graça maior é no jogo de palavras, a embolação da acumulação, como são geralmente caracterizados os contos cumulativos. Embora esses elementos estejam presentes, trata-se, nesse caso, de narrativas propriamente
ditas, em que os enredos, mais complexos, prendem o leitor não apenas pela
brincadeira com a linguagem, mas igualmente, e talvez principalmente, por sua
trama bem armada, independentemente da estrutura acumulativa.
Aliás, Ana Maria Machado tem outros livros com estrutura cumulativa, a exemplo do "Camilão, o comilão", da Salamandra, que é mais simples que esses, para crianças menores. Muito divertido, já tem várias edições também. E deve ter outros...
Encontrei
uma história acumulativa curiosa no livro “De onde tudo surgiu e como tudo
começou (tudo, tudo mesmo!)”, de Lia Zatz e Graça Abreu, da Moderna, um livro
de narrativas do “como” e do “porquê” de várias coisas. Inspiradas nos contos
tradicionais, as autoras criam explicações divertidas para várias situações
como: por que a girafa tem pescoço comprido, por que o caracol carrega a casa
nas costas, como surgiram as línguas, dentre outros mistérios. O conto “Por que
o caranguejo não tem cabeça” é um conto acumulativo curioso. É que ele começa
já apresentando uma situação acumulada, desencadeada pelo caranguejo, e,
depois, o chefe dos animais vai questionando de um por um, cada personagem,
sobre o porquê de terem feito certa ação. Nisso as situações vão se
desenrolando ao avesso, sendo narradas por cada um, que vai colocando a culpa
no outro e no outro, e novamente se acumulando. E o caranguejo termina sendo o
grande culpado por ter perdido sua cabeça.
Há
alguns livros que trazem coletâneas de contos acumulativos e gêneros
semelhantes. Além do livro já citado de Ricardo Azevedo, “Contos de bichos do mato”, que traz
alguns contos com essa estrutura, sugiro mais três deles, dois já referidos acima. Um é o “Era uma
vez...três”, de Rosana Pamplona, que traz contos de nunca
acabar, acumulativos, trocadilhos e outros. O outro
é o livro intitulado “Uma Viagem
Desastrada e outros contos cumulativos”, de Zuleika de Almeida Prado, que
contém seis contos cumulativos bem brasileiros e com diferentes estruturas.
E a outra sugestão é um livro chamado “Giros:
contos de encantar”, de Mila Behrendt, com contos cumulativos, enumerativos,
repetitivos, ampliando esse conceito para algumas parlendas encadeadas.
Bom, gente, por ora, as sugestões de contos
que têm a estrutura repetitiva ou acumulativa, seja da tradição oral ou da
literatura infantil contemporânea, são essas. Muitos outros estão por aí, para
irmos descobrindo, uma vez que possamos identificar suas características. E lembrando-se sempre de que conhecer essas características nos ajudam a explorar melhor os textos, mas as classificações rígida de gêneros, colocar rótulos, não é o que importa mais, especialmente para as crianças, e sim sua fruição.
E como quem conta um conto, aumenta um
ponto... é interessante ressaltar uma curiosidade que li no livro de Zuleika
citado acima: não se sabe a origem dos
contos acumulativos, mas é muito provável que alguns deles tenham sido criados
coletivamente, nas contações em volta de fogueiras, alguém começando e outro
continuando, amarrando ao anterior, acumulando de contador em contador, cada um
aumentando um ponto, criando-se, assim, um conto. Daí já nos dá uma ideia para
criar, oralmente e coletivamente, novas histórias também...
É
isso, gente. Logo mais continuo esse post
com a discussão sobre histórias acumulativas e a leitura e alfabetização, anúncio de material a partir desses textos, bem como com o post dos Tangolomangos. Em breve! (E agora já estão devidamente postados aqui, aqui e aqui).
Lica
P.S. Depois, muito depois, de fazer esse post, encontrei alguns livros legais com histórias acumulativas.
Um é o Ponto por ponto: costura pronta, que vocês podem ver aqui. A acumulação vai mostrando desde a linha no tecido, passando pelo algodão que faz a roupa, indo a outras peripécias impensáveis. É esse:
Um muito muito simpático, chama O grande livro de Zack, de Ethan Long. Ele traz uma acumulação bem tradicional, mas lá para o fim, apresenta uma reviravolta interessante. Além disso, tem um formato interessante de caderno de linha, trazendo o texto e as ilustrações como se fossem desenhadas nele. Muito legal! Olha ele aqui:
Já estamos no planejamento da produção de nossa história acumulativa para por no caderno fornecido no livro do Zack, eu e o meu filho, que, ao vê-lo, já bolou essa estratégia: vamos bolar e formatar a história em um caderno comum primeiro, fazer um planejamento, um rascunho, e depois passar para o Caderno, segundo ele, para ver se vai caber e para ficar mais bonito depois. É...
E um outro livro, esse bem diferente, é o Abra este pequeno livro, que traz vários livrinhos dentro uns dos outros. A história acumulativa vai seguindo o abrir de cada um deles e, depois, o fechar de cada.
É um livro não só para ler, mas para apreciar. Para ver uma demonstração da versão em inglês, acesso o youtube, aqui.
Ah, na Revista Emília tem uma boa crítica a ele: Revista Emília.
É isso, gente, mais algumas dicas renovando esse post!
(Maio 2014)
Divirtam-se!
Lica
Algumas referências:
CASCUDO, Luís da
Câmara. Literatura Oral no Brasil. 3
ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo,
1984.
_________. Contos Tradicionais do Brasil. Rio de
Janeiro: Edições de Ouro:1967.
_________. Dicionário de folclore brasileiro.
10.ed. rev. atual. e ilust. São Paulo: Global, 2001
ROMERO, Sílvio. Contos Populares do Brasil. Belo
Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1985.
Liquinha!
ResponderExcluirVocê sempre surpreendendo com posts tão completos e ricos! Sem simplificações e, ao mesmo tempo, uma delícia de ler. Não desgrudei um minuto. Amei!
Quem reclama de que é grande, não sabe o que está perdendo! Aprendi um monte de coisas.
E já fiquei cheia de ideias também.
Beijos,
Leila
Oi, Leiloca!
ResponderExcluirE você sempre fã...
Mas é isso mesmo, eu sou um pouco espalhada, escrevo muito, às vezes demais, mas é que gosto de tudo bem detalhadinho, bem explorado, dando o máximo de informação, ainda que breves e leves. E faço com gosto.
Que bom que a leitura te prendeu, e sempre bom demais saber que inspirou ideias!
Um beijo grande,
Lica
Realmente quando comecei a pensar nesses contos a partir do material do Trilhas e das conversas com a Lica percebi que "o buraco é mais embaixo"!! É bem difícil diferenciá-los para quem nunca pensou nisso!
ResponderExcluirTambém comecei a trabalhar com esses contos em sala e o prazer e a alegria citados são bem reais, as crianças adoram!! São também facilitadores do aprendizado da leitura pelo caráter repetitivo.
Mas fantástico mesmo é ler um texto tão bem escrito e tão exemplificado como este. Parabéns, Lica pelo seu trabalho! Tem nos ajudado muito a saber sempre mais!
Beijos,
Ana
Oi,
ResponderExcluirConcordo totalmente com Ana. Esses textos e sugestões têm nos ajudado muito na nossa prática de sala de aula. Esse post foi especialmente legal, viu, Lica?
Bjos,
Taíse
Obrigada, Aninha e Taíse!
ResponderExcluirE eu sempre adoro receber notícias da sala de aula, vocês sabem, né? Bem como saber que os posts as ajudam na prática da sala de aula.
Tudo de bom!
Beijos,
Lica
Lica,
ResponderExcluirQuantas dicas boas de livros e estou impressionada com a qualidade das informações.
Um post muito completo para pesquisarmos sobre os contos acumulativos. Gostei mesmo!
Obrigada,
Jussara (de MG)
Oi, Jussara,
ResponderExcluirObrigada! Espero que aproveite bem.
Tentei mesmo trazer informações o mais completas possíveis. Bom saber que algumas pessoas leem os textos enormes que escrevo! Rsrsrsrss!!!
Abraço,
Lica
E tem a história acumulativa cantada "Meu Galo", aqui:
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=K4-Dt83xv6E&feature=share
O material é muito bom,e de grande auxílio para professores que estão iniciando no magistério.
ResponderExcluirBom proveito, Valdinete.
ResponderExcluirLica
Gostei da postagem pois meu projeto de monografia vai ser sobre esse tema e é de grande ajuda pra mim. Vou aproveitar as referências citadas.
ResponderExcluirOi Lica estou fazendo um projeto de pesquisa sobre contos acumulativos.Você poderia citar referências bibliográficas sobre esses contos.Beijos! Vou aguarda!!!!
ResponderExcluirOi, anônimo(a)!
ResponderExcluirQuando tentei pesquisar para dar mais corpo a esses dois posts sobre histórias acumulativas, achei muito pouco sobre isso...Mesmo os clássicos, como Cascudo, trazem textos mínimos sobre esse gênero.
De qualquer modo, é uma referência.
Ainda não encontrei um livro que traga uma abordagem mais aprofundada desse tipo de conto.
Se você encontrar, nos avise aqui!
Obrigada,
Lica
Muuuuuuito bacana! Ajudou muito! PArabéns pelo trabalho. bjos
ResponderExcluirObrigada, "Unknown"...
ResponderExcluirFaça bom proveito!
Pena que não sei pra quem devolver o beijo...rs!
Lica
Nossa, que texto ótimo e completo. Vc já pensou em fazer mestrado sobre contos acumulativos? Pense nisso!
ResponderExcluirRsrsrsrsrs!!!!
ResponderExcluirMestrado e doutorado já tenho, mas tem um livro sobre textos da tradição oral no forno. Rsrs!
Obrigada, Marisa!
Lica
Vou ficar aguardando!
ExcluirLi várias vezes suas postagens e ainda tenho dúvidas sobre o conto "O caso do bolinho", de Tatiana Belinky. Você poderia me ajudar? Se trata de um conto acumulativo ou apenas de repetição. Agrade sua contribuição
ResponderExcluirRosinha,
ExcluirAlém da resposta que dou abaixo, inclui no próprio post algo a respeito, ok?
Obrigada pela pergunta, ajuda a melhorar o post.
Só não sei se te ajudou muito a definir melhor...
Espero que sim...
Abç
Lica
Rosinha, tudo bem?
ResponderExcluirOlha, O caso do bolinho tem elementos acumulativos no trecho que o bolinho fala que é redondo e fofinho e vai acumulando a enumeração dos personagens que não conseguem pegá-lo: a avó, a lebre, o lobo.
Mas não é, como a Casa Sonolenta por exemplo, essencialmente acumulativo, pois nessa história, a estrutura do enredo é essencialmente acumulativa, desde a avó até o rato.
Agora, repare, as definições de gêneros não são tão rígidas...elas são produtivas para organizar os gêneros, mas nunca devemos nos preocupar em colocar tudo em caixas muito bem definidas, pois essas fronteiras não são sempre tão bem delineadas. Bakhtin diz que os gêneros discursivos são enunciados relativamente estáveis... o "relativamente" é constitutivo.
O caso do bolinho tem uma estrutura essencialmente repetitiva, seja na voz do narrador, seja quando todo personagem diz a mesma coisa do mesmo modo para o bolinho. Mas tem a acumulação na fala do bolinho...
É isso...
Espero ter ajudado,
Abç,
Lica
Que texto maravilhoso!!! Iniciei um projeto com meus alunos sobre Contos Acumulativos e li seu material. Estou encantada! Parabéns!
ResponderExcluirGrande abraço!
Telma
Que bom, Telma!
ExcluirFico contente de saber que meus posts ajudam vocês com as aulas.
Abraço,
Lica
Adorei seu textos, ótimas dicas e sugerir de livros. Porém, gostaria de saber algumas canções ou músicas acumulativas ou lengalenga para trabalhar a conscientização fonológica nas turmas de primeiro e segundo anos. Adoraria se você pudesse me ajudar.
ResponderExcluirMuito obrigada,
Abraço,
Rosane
Que bom, Rosane!
ExcluirVeja que nesse post já tem sugestão de cantiga. E veja as postagens sobre os tangolomangos aqui no blog.
Para a reflexão fonológica, os textos da tradição oral são o que tem de melhor! Reflexão brincante!
Veja a minha brochura sobre isso, indicada aí na coluna ao lado.
Abraços,
Liane
Gostei muito da sua postagem, por acaso você nao teria esses livros em pdf para mim disponibilizar
ResponderExcluirNão tenho, Jorlidiane...
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