Enfim!
E vamos que
vamos ao terceiro post sobre os
tangolomangos. Quem não viu os outros, é bom dar uma olhadinha antes, aqui e aqui. O primeiro
post falou desse gênero de texto, sua
origem, estrutura e características, versões e muitas curiosidades sobre. O
segundo trouxe dicas de livros que dialogam com a estrutura dos tangolomangos e
esse terceiro traz atividades de linguagem e matemática a partir dos
tangolomangos. Vamos a elas!
Como sempre,
inicio fazendo uma ressalva quanto às atividades e materiais a partir de
textos. E a ressalva de hoje é a de que brincar, ouvir, ler, cantar os
tangolomangos tem um valor em si mesmo, primordial, que não deve ser perdido de
vista. Os textos, ainda mais literários (seja da literatura oral ou escrita),
não devem ser meros pretextos para as atividades. Isso vocês já sabem, mas não
me canso de sublinhar. Mas dito isto, tendo isso sempre em mente e confiando
que vocês não o esquecerão, trago aqui algumas sugestões, afinal, o texto
literário ou da tradição oral, na alfabetização, também é tomado como
construção linguística passível de provocar reflexões e descobertas!
De cara,
vale para os tangolomangos o que foi dito sobre os contos acumulativos. Com
quanto mais tangolomangos as crianças brincarem e quanto mais os ouvirem, mais
ampliam seu repertório, fazem relações, comparam, criando uma familiaridade com
eles. Cantados, lidos, brincados, recitados, muitas são as variações possíveis,
até dramatizados...
Como é um
texto de estrofes curtas, versificado, com ritmo próprio, rimas, outras
sonoridades, repetições, é bem legal para a leitura compartilhada, o professor
e as crianças alternando a leitura, pelo que vão memorizando, e também para a pseudoleitura
coletiva, acompanhando com o dedo, apoiados no ritmo dos versos. As crianças
podem ir reconhecendo certas palavras no texto, identificando onde está
determinada palavra, bem como brincar com rimas, aliterações, assonâncias.
Quanto a
materiais, cada texto em particular pode sugerir diferentes tipos de fichas,
desenhadas e/ou escritas, para ajudar a recuperar a sequência do texto. Algo
referente à causa do tangolomango, da mazela, do sumiço, pode ser uma
possibilidade! Apoiar-se na imagem para dizer o texto de memória, considerando
as sonoridades dos versos, é bem bacana para ir se apropriando do texto. Os algarismos
e os numerais escritos sem dúvida podem compor o kit, para associar um ao outro
ou aos tangolomangos correspondentes. Os
versos de alguns desses textos em livros trazem o número por escrito (em
linguagem materna), já outros, trazem o numeral mesmo, essas são oportunidades
de criar materiais com possibilidades de associação entre a escrita dos números
por extenso, a escrita do numeral e a quantidade que representam (desenhos dos
personagens ou signos que os representam, como bolinhas, por exemplo).
Nem todos os
tangolomangos vão necessariamente se prestar ou demandar um material, é preciso
ter bom senso para identificar quando isso pode ser produtivo ou não. Nem dá
para ter materiais de todos os textos lidos, não é mesmo? São apenas
sugestões... Cada um vai fazendo suas escolhas...
A ordenação
do texto é uma atividade muito produtiva também com os tangolomangos, devido a
suas características: as estrofes, versos, rimas, palavras que se repetem. Eles
podem ser fatiados em estrofes, em duplas de versos ou em versos. No primeiro
caso, fatiados em estrofes, temos
dez ou nove estrofes (ou mais) e as crianças terão que reconhecer, no escrito,
a palavra que representa o numeral, para então ordená-las e, quem sabe,
considerar também outros elementos de cada uma delas, como algumas palavras que
porventura já reconheçam.
No caso da ordenação de partes da estrofe, ou
seja, de duplas de versos, além do
reconhecimento dos numerais escritos, o que vai ajudar as crianças a ordenar
serão as rimas no final de cada
verso 2 e 4. Por exemplo, na estrofe abaixo terão que associar a ficha com os versos:
Era uma velha que tinha nove filhas.
Foram todas comer biscoito.
... com as fichas com os versos:
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das nove ficaram oito.
As crianças
aí têm que descobrir que podem se apoiar na rima de biscoito com oito. Essa,
em si, já é uma boa atividade de reflexão sobre a escrita. Pode-se explorar
esse pareamento primeiro na oralidade e só depois tornando observável a grafia
semelhante das palavras que rimam. Deixa ver primeiro se as próprias crianças
não descobrem isso...
Para
encontrar o par de rimas, caso o professor informe de que estrofe se trata, as
crianças podem considerar a pauta sonora das palavras que rimam naquela
estrofe, associando o que sabem de cor ao escrito, apoiando-se também na
versificação (descobrem oralmente que são duas palavras no final dos versos) ou
podem considerar a própria grafia semelhante das duas palavras. É interessante
observar as estratégias que as crianças usam para tentar dar conta da tarefa e
provocar gradualmente a prestarem atenção, oral ou graficamente, nos aspectos
que podem ajudá-las a resolver o problema.
No caso de fatiados em versos, por sua vez, podemos
propor a cada mesa uma estrofe ou dar tudo misturado para todos, vai depender
do nível de leitura das crianças. Aí, para descobrirem a ordem, as crianças
poderão considerar os numerais, as rimas e outros elementos que terão que
prestar atenção, como por exemplo, onde a palavra tangolomango aparece na
estrofe, atentando à relação da pauta sonora (o que sabem de cor da estrofe) com
a grafia das palavras nos versos.
Evidentemente,
cada proposta dessas depende do domínio que as crianças têm da leitura. Será
muito fácil ordenar estrofes para aqueles que podem ler com certa autonomia e
muito difícil ordenar os versos para aqueles que ainda não têm recursos para
identificar palavras por meio de estratégias diversas. É preciso conhecer bem
suas crianças para propor para cada agrupamento aquilo que será ao mesmo tempo
desafiante e possível de ser feito com certa autonomia, ou apoiado nas
interações entre elas e com o professor.
Temos que
lembrar também que o reconhecimento de palavras por essas estratégias não é uma
adivinhação aleatória, mas uma pesquisa inteligente, na qual a criança deve
considerar tudo o que sabe sobre letras e sons, para tentar descobrir o que não
sabe ainda. Para se constituir, de fato, em uma exploração que implica em
reflexão, estratégias, pesquisa, resolução de problemas, e não numa tentativa
de adivinhação, é importantíssimo saber para que crianças propor que desafios
de leitura.
Outras atividades de linguagem...
Para
crianças que já têm uma possibilidade maior de leitura e escrita, já
alfabéticas, sugiro desafiá-las com outras atividades, como escrever o
tangolomango que já sabem de cor, ler novos tangolomangos, reescrever mudando
as situações, os motivos dos sumiços e, consequentemente, as palavras que rimam com os números.
Uma
atividade bem interessante para essas crianças é descobrirem outras tantas
palavras dentro da palavra TANGOLOMANGO, misturando suas letras. Essa
desmontagem e remontagem de palavras podem ser feitas com letras móveis – é a
melhor forma – ou no papel mesmo. Para começar é preciso esclarecer que não é
necessário usar todas as letras, que as crianças podem formar palavras com
várias quantidades de letras, e que podem colocar as letras em qualquer ordem.
É bom também combinar que tipos de palavras eventualmente não valem. Valerá
nome próprio? Interjeições? Onomatopeias? Isso vocês é quem decidem... Elas
podem fazê-lo em duplas, em trios, é melhor, pois assim trocam ideias sobre as
possibilidades e sobre a grafia correta das palavras. Observar as estratégias
que usam para encontrar as palavras é uma fonte riquíssima de informação para o
professor a respeito de como as crianças estão pensando. E pode ajudá-lo a
perceber que intervenções podem ser produtivas para levá-los a novas
descobertas. Depois de terminada a tarefa, as palavras encontradas por cada
grupo podem ser compartilhadas e será bem interessante observar junto com as crianças
os que uns e outros encontraram e outros e uns não...
Segue abaixo
uma lista com algumas palavras formadas com letras da palavra tangolomango,
tente encontrar outras!
- Com 3 letras: ano, ato, gol, mal.
- Com 4 letras: gato, gana, galo, gola, gago, gomo, goma, gota, lago, logo, lata,
mago, moto, mano, mato, mata, mala, mana, talo, tolo, lona, nata, nato, nona,
alma.
- Com 5 letras: lagoa, manga, manta, manto, natal, tango, longo, gnomo,
magoa.
- Com 6
letras: mongol, Angola.
- Com 8
letras: angolano.
Você pode
conferir mais algumas palavras nesse link, aqui. Mas observe que
este é um site que forma palavras e não-palavras, é preciso observar o que, de
fato, é palavra na nossa língua, ok? E nem todas são do universo das crianças,
precisa considerar isso também.
Outra proposta
divertida e interessante para a reflexão sobre a escrita é a de ir comendo as
letras da palavra tangolomango e ir tentando ler, vendo quando dá para ler
(palavras existentes ou pseudopalavras) e quando não dá para ler (porque
apresenta ordens de letras não possíveis na nossa língua, como ngolomango) – e mesmo assim tentar. Pode
ser bem engraçado! É uma boa oportunidade de discutir sobre palavras que têm um
sentido na língua, palavras que não o são, mas que dão para ler, restrições de
certas junções de letras na língua...enfim, várias coisas, até o fato de que o
que é restrição em uma língua pode não ser em outra. O ng juntos aparece em línguas africanas, por exemplo. E o que é não-palavra
em uma língua pode ser em outra. GO, por exemplo, não é nada (salvo se
considerarmos as siglas) em português, mas é o verbo IR em inglês... Mas vamos
ver a brincadeira?
TANGOLOMANGO
ANGOLOMANGO
NGOLOMANGO
GOLOMANGO
OLOMANGO
LOMANGO
OMANGO
MANGO
ANGO
NGO
GO
O
E de trás
para frente:
TANGOLOMANG
TANGOLOMAN
TANGOLOMA
TANGOLOM
TANGOLO
TANGOL
TANGO
TANG
TAN
TA
T
E
misturando, tirando umas do início, outras do fim... Nossa! Quanta palavra! Dá
até para escolher algumas para fazer uma história maluca – quem sabe até sobre
um comedor de letras –, e usá-las como nomes de personagens, lugares... e o que
mais a imaginação inventar!
Bom, o
tangolomango, evidentemente, é também muito produtivo para certos conceitos e operações matemáticas. A
contagem regressiva e a subtração sucessiva são aspectos que logo vêm a nossa
mente. De subtração em subtração, as crianças podem ir fazendo o caminho
decrescente dos dez primeiros algarismos, em situações diversas, bem divertidas.
A contagem de um a dez (ou o que for) também está presente aí, quando for o
caso de crianças menores. E os personagens podem ser desenhados, cada desenho enfileirado
com cada quantidade e numeral, enfim, uma série de propostas relativas à
contagem e comparação das quantidades.
Mas outros aspectos do pensamento lógico-matemático passeiam entre os tangolomangos, como a reversibilidade do pensamento, a seriação e classificação, operações que fazem parte da construção do número pelas crianças. E podem inspirar muitas situações problemas.
A partir
dos textos, o professor pode ir provocando a reflexão e a contagem decrescente através de questionamentos: quantas eram as irmãs? O que aconteceu com a primeira? Quantas ficaram? O que aconteceu com a segunda? Quantas
ficaram? Depois pode inventar outros problemas matemáticos orais como, por
exemplo: eram dez irmãs, oito foram comprar biscoito, voltaram apenas cinco.
Quantas tiveram tangolomangos no caminho? Esses problemas orais podem ser
depois escritos pelo professor, digitados. Respondidos e ilustrados pelos
alunos, pode virar um livrinho bem legal!
Vários jogos que trazem os números de um a dez
podem também ser propostos nesse clima de um a dez, dez a zero, de relações
entre os números desse intervalo. Desde juntar o numeral escrito com
quantidades de coisinhas, de objetos de uma coleção, começar com dez coisinhas
e ir retirando uma a uma... ou ir jogando o dado e ir retirando (ou com fichas
escrito – 1 ou – 2)...
Isso lembra
um jogo que chama Tira e Põe, que as
crianças jogam lá na escola em que trabalho. Cada criança joga com uma
caixinha, cada caixinha com uma quantidade igual de grãos, sementes ou palitos;
jogam em duplas e vão jogando o dado, ou dois dados somando as quantidades, no
caso de dois dados, e retiram da caixa a quantidade indicada no dado (ou pela
soma dos dados). Depois recolocam. Ganha quem primeiro reencher sua caixinha. A
quantidade de grãos e o uso de um ou dois dados dependem do grupo em questão,
das possibilidades das crianças. Para jogar em grupos maiores, de 4 ou 5
crianças, pode-se propor que cada criança derrube a quantidade de grãos (ou
palitos, fichas, sementes...) de sua caixa numa caixa maior no meio da mesa
(todos devem ter a mesma quantidade, tipo 10 ou 20) e sucessivamente joguem os
dados e retirem da caixa grande a quantidade indicada pelo dado, colocando em
sua própria caixa. Ao final da partida, quando todos os grãos da caixa do
centro terminarem, cada um deve contar os grãos de suas caixas, os resultados
marcados em uma tabela e, depois de verificar quem ganhou em 1º, 2º e 3º lugares
(pela quantidade de grãos), o grupo deve combinar quantos grãos devem ir
devolvendo para os outros para que, no fim, todos fiquem com a mesma quantidade
de grãos em suas caixas novamente. Essa combinação precisa da intervenção do
professor, para ajudá-los a decidir quantos grãos quem deverá dar para quem. É
uma tarefa e tanto!!!
Desse jogo
pode-se partir para outro, chamado Dobradinha,
mas nesse caso jogar uma Dobradinha simples. Cada jogador (jogo em duplas) com dez marcadores (palitos,
grãos...) deve lançar o dado na sua vez ou cada um com um dado, lançam simultaneamente. O que tirar o menor valor deve dar ao colega a quantidade que representa a diferença entre os dados. Por exemplo, se no lance dos dados um jogador tira
6 e o outro 2, este deve dar quatro (6-2) de seus marcadores ao colega. Cada um joga uma vez.
Quando os dez marcadores de um dos jogadores acabar, ele deve controlar as
dívidas e devoluções anotando-as em um papel. O desafio é grande aí, pois as
crianças passam a operar sem o material concreto, com a noção de número
negativo, fazendo muitas contas de adição e subtração para isso. Cálculos
mentais ou apoiados em seus registros. Mas é muito instigante e dá muita
flexibilidade ao pensamento! O registro deles no papel deve ser livre, seja com
a representação dos marcadores (desenhos de palitos ou bolinhas) ou com numerais
mesmo. Dependendo da turma, dá para experimentar... Jogando bastante vão
certamente aprimorando suas estratégias de cálculo e se dando conta de muitas
coisas envolvidas nessas operações. Para os maiores, a ideia é sempre dobrar os
dados, por isso Dobradinha (6 e 2 viram 12 e 4, e a diferença é 8 ou, pensando
de outro jeito, 6-2 é 4, o dobro é 8!). O jogo pode se desenrolar até um tempo e, no final daquele tempo combinado, vence quem estiver com mais marcadores, sem dívidas. Pode ser também estipulado um valor máximo de dívida - como 10 - quando, então, o jogo acaba. O Dobradinha tradicional, para as crianças maiores, funciona do mesmo jeito, exatamente a mesma coisa, só que com maior número de marcadores e dobrando-se o dado (se tiro 6, conto 12, e meu colega tira 4, conta 8), aumentando o número de operações que devem fazer com os valores nos dados e de cálculos das dívidas, com valores maiores.
Um jogo que muito combina com a ideia do tangolomango é o jogo proposto no Caderno de matemática 3 do PNAIC, "Construção do sistema de numeração decimal", o jogo Nunca Dez. É um jogo de trocas, em que cada jogador, a partir de lances de dados, vai juntando unidades de algum material (palitos, canudos, etc) e quando forma dez é preciso trocar por outro elemento que represente a dezena (palito maior, canudo de outra cor, etc). Esse é um jogo que joga-se muito lá na escola em que trabalhei a vida toda, na qual meu filho estuda, mas lá joga-se em diversas bases, não apenas na base 10. Chama-se Jogo do Troca, e joga-se em diversas variantes, com diversos materiais, estruturado de diversas formas, umas variantes são mais simples, outras mais complexas. O objetivo é que as crianças entendam o sistema de trocas que está na base do sistema numérico e façam muitos cálculos mentais. Joga-se com a base 5, 6, 10, enfim, variando as bases. O Jogo do Troca merece um post só para ele, prometo fazer futuramente.
Outro
joguinho, mais simples que o Dobradinha, joga-se com dois dados,
que podem ser os tradicionais com as bolinhas indicando o número ou com o
numeral mesmo indicado nas faces. É um jogo sem competição, cada um joga os
dois dados de vez e efetua somas, subtrações e até multiplicações, no sentido
de pensar nas somas sucessivas (duas vezes cinco, quer dizer contar duas vezes
o cinco, que dá dez, cinco mais cinco). Dá até para fazer divisões simples,
especialmente por dois (6 dividido por duas pessoas, 3). O desafio é propor uma
conta. O jogo vale por si só, não precisa anotar as contas em linguagem
matemática ainda.
Um jogo
legal também é o Jogo das Somas, com
um tabuleiro simples de nove quadrados dispostos como na foto indicada e fichas
com os números de 1 a 9. As fichas com os números de 1 a 9 devem ser colocadas
nas casas de modo que cada número da fila superior seja a soma dos números da
fila debaixo daquela em que se apoia. É um desafio e tanto, além das somas que
precisam ser feitas!
Já no Jogo dos Doze, a ideia é fazer somas
até 12 utilizando-se de dois dados, um tabuleiro com numerais de 2 a 12 e marcadores
de duas cores ou tipos diferentes (fichas, pinos, grãos ou sementes
diferentes). Joga-se em duplas. Cada jogador escolhe seu tipo ou cor de marcador
e guarda para si. Cada um na sua vez, os jogadores jogam os dois dados e somam
os números indicados nas faces. O jogador coloca no tabuleiro um de seus
marcadores em cima do numeral que representa o número obtido dessa soma. Se a
soma dos dados for 4 (3 + 1), por exemplo, o marcador deve ser colocado em cima
do numeral 4 no tabuleiro. E assim passa-se ao outro jogador. Quando os valores estão mais baixos, pode-se optar por lançar apenas um dado.
Quando a
soma der como resultado um mesmo número que já havia sido marcado no tabuleiro,
seja pelo próprio jogador ou por seu adversário, o jogador deverá passar a sua
vez. Pode combinar várias opções para descobrir o vencedor. Pode ser aquele que
marcar mais casas, mas pode também ser aquele que conseguir primeiro alinhar três de seus marcadores na horizontal, na vertical ou na diagonal. Em ambos os casos o
que determina quem vence é a sorte (do lance dos dados ou do alinhamento de
marcadores), não a possibilidade de fazerem suas somas. Jogando, vão perceber
que várias combinações permitem que se chegue a um mesmo resultado, como para
chegar em 6, pode ser 5 + 1, 4 + 2, 3 + 3. Joaquim adora esse jogo e descobre muitas coisas. Já sabe que para ter doze, com o lance dos dados, a única possibilidade é 6 + 6, "porque não tem no dado 10, para ser 10 + 2, né, mãe?"...Já sabe que para obter 2 pode jogar com um dado só, mas pode também jogar dois e cair 1 + 1... Já está percebendo que para um mesmo resultado há várias possibilidades de soma...Já está começando a perceber que qualquer número mais um dá sempre o número seguinte na série numérica... Enfim, lá vai ele, passando da contagem nos dedos ao cálculo mental e à familiaridade com as somas até 12... Ah, de início é bom jogar com dados tradicionais, em que podem visualizar bem as quantidades, mas depois podem ser introduzidos dados com os algarismos escritos nas faces, aumentando mais o desafio.
Perfeito para perceberem que várias somas diferentes podem chegar a um mesmo resultado é também o famoso jogo Feche a Caixa, que trabalha estratégia e
essa ideia de várias formas de se chegar a um mesmo resultado, com muito
cálculo mental! Esse jogo já existe industrializado, mas é bem simples de fazer
com papel mesmo, a exemplo desse da foto.
Joga-se com a sequência de numerais
de 1 a 9 e dois dados. Os jogadores devem lançar os dois dados ao mesmo tempo e
somar suas faces. O jogador deve então procurar um meio de marcar uma ou duas
fichas/numerais que deem a soma dos dados. Por exemplo, se ele tirar 4 nos dois
dados, dá 8, se a caixa do oito já estiver fechada, deve procurar outro meio de marcar 8, fechando duas casas. Mas não há dois 4 na sequência, então ele pode marcar o 5 e o 3 ou
o 7 e o 1. Se tirar 7 e 1 nos dados, mas o 7 já estiver fechado, então tem que
procurar outro meio para chegar a 8, como fazer 6 + 2, por exemplo. Fechar a
caixa significa eliminar um ou os dois numerais escolhidos da sequência (no
tabuleiro mais elaborado, abaixa-se a lingueta com os numerais eliminados, no
de papel, pode simplesmente baixá-lo, prender, de modo a não ficar mais visível).
O mesmo jogador continua jogando os dados enquanto for possível usar a soma
dos dois para fechar caixas - uma ou duas. Ah, e uma vez fechadas as casas 7, 8 e 9, passa-se
a lançar somente um dado e a cobrir o numeral que ele indica. O jogo segue até
que não seja mais possível avançar, fechar casas (ou caixas, como se diz no
jogo)... Assim, sua vez acaba se você não puder mais fechar uma ou duas caixas.
Cada jogador, ao terminar sua jogada, deve registrar a soma das caixas que não
foram fechadas, que representa os pontos perdidos, passando a vez ao adversário. Isso
aos poucos vai indicar a estratégia de fazer as somas utilizando-se, quando
possível, as casas mais altas, para somar menos pontos negativos. Após a
contagem dos pontos negativos (caixas que não foram fechadas), passa-se então o
tabuleiro para o outro jogador (se for tabuleiro de papel, ele poderá ter o
dele). Quem atingir primeiro 45 pontos negativos, em várias jogadas, perde o
jogo. Pode também começar o jogo cada jogador com 45 pontos e esses irem diminuindo.
Veja aqui
uma versão das regras e até uma ficha pronta para imprimir, se quiser. Mas na internet tem várias opções, pesquise! Na Nova Escola tem
uma versão para jogar on-line, muito bacana, confira aqui. Você pode jogar com um amigo ou jogar sozinho com dois nomes diferentes e ver qual ganha.
Bom, se seu
grupo já reconhece a linguagem matemática das sentenças de somas e subtrações,
pode ser proposto também um Bingo de
Contas, colocando-se nas cartelas várias contas de adição e subtração. Na
mesa deve haver fichas com as respostas a essas contas (cada resultado deve
aparecer nas fichas quantas vezes ele aparece nas contas de todas as cartelas,
por exemplo, se houver sete contas espalhadas nas cartelas diferentes cujo
resultado é 6, devem haver sete fichas com o numeral 6, além do 6 do conjunto
que será usado exclusivamente para cantar os números). O professor canta um dos
resultados e cada jogador deve então procurar essas fichas quando em sua
cartela houver uma conta que dê o resultado cantado pelo professor. Por
exemplo, o professoro canta 6, se o jogador tiver em sua cartela alguma dessas
contas: 5+1, 6+0, 3+3, 4+2, ou 7-1, 8-2..., ele deve marcar com a ficha
indicando o numeral 6. O jogo acontece
como um bingo comum, quem preencher a cartela deve gritar Bingo! Cuidado ao preparar
as cartelas para não colocar mais de uma conta com o mesmo resultado em uma
mesma cartela, privilegiando o jogador que a tiver. Pode-se jogar em duplas,
cada dupla com uma cartela, um ajudando o outro. Também aqui nesse jogo, além
do cálculo mental, fica bem observável que operações diferentes podem chegar a
um mesmo resultado.
Bom, como
esses, há muitos outros joguinhos, bem interessantes, inspirados na brincadeira
com os números de um a dez ou dez ou nove a zero... Mas acho que por ora já dei
bastante dicas, não é? Minha gente, antes de gostar de leitura e escrita eu era
louca – e sou ainda – por Matemática. Mas por essa Matemática gostosa! Cuido
dessa área também na escola e lá o jogo é um dos pilares do trabalho com a Matemática.
Esses foram apenas alguns, possíveis para as crianças nessa fase de início das
operações e das aventuras com números e letras...
Por fim, e
voltando à linguagem, que tal experimentar fazer um tangolomango com as
crianças? Pensar nos personagens, em rimas inusitadas com os numerais, nas
situações que resultarão no desaparecimento sucessivo dos personagens, na
estrutura das estrofes e versos... e no modo, se for o caso, que a situação vai
se inverter e todo mundo voltar ou seja lá que fim vocês quiserem! Inventar
coletivamente pode ser bem divertido. Vão escrevendo, no quadro ou no caderno,
acolhendo sugestões das crianças, ajustando as estrofes à medida que o texto segue... enfim,
uma atividade de produção textual, em um gênero com regras bem próprias (ritmo,
rimas, versos), mas também com várias coisas a inventar! Para os que já
escrevem, e dependendo da turma, talvez seja legal tentarem também em duplas ou
em pequenos grupos.
Para
inspirar, vejam um tangolomango inventado por Rosana Pamplona é o “Tangolomango
das Bruxas”, que saiu na Revista Crescer. Veja abaixo! Algumas rimas são iguais à que aparecem
frequentemente, como oito/biscoito, inglês/seis... outras são mais inusitadas...
TANGOLOMANGO DAS
BRUXAS
UMA
BRUXA MUITO VELHA
TINHA
UMA FILHARADA
ERAM
DEZ BRUXAS BEM FEIAS
SÓ
FAZIAM TRAPALHADA!
DAS
DEZ FILHAS DA VELHA BRUXA
UMA
DELAS ERA ESNOBE
DEU
O TANGOLOMANGO NELA
E
SÓ FICARAM NOVE!
DAS
NOVE QUE FICARAM
UMA
ROUBAVA BISCOITO
DEU
O TANGOLOMANGO NELA
E
SÓ FICARAM... OITO!
DAS
OITO QUE FICARAM
UMA
PEGOU O CANIVETE
DEU
O TANGOLOMANGO NELA
E
SÓ FICARAM... SETE!
DAS
SETE QUE FICARAM
UMA
XINGAVA EM INGLÊS
DEU
O TANGOLOMANGO NELA
E
SÓ FICARAM... SEIS!
DAS
SEIS QUE FICARAM
UMA
SE TRANCOU COM TRINCO
DEU
O TANGOLOMANGO NELA
E SÓ FICARAM... CINCO!
DAS CINCO QUE FICARAM
UMA FEZ CAIR O PRATO
DEU O TANGOLOMANGO NELA
E SÓ FICARAM... QUATRO!
DAS QUATRO QUE FICARAM
UMA FOI PARA O XADREZ
DEU O TANGOLOMANGO NELA
E SÓ FICARAM...TRÊS!
DAS TRÊS QUE FICARAM
UMA CORREU NO MEIO DAS RUAS
DEU O TANGOLOMANGO NELA
E SÓ FICARAM DUAS!
DAS DUAS QUE FICARAM
UMA MERGULHOU NA ESPUMA
DEU O TANGOLOMANGO NELA
E DAS DUAS FICOU UMA!
A ÚLTIMA QUE FICOU
JÁ NÃO VALIA MAIS NADA
DEU O TANGOLOMANGO NELA
E ACABOU-SE A BRUXARADA!
Outro
inventado, que já indiquei, mas indico de novo, é o de Ângela Lago, o Tangolomango
dos ETs. Para quem não viu, é aqui.
Vejam um exemplo de texto enumerativo decrescente inventado pelas crianças:
Bom, minha
gente, é isso aí... Acho que agora posso dar um tangolomango por um tempo, para
terminar minha Tese, né? Não estou devendo mais esse post tão prometido e posso agora dar um tempinho. Espero que
aproveitem bem!
Otimas ideias!!!! adorei! Parabéns!
ResponderExcluirAmei, Lica,
ResponderExcluirEsse tangolomango dá mesmo pano para manga em suas mãos!
Bem que estava faltando você trazer algumas das ótimas dicas de matemática que sei que você tem.
Valeu!
Beijos,
Leila
Obrigada, Leilane, seja bem vinda e aproveite!
ResponderExcluirPois é, né, Leiloca... Já não era sem tempo da Matemática dar as caras por aqui...
Ah...num ninho de tangolomangos, há muitos...
Beijos,
Lica
Lica,
ResponderExcluirAdorei os três posts! Estou doida para dar uns tangolomangos lá na escola! As aulas começarão dia 18 e já estou preparada! Com essas dicas tão legais certamente as crianças ficarão encantadas! Nota 10! Ops! Tangolomango chegando.... Parabéns!
Beijos,
Ana
Poxa, que bom, Aninha!
ResponderExcluirSua opinião é um ótimo termômetro.
Eu adorei fazer esses três tangolomangos...bem divertido!
Beijão!
Lica
Olá,parabéns pelo blog, está rico e interessantíssimo, tanto que tomei a liberdade de indica-lo em meu blog, espero que possamos trocar muitas idéias e materiais, meu blog é http://formacaoinclusivanet.blogspot.com.br/
ResponderExcluirVisite-nos será um prazer, boa sorte e muitíssimo obrigada pela maravilhosa contribuição.
Obrigada, Maria Luisa!
ExcluirVisitarei o seu blog.
Se precisar tirar alguma dúvida sobre os materiais ou quiser trocar ideias, pode escrever!
Lica
Professora, que blog maravilhoso! Fiquei encantada com tantas sugestões de atividades para serem aplicadas em sala de aula que fiquei em dúvida ao escolher uma para comentar.Porém, vou ficar com o Bingo das somas,pois estou trabalhando com alunos do 5º ano com dificuldades nas resoluções das atividades envolvendo soma e subtração. Sei que o trabalho com esse bingo irá auxiliá-los desenvlvendo o raciocínio lógico, o cáculo mental, a percepção... Amei! Obrigada!
ResponderExcluirmariajoscilene@live.com
Que bom que gostou, Josci!
ResponderExcluirPrefiro mil vezes que você fique em dúvida de qual postagem comentar, do que comentar a primeira que abrir! Muito mais!!!!
Pode comentar todas que quiser, viu? O espaço é de vocês!
Mesmo que você capte aqui um jogo específico dentro de um post, não deixe de ver o contexto no qual ele se insere, viu?
Esses posts sobre os tangolomangos podem dar muitas ideias...articulando matemática e linguagem.
Abçs,
Liane
Oi Lica.
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar em tangolomango. A primeira vez foi hoje na sua aula e eu adorei. Lendo aqui mais coisas no seu blog eu me encantei mais ainda.
Adorei o exemplo de atividade que separa os trechos e que por meio de associação e da rima ela vai juntando os trechos.
Também gostei muito da relação e sugestões que deu para utilizarmos ele na matemática.
Muito bom!
ANTONIA FEIERABEND CALLAS
EDCB85 - 2018.1
Após participar da oficina de jogos, não podia deixar de vir aqui novamente e pesquisar mais um pouquinho sobre eles. Acho incrível como o uso dos jogos pode beneficiar o processo de alfabetização de crianças e também de adultos. Durante a brincadeira, não tem quem não fique envolvido e acabe expressando todo o seu sentimento e emoção. Por meio dos jogos e de atividades lúdicas, fica bem mais fácil socializar e trocar experiências e, a partir daí a possibilidade de formar seus próprios conceitos, selecionar suas ideias, adquirir percepções e aprender a estabelecer relações lógicas, o que é muito importante para o desenvolvimento de todos e todas. O ato de jogar provoca desafio mental, proporciona momentos de interação e aprendizagem, pois é um dos meios mais estimuladores da construção do conhecimento.
ResponderExcluirPor: Flavia Purificação Oliveira
Isso mesmo, Flávia!
ResponderExcluirComo sempre digo, o jogo como recurso didático só vale se equilibrar bem as funções lúdicas e didáticas, para que nem deixe de ter características importantes do jogo garantidas, especialmente seu potencial lúdico, nem deixe de ser planejado visando aos objetivos de aprendizagem...