A intervenção nas salas de aula se desenvolverá em colaboração com as professoras regentes, numa perspectiva de pesquisa com a escola, com os professores, e não sobre a escola e sobre os professores. Pesquisas e mais pesquisas são feitas sobre a escola, como se os seus efeitos naturalmente pudessem chegar a elas. O intuito aqui é trabalhar junto com a escola, favorecendo a construção compartilhada de saberes e fazeres dos pesquisadores e professores.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
Pesquisa sobre Jogos e materiais pedagógicos na alfabetização
Como
vocês que me acompanham sabem, tenho pesquisado e desenvolvido, já a algum
tempo (desde 2001), um acervo de materiais e jogos de apoio ao trabalho de
alfabetização. De início, eu usava esses materiais em alguns contextos de
formação de professores, mas especialmente em minhas aulas de didática da
alfabetização, na Unijorge, onde eu lecionei por 8 anos.
Foram
os próprios alunos que me pediram para que eu os ensinasse a produzir esses
materiais...E assim surgiram as oficinas de produção de material. Fiz oficinas
na Faced, no curso de formação que a UFBA desenvolveu com professores da Rede
Municipal de Salvador – o Projeto Salvador – e em muitos outros contextos. Já
são muitos anos de produção, divulgação e envolvimento com jogos e materiais
pedagógicos para a alfabetização.
Já
intencionando tornar esse trabalho mais acadêmico, procurei sempre apresentar e
produzir artigos com essa temática, durante minha pós-graduação, ao lado das
produções e apresentações da tese, que não focam a alfabetização inicial.
Desde
2014, quando ingressei na Universidade Federal da Bahia como professora
concursada, venho me organizando para tornar esse trabalho com jogos, materiais
e oficinas articulado tanto ao ensino, quanto à pesquisa e extensão. No ensino,
está presente em minhas aulas de Alfabetização e letramento – componente pelo
qual fiquei responsável na Faculdade – e eventualmente, também no Estágio
Supervisionado – componente em que estou igualmente envolvida. Cabe ressaltar
que, por esse interesse em especial, também orientei, durante esse período na
UFBA, alguns Trabalhos de Conclusão de Curso sobre jogos na alfabetização.
A
partir de 2015, comecei a esboçar a pesquisa “Jogos e materiais pedagógicos na
alfabetização”, apresentando um primeiro esboço no Geling - Grupo de pesquisa
do qual faço parte na Faculdade de Educação, e ao qual a pesquisa se filia.
Em
2016, organizei o projeto e consegui dois bolsistas pelo Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), bem como se juntaram a nós algumas
estudantes voluntárias – geralmente alunas minhas dos componentes Alfabetização
e letramento ou de Estágio. E, assim, começamos a desenvolver a pesquisa.
A
pesquisa tem como objetivo maior discutir o papel da dimensão material da ação
e na formação docentes, buscando identificar, analisar, desenvolver e divulgar
jogos e materiais pedagógicos (bem como seus usos e as concepções subjacentes)
nas práticas alfabetizadoras da Educação Infantil (4 a 5 anos) e do 1º ao 3º
anos do Ensino Fundamental (com foco, especificamente, na Rede Municipal de
Ensino de Salvador), ampliando o conhecimento sobre esses recursos pedagógicos
nas instituições escolares e também no contexto de formação inicial de
professores, na Universidade, a partir da pesquisa, produção permanente e
mobilização de acervos.
Nas
escolas da rede, propomos fazer um levantamento de acervos, discursos e
práticas referentes a jogos de linguagem e materiais pedagógicos na
alfabetização, bem como uma intervenção nas salas de aula – numa perspectiva de
pesquisa etnográfica colaborativa. Apostamos no fato de que conhecer esses
discursos e práticas possa desencadear uma discussão importante sobre a
problemática da pesquisa, tanto no contexto escolar, quanto na instituição
formadora.
A
equipe de pesquisadores irá produzir jogos e materiais de acordo com as turmas
em que a intervenção será desenvolvida, em oficinas que serão também abertas
aos professores da rede e a interessados em geral, constituindo-se como
atividade de extensão. A ideia é que cada participante saia com seus kits e, no
caso das pesquisadoras, kits que serão usados na intervenção nas escolas.
A intervenção nas salas de aula se desenvolverá em colaboração com as professoras regentes, numa perspectiva de pesquisa com a escola, com os professores, e não sobre a escola e sobre os professores. Pesquisas e mais pesquisas são feitas sobre a escola, como se os seus efeitos naturalmente pudessem chegar a elas. O intuito aqui é trabalhar junto com a escola, favorecendo a construção compartilhada de saberes e fazeres dos pesquisadores e professores.
A intervenção nas salas de aula se desenvolverá em colaboração com as professoras regentes, numa perspectiva de pesquisa com a escola, com os professores, e não sobre a escola e sobre os professores. Pesquisas e mais pesquisas são feitas sobre a escola, como se os seus efeitos naturalmente pudessem chegar a elas. O intuito aqui é trabalhar junto com a escola, favorecendo a construção compartilhada de saberes e fazeres dos pesquisadores e professores.
Ao lado
de seus acervos pessoais, os bolsistas da pesquisa confeccionarão, igualmente,
materiais para uso na Faculdade – por docentes e discentes, em contextos
diversos (aulas, estágios, pesquisas discentes etc), constituindo-se um
Laboratório de Acervos Pedagógicos (LAP). Essa ação favorece, a reflexão
sobre essa dimensão material no contexto da formação de
professores, a partir da ideia da constituição de uma "paleta
metodológica" do futuro professor, como sugere Meirieu, em seu
livro O cotidiano da escola e da sala de aula.
Ressalta-se,
no entanto, que essa dimensão material da ação docente, e toda essa ideia de
produção de material em contexto de formação de professores, longe de estarem
ancoradas em uma perspectiva instrumental e tecnicista, apoia-se em firmes
concepções de alfabetização, de linguagem, de aprendizagem; na compreensão do
papel dos aspectos notacionais e fonológicos na apropriação da escrita; nos
aspectos didáticos relativos aos objetivos de aprendizagem; considerando
igualmente, as etapas necessárias à produção de materiais didáticos produtivos.
Essa discussão tem relação com a problemática da pesquisa, tal
qual fundamentada e discutida no projeto.
Recentemente,
inclusive, a pesquisa foi beneficiada pelo Programa de Apoio a Jovens Doutores
(PROPESQ) e terá direito, além de a mais um bolsista, a recursos
financeiros para itens de capital e custeio, favorecendo o desenvolvimento dos
materiais do LAP. Com isso, contaremos com equipamentos e todo o material
necessário para a produção e manutenção do acervo de jogos e materiais da Faculdade
de Educação.
Além da
constituição do acervo, novos artigos foram e serão escritos para divulgar a
pesquisa e todas essas ações a ela articuladas.
Há,
assim, em todas essas ações, uma intenção de alçar tanto a dimensão material da
ação docente, quanto os aspectos linguísticos da alfabetização, a um lugar mais
prestigiado nas práticas alfabetizadoras. A intenção da pesquisa é, justamente,
argumentar que os jogos e materiais pedagógicos podem constituir, junto com
outras estratégias, em recursos importantes e interessantes nas metodologias
que enfatizam os aspectos linguísticos da apropriação da escrita, ao lado dos
aspectos sociodiscursivos e interativos, em contextos lúdicos, reflexivos e
letrados. Porque não se trata, evidentemente, ao enfatizar os aspectos
linguísticos, de manter e/ou retornar a práticas mecanicistas, reducionistas,
mas de considerar as especificidades das aprendizagens da notação alfabética,
numa perspectiva de linguagem escrita como prática social e sistema complexo de
notação, que é preciso se apropriar para participar mais amplamente da cultura
letrada. A questão é como trabalhar esses aspectos, e aí entram os jogos e
materiais e a discussão sobre o seu alcance, limites e possibilidades no ensino
da língua escrita.
Desse
modo, creio que concretiza-se, nesse momento, minha intenção de trazer as
oficinas e os acervos – no âmbito dessa discussão maior sobre a dimensão
material da ação e formação docente – para a minha vida acadêmica, articulando
pesquisa, ensino e extensão.
Tudo
isso para dizer que esse trabalho ganha agora essa dimensão e estou feliz dessa
trajetória, aqui bem resumidamente relatada.
Por
ora, é isso!
Lica
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Fantástico, Lica....
ResponderExcluirUniversidade indo, de fato, à escola, trabalhando com a escola.
Muito bom também o que propõe na própria faculdade, como formação dos professores.
Pesquisa muito interessante, parabéns.
Driu
Oi, Driu!
ResponderExcluirMuito obrigada!
Estou animada e esperando que, realmente, seja uma pesquisa bacana e que uma experiência interessante possa sair disso, seja nas trocas com as escolas, seja na Faculdade.
Abraço,
Lica
Parabéns pelo maravilhoso trabalho!
ResponderExcluirO trabalho de alfabetização com o auxilio desses materiais além de facilitar, possibilita um mundo de alternativas que levam ao aprendizado, ainda mais quando se trata de crianças. Durante a brincadeira a criança fica tão envolvida e acaba expressando todo o seu sentimento e emoção. Através dos jogos e de atividades lúdicas desenvolvidas nas escolas a criança aprende a se socializar com as demais e a partir daí consegue formar seus próprios conceitos, selecionar suas idéias, adquirir percepções e aprende a estabelecer relações lógicas, o que é muito importante para o seu desenvolvimento. Por isso devemos cada vez mais defender a ideia de que brincando também se aprende e com qualidade!
Mariana Costa
EDCB85- Alfabetização e Letramento
Isso aí... só temos que ficar sempre alertas para equilibrar a função lúdica e a função pedagógica, pois por vezes uma se sobressai à outra e ou bem perde-se o caráter lúdico pelo excesso de instrumentalização didática, ou perde-se o viés pedagógico, associando o jogo apenas ao divertimento.
ExcluirAbraço,
Liane
Muito bela esta proposta pedagógica de ensinar a partir de jogos bastante elucidativos. Isto enriquece a educação pois a torna mais dinâmica. Que bom seria se em todas as instituições de ensino pudesse ter este trabalho, com oficinas como esta. Tudo indica que as aulas seriam bem mais lúdicas e a exploração da linguagem - juntamente com o estudo da língua - tornariam-se verdadeiras aventuras de aprendizado e docência.
ResponderExcluirUNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: EDCB85 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ESTUDANTE: SANDRA MACHADO DA SILVA
PROFESSORA: LIANE CASTRO DE ARAÚJO
TURNO: MATUTINO
Obrigada, Sandra!
ExcluirSe tudo o que planejo der certo, em breve teremos o nosso laboratório em funcionamento...Já está, mas internamente...mas logo logo vai ampliar suas atividades.
Verônica Maria da Silva Magalhães
ResponderExcluirEDCB85 - Alfabetização e letramento
Olá, Lica! Boa noite!
Estou encantada com a pesquisa maravilhosa que você e sua equipe tem feito em prol da educação brasileira.
Particularmente, desconhecia essa pesquisa sobre jogos e materiais pedagógicos na alfabetização. Acredito que após feitas as intervenções sobre a aprendizagem das crianças na sala de aula, dispor de um acervo de materiais e jogos para apoiar no trabalho de alfabetização, é uma estratégia significativa para aquisição e avanço na escrita.
É notório que o lúdico auxilia a criança a evoluir de nível na escolarização. As aulas ministradas com esse material pedagógico serão prazerosas, menos monótonas.
Oi, Verônica!
ExcluirQue bom que gostou...
Tenho a apresentado em outros grupos de pesquisa (na UFMG, na UFPE...) e em eventos, e a recepção à pesquisa tem sido ótima! Fico muito feliz com isso.
E aguarde, também em nossas aulas, teremos os jogos para jogar e refletir sobre os aspectos linguísticos que eles abordam!