segunda-feira, 11 de março de 2019

Alfabeto Nordestino no jornal

Saiu no dia 09/03/2019 um artigo meu no jornal Correio da Bahia sobre o alfabeto nordestino, estudo que venho fazendo para divulgar mais sobre a legitimidade cultural e linguística de nosso jeito de nomear as letras do alfabeto. Há várias postagens aqui no blog sobre isso e sobre esse estudo e a pesquisa empírica que estou desenvolvendo sobre a temática. pesquisem pelo marcador Abecê Nordestino.

Vamos lá professoras e professores baianos!
Vamos cultivar nosso abecedário, que é legítimo, bonito e muito funcional. Vamos ensinar às crianças que temos dois jeitos de nomear essas oito letras no Brasil! E dar a ver essa nossa particularidade cultural ao resto do país, quebrando esse preconceito, de início, entre nós mesmos.

Print do jornal:

Página do jornal on-line:


O link para ler o texto no jornal on-line: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/alfabeto-nordestino

Referência: Correio da Bahia, ano XL, nº 13278, Artigo, p. 2, Sábado, 09 de março de 2019.

O artigo foi indicado no Jornal Pensar a educação em pauta, aqui, do Pensar a educação, pensar o Brasil, aqui: http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/educacao-em-debate-edicao-228/

Estou sem tempo de avançar e terminar esse estudo e pesquisa - concentrada que estou em fechar minha outra pesquisa, bem como as demandas da UFBA - mas não o deixo de lado, esse meu xodó de abecedário!

E para não perder a oportunidade, mostro aqui o que disse uma "sem noção" no twitter do Correio sobre esse artigo. Prefiro, evidentemente, o tweet de cima, mas vejamos o "nível" da argumentação..."Sem noção" é pouco, né, gente? Coitada...


...E se é para radicalizar, tudo isso e mais gostoso de falar e ouvir, sim, Ary! 

23 comentários:

  1. Ma-ra-vi-lho-so!!!!!
    Parabéns! Muito bom alguém falar disso, muito bom esse resgate, muito bom a gente conhecer mais nossa cultura e linguagem.
    Vivaaaaaaa!!!! Amei!
    Helen, baiana com muito orgulho!

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    1. Muito obrigada, Helen!
      Seu entusiasmo me anima...
      É um tema muito "porreta", como diziam no meu tempo de criança...rsrsrs...
      Adoro também!
      Abraço

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  2. “Sempre” me interessei por esse Abecê Nordestino.
    Lembro do meu primeiro estranhamento quando era criança, ao assistir desenhos animados em um sábado de manhã: por que na tevê diziam “esse-bê-tê” ao invés de “si-bê-tê”? Foi minha primeira lembrança e reconhecimento de que há dois modos de pronunciar o alfabeto no Brasil.
    Na primeira aula do componente, discutimos sobre isso e foi uma das discussões que mais prenderam a minha atenção, então vim ao blog atrás de mais conteúdos sobre o tema!
    Achei o texto publicado no jornal muito bom e esclarecedor, falando sobre o que eu já pensava, mas não sabia como dizer em palavras. Comecei a ler a introdução desse tema aqui no blog e já quero terminar para ler as outras três partes!
    Me pergunto se nas próximas leituras encontrarei algo que responda o porquê desse abecedário ter permanecido mais na Bahia do que em outros lugares do Nordeste...

    Luiza Rocha - EDCB85

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    1. Oi, Luiza!
      POis é, né? E eles estranham nosso jeito de pronunciar...Quando eu era pequena, fui numa fazenda da família com meus pais pela primeira vez e, chegando lá, conheci uma menininha, filha do caseiro, que nunca tinha ido na cidade. Era da minha idade...Eu de cá desconfiada e amedrontada com a vaca, e ela de lá amedrontada com...o fusca do meu pai...Rsrsrsrs.
      Esse assunto do abecê, ainda mais para nós baianos, é mesmo muito instigante.
      Só que, essa questão - de porque ficou só mesmo aqui na Bahia, é um dos mistérios que não consegui desvendar...
      Levanto hipóteses das várias lacunas nessa história...mas disso aí não sei nem se tenho hipótese...
      Os baianos até gostam de uma mística, então deixa no mistério da baianidade...rsrsrs. (mas não desisti de pesquisar e saber sobre isso).

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  3. Jhenyfer Ferreira (EDCB85)30 de abril de 2019 às 05:17

    Ainda sobre o preconceito linguístico, na perspectiva da variedade linguística...

    - Fala direito.
    - Oxê, e tem jeito direito ?
    - Óbvio, sem esse "oxe"
    - Ó paí, não pode? Oxe...
    - Aprende direito.
    - Vish, parece que só conhece esse tal direito...

    Comodismo de quem se limita ao cultivo de uma zona de conforto padronizada. Limitar-se é estagnação, renúncia a expansão do conhecimento.

    Oxe (indagação, inconformismo...)
    Opaí (atentar para, incitar...)
    Mainha/Painho (Forma de sentimentalismo declarado sobre figura de apreço).

    Coragem de um povo que se permite viver com naturalidade a riqueza de um vocabulário.

    Sou sudeste em curso de expansão nordeste, vice!

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  4. E aí falando só de preconceito regional, ainda tem várias outras formas, né?
    O preconceito linguístico é, antes de tudo, social, e no caso do preconceito com o falar regional, ele funda-se no preconceito social contra os nordestinos. Claro!
    Agora, se por um lado tem esse preconceito também com o nosso modo nordestino de nomear as letras, por outro, esse modo não é apenas uma variedade linguística do Nordeste. Vai além disso, como o estudo sobre essa temática mostra.

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  5. É triste como esse preconceito linguístico/regional é posto para nós desde cedo. Me lembro que quando criança, quando falava "mê", "nê" e "fê" na escola, as professoras me corrigiam, um colega zombava do outro pois era um alfabeto feio e de pobre. Então, vamos crescendo e deixando de lado as nossas raízes, sendo que fonologicamente falando, o NOSSO alfabeto é mais fácil para as crianças compreenderem o som das letras nas palavras. Esse texto me faz repensar o meu processo de alfabetização e também a minha prática em sala com as crianças.
    Valéria Benedicto - EDCB85-NOTURNO-2019.1

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    1. Maravilha!
      Quer dizer, que horrível o que fizeram conosco e com o nosso alfabeto, sem nenhum fundamento. Mas que maravilha que temos ainda tempo de ressignificar isso e rever o modo como ensinaremos os alfabetos a partir desses conhecimentos, né?

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  6. É de se lastimar a forma como as relações de poder perpassam por todos os pilares e não deixam de fora as linguagens. Em primeira instância há de se considerar que os processos de subalternização do povo nordestino vão desde as imposições de papeis e funções subvalorizadas e o uso de estereótipos preconceituosos até a desvalorização de suas produções de cultura e conhecimento. Tal processo de inferiorização do Nordeste tem suas raízes nos modos arbitrários em que se estabeleceram as posições de poder hegemônico às produções culturais e epistemológicas, sobretudo, das regiões Sudeste e Sul. Assim, criou-se - de forma bem consolidada – um mito de que os “sudestinos” e sulistas são os mais cultos e mais capazes de produzir saberes. Nesse sentido, como ferramenta da linguagem, o abecê não está alheio a essa lógica. Isto é, a forma como este é legitimado e perpetuado no Brasil não assume a noção de que as culturas não são passíveis a uma hierarquização - ou a algum estatuto de mais certa – ao passo que são construções sociais que, por sua vez, ganham várias conformações e perspectivas à medida que percorremos por toda essa riqueza cultural que é o Brasil. O abecê, desse modo, se transformou em uma disputa política na qual a versão da cultura perpetuada pela hegemonia sulista e sudestina prevaleceu como a mais correta, o que, em contrapartida, culminou no processo sutil de tentativa de apagamento do que já foi uma tradição nordestina, assim como ocorreram e ainda ocorrem mecanismos de silenciamento dos saberes e fazeres desse povo tão repleto de criatividade. Por isso, precisamos falar sobre o nosso abecê. Precisamos mostrar que somos povos que historicamente resistimos, nossos saberes são legítimos e estudamos com muito afinco para não deixar discursos preconceituosos passarem despercebidos. Não deixando de ressaltar aos educadores e educadoras que uma abordagem decolonial das nossas produções de conhecimento deve perpassar pelo resgate às nossas tradições, incluindo o fê, guê, ji, lê, mê, nê, rê, si que, como já dito, é tão certo quanto as outras formas e muito mais didático.
    Carla Jéssica Pimentel - EDCB85/T01/Diurno - 2019.2

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  7. Olá, Carla, excelente análise.
    Agora, acho que o desconhecimento sobre o valor do nosso abecê nem o constituiu propriamente como elemento em uma disputa política, pois parecia certo de que o outro lhe era superior linguisticamente. Há sim uma oposição com a hegemonia do outro, mas o apagamento tem se dado sem muita disputa. Os próprios nordestinos se deixaram "colonizar" nesse sentido. Salvo na Bahia, que seguimos, em alguma medida, resistindo, usando-o e ensinando-o ainda. Mas também sem muito engajamento. Percebe?
    Conhecer essa história do abecê e seu valor cultural e linguístico é fundamental para tentarmos resistir com mais firmeza a essa homogeneização e hegemonia. Vamos lá!
    Muito bom seu ponto de vista e suas colocações! Vamos juntar mais gente disposta a falar disso.
    Leia também outros posts, discuto bastante sobre isso tudo. Veja particularmente esse, que traz reflexões sobre esses preconceitos e tentativas de desvalorização de nosso abecê, tão lindo:
    http://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com/2017/07/quinta-provocacao-sobre-o-abece.html

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Ótima pesquisa, já quero ler no blog as outras postagens sobre. Enquanto estava lendo o texto no jornal, me recordava do meu processo escolar, quando eu falava o "fê, guê, lê...", mas com o tempo fui sendo forçado a abandonar isso e hoje em dia já é natural de utilizar o dito "oficial". É impressionante a forma que isso é imposto, pois só agora notei que já não falo mais o alfabeto nordestino. Essa imposição é feita de forma tão cruel, que acreditamos que falamos errado e perdemos nossas raízes culturais. Realmente precisamos desconstruir essa ideia do "alfabeto oficial" nas escolas e na legislação.
    Vitor Rafael Ribeiro
    EDCB85 2019.2 - Diurno

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    1. Não é, Vitor?!
      Conto com vocês nessa desconstrução e reconstrução do nosso jeito lindo, e ainda cultural e linguisticamente potente, de pronunciar as letras do alfabeto!
      <3

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  10. Adorei! Essa postagem, o artigo e as discussões em sala realmente me levaram a análises pertinentes e necessárias sobre o assunto. Obrigada por compartilhar conosco.
    Antes de pegar o componente curricular nunca tinha parado pra pensar no valor cultural que o "Abecê nordestino" carrega e em como fomos praticamente forçados a abandoná-lo. Quando pequena me lembro de falar as oito letras desse jeito ("fê, guê, ji, lê, mê, nê, rê e si"), mas aos poucos e pela influência das outras pessoas fui substituindo-as pela pronúncia do alfabeto "oficial". Essa imposição se deu de maneira tão forte, que hoje em dia até estranho quando escuto o "Abecê Nordestino", infelizmente os meus ouvidos estão desacostumados...
    A pronúncia nordestina me parece ser bem mais intuitiva para a alfabetização, pois remete mais ao som das letras. Além disso, agora percebo a importância de resgatarmos e mantermos a nossa pronúncia, pois é mais uma forma de valorizar e fortalecer a cultura nordestina.

    Thainá Farias Bittencourt.
    EDCB85 - 2019.2 (diurno)

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    1. Isso, Thainá!
      Contamos com você para manter vivo o nosso alfabeto!
      Re-acostume os seus ouvidos, pois de fato, ele é tão legítimo quanto o outro, e tanto culturalmente quanto linguisticamente.
      E é isso mesmo - o nome dá pista dos fones aos quais as letras correspondem, e no nosso abecê essa pista é mais direta.
      Vamos que vamos!

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  11. Raquel dos Santos xavier12 de março de 2021 às 16:48

    O processo de alfabetização é muito mais do que simplesmente ler, escrever. Digo isto, pois me recordo de muitas coisas ainda. E lembro que fui alfabetizada com o alfabeto nordestino. Quando fui crescendo, percebi que alguma coisa de errada entre o alfabeto que aprendi e o que escutava as pessoas pronunciarem. E na minha cabeça , achei que tinha aprendido o alfabeto de forma errada. E passei um longo periodo corrigindo as pronuncias de cada letra, acreditando que somente uma forma era a correta. Agora danou-se pois, eu vou novamente pronunciar, ensinar e perpetuar o alfabeto nordestino. Pois " quem puxa aos seus não degenera"

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    1. Aaaaahhhh, que bom, Raquel!
      Fico feliz de você poder se reencontrar com o nosso alfabeto e de ganhar mais uma "militante" dessa causa! Amei!

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  12. Dentre alguns pensamentos que me tomaram diante desta discussão acerca do nosso alfabeto, me transportei para uma experiência de estágio em turma de jovens e adultos em processo de alfabetização.
    Por vezes os alunos necessitavam da minha ajuda para escrever algumas palavras e era notória a dificuldade em me entender quando eu nomeava as letras "da forma correta".
    Não que eu não soubesse o alfabeto nordestino, menos ainda que eu desejasse lhes roubar este conhecimento... mas já estava tão enraizado em mim "o jeito correto" que me era estranho "falar de outra forma".
    Eu não os repreendia. Notava a dúvida em seus olhares e dizia "(...) isso, agora vem a letra lê/nê/mê (...)".

    Fora o alfabeto nordestino que eles aprenderam lá atrás, não tinha o direito de lhes dizer que aprenderam errado (até porque, seria uma falácia).

    Obrigada por este estudo, professora.
    (EDCB95 - 2021.1)

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    1. Que bom, Maria Clara! Agora você tem fundamento para relaxar e trabalhar com o abecedário que quiser, se aproximar do jeito que a turma o nomeia, e ensinar que no Brasil temos essas duas formas de nomear as letras - e ambas estão corretas!

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  13. Professora, esse trabalho de divulgação do nosso abecedário é de extrema importância, sim. Para aprendermos a valorizar a nossa identidade regional e pararmos de assinar embaixo de tudo o que vem de fora. O nosso jeito de falar realmente é parte de nós.

    Lembro-me que quando minha filha, aos 5 anos, foi transferida de uma escolinha particular para a rede municipal, estranhei ela voltar para casa falando "ji", "guê", "lê", "rê". Eu pensava que eram nomes ultrapassados e que não deveriam mais ser utilizados. Quase fui à escola questionar a professora o motivo de estar usando essa forma que eu achava antiga (desinformada eu, kkkkk).

    Ainda bem que resolvi buscar antes na internet e me conformei em entender que "na minha época" me ensinaram que o nosso jeito era errado!

    Assinado: Rosilene Guimarães dos Santos (EDCB85)

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    1. Pois é, Rosilene! Uma pena isso de ensinarem que é errado, não é? Por isso, cada uma de vocês que "comprarem" essa ideia com essa discussão, e puderem divulgar os fundamentos de usar nosso alfabeto, mais gente deixará de ensinar que ele é errado, mais gente saberá o que fazer diante de situações em que ele aparece nas turmas, mais gente poderá ensinar que temos esses dois jeitos de nos referir a algumas letras e ambos estão certos! E vamos salvá-lo do desaparecimento!

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  14. Nossa!!! Que comentário mais sem noção mesmo, esse no twitter do Correio... Tosco, ignorante e preconceituoso, consegue ser o pior em tudo. Mas logo se vê pelo perfil da criatura.
    Siga seu estudo, professora! Nunca vi ninguém que tenha se dedicado a entender o nosso lindo abecê na academia. Parabéns pela iniciativa, pelo estudo maravilhoso (li os posts) e pela generosidade em divulgar esse conhecimento.
    Sou fã!

    Patrícia Mendes

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