As 5 etapas
Depois da Introdução dessa série, chegamos às milagrosas 5
etapas! São, segundo ele, etapas que antecedem o princípio alfabético, e
tomadas como exercícios prévios necessários à tomada de consciência dos
fonemas, algo que, de fato, como ele diz, é abstrato para as crianças. Então,
para que possam chegar nisso, precisam passar por tais etapas:
1ª Etapa: Leitura
partilhada
2ª Etapa: Memória
auditiva de curto prazo
3ª Etapa: Consciência de
frases e palavras
4ª Etapa: Consciência
silábica
5ª Etapa: Consciência
fonêmica
Prestem bem atenção
nisso, etapas que antecedem o princípio alfabético. Vamos a elas,
desconstruindo essa ideia de novidade e de segredo que as escolas não revelam, que
as professoras e pedagogas não sabem, e que poderia revolucionar o ensino –
revelação que garante aos pais alfabetizarem seus filhos! (sic!).
1ª
etapa – Leitura partilhada
O que ele chama de
leitura partilhada, após uma anedota supostamente “reveladora” que teria
acontecido com ele (merecia carinhas gargalhando...não dá para não rir...vão lá
ler), é os pais lerem para as crianças pequenas, que ainda não sabem ler com
autonomia... Oxe, e qual a novidade disso??? E onde é que leitura para e com os
filhos é etapa de alguma coisa? Já começa por aí... Chamar de “etapa” reduz
muito o que é essa rica prática de leitura.
Muitos autores já vêm tematizando
a leitura literária na primeira infância, seja do campo da leitura literária,
seja do campo da educação, inclusive construtivistas e sociointeracionistas que
ele odeia. Tem os que focam, inclusive, a leitura para bebês. E é uma prática,
justamente, de letramento e formação leitora. Mas ele vem com orientações
instrumentalizadas que torna essa prática potente em um mero passo-a-passo,
receituário de botica, que não dialoga com a vasta bibliografia que discute a
escuta da leitura na infância, especialmente a leitura literária. E é um campo
vastíssimo! E claro, ele ainda desconsidera a enorme diversidade de famílias,
silenciando completamente sobre a realidade brasileira em que muitas crianças
não têm esses pais que tenham condições de ler para as crianças. Ah, esqueci!
Ele está falando só para a família do comercial de margarina...
Bom, é digno de nota que
ele ressalta, nessa prática (que ele chama de etapa), apenas o léxico, a
aprendizagem de novas palavras e de estruturas frasais mais complexas, pois
isso teria ressonância na compreensão da leitura bem depois... Essa escuta de
histórias, evento de letramento fundamental na infância, tal qual sublinhado
por diversos autores, tem um papel muito mais importante do que esse. Sim, a
escuta de histórias como ação permanente é fundamental. Trata-se de formação
leitora, trata-se de se apropriar do discurso escrito, da linguagem e
textualidade próprias aos textos escritos em gêneros diversos, de diferenciar a
linguagem oral da escrita (ainda que oralizada), de ampliar a compreensão de
textos via oralidade, de se apropriar de comportamentos, procedimentos e
estratégias de leitura, tão bem discutidos por Lerner (2002), Rojo (2004) e
Solé (1998), e que eu discuto nesse artigo. Sim, porque a via é oral, mas o
texto lido é linguagem escrita! A única referência, rasa, a algum aspecto textual,
é a menção, na página 23, à apropriação de estruturas frasais mais complexas,
não presentes nas interações cotidianas. Bela redução! Frase solta não é texto,
justamente, não necessariamente. Fora isso, nada! Nada disso tudo elencado aí entra
no rol de aprendizagens envolvidas nessas práticas. O Guia fica apenas em
orientações e prescrições chulas e rasas, meio bobocas, e irresponsáveis até, quando
diz, por exemplo, que a leitura tem que ser todo dia, como se isso fosse uma
tarefa antibiótica, e não fazê-lo comprometeria todo o programa. Com isso, essa
prescrição rígida, traz a orientação para o terreno do não plausível, do
irreal, do prescritivo sem fundamento. Leitura frequente, né? Não significa
seguir uma bula. Muito menos de antibiótico.
De todo modo, ainda que tome
essa escuta da leitura de modo muito limitado, o que ele ressalta não deixa de
ser do âmbito do letramento – querendo ele ou não. A escuta de histórias na
infância é evento de letramento emergente. Ou seja, são orientações que,
paradoxalmente, se relacionam com o que ele abomina: letramento, práticas
sociais de leitura, etc.
E também revela a
contradição com sua bandeira de que os pais podem levar a cabo essa tarefa. Que
pais? Fora do mundinho Doriana dele, precisamos da escola, né, já que nem todas
as famílias podem cumprir com essa missão. Como diz Ângela Kleiman (1995), a
família é a agência de letramento mais potente nesse letramento emergente, e o
letramento não se dá apenas na escola mesmo, mas a responsabilidade da escola é
imensa, principalmente quando as famílias não oportunizam um rico contato com
as práticas de leitura e escrita, devido aos inúmeros problemas sociais que
nosso país enfrenta – inclusive devido a babacas como ele, que acha que o mundo
é só para uns.
Duas coisas precisamos
constatar: primeiro, até aqui, nenhuma novidade...ler para as crianças é
admitido como fundamental há muito tempo, e tomada como prática muito além de
uma etapa; segundo, até aqui nada disso tem relação com a apropriação do
sistema de escrita, com o princípio alfabético (lembrem que ele diz que são
etapas prévias para chegar a esse princípio...). Ele está, sem querer, é
dizendo que essa prática letrada é fundamental, hahahaha!
A única coisa que ele
ressalta é que essa leitura partilhada é “uma espécie de trampolim entre a
leitura em voz alta e a leitura silenciosa”. Diz ele: “quando seu filho começar
a ler livros sozinho, o desempenho dele será muito parecido com o que ele tinha
enquanto escutava histórias” (p. 22). Primeiro, gostaria de saber mesmo o que
ele está dizendo aí e que base “científica” ele tem para essa afirmação...
Depois, se tem esse trampolim, é justo porque as crianças aprendem sobre o
discurso escrito, aprendem as estratégias de compreensão leitora (via
oralidade), aspectos que se relacionam, justamente, com o letramento, com os
aspectos socioculturais e interativos (ou facetas, como refere Magda Soares) da
apropriação da escrita, e não dos aspectos propriamente linguísticos da
alfabetização (notação do sistema e sua base fonológica). Justamente o que ele
critica... Mas ele não leu Magda, não é? Bem como todo o campo teórico sobre a
formação leitora.
Pois...sem mais...
2ª
etapa – Memória auditiva de curto prazo
Memória auditiva de curto prazo – uma etapa? Kkkkkkk, só rindo
mesmo! Essa “etapa” é uma farsa
completa. A memória de trabalho e a memória verbal de curto prazo são,
evidentemente, fundamentais para desenvolver a atenção consciente na
apropriação inicial da leitura, mas daí a ser traduzida nessas situações
artificiais de condução pelos pais, há uma grande distância! O fato desse
aspecto cognitivo estar na base dos processamentos envolvidos na aprendizagem
da leitura, da transformação de sinais gráficos em linguagem, não significa,
diretamente, de forma tão simplória, explorá-lo dessa maneira bizarra que o
Guia propõe. Tudo o que é dito aí é desenvolvido nas brincadeiras e nas
interações sociais naturais na família, na escola, e em todos os grupos sociais
dos quais participam, entre as crianças, entre crianças e adultos. Brincadeiras
como “Boca de forno”, “Mamãe posso ir”, dentre outras, inclusive as de faz de
conta, são muito mais ricas e significativas em termos de obedecer a comandos
do que ordens aleatórias, sem nenhum sentido para a criança. Além disso, nas
interações reais cotidianas, isso acontece a todo momento – para que criar
situações fakes para treinar essa memória? Ah, lembrei, gostam
de fakes, gostam de treino, gostam de coisas sem significado...
Não é necessário nem desejável criar situações artificiais de
emissão de comandos para isso e tampouco colocar esse item como “pré-requisito”
para aprender o sistema alfabético. Para que “treinar” essa memória, se ela é
base das interações reais??? Balela!
É bizarro demais. Vira
um Guia de cumprir um passo-a-passo e passar adiante, tudo muito aligeirado, tudo
muito mágico. Quantos comando desses os pais devem fazer, Nadalim? Felizmente,
para as crianças, como a orientação é vaga, provavelmente os pais vão passar
rápido por isso, e seguir adiante...E as respostas das crianças, claro, não
terão nada a ver com o “exercício”, mas com o que já sabem fazer, por terem
aprendido...vivendo... interagindo...
E depois, se for considerar
essa coisa ampla como etapa precedente, que se relaciona com diversos outros aspectos
do desenvolvimento cognitivo, teria muitas outras a considerar, não é? Claro
que a memória é fundamental para se aprender a língua escrita (como tudo o
mais), mas a memória de longo prazo também é importante...e as tantas outras
competências cognitivas, funções executivas, que também se relacionam à
aprendizagem da leitura e da escrita... Por que elegeu só essa? Se ela vai a esse tão amplo, tem tantas
outras coisas...
Além das funções
executivas, cadê o desenvolvimento da linguagem oral e dos processos de
compreensão de discursos orais? E a função simbólica – diretamente associada à
escrita? Nem uma menção...né? Como defendem Luria e Vygotsky, a função
simbólica relaciona-se ao que chamam de pré-história da escrita! O gesto, o
desenho, os rabiscos, o faz de conta...tudo isso contribui para o
desenvolvimento da função simbólica – essencial para se compreender um sistema de
representação simbólica, que é a escrita alfabética. Instrumento cultural complexo,
a escrita envolve signos (de segunda ordem) e, portanto, o desenvolvimento da
função simbólica de primeira ordem é essencial. Cadê as orientações para
desenvolvê-la?
Até aqui nos perguntamos:
é isso o guia mágico, inovador, o segredo guardado a 7 chaves pelas escolas?
Vamos às etapas
propriamente linguísticas para ver se o segredo, a novidade, finalmente, vêm...
3ª
etapa – Consciência de frases e palavras
A primeira observação é
a que já fiz – vemos aqui proposta de situações artificiais quando há tantas
possibilidades de brincadeiras e interações linguageiras reais que dão conta
dessas aprendizagens. A criança brinca com a língua, e muitas de suas
brincadeiras já dão notícias de sua incipiente capacidade de manipular a
linguagem para provocar o riso, justamente por saber, ainda que
inconscientemente, que o enunciado proferido não cabe, fazendo, justamente, a
graça acontecer... A coerência sintática e semântica de enunciados verbais, bem
como a identificação de itens lexicais podem ser provocadas nessas situações e
mesmo em situações pedagógicas mais controladas, mas sem perder de vista os uso
reais ou lúdicos da linguagem.
Ou seja, o que precisa
mesmo, meu caro, é que as crianças possam brincar e se relacionar com outros sujeitos na escola, em casa
e em outros grupos sociais, especialmente no caso de famílias com poucas
condições de proporcionar essas interações e brincadeiras. Seja em conversas
sobre livros, histórias, atividades cotidianas, outros textos e sobre os
programas culturais dos quais participam, brincando com a língua, ou nas
vivências da cultura lúdica infantil, tudo isso pode acontecer de modo
significativo, natural, nas experiências de linguagem, e não em situações
artificialmente fabricadas, robotizadas. E se as crianças já têm isso em suas
interações familiares, as orientações artificiais serão meras constatações
frias e vazias de que sabem avaliar a gramaticalidade de uma frase... Coitadas
dessas crianças! Que tédio aprender e/ou interagir com a linguagem assim, toda
fragmentada, toda sem vida, toda maltratada, toda regrada, toda fatiada...
Prefiro brincar de substituições,
inversões e invenções, como “Quem cochicha, o rabo...encurta!”, “Quem cochicha,
o rabo...cochila”, “Quem espicha, o rabo cochicha”; “Foi à cadeira e perdeu a
feira...”; de transgredir cantigas "Atirei um gato no pau..."; de cantar “O meu chapéu tem 3 pontas”; de substituir as palavras em “Quando
digo Digo digo digo, não digo Diogo...” por outros pares, como alto/baixo, por
exemplo: “Quando digo alto, digo alto, não digo baixo...”; e tantas outras situações
que, brincando com as combinações e seleções, os eixos dos sintagmas e
paradigmas, no contexto de brincadeiras orais não regradas ou as ritualizadas
da cultura lúdica infantil, garantem o riso amplo e a aprendizagem sobre a gramaticalidade dos enunciados e a consciência de itens lexicais.
Bom, mas vamos aos
outros argumentos. Eles também me impelem a imaginar as barbaridades que pais
sem formação fariam a partir deles...
É fato que a consciência
lexical e a sintática são importantes para a apropriação da língua escrita. Mas
essas atividades metalinguísticas estão longe de ser expressas de forma
simplória como saber “o que é uma frase e, principalmente, que a frase se
compõe de uma sequência de palavras”, como Nadalim abre essa parte.
A orientação dele para
“ensinar o que é frase” é hilária:
“Você pode
definir frase de modo bem simples, dizendo que é uma breve historinha, e
oferecer o seguinte exemplo: “João foi à feira.” Depois de perguntar à criança
se ela entendeu a frase, interrogue-a: “Mas que foi que João fez?”. Seu filho
responderá: “Foi à feira.” Em seguida, faça esta outra pergunta: “Quem foi à
feira mesmo?”. E ele dirá: “João”.
Desse modo a
criança entenderá que a frase conta uma pequena história sobre quem faz e o que
é feito. Aqui se está ensinando, na verdade, a noção de sujeito e de predicado.
Para a pergunta: “Quem fez isto?” ou “O que fez isto?”, a resposta será o
sujeito; e para a pergunta: “Que ele fez?”, a resposta será o predicado. A
criança adquire assim a noção de que a frase é uma história curtinha, geralmente
composta de duas partes” (p. 24).
Ora, ora, caro youtuber, e o
que uma criança pequena quer com a definição de frase, com aprender sujeito e
predicado? Até porque é uma definição parcial, chula, de frase, e em situações sem
nenhuma coerência com o que é, de fato, consciência sintática. A consciência
sintática envolve a habilidade de
refletir e manipular mentalmente a estrutura gramatical das sentenças, mas no
Guia essa habilidade é simplificada ao extremo. E que tal falar da consciência
sintática e semântica, que andam muito juntas? Já aí, muitas outras
brincadeiras possíveis... Porque, sinceramente, à “frase” “Mas que foi que João
fez?”, será mesmo que o filho responderá: “Foi à feira.”? E se ele responder: “João
comprou melancia!”, resposta muito mais plausível para um sujeito que está
buscando o sentido da linguagem (porque é o que as crianças buscam, os sentidos
ou a graça com os significantes...) do que preocupado em aprender o conceito de
frase. Aliás, um conceito complicadíssimo o de frase... A consciência sintática em situações orais certamente é fundamental para aprender a língua escrita, mas daí a reduzi-la a "entender" que frase é uma historinha, me poupe, viu? A experiência com a linguagem oral, em si mesma,
contribui para desenvolver o senso de gramaticalidade de enunciados, e o
julgamento mais metalinguístico através de transgressões lúdicas dessa
gramaticalidade não tem preço nesse desenvolvimento. Muito longe dessas
prescrições bobocas desse Guia.
Daí, das “frases” ele
passa à consciência de palavras, dizendo que “as frases na mente das crianças
estão coarticuladas, uma palavra com outra, de modo tal que elas não conseguem
segmentar as frases”. Bom, em parte, podemos fazer certa concessão a essa
afirmação, mas ela é imprecisa, ainda assim. É a fala que é articulada, que
quer dizer que é segmentável em diversas unidades. Não é a frase num
embaralhamento na mente das crianças, e muito menos nesse modo de dizer quase
infantil. Mas digamos que aceitamos a afirmação, ok, interpretando-a como a realidade
articulada da fala. Ele conclui: “Por isso é importante praticar os exercícios
de tomada de consciência das palavras que compõem as frases”, simplificando
também a consciência lexical ao extremo, identificando-a com contar palavras –
e como as crianças vão saber o que são as palavras, Nadalim? Você mesmo não
disse que elas são “coarticuladas”?
A questão aí é que,
justamente, na corrente contínua da fala, essas unidades “palavras” não são
facilmente identificáveis por sujeitos ainda não alfabetizados, ou seja, os
sons se combinam na enunciação oral, e as palavras se combinam entre si de
forma que não as percebemos como unidades, não saibamos detectar facilmente
suas fronteiras. Experimente saber onde começam e terminam as palavras
enunciadas oralmente numa “frase” em língua estrangeira, que você não
conhece...
A consciência lexical envolve
a habilidade em segmentar a linguagem oral em palavras, seja aquelas com função
semântica (que possuem um significado independente do contexto, tais como os
substantivos, adjetivos, verbos), seja aquelas com função sintático-relacional
(que adquirem significado apenas no interior de sentenças, como as conjunções,
preposições, artigos). Só que para desenvolver a consciência lexical, é
necessário que a criança tenha estabelecido critérios gramaticais de
segmentação da linguagem. Entretanto, segundo pesquisas indicadas por Barrera e Maluf (2003), isso só parece ocorrer de modo sistemático por volta dos 7 anos
de idade. As autoras dizem, baseadas em Linnea Ehri – como elas pesquisadora da
ciência cognitiva da leitura –, que antes disso, embora as crianças sejam
capazes de produzir e compreender enunciados, seu conhecimento lexical é
implícito e inconsciente. Ou seja, onde estaria isso de que a consciência
lexical é anterior ao princípio alfabético? Até porque, ele está defendendo o
ensino desse princípio já na Educação Infantil. Contraditório, não é? Pesquisas mostram é que há pouca correlação entre consciência lexical e apropriação do funcionamento alfabético e, quando há, há muitos outros aspectos em jogo. Ademais, a consciência
de unidades menores mais globais como as sílabas contribuem também para o
desenvolvimento da consciência lexical. Além de tudo disso, como podemos aprender a
partir de Gombert (1990), dentre outros – inclusive autores também do campo da
ciência da leitura – as relações entre consciência fonológica, sintática,
semântica, lexical e morfológica são bem mais dinâmicas do que essa hierarquia
rígida que Nadalim coloca, como “etapa precedente” e treino para, magicamente,
adquirir essa “consciência” do que é frase e palavra. Se há certas hierarquias
entre essas capacidades metalinguísticas, muitas pesquisas mostram, no entanto, que elas
mais se “embaralham” do que se enfileiram, como querem os que gostam de
simplificações.
É fato que a consciência
lexical e a sintática são importantes para a apropriação da língua escrita, mas
isso não é, necessariamente, prévio à consciência de unidades menores. Várias
pesquisas mostram, justamente, que a consciência explícita da unidade lexical
se dá, justamente, com aprendizagem da escrita, e não previamente. Sim, a fala
é coarticulada e é justamente a escrita que consolida a noção de “palavra”. Não
há isso de ter que ter consciência de todas as palavras para poder aprender o
princípio alfabético. Prova disso é que muitas crianças, mesmo já tendo passado
pelo processo inicial de alfabetização e já considerando o princípio
alfabético, ao escreverem textos aglutinam diversas palavras, especialmente as
sintático-relacionais, que são aglutinadas às que têm função semântica. Ou seja, são
aprendizagens concomitantes e não uma precedente à outra. Certos níveis de habilidades metalinguísticas,
seja de ordem lexical ou sintática, certamente precedem a apropriação da
escrita, e podem ser verificadas entre crianças não alfabetizadas, mas a
alfabetização é que as desenvolve, em grande medida, especialmente a consciência lexical.
Vejam o que dizem
Barrera e Maluf (2003, p. 501), lembrando que Regina Maluf fez, brevemente,
parte da Secretaria da Alfabetização de Nadalim:
Ou seja...o que ele diz
não tem substância nem na perspectiva que ele assume como sua – a da ciência
cognitiva! Vejam, estou referindo a autoras alinhadas ao que ele diz defender,
não aos de outras concepções... Acho que até aquelas teriam vergonha alheia
disso tudo...
Soma-se a tudo já
discutido, um modo de enunciar nesse Guia que dá a entender que se o pai faz um
pouquinho, o/a menino/a já aprendeu!!! Mágica! Pois...como tá lá, é bem o que
vai acontecer. Quase um ensino da metalinguagem, depois de forçar a barra para
o/a menino/a dar a resposta esperada, como ele mesmo diz: “[...] utilizando
inicialmente frases curtas, você pedirá que seu filho diga quantas palavras há
na frase. Por exemplo: “Paulo pulou” (ao pronunciar, faça uma pequena pausa
entre as palavras). A criança deverá responder: ‘Duas’” (p. 24-25). E se não
responder, Nadalim? (???). Tá preparado para isso? Os pais estarão? (!!!). Ah!
Contam as palavras porque os pais vão falar cada uma bem separadinha ou
ajudados por elementos concretos, para contar menos abstratamente... Affe, me
poupe, viu?! Essa pausa indicada aí – artificializando duplamente a língua – já
dá a resposta, né? Está querendo ensinar a língua ou a contagem??? Fiquei em
dúvida!
A simplificação, que
reduz o que é complexo, rico, amplo a algo fragmentado, técnico, mágico, nesse
passo-a-passo rígido, nessa situação idealizada (em que a criança deverá
responder o esperado), não é apenas uma estratégia para “falar para pais”, é um
total charlatanismo, de quem não conhece nem mesmo o campo ao qual diz se
filiar – a ciência da leitura.
É muito, muito
importante aí, nessa discussão, também diferenciar o que é procedimental,
espontâneo, implícito, epilinguístico, do que é declarativo, consciente, explícito,
metalinguístico, no que se refere aos conhecimentos fonológico, lexical e sintático
manifestos pelas crianças. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e
o modo de abordar esses conhecimentos, em diferentes momentos, precisa
considerar a criança! A brincadeira epilinguística e a conscientização metalinguística
gradual dos aspectos formais e estruturais da linguagem oral não têm que ser um
rol de exercícios, de treinos, de estudo enfadonho...
Para terminarmos essa
discussão com refrigério, sugiro assistirem minha fala no Ceale Debate, sobre
textos poético-musicais da tradição oral na alfabetização, em que abordo a
reflexão metalinguística de forma significativa, no contexto das práticas
lúdicas infantis.
No próximo post, aqui, vamos
falar das etapas 4 e 5, mais diretamente relacionadas à alfabetização, que é a
consciência silábica e fonêmica...Pensa que vai melhorar?
Meu deus! Que cara mais cara de pau!
ResponderExcluirE tem tanta gente, inclusive professores, caindo nessa, achando o material dele o máximo...
Oportunismo fez morada aí, viu?
Obrigada pela análise, Liane.
Sigo seu blog e as discussões muito atentamente.
Regina B.
Não é, Regina? Muita cara de pau!
ExcluirObrigada!
Faço porque, para nós, conhecimento é resistência!
Mariluse- EDCB85
ResponderExcluirPrescrever etapas milagrosas com estratégias de sucesso na alfabetização, é desconhecer a complexidade do processo, ignorando os sujeitos atendidos, sua subjetividade social e histórica. Para além disso, dizer que a frase “João foi a feira” pode ser dita a uma criança que é uma história bem curtinha, é no mínimo anular a sapiência do indivíduo. Pois qualquer criança irá indagar: O que João foi fazer na feira? Quando João foi? O que comprou? Frases com “estás” são muito vagas para a compreensão de uma criança. Compreende-se que as frases devem se organizar para formar textos inteligíveis, não para dar consciência sintática como combinação de signos, principalmente quando ela se constitui num sistema abstrato de sentido e de discurso. Nesse contexto, a situação torna-se dificílima internalizar de forma cognitiva o Sistema de Escrita Alfabética – SEA. Para Artur Gomes de Morais o objeto cultural, alfabeto, deve ser algo interno, disponível na mente do aprendiz.
Para os professores que estão em sala de aula é consenso e real que as brincadeiras, jogos, histórias ouvidas e materiais diversos usados em suas vivências diárias propiciam situações que favorecem a aprendizagem e a organização lógica do pensamento. Contudo, onde a criança irá vivenciar e trocar experiencia se não for com seus pares em sala de aula? Como diz bem o texto, os métodos e técnicas não podem se transformar em bulas e antibióticos tem lá sua importância, mas não da forma em que é apresentada.
Isso aí, Mariluse!
ExcluirMesmo quando ele argumenta sobre algo que, de fato, faz sentido, é usando argumentos sem noção.
Só gasto meu tempo analisando, porque vejo a quantidade de professoras/es que estão caindo nessa armadilha simplistas.
Nossas estudantes, NÃO!!! Não cairão!
Só se for "apesar" de nós...
Bem vamos por partes! É tudo tao absurdo!
ResponderExcluirA fase 2) que trata da Memória auditiva de curto prazo é uma farsa completa! Não é necessário criar situações artificiais para aprender o sistema alfabético.O que se deve considerar é o que as crianças sabem fazer por terem aprendido, vivendo, interagindo.Devemos considerar que a memória de curto prazo é fundamental para se aprender a língua escrita, mas a memória de longo prazo também é importante. Nadalim não considera a função simbólica, que são os gestos, o desenho, os rabiscos, o faz de conta.... tudo isso contribui para o desenvolvimento da função simbólica.Função essencial para se compreender um sistema de representação simbólica associada à escrita. Quanto à etapa 3 é muito importante que as crianças brinquem de substituições, inversões e invenções, por exemplo "Quem cochicha o rabo encurta" etc...Dessa forma a criança consegue garantir a aprendizagem sobre a gramaticalidade dos enunciados.
A criança em sala de aula irá vivenciar e trocar muitas experiências.Não tem necessidade de "bulas" como Nadalim propõe.Não há necessidade de que a criança pequena saiba o que é frase e como ela se compõe de uma sequencia de palavras, isso não é significativo para as crianças.Isso poderá ocorrer de modo sistemático de acordo com a maturidade da criança, na medida que ocorre sua alfabetização.
Há necessidade de se analisar bem o que Nadalim, propõe, pois há muito blablablabla, e pouca coisa significativa. Ele precisa conhecer a complexidade do processo, considerar os sujeitos envolvidos em todo o processo.
Natália Carneiro Monte EDCB-85 noturno
PERLA SILVA DA FONSECA
ExcluirEDCB85-NOTURNO
Super concordo, temos um grande leque de possibilidades para o trabalho com aquisição das consciências fonológica, sintática, semântica, lexical e morfológica. Ele com suas concepções minimalista ridículariza o trabalho docente e esse blablabla pode trazer um legado muito ruim para a educação como todo.
Pois é, meninas...
ExcluirPercebo por essas sínteses que vocês estão consolidando as nossas discussões e leituras.
Fico com gosto de missão cumprida! Que dirão, missão de doutrinadora, né?
Mas sabemos bem do que se trata!
Que chacota desse Nadalim. Eu fico pensando o quanto são insanas essas propostas e sem fundamentação científica nenhuma. Puro charlatanismo. Enquanto pedagoga em formação eu só tenho a lamentar que existam pessoas que seguem e acreditam nessas propostas que ele está defendendo. Enquanto estamos estudando e preocupadxs em ter uma formação profissional que dê conta um pouquinho da diversidade de público que encontramos nas escolas e comprometidxs com o processo de alfabetização, essa criatura sem respaldo técnico nenhum tá por aí defendendo essa aberração de alfabetizar em cinco etapas. Não existe receita de bolo para alfabetizar, muito menos sem levar em contar os contextos social, econômico, racial e cultural.
ResponderExcluirRebeca Brito - EDCB-85 noturno
Os problemas da alfabetização no Brasil são muito mais amplos do que essa perspectiva tecnicista e instrumental dele sugere, não é?
ExcluirE se ele reclama uma perspectiva "baseada em evidências", devemos lembrar duas coisas: 1) as únicas evidências válidas são as da pesquisa experimental? E a Pedagogia? Não construímos conhecimento na prática, no bojo dos enormes desafios multifacetados da sala de aula?; 2) Ele não conhece direito nem o campo da ciência cognitiva que ele diz abraçar, cometendo equívocos conceituais crassos!
Só merece chacota mesmo, esse Nada-lim.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá! Realmente a complexidade, a riqueza a amplitude da caminhada de aprendizagem das crianças não deve ser simplificada, reduzida, nem fragmentada, nem transformada em algo puramente técnico, mágico, num processo rígido em que a criança tenha processos de ensino-aprendizagem engessados.
ResponderExcluirCazildete EDCB-85
Com certeza, não!
ExcluirÔ mundo feio e chato esse dele, viu?
Nadalim é uma falta de respeito aos profissionais da educação brasileira, ele presta um desserviço. Usa a retórica para alienar e convencer pessoas do que bem entende, sendo que não tem a menor lógica e veracidade no que está falando. Distorce falas, inventa teorias e cria um manual irresponsável de alfabetização. Obrigada pelo serviço prestado à sociedade, Professora.
ResponderExcluirValéria Benedicto - EDCB85 noturno - 2019.1
Exatamente, um desserviço...mas tem muitas/os professoras/es caindo nessa!
ExcluirPor isso insisto em analisar, discutir, postar essas coisas aqui...Conhecimento é resistência, então, acho que tenho que contribuir, de alguma forma...
Ando usando as redes sociais para isso, Valéria, porque só os 40 alunos da aula, por semestre, e uns tantos outros aqui e ali já não me bastam.
Vamos seguir na luta por uma alfabetização plena e de qualidade!
Perla Silva da Fonseca
ResponderExcluirEDCB85 NOTURNO 2019.1
Gente Nadalim rasga a gramática Brasileira e afronta anos e anos de estudos linguístico.Os equivocos diante o que é compreensão de frase,palavra, consciência lexical, fonológica, sintática, semântica e morfológica são complexos,vão sendo adquiridos durante um tempo. Nadalim defende nos seus passos é um método engessado,minimalista,totalmente desrelacionado com a realidade. Me digam aí como ele pode adivinhar com tanta certeza a resposta da criança qdo se pergunta sobre uma frase? As crianças são criativas, curiosas elas descobrem o mundo assim, brincando, imaginando, e a relação com o conhecimentos também ocorre dessa forma.Esses passos de Nadalim Subestimam as aprendizagens dos sujeitos, que
Ocorrem de dinâmicas formas. Agora temos que prestar atenção na intencionalidade desse método, pq formas sujeitos pensantes críticos de sua realidade temos q desvincular essa hierarquização e permitir o pensar.Mas acho que Nadalim e seu mando não querem formar sujeitos pensantes né gente?
Resposta abaixo...
ExcluirSim, um passo a passo super engessado, minimalista,sem nexo com as interações reais da realidade, ainda mais na família.
ResponderExcluirA gente lutando para a escola e os objetos de conhecimento se aproximarem mais da realidade, dos objetos culturais, e ele didatizando ao extremo as relações familiares.
Um absurdo total!
Quer até ser senhor do que as crianças - que são tão criativas e até desconcertantes em suas colocações - pensam, falam, respondem...Muita pretensão querer achar que pode prever as respostas das crianças, para que seu método funcione. Imagina esse passo a passo nas mãos de pais sem noção - coitadas dessas crianças!!!
Pois é...sujeitos robôs...
ExcluirPrimeiro a criança precisa tomar consciência de que o que se escreve tem a ver com o que se fala. Para isso existem várias atividades que podem ser exercitadas em sala de aula, atividades que utilizam o arcabouço linguístico cultural brasileiro, que inclusive é muito vasto, não precisa-se gastar energia e entediar as crianças com a elaboração de atividades mecânicas e descontextualizadas. Através de brincadeiras cantadas, canções, trava-línguas, adivinhações entre outras linguagens que podem ser utilizadas, tanto para estimular as crianças a pensarem sobre a língua quanto para apresentá-las a linguagens artístico culturais de seu povo. Outra coisa, afirmar que a criança dará a resposta que julga-se óbvia a uma determinada pergunta, é não compreender a subjetividade de cada uma, e o potencial criativo das crianças, elas transcendem nossas expectativas o tempo todo, é melhor não subestimar.
ResponderExcluirJuliana Santos EDCB85
Isso mesmo! Uma criança-robô essa dele aí, bem se vê que tem pouca experiência de escuta das crianças!
ExcluirO posicionamento de Nadalim sobre o letramento é completamente equivocado. O nível de analfabetismo funcional no Brasil não está relacionado a aplicação de métodos, e sim a problemas de políticas públicas. O importante não é a escola ter método padrão, e sim explorar as inúmeras possibilidades de trabalhar com as crianças a aquisição de conhecimentos dentre as diversas técnicas disponíveis (morfológica, lexical, semântica, etc..). É muito vergonho as atitudes dele e desrespeitoso com os profissionais da educação. Sem dúvida, um retrocesso para nosso país. Talita - EDCB85 2019.2 Matutino
ResponderExcluirIsso mesmo, Talita!
ExcluirAchar que o analfabetismo funcional ser resolvido com destreza na decodificação é um paradoxo sem tamanho, que agride o próprio conceito de analfabetismo funcional - que é saber ler e escrever, no sentido de decodificar e codificar.
Esperar o domínio da decodificação e da escrita convencional para investir em compressão leitora e produção textual será um desastre nacional!
Mais um texto com vários questionamentos importantes. Ainda me surpreende a quantidade de asneiras que esse senhora fala. O processo de alfabetização está sendo fragmentado para ser simplificado, onde poucos realmente vão conseguir acesso a uma educação de qualidade. A realidade do Brasil é outra, mas o livro foi feito por alguém que desconhece as realidades que tem no país. Continuo avançando na leitura dessa analise sobre o método de 5 passos e continuo a me perguntar onde está as demais experiências da alfabetização? As relações com os outros, brincar com as palavras, conhecer variações linguísticas, os jogos e tudo que compõe e perpassa. Na minha cabeça, isso não está separado, então onde fica a avaliação? O processo avaliativo me parece que não existe nesse livro. Reduziram a alfabetização de crianças ao mero treino e repetição, desprovido de qualquer significação. Ou seja, todo resto foi jogado fora; os jogos, as experiências, as práticas de letramento e os conhecimentos da criança.
ResponderExcluirVitor Rafael Ribeiro
EDCB85, 2019.2 - Diurno
Pois é, Vitor!
ExcluirBom, pelo menos esse Guia é o Guia que ele fez para pais, ainda quando era só um Youtuber sem noção. Ainda bem que ele não é o verdadeiro "cabeça" da secretaria no MEC, que embora esteja na mão de defensores da abordagem fônica, não tem essa visão tão estreita e reducionista que Nadalim tem.
Agora, com certeza, desconhece a realidade da educação no Brasil, se acha conhecedor por sua experiência em uma escolinha de bairro, privada, elitista, e só - é uma piada!
A avaliação, na cabeça dele, é igual àquela receita de alfabetização que lemos na sala: reprodução fiel do que enfiaram na cabeça das crianças, numa perspectiva altamente instrumental da linguagem.
A linguagem, em sua natureza essencial: a interação, é totalmente esquecida na perspectiva dele, sim.
Em algumas pesquisas que fiz sobre alfabetização encontrei o método fônico como o mais indicado, mas foi muito interessante ver que há um intenção de torna-lo o único. Achei muito interessante no texto quando demonstra perceber a relevância do método fônico, mas não como suficiente para suprir todas as questões que envolvem a alfabetização. Por essas breves pesquisas que fiz percebo que concordo, como dito em aula " não se tem uma receita" acredito que seja da relação do método que o professor acredita com aquele melhor para seu aluno. Vanessa Santos - EDCB85 T01
ResponderExcluirO método fônico, como um conjunto organizado de procedimentos, pode até ser indicado, em alguns casos de algumas especialidades, mas prefiro falar que há procedimentos importantes na alfabetização que são enfatizados por esse método, mas não em adotar esse método. Pense em tudo que fica de fora, pense na artificialização da língua...
ExcluirReceita não tem, mas se não seguir alguns procedimentos e não usar certos ingredientes, o bolo vai solar! Então, também não é assim de o bom método é qualquer um que a/o docente acreditar ser bom. Mas, sim, o/a professor/a atenta, com sua capacidade profissional, vai lançar mão das estratégias e procedimentos que poderão ajudar os sujeitos em suas aprendizagens.
Mas a discussão é complexa mesmo!