A
Política Nacional de Alfabetização (PNA) foi lançada por decreto (isso diz o
que sobre tal política), em abril de 2019. Totalmente construída com base na
perspectiva da abordagem fônica, referenciada em pesquisas da ciência cognitiva
da leitura e em programas levados a cabo em outros países, importa, junto com a
supostamente neutra ciência cognitiva, um viés altamente instrumental de
alfabetização, alinhado à perspectiva das avaliações, testagens, da eficiência,
eficácia, em um arcabouço semântico e discursivo que reduz a educação a uma
instrumentalização técnica dos sujeitos numa sociedade mercantil, meritocrática
e neoliberal. A educação em seu sentido “essencial”, social e humanista, visando
à formação de sujeitos pensantes, críticos, e a alfabetização e letramento vinculados
às oportunidades desses sujeitos em lidar com as diversas práticas sociais de
leitura e escrita da sociedade em que estão inseridos, parece bastante ameaçada
– sabemos disso. Com isso, minimiza-se o papel da escola, numa sociedade com
tamanhas desigualdades sociais, e em um tempo em que descobrimos que os ideias
de justiça social, respeito à diversidade e aos direitos humanos não estão
garantidos. O liberalismo deu lugar ao neoliberalismo predatório, e à
mercantilização da educação, impulsionada ainda lá nos anos 90 – mas que vem
agora a rodo, passando por cima de tudo. O neoliberalismo na educação e a
instrumentalização técnica dos sujeitos andam de mãos dadas, e essa perspectiva
da PNA, no seu modo de se apresentar, também. Quanto a essa questão, sugiro que
assistam ao vídeo com a fala do francês Christian Laval, sobre a temática de
seu livro, “A ESCOLA NÃO É UMA EMPRESA: o neoliberalismo em ataque à educação
pública”, traduzido para o português pela Boitempo. Dá um panorama do contexto
no qual toda essa discussão se insere.
Esse
contexto maior não pode ser negligenciado ao analisarmos a PNA e sua
implantação no Brasil atual. Disfarçados de conhecimento universal, neutro e
contra a ideologia, o referencial científico e a política pública que defendem
no MEC, hoje, traz a retórica de salvacionismo político e pedagógico. Fosse
apenas divergências teórico-metodológicas... Mas... Não podemos esquecer, no entanto, que as
políticas públicas constituem uma instância que se articula de modo dinâmico e
complexo às instâncias das teorizações e das concretização de ambas nas práticas,
bem como com os interesses mercantis articulados às escolhas no âmbito das
políticas. Aguardemos como será sua implementação, mas o modo como sua
instituição tem se efetivado, desde o tal Decreto, não nos dá motivos para
esperar boa coisa, não, nem em termos políticos, nem pedagógicos.
Mortatti
(2000; 2010) fala das dinâmicas relações entre tematizações, normatizações e
concretizações nas concepções de alfabetização e, por isso, falar de políticas
também envolve falar de concepções de alfabetização e de sua concretização
pedagógica. E o campo das concepções de alfabetização é, e sempre foi, um campo
de conflitos e de disputas sobre quem está com a verdade sobre o que é
alfabetizar e como se alfabetiza, e de luta pela hegemonia em dizê-lo, com
alguns diálogos possíveis. E isso tanto no passado, como no momento atual. É da
própria dinâmica do campo, como argumenta Mortatti (2000), que se move, historicamente,
na dialética entre o novo e o antigo, o tradicional e o inovador, o novo
tornando-se antigo e o inovador, tradicional, nos discursos que se sucedem.
Dinâmica com suas mudanças e continuidades, permanências e rupturas que operam,
simultaneamente, articulando teorizações, normatizações das leis e políticas
públicas, e concretizações de ambas na prática pedagógica. Sugiro o post sobre o campo da alfabetização, com muitas indicações de leitura sobre a temática.
Entretanto,
talvez jamais tenha se verificado, como agora, um achatamento do campo, a
tentativa de validar uma voz única, o desrespeito à diversidade de concepções,
o uso de falácias e premissas equivocadas para ganhar a argumentação e impor
uma perspectiva – ainda que, por vezes, com uma retórica mansa de que não é
imposição. Querer fechar o diálogo – e, para tal, dar às “palavras”, aos discursos,
outros sentidos que eles não têm – é, inclusive, um estratagema fascista...e
assim o fazem em relação às perspectivas que querem criticar (considerando aqui
os equívocos conceituais e premissas equivocadas que os defensores da
perspectiva fônica usam para se referir, por exemplo, a “letramento”,
“construtivismo”, “função social” etc). E para tal, buscam meios de impor um suposto discurso de autoridade. Na forma como estão agenciando a PNA e
a abordagem que a fundamenta, com metadiscursos que supostamente lhes dariam autoridade, e colocando-se como campo neutro, universal, negam
sua natureza de concepção, negam-se como representantes de UMA perspectiva assumindo-se
como representantes DA única perspectiva que seria legítima. Mas, para quem
varre para debaixo do tapete a natureza sociopolítica inerente da linguagem, é como
se fosse possível adotar um discurso objetificado, neutro, fora da ideologia,
fora de um ponto de vista, de um lugar de onde se fala... Mas é bem assim:
Diversas
perspectivas e pesquisadores do campo da alfabetização, que possuem diferentes
bases epistemológicas, seguem debatendo, com entraves também, por vezes, e luta por hegemonia, mas sabendo-se concepção. E tendo espaço
no debate, essas concepções seguem nos interpelando quanto aos diferentes aspectos, facetas,
dimensões envolvidas, contribuindo para que não percamos de vista a
complexidade que é ensinar e aprender a língua escrita (SOARES, 2004, 2016). Precisamos seguir, ainda que, por vezes, com divergências inconciliáveis, labutando
pela melhoria das condições de formação inicial e continuada de professores,
sem sectarismos, e as condições do trabalho docente em nosso país, pois sem
isso, não há abordagem, método ou concepção que dê jeito. Só assim, podemos assegurar que a dimensão técnica, didática, metodológica, se articule à dimensão humana e política, conforme discute Candau (2013). Mas, no caso deles, há
animosidade, desrespeito e cinismo no trato com o campo da alfabetização, e podemos duvidar
se buscam mesmo esses princípios quanto ao papel da educação e da
alfabetização.
Não é
de hoje que a perspectiva fônica busca representatividade nas políticas
nacionais, estaduais e municipais no Brasil, envolvendo, inclusive, articulações
“lobísticas” com os governos e a mídia, interesses editoriais e benefícios
políticos a seus propositores. No atual governo, cavam seu lugar e se apresentam
com a retórica da alternativa única de concepção válida de alfabetização,
achatando, como já dito, a complexidade do campo e suas diversas concepções,
que focam, muitas vezes, diferentes facetas da apropriação de um objeto de
conhecimento – a linguagem escrita – que é complexo e multifacetado. Para eles, diversidade é dejeto, doença a ser superada com conceito e metodologia única.
Se a
ciência cognitiva da leitura tem coisas a nos ensinar sobre a alfabetização – e
tem sim – e se a abordagem fônica precisa também ter seu espaço no debate entre
concepções de alfabetização, ela não pode ser a referência única para
determinar os rumos da alfabetização no país. O problema maior dessa abordagem
teórico-metodológica, então, é o como ela se apresentou ao conseguir o espaço
tão almejado no MEC, se apresentando, por decreto, como única perspectiva
válida para referenciar uma política pública, operando um apagamento de toda a
diversidade de concepções desse campo. Única vertente válida e validada para
gerir os rumos da alfabetização, tentando silenciar todas as outras abordagens
– seja as desqualificando, seja numa tentativa mal amanhada de cooptá-las, com
uma retórica mansa que tenta apagar as divergências enormes de princípios em
questão.
Devem
estar bem bastante satisfeitos e se sentindo “por cima da carne seca”, já que
finalmente ganharam esse espaço, e assim, com esse respaldo político, tentam
sobrepujar-se a todo o campo da alfabetização no Brasil, com um aparente
ressentimento – que aparece na linha argumentativa em diversos momentos – a
verdade última que eles têm o privilégio (!!!) de portar não era ouvida!
(Ironia detectada).
O
problema maior, então, é achar-se no direito de determinar, impor e “fechar
questão” de que uma determinada abordagem teórica e/ou metodológica pode ser a
única legítima e que, sozinha, resolveria todas as questões que envolvem o
ensino e a aprendizagem da língua. Nenhuma abordagem dá conta, sozinha, de
todas as facetas da apropriação da linguagem e da cultura escrita, muito menos
de todos os problemas de alfabetização do país. Considerar diferentes áreas do
conhecimento, diferentes perspectivas é, geralmente, fundamental para dar conta
de um objeto complexo e multifacetado como é a linguagem escrita. Ademais, os
problemas que envolvem a alfabetização no Brasil não são estritamente
didático-pedagógicos. Nenhum método ou abordagem, isoladamente, dá conta desses
problemas, que envolvem a melhoria das condições das escolas públicas, a
valorização profissional dos docentes, o combate à desigualdade social, dentre
outros.
Como
objeto multifacetado, a linguagem escrita exige diferentes focos. Pensar a
alfabetização, hoje, exige atenção a diferentes perspectivas, advindas, muitas
vezes, de diversas áreas do conhecimento, campos de estudos diversos, com suas
contribuições específicas – mas sem esquecer a Pedagogia, a interpretação
pedagógica dos conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas do saber. Pedagogia à qual eles torcem o nariz, colocando-se num lugar superior numa suposta hierarquia de saberes mais valorizados. Determinada perspectiva, qual seja, embora possa ser considerada fundamental ao
campo, não dá conta de todas as facetas da apropriação da linguagem escrita
(SOARES, 2004, 2016), demandando que o campo pedagógico possa articular
diferentes perspectivas de modo coerente e produtivo. E tem muitos pesquisadores da área de educação discutindo alfabetização, e considerando estudos dessas diversas áreas de conhecimento.
Mortatti
(2015, p. 119) alerta, no entanto, quanto ao “ecletismo teórico-conceitual”, ao
silenciamento das tensões no campo, que a autora denuncia, como a “tentativa de
imposição de falso consenso, por meio da homogeneização de pluralidade de
pontos de vista e posições teóricas e políticas, sabidamente em disputa.”
Assim, é preciso ter atenção aos ecletismos desavisados, claro, não dá para
apaziguar as divergências com combinações e bricolagens aleatórias e
simplórias. Por
outro lado, é preciso atentar, como afirma Belintane (2006, p.273), à
necessidade de consensos mais amplos e diversificados, que considere o
movimento dialético que é típico do conhecimento científico contemporâneo em que
se busca a interdisciplinaridade, se respeita a heterogeneidade e se considera a
complexidade dos processos e das diversidades culturais. E, no meu
entendimento, a questão das diferentes facetas das quais fala Magda Soares,
completa bem essa ideia. Também no campo da Didática, Candau (2013, p. 35) sublinha que o grande desafio é "assumir que o método didático tem diferentes estruturantes" e que o importante é articula-los e não "exclusivizar qualquer um deles, tentando considerá-lo como único estruturante".
É
importante achar um equilíbrio entre as facetas, e ter em mente diferentes
pontos de vista sobre como abordá-las metodologicamente, sem pretender uniformizar ou acabar
com as diferenças de perspectivas, que sempre nos interpelam – e é normal que
seja assim, no campo da construção de conhecimentos científicos na área das
ciências humanas. As contribuições dos diversos campos ora se combinam para dar
conta da complexidade da prática pedagógica, ora se apresentam em disputa,
havendo, assim, tendências, mas também tensões no campo das concepções de
alfabetização. Essa é uma dinâmica própria ao campo.
Mas vem uma perspectiva
que, parecendo não se saber perspectiva, se apresenta como verdade, apoiando-se
no discurso de autoridade e da validação científica – e ainda assim, amaciando com a retórica
do diálogo e da adesão voluntária (voltaremos a isso adiante). Convoco Mortatti
(2010, p. 339), para nos lembrar que a “verdade científica do momento” pode ser
considerada como uma “semimercadoria” que “circula no simbólico mercado
científico”.
Considerando
o campo da ciência cognitiva da leitura, referência básica, única, da PNA, e a
própria PNA, que também faz escolhas de perspectivas dentro desse vasto campo
da ciência cognitiva – sim, também tem isso! Há recortes nada neutros –, há três aspectos que é preciso
considerar: os aspectos que não podemos negligenciar, que são apontados e/ou
enfatizados pela abordagem cognitiva; os que são apresentados com certo ar de
novidade na PNA, quando, em verdade, já estão aí, de algum modo; e os aspectos que
a PNA traz que são inegociáveis no âmbito das concepções que defendemos (e nem
sempre são imperativos para todos os autores da ciência cognitiva). Além disso,
há esse fato de que nem tudo que a PNA escolhe como foco é ponto pacífico entre
os pesquisadores desse referencial, vale também ressaltar que as pesquisas são dinâmicas,
o conhecimento construído muitas vezes é circunstancial, a ciência é dinâmica –
ou seja, há diferentes modelos em disputa, mesmo dentro de uma mesma abordagem.
Há coisas que a PNA assume que muitos pesquisadores da ciência cognitiva
ponderam ou até discordam. Ou seja, os autores dessa política também selecionam
o que querem focar, pois há muitos autores que relativizam certas verdades que
eles apresentam como ponto pacífico nas pesquisas estrangeiras, há muitos
pesquisadores que reconhecem outros aspectos que não os cognitivos – e esse
pedaço os autores da PNA silenciam, porque convém. Ou seja, esse referencial da ciência cognitiva - já limitado a aspectos cognitivos - é
apresentado como um conjunto uniforme, homogêneo, com conhecimentos dados, fechados,
imunes a problematizações. E não é bem assim...
Mas
voltemos aos três pontos que quero considerar nessa introdução.
Quanto
ao primeiro aspecto, como tenho insistido, afinada com outros pesquisadores da
área, lembro que há resultados de pesquisas da ciência cognitiva, em especial
da psicologia cognitiva da leitura, que precisamos considerar ao pensar em
metodologias de alfabetização. São aspectos
que não podemos negligenciar, como, por exemplo, a importância do
desenvolvimento da consciência fonológica, o ensino sistemático do
funcionamento alfabético e o processamento da leitura automática, que vai da decodificação fonológica à identificação lexical automática das palavras. Mas isso não
resolve TODAS as questões envolvidas na alfabetização e no letramento. A PNA
traz apenas esse referencial, embora os autores dessa política digam por aí que
não há a indicação de método único. Ok, não de método único, creio não teriam a
petulância de fazê-lo, mas indicam uma abordagem única sim! Baseiam-se na
abordagem fônica, que privilegia não apenas a relação fonema-grafema, como
preconiza também que ela seja o ponto de partida da alfabetização. A relação
fonema-grafema é da estrutura do sistema, não dessa abordagem, o diferencial
dessa abordagem é a ênfase dada a esse aspecto e o fato de ser esse o ponto de
partida. Assim, um outro problema aí é que, mesmo sendo aspectos a considerar, do
ponto de vista de outras concepções não o são, necessariamente, com os mesmos
princípios adotados na PNA. Voltaremos a isso quando falarmos dos próximos itens destacados nesse debate, especialmente sobre os componentes essenciais da alfabetização. Vamos ao segundo ponto que quero discutir.
A PNA
traz, por outro lado, também aspectos já presentes em outras abordagens e mesmo
em outros programas do MEC, mas que são, de certo modo, aspectos apresentados como novidade. É o caso da dimensão
fonológica da notação da língua e do ensino sistemático do sistema de escrita.
Eles se acham “donos” do princípio alfabético! O princípio, no entanto, é do
sistema, não é de um método específico. A linguística já aborda essa questão do
princípio alfabético, da importância de se apropriar desse funcionamento na
alfabetização, há muito, muito tempo – muito antes de esses pesquisadores arrogantes
que escreveram a PNA nascerem e acharem que são os iluminados pela ciência. Quanto
à consciência fonológica, há pesquisadores da área da psicologia e da educação
que a tematizam há muito tempo, como Artur Gomes de Morais – e no PNAIC ela foi
amplamente considerada ao lado das práticas de leitura e escrita. Magda Soares
vem, há muito tempo, insistindo na necessidade de colocarmos foco na
especificidade da alfabetização, na abordagem dos aspectos especificamente linguísticos
– fonológicos e notacionais – da apropriação da escrita. Mas tudo isso é
apagado, porque para eles, só serve o pacote completo!
Cabe
ressaltar que, nesse ponto, podemos também referir ao fato de apresentarem
procedimentos antigos, que já se revelaram infrutíferos no passado, como
“novidades”, agora referendadas na ciência. Quanto a isso, sugiro a leitura do
artigo de Mortatti e seu posicionamento quanto à PNA. Um artigo fantástico e necessário da autora foi publicado recentemente sobre a PNA, intitulado "Brasil, 2091: notas sobre a 'política nacional de alfabetização'”.
E
nisso, chegamos a aspectos que a PNA traz, mas que são aspectos inegociáveis, do ponto de vista de outras concepções. A
consciência fonológica é reduzida na PNA à consciência fonêmica. Quando
discorrem sobre a Educação Infantil, embora citem, brevemente, a consciência fonológica de
unidades mais holísticas – como a sílaba, a rima e as aliterações – o fazem
rasteiramente, bem en passant, sem a devida importância e apenas citadas para
logo chegar à consciência fonêmica. E esta, é proposta desde o início do
processo, como pré-requisito para todo o resto. Ou seja, o que, do ponto de
vista da aprendizagem, da apropriação do princípio alfabético é o ponto de
ponto de chegada – o princípio alfabético –, é tomado pela PNA como ponto de
partida – o que implica em treinar meninos pequenos a pronunciar fonemas
isolados, ensinar previamente os “sons” das letras, provavelmente, inclusive,
fora do contexto das palavras – o que é absurdo até mesmo para pesquisadores da
ciência cognitiva que dizem abraçar – e, mais, implica em tomar a decodificação
como condição para qualquer outra aprendizagem relativa à língua escrita. Mas antes da consciência fonêmica as crianças pensam sobre a pauta sonora da língua e a segmentam em unidades mais holísticas - porque esses saberes são desconsiderados no ensino e aprendizagem? Por que o sistema não se estrutura assim, não é? Ou seja, o foco é o ensino e o objeto de ensino - o sistema - não a criança que aprende... Retomaremos essa questão quando falarmos dos componentes essenciais da alfabetização, segundo a PNA, no Post 2 dessa série. Mas cabe
ressaltar que, mesmo que vislumbrem procedimentos fônicos analíticos, em
contexto de palavras e de brincadeiras, há aí um pressuposto de pré-requisito
complicado em termos de conciliar com a perspectiva da aprendizagem das
crianças, que não inicia com o mais abstrato. Sem contar que há as diferenças
relativas à concepção de infância e de
cultura lúdica quando o brincar é tomado, nessa perspectiva, apenas para motivar as crianças ou
disfarçar o treinamento.
Com
isso tudo, quero questionar essa imposição de política pública que se decreta baseado
em premissas equivocadas – a de que o campo da alfabetização e as políticas
anteriores ignoraram os estudos da psicologia cognitiva da leitura até aqui; a
de que considerar a consciência fonológica seja enfatizar apenas a fonêmica; a
de que a abordagem fônica é a única que considera o ensino sistemático para mobilizar a apropriação do princípio
alfabético e esse princípio como aspecto fundamental na alfabetização. Destaco um trecho da PNA
que diz que:
Referenciando-se,
com completa reverência, aos documentos estrangeiros filiados a suas
perspectivas, desprezando todo o conhecimento produzido no Brasil (salvo os que
se filiam à concepção que abraçam) ou mesmo no estrangeiro, de outras perspectivas, o Caderno da PNA faz um histórico que
desconsidera os programas das políticas anteriores e todo o campo da
alfabetização. É mentira que as políticas públicas de alfabetização ignoram
pesquisas da ciência cognitiva da leitura. O PNAIC, por exemplo, programa de
formação de professores do MEC de 2012 até agora, vinha trazendo uma
perspectiva conciliadora que incorporou aspectos que estavam esquecidos ou
minimizados em programas anteriores, relativos aos aspectos linguísticos da
alfabetização, e contribuiu para que fôssemos colocando, nas práticas docentes,
foco nas diversas facetas da apropriação da escrita, inclusive aspectos
enfatizados pela psicologia cognitiva da leitura (e pela linguística, não nos
esqueçamos!!!). A consciência fonológica, o ensino sistemático do funcionamento
alfabético – tudo está lá, e de forma bem enfatizada. Mas não com os mesmos
princípios defendidos por eles – eis a questão! Mas a mentira se expõe: não
ignoram! A questão é que para eles só serve o pacote todo, só serve abordar esses elementos com as
mesmas premissas e princípios que defendem. Mas esse programa anterior, e os autores que o
construíram e que discutem essas conciliações, não adotaram essas pesquisas cognitivas como referencial único nem verdade
última.
Além dos programas e políticas, pesquisadores
de outras concepções tampouco têm ignorado as pesquisas cognitivas como é
insinuado pela arrogância dos defensores da PNA. Artur Gomes de Morais,
por exemplo, vem pesquisando e publicando sobre a consciência fonológica desde
o final dos anos 80, bem como Terezinha Carraher, hoje Terezinha Nunes, que
atualmente, inclusive, escreve sobre a área da leitura e escrita, junto com
Peter Bryant, renomado pesquisador americano, também referenciado no campo da ciência cognitiva. Artur, inclusive, faz um histórico
dessas pesquisas em seu novo livro “Consciência fonológica: na Educação
Infantil e no Ciclo de alfabetização”, além de ter outro livro especificamente
sobre o sistema de escrita alfabética, suas propriedades e seu ensino sistemático. Magda
Soares, por sua vez, vem insistindo, há tempos, na necessidade de voltarmos o foco aos
aspectos linguísticos – notacionais e fonológicos – da apropriação da língua
escrita, após termos focado nos aspectos sociais do letramento e nos aspectos
psicolinguísticos, com as perspectivas construtivistas e sociointeracionistas
de alfabetização. Ela chamou de “reinvenção
da alfabetização” (2003) essa retomada dos aspectos propriamente linguísticos do
processo de ensinar a ler e escrever, mas em outras bases – sem perder de vista
a linguagem escrita como prática social e a construção ativa de conhecimento
pelos sujeitos.
Observem,
nesse breve esquema, como essa premissa é equivocada:
Do
mesmo modo, também a Linguística, há muito tempo, já enfatizava diversos
aspectos que a PNA parece querer inaugurar, relativo ao princípio alfabético,
ao ensino das letras, à base fonológica do sistema de escrita. Linguístas – a
exemplo de Luiz Carlos Cagliari, por exemplo - discutem questões gráficas e fonológicas
do processo de alfabetização faz muito tempo no Brasil. Cagliari tem uma vasta
obra, publicando, desde os anos 80, livros articulando alfabetização e
linguística. Mas o crédito que a PNA dá é apenas a pesquisas estrangeiras, que escolhem também, ou
às que, aqui, seguem a linha dessas referências. É preciso saber que eles selecionam, no campo de estudos estrangeiros, aqueles que lhes servem bem. Mas também lá, há um campo de conflito de concepções teórico-metodológico que eles querem silenciar, apagar, não mencionar, para dar peso a seu discurso colonialista de autoridade.
Ou seja,
diante desse histórico feito no Caderno da PNA, nota-se que essa política desconsidera
completamente o campo da alfabetização no Brasil, as discussões que temos feito aqui, também alinhadas a estudos - de outras perspectivas - estrangeiras e, com sua retórica de
evidências científicas, alinhamento estrangeiro (!!!) e adesão voluntária,
tenta convencer os incautos de que, instituída por decreto, não é uma imposição
desrespeitosa ao campo teórico da alfabetização e ao campo escolar (sobre adesão
voluntária – essa outra retórica – falaremos no Post 4).
De 22 a
25/10 ocorreu a CONABE - Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em
Evidências, na qual insistem nessa perspectiva de verdade única, última,
científica, neutra, universal. Acompanhemos! Como se pode ler no site do MEC, foi
criado um Painel com 12 especialistas que irão “elaborar, de forma imparcial,
um relatório que ajudará a formular políticas públicas daqui para frente”. De
forma imparcial??? E continuam:
A criação de um painel de
especialistas foi utilizada em diversos países como uma forma não de confirmar
pontos de vistas previamente adotados, mas sim para se obter uma revisão
sistemática de literatura seguindo critérios científicos e oferecendo,
portanto, sínteses de evidências robustas e imparciais.
Eles
acreditam nisso de serem imparciais!!!??? De que todas as outras perspectivas
que não seguem esse parâmetro das “evidências científicas” é “ponto de vista
previamente adotado”???!!! É muita arrogância! Nesse governo eles não acreditam
(acreditam?) que estão fora da ideologia? Pois...Será que acreditam nessa
imparcialidade também pelo fato de estarem se alinhando às perspectivas
estrangeiras, como se, elas mesmas, também fossem neutras e universais, e não
fruto de escolhas em um campo de conflitos? O objetivo da CONABE, segundo afirmação
de Carlos Nadalim registrada no site mencionado, seria alinhar a estratégia do MEC,
no Brasil, àquelas de “autoridades educacionais” de países como o Reino Unido, EUA,
França. Quem as intitulou como autoridades e, especialmente, as únicas
autoridades a se considerarem validadas a terem hegemonia nas políticas
públicas e nas práticas educativas? Bom, para conferir autoridade discursiva e
aparente neutralidade no posicionamento, citam os documentos “Estratégia
Nacional de Leitura” (Reino Unido, 1998); o Painel Nacional da Leitura (EUA, 2000); o Observatório Nacional da
Leitura (França, 1998) – os mesmos documentos citados e reverenciados no
Caderno da PNA.
O
documento francês citado, o Apprendre à lire, do Observatoire national de la
lecture, não é tão reducionista quanto a PNA. Aliás, segundo Magda Soares, tampouco
o é o relatório americano, o National Reading Panel. Referindo-se a esse dois
documentos, a autora já denunciou, desde 2004 no artigo “Letramento e
alfabetização: as muitas facetas” (2004, p. 14), que
[...] a
concepção de aprendizagem da língua escrita, em ambos, é mais ampla e
multifacetada que apenas a aprendizagem do código, das relações grafofônicas; o
que ambos postulam é a necessidade de que essa faceta recupere a importância
fundamental que tem na aprendizagem da língua escrita; sobretudo, que ela seja
objeto de ensino direto, explícito, sistemático.
E isso
Magda vem defendendo, Artur Gomes de Morais vem defendendo e muitos outros pesquisadores
brasileiros vêm defendendo. Só que não da forma radicalizada que tomou o “back
to phonics”, não da forma que a PNA postula. Como Magda bem previu, na época,
as coisas se colocaram aqui (como nos EUA), em termos de antagonismo, enfatizando
que a tendência a esse tipo de radicalismo torna perigosa a “necessária
reinvenção da alfabetização”, que ela mesma defende. E esse antagonismo, ela já
apontou, desde aquele ano, que é mais político que propriamente conceitual. Voltamos, então, agora, ao radicalismo das polarizações?
Ocorre
que, no Brasil, o cenário agora é esse mesmo, de radicalização, apesar de ter havido uma
tendência crescente a se considerar a especificidade da alfabetização ao lado
do letramento, como era o caso, por exemplo, do PNAIC, e de nessas perspectivas
mais conciliadoras, a escrita alfabética e sua base fonológica serem, sim, foco
de atenção.
E para
mostrar que há essa grande falácia nos argumentos que eles constroem em torno
desses documentos, para validarem a PNA, tomarei aqui o Apprendre à Lire, que
li quando estudei na França no final dos anos 90, início dos anos 2000, junto
com outras referências francesas, para ressaltar que aqui eles focam no que bem
querem focar, para justificar tomar a alfabetização numa visão tão simplória e
instrumental.
Embora
o documento francês traga o referencial cognitivo para mostrar a importância do
ensino sistemático do funcionamento alfabético da escrita e da consciência
fonêmica, dão bastante ênfase aos aspectos socioculturais e semiológicos da
escrita. O documento indica expressamente, referindo-se às crianças pequenas,
que vale muito mais as sensibilizar para as implicações e as funções da língua
oral e escrita, para os desafios da comunicação linguística, do que as treinar
precocemente e sistematicamente à decodificação do escrito (1998, p. 32-41),
pois “escrevemos sempre para dizer alguma coisa” (p. 42). Para que serve a
escrita? O que ler quer dizer? Essas são questões ressaltadas como fundamentais.
Mesmo quando referem à língua em si mesma, referem outros aspectos, que não
exclusivamente os fonológicos, afirmando-se que a escrita pode se fazer por
entradas diversas, ressaltando-se sua forma, seu sentido, suas finalidades (p.
44). E a PNA? Vai fazer o que com nossas crianças da Educação Infantil, se
mesmo em termos de consciência fonológica, prioriza a fonêmica em detrimento
das unidades mais holísticas, que poderiam ser exploradas na continuidade das
práticas brincantes (a partir, por exemplo, das sonoridades do repertório
lúdico dos textos tradicionais da infância?).
Na
etapa da alfabetização propriamente dita, ainda que o foco do documento francês seja a
abordagem fônica, também consideram muitos procedimentos condenados pelos que
só veem a consciência fonêmica no horizonte e a alfabetização como uma questão
meramente técnica. Por exemplo, o documento francês defende a decodificação,
mas também que as crianças tenham um repertório de palavras estáveis, modelo de
escrita convencional, para apoiar a leitura inicial, cotejando decodificação e reconhecimento mais global de algumas palavras; o documento dá ênfase aos
processos de tratamento dos sentidos, e a seu papel na compreensão dos textos,
articulando a necessidade dos processos de decodificação aos processos de
compreensão. Ou seja, não tem isso de primeiro a decodificação e só depois
compreensão, esta como uma consequência do domínio daquela, como a PNA parece
sugerir: “a compreensão de textos, por sua vez, consiste num ato diverso do da
leitura. É o objetivo final, que depende primeiro da aprendizagem da
decodificação e, posteriormente, da identificação automática de palavras e da
fluência em leitura oral” (BRASIL, 2019, p. 19).
Outros livros,
como o “L’Apprenti lecteur”, organizado por Rieben e Perfetti (1989), com
textos de vários autores da ciência cognitiva, bem como o “De l’illettrisme em
général et de l’école em particulier”, de Alain Bentolila (1996), autor
envolvido no documento do Observatório francês – do qual assisti algumas aulas
na Université Paris IV –, também trazem uma visão de linguagem escrita muito
mais ampla do que a trazida na PNA. No próprio livro “A Ciência da leitura”
(2013), mais atual e bem considerado por eles, há autores com discursos
bastante conciliadores nesse sentido. Mas eles escolheram o sectarismo.
Podem
dizer que as novas-novíssimas referências da neurociência cognitiva, após esses livros, é que
trazem resultados que validam esses reducionismos, ao que digo: resultados de
pesquisas, contemporaneamente, parecem (e só parecem, pois entre pesquisas e
aplicações práticas e éticas, há uma distância) validar um mundo
instrumentalizado, mercantilizado e desumanizado. Mundo de racionalidade
técnica levada ao extremo. Resta-nos saber o que restará de humanidade nisso
tudo! Resta saber se queremos apostar num mundo assim. Em todo caso, o que
quero ressaltar aqui é que os autores dessa PNA trazem as referências a
documentos estrangeiros de modo bem enviesado, falacioso, pois eles recortam
dali o que bem interessam para propor uma política altamente instrumentalizada,
sectária e reducionista de alfabetização.
Me
respondam: se pesquisas mostram ou mostrassem, de fato, que procedimentos
fônicos dos mais sintéticos e descontextualizados dão melhores resultados no
treinamento fonêmico e na habilidade de decodificação, então, automaticamente
validamos esses procedimentos que retira da linguagem todo contexto, todo o
sentido? O que e quem definem que aprendizagens importam mesmo? Porque essa primazia da
técnica em relação aos aspectos semânticos e semiológicos da escrita? Essas indagações definem respostas que temos que problematizar, respostas que definem valores,
concepções de mundo, de educação, de linguagem. Não definem respostas únicas,
automáticas. Se pesquisas mostrassem que se cada cidadão matasse uma pessoa por
ano, a violência diminuiria, automaticamente validaríamos a matança
institucionalizada? Discutiremos mais sobre “evidências científicas” no Post 3.
Dito
isso, vamos adiante. Proponho analisar aqui alguns pontos da PNA, considerando
o que temos até agora – o Decreto Nº 9.765, de 11 de abril de 2019, o
Caderno da PNA, de 15 de agosto de 2019 e outros referencias que porventura circulem na mídia. Minhas reflexões aqui e nos posts
seguintes consideram e dialogam com textos, manifestos, matérias, entrevistas e vídeos que circulam ou venham a circular na
mídia, seja em defesa da PNA, sejam críticos a ela. Vamos estudar! Vou me concentrar,
inicialmente, em discutir quatro pontos:
- o uso
do termo literacia e silenciamento sobre o letramento, conceito utilizado e
tematizado no campo desde meados dos anos 1980;
- a
escolha do que sejam os componentes “essenciais” da alfabetização e a questão
da abordagem única;
- a
insistência na questão do ensino baseado em “evidências científicas” e a consideração exclusiva da ciência de perspectiva cognitiva;
- questões de implementação da política, como a
retórica da "adesão voluntária" e ressonâncias nas redes e na formação docente e etc.
Os
posts seguintes a esse vão abordar cada um desses aspectos. Contribuam, vamos refletir em muitas vozes! Junto aqui, nos textos dessa
série, várias postagens minhas no Facebook, em que abordei a questão, e os
desdobramentos delas nos comentários, trechos inspirados em outras postagens do
blog, na entrevista que dei ao CENPEC, em apontamentos de minhas falas em Santa
Catarina e em outras oportunidades que tive de abordar a PNA, inclusive
reflexões advindas de conversas com outros colegas alinhados a mim nessa
trincheira. E de leitura, muita leitura.
Assim
como eu, outros pesquisadores estão aguerridos a discutir a PNA, e vale também
divulgar. Os indicarei aqui, sempre! Precisamos multiplicar e unir vozes! Sugiro
as demais entrevistas dessa série que o CENPEC está promovendo, abordando a
PNA. A primeira foi com Magda Soares e Maria Alice Junqueira, a segunda a minha, à qual se seguiu, até agora, a de Antônio Gomes Batista, Carlota Boto, Isabel Frade, Sônia Madi e Clécio Bunzen, que nos fala, particularmente da questão do letramento/literacia. Outras vozes serão
convocadas, vamos acompanhar aqui. A Faculdade de Educação da USP fez um
evento, no início de outubro, que foi gravado – quando disponibilizarem os
vídeos, divulgo o link, agradecendo a Claudemir Belintane pela confirmação de
que estará disponível em breve. O próprio Claudemir já se manifestou algumas vezes sobre essa querela de métodos também e pode nos ajudar a pensar: aqui. Sugiro também assistirem ao Educação 360, Painel5: “Alfabetização: A guerra dos métodos”, com a participação de Artur Gomes de Morais
(da UFPE), Renan Sargiani, coordenador-geral de Neurociência Cognitiva e
Linguística da Secretaria de Alfabetização do MEC, além de Guilherme Cardozo,
Doutor em Estudos da Linguagem e PhD em Estudos Sociais. Reparem,
principalmente, na fala do professor Artur (2:23:20 a 50:35). A Abalf - Associação Brasileira de Alfabetização também tem divulgado posicionamentos de diversos pesquisadores do campo, de diversas concepções, sobre a PNA. Esses posicionamentos terminaram por constituir um conjunto que foi publicado na Revista Brasileira de Alfabetização, aqui. Ressalto o texto de Clécio Bunzen, dentre esses, que tematiza a questão do uso de "literacia" no documento, discussão que será o foco do Post 1 dessa série aqui, em breve. O incentivei a escrever, pois sabia que seria uma contribuição enorme a essa discussão. Agradeço-o pela oportunidade de dialogar com ele a partir do texto, ao que ele retribuiu fazendo uma menção à minha leitura, anterior a sua publicação. Valeu, colega! 'Tamos juntos!
E, para
finalizar esse post, lembro, mais uma vez, que é preciso fazer essa ressalva,
para refletirmos sobre tudo isso na instância das concretizações nas práticas
escolares: precisamos ter clareza de que a alternativa à negligência ou a uma
abordagem casual, vaga, não explícita e pouco sistemática do sistema de escrita
e de sua base fonológica, que traz equívocos quanto ao processamento da leitura e do reconhecimento das palavras -negligência essa em função de um discurso pedagógico marcado pela hegemonia
da didática construtivista e de certas vertentes sociointeracionistas - não é,
necessariamente, a abordagem fônica posta na PNA. A alternativa não é necessariamente essa! Temos alternativas potentes de
abordagem da faceta linguística em situações significativas e reflexivas, no
contexto da linguagem viva, das práticas de oralidade e letramento, da cultura
lúdica, unido as diversas facetas da apropriação da linguagem e da cultura
escrita e considerando o sujeito como sujeito de cultura, de linguagem e ativo em seu processo de aprendizagem.
Inúmeras
pesquisas e registros de práticas no âmbito do PNAIC e da experiência do
projeto de Magda Soares em Lagoa Santa/MG, por exemplo, mostram resultados muito positivos de
práticas fundadas em concepções mais conciliadoras que envolvem a apropriação
da escrita alfabética e a fluência de leitura, as habilidades que compreensão
leitora e produção de textos, e a ampliação da participação em práticas letradas.
São evidências que não podemos desconsiderar (Mas, para eles só servem as
evidências de laboratório). É ainda preciso avançar muito no entendimento de como fazer esse ensino com esses princípios, entender sobre esse referencial? Sim, muito! Mas o caminho estava aberto. Não deixemos ele fechar! Nem nós, nem os professores, que, felizmente, não fazem apenas o que é orientado pelas políticas, ainda mias pelas que desconsideram toda a sua trajetória docente até aqui.
Esse
aqui é o POST 0 dessa série, introdutório: Sobre a PNA – alguns apontamentos. Seguem os
próximos:
POST
1 – Literacia e letramento
POST
2 – Componentes essenciais da alfabetização e abordagem única
POST
3 – Evidências científicas apenas de perspectiva cognitiva
POST
4 – Questões de implementação
O POST
4 incluirá minhas considerações sobre pontos de fuga, formação docente e um
fechamento da discussão, possivelmente indicando outros aspectos a continuar
discutindo... Porque esses 4 pontos são apenas alguns deles...e do lado de cá ninguém quer fechar questão!
Sugiro,
por ora, também a leitura do Caderno, para que essa discussão considere suas
próprias impressões sobre a PNA.
Seguimos com Post 1 - sobre literacia e letramento. Em breve!
Adendo de fevereiro de 2020 - Quer dizer... "em breve".... se eu me reanimar... Ando muito muito desanimada, sem iniciativa para seguir aqui e em lugar algum. Mas vamos ver. Se não, de cada ponto desse que me comprometi a discutir, indico a leitura de discussões de outros pesquisadores, certo?
2021 - enjoei tanto que nem terminei...
Referências
BELINTANE, Claudemir. Abordagem da oralidade e da escrita
na escola a partir da tessitura interdisciplinar entre a psicanálise e a
linguística. In: Psicanálise, Educação e Transmissão, 6., 2006, São Paulo.
BENTOLILA, Alain. De l'illettrisme en général et de l'école
en particulier. Paris: Plon, 1996.
BRASIL, Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019. Institui a
Política Nacional de Alfabetização. Diário Oficial da União, Atos do Poder
Executivo, Brasília/DF, 11 abr. 2019. Edição: 70-A, Seção: 1 – Extra, p. 15.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação. PNA: Política
Nacional de Alfabetização/Secretaria de Alfabetização, Brasília: MEC, SEALF,
2019.
CANDAU, Vera Maria. A Didática e a relação forma/conteúdo. In: ______ (Org.). Rumo a uma nova didática. Petrópolis: Vozes, 2013, p. 29-37.
MORTATTI, Maria do Rosário L. Os sentidos da alfabetização: São
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entre políticas públicas e seus sujeitos privados. Revista Brasileira de
Educação, v. 15, n. 44 maio/ago. p. 329-410, 2010.
______. Essa base nacional comum curricular: mais uma tragédia
brasileira? Revista Brasileira de Alfabetização – ABAlf. Vitória/ES. v. 1, n.
2, jul./dez. p. 191-205, 2015.
OBSERVATOIRE NATIONAL DE LA LECTURE. Apprendre à lire. Paris:
C.N.D.P/Odile Jacob, 1998.
RIEBEN, L; PERFETTI, C. (Ed.). L'apprenti lecteur.
Recherches empiriques et implications pédagogiques. Neuchâtel et Paris:
Delachaux et Niestle, 1989.
SNOWLING, Margaret J.; HULME, Charles. A ciência da leitura.
Porto Alegre: Penso, 2013
SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo:
Contexto, 2016.
______. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista
Brasileira de Educação. Jan-Abr, 2004, nº 25, p. 5-17.
Boa tarde!
ResponderExcluirGostei muito da análise e ainda mais da compilação de indicações com links, para podermos ampliar o estudo da PNA.
Muito importante esses esclarecimentos, porque a retórica é forte e muitos professores infelizmente caem nessa.
Parabéns!
Liliana
Oi, Liliana,
ExcluirObrigada.
A ideia é essa mesmo, nos posicionar, contribuir com o debate, e divulgar as outras vozes que contribuem nesse sentido.
Continue acompanhando!
Toda perspectiva com pretensa a verdade absoluta é problemática uma vez que sempre buscará formas, através de jogos de poder e linguagem, de legitimar sua visão e negar (e muitas vezes tentar silenciar) todas as outras visões diferentes.
ResponderExcluirComo foi muito bem desenvolvido no post, a PNA parte desse viés de deslegitimação de todas as construções de conhecimento que vão de encontro a sua concepção do que seria a melhor e mais “eficiente” forma de se alfabetizar – a relação de eficiência foi usada de modo proposital, uma vez que tem se tornado o paradigma último dessa onda de inserção da lógica neoliberal mercantil nas políticas educacionais. Contudo, parto do princípio de que a razão mercantil e a educação possuem essências antagônicas. Isto é, em minha visão de mundo, não se procede estabelecer o mesmo tratamento dado a uma empresa - cujo objetivo é estritamente produzir mercadorias para seu fim último que é o lucro – a uma escola que tem como função a formação de sujeitos (seres humanos históricos e sociais) e o fim é a aprendizagem. Digo isto, pois, como foi supracitado no post, a formação de um sujeito, diferente de uma mercadoria, não pode se encerrar partindo exclusivamente de uma concepção científica. E a crítica principal à PNA, para além da pretensa a verdade a partir do princípio cartesiano da razão científica, está correlata a essa concepção de que é possível se alfabetizar crianças, em contextos e subjetividades diferentes, se apoderando exclusivamente da psicologia cognitiva a qual defende o método fônico como o mais eficiente para a formação do sujeito partindo de concepções específicas do que seria o homem e a educação (como todo modelo de educação parte de uma concepção de homem e de educação ideal, acredito que o que se pretende formar com esse viés exclusivo da educação é um sujeito mecânico, com pouca ampliação de mundo e adaptado a lógica do mercado de trabalho).
No entanto, acho que devemos tomar cuidado com as armadilhas que nosso discurso contra tal ideal de verdade que se faz presente no plano da PNA podem apresentar. Isto porque quando defendemos que um conhecimento não deve deslegitimar as outras produções epistemológicas, devemos analisar também o que podemos aproveitar do que se defende a PNA, para as nossas abordagens de alfabetizar um sujeito. Com isso, acredito que devemos também ponderar sobre o método fônico dentro do processo de alfabetização uma vez que quando defendemos que estamos lidando com a formação de sujeitos com suas especificidades, devemos observar que em certos contextos - como no caso da alfabetização de crianças, jovens e adultos com hiperlexia ou com determinadas expressões do TEA – o método fônico talvez seja uma boa alternativa tendo em vista que estes sujeitos geralmente apresentam dificuldades de compreensão textual diferentes dos alunos considerados típicos. Esse tema é mais bem desenvolvido em um artigo que indico (NUNES, Débora Regina de Paula. WALTER, Elizabeth Cynthia. PROCESSOS DE LEITURA EM EDUCANDOS COM AUTISMO: Um estudo de revisão. Rio Grande do Norte, 2016) e uma das reflexões das autoras sobre a importância de se trabalhar a partir também do método fônico (para além do global, o qual estas fazem questão de também citar a sua importância em determinados casos) é que:
Coerência Central é a habilidade de coligar detalhes em um só conceito ou ideia. Essa habilidade é considerada deficitária em pessoas com TEA, uma vez que tipicamente evidenciam um estilo de processamento de informações focado em minúcias, depreciando a capacidade de compreensão global de fenômenos. (NUNES, WALTER, 2016, p.624)
Continua... (passei os caracteres)
Carla Jéssica Pimentel - EDCB85/T01/Diurno - 2019.2
Continuação:
ResponderExcluirQuero deixar claro, todavia, que não estou pondo em primazia o método fônico, mas sim, mostrando a sua importância também como ponto de partida quando consideramos as especificidades e singularidades dos sujeitos que pretendemos formar, tendo em vista que a escola se propõe a ser inclusiva. Porém reitero, mais uma vez que este não pode ser o único abordado dentro de uma sala de aula, quando nos propomos a formar sob o viés da pluralidade.
Assim, acredito que cada contexto de sala nos levará a uma abordagem que melhor abarque a turma em sua totalidade, por isso é importante estudarmos todas as produções de saberes relacionadas às concepções de como se alfabetizar, para sabermos uni-las e utilizá-las a partir das necessidades específicas dos educandos.
Carla Jéssica Pimentel - EDCB85/T01/Diurno - 2019.2
Respondo aí abaixo, também em partes...
ExcluirOlá, Carla!
ResponderExcluirMuito pertinentes e aprofundadas as suas reflexões e ponderações.
Da minha parte, sempre chamei a atenção para o fato de que a ciência cognitiva tem muito a contribuir e muito das pesquisas realizadas nesse contexto são fundamentais, devendo sim serem consideradas (mas c/ outros princípios e desdobramentos metodológicos), no processo de alfabetização. Não há como negar a importância da consciência fonológica, do ensino sistemático do funcionamento alfabético, do processamento da leitura (do reconhecimento fonológico das palavras até a identificação automática, lexical). Tudo isso é fundamental. Mas a questão é COMO isso vai ser abordado, integrado, mobilizado nas práticas alfabetizadoras, com que princípios. Método fônico é um pacote de procedimentos e, nesse pacote, estão implícitos diversos encaminhamentos que reduzem a linguagem a uma técnica, um ponto de partida que desconsidera o sujeito que aprende, focando apenas o objeto a ser ensinado, princípios mecânicos. O que penso aí é que é preciso diferenciar o que é MÉTODO e o que é ABORDAGEM, bem como o que são PROCEDIMENTOS. Acho que a abordagem fônica chama atenção, sim, a aspectos que são importantes não perdermos de vista, bem como muitos procedimentos valorizados nessa abordagem estão integrados a outras metodologias, de outras abordagens (não podemos cair na falácia de que eles são donos do princípio alfabético!). Não podemos ignorar isso, mas também não podemos dizer que isso seja o mesmo que defender o MÉTODO fônico. Que, sim, em algumas situações, pode até ser adequado para determinado sujeito com alguma especialidade - e isso vale também para o fonoarticulatório. Ninguém está negando isso. Só que não é APENAS isso que essas crianças precisam. Nem, necessariamente, do método fônico em si, mas sim de procedimentos fônicos.
Continua...
Continuação...
ExcluirCrianças com determinadas deficiências são, antes de tudo, crianças, sujeitos socioculturais, e precisam também de muito mais do que tecnicismos, que as reduzem a sua deficiência. Assim, se, no específico da apropriação do sistema (do sistema, não da linguagem escrita), precisam mais de PROCEDIMENTOS fônicos e a ABORDAGEM fônica é recomendada, por outro lado, não acho que o MÉTODO fônico seja, necessariamente, o método - ainda mais o único - a ser considerado.
Dito isto, insisto que a questão é diferenciar método, abordagem e procedimentos/estratégias fônicos, e saber que esses dão conta apenas de parte dos aprendizados, de uma faceta, mesmo das crianças com deficiência. E isso não é uma preocupação de defensores de métodos fônicos. Não é!
Seu parágrafo final fala justamente algo que se alinha a uma perspectiva mais conciliadora, que Magda Soares, por exemplo, tematiza ao falar das diferentes facetas, que inclui a faceta linguística (fonológica e notacional). O problema é, sempre, COMO se aborda isso. E o método fônico - como um pacote que é - propõe uma abordagem baseada em princípios nem sempre conciliáveis com outras perspectivas. O problema é o COMO, e a ênfase dada à faceta que privilegiam. Assim, uma conciliação total e mistura de tudo num só método não existe, o campo é um campo de conflitos, com alguns diálogos possíveis. Diálogo que os defensores dos métodos fônicos, principalmente os da PNA, não estão interessados em estabelecer.
No mais, você mesma disse, o problema é impor uma abordagem ÚNICA e a PNA está falando da aprendizagem de TODAS as crianças.
Assim, deixo essa reflexão: suas ponderações críticas à PNA, no início do post, devem valer também para tais crianças, não é? Precisamos, nessa lógica mercantil de formação "eficaz", "eficiente", de sujeitos "competentes" e "habilidosos", não cairmos na armadilha de reservar a essas crianças um ensino tecnicista, reducionista, focado apenas em suas deficiências, e não em sua amplitude como sujeito de linguagem, sob o argumento de que é isso que precisam. Como sujeitos de linguagem, podem precisar disso, mas precisam também de muito mais!
É isso!
Siga com suas reflexões muito potentes, sigamos na luta e no estudo...Juntos, podemos mais!
P.S.
ExcluirMinha ressalva, como a sua, é, principalmente, a imposição de uma abordagem ÚNICA e, necessariamente baseada nos princípios que eles julgam ser os únicos pertinentes e validados.
O problema é muito mais de ordem política do que conceitual e metodológico, embora caiba isso também, evidentemente. O problema são os princípios e concepções de base, não a importância do aspecto fônico...
E uma coisa a prestar a atenção: não somos nós que estamos opondo o método fônico ao global. Já saímos dessa dicotomia há muito tempo. Não é isso que está em jogo...o que defendemos não se trata de método global.
Discuti isso aqui:
https://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com/2019/03/o-campo-da-alfabetizacao-no-brasil.html
Fica muito fácil para eles colocarem as coisas nesses termos...Mas não se trata disso!
É isso. Temos muito e muito, sempre, a estudar, não é? Ainda mais em tempos de argumentos tortos, falaciosos...temos que prestar muita atenção...
Percebe-se que a Alfabetização é uma área que gerou muitas polêmicas desde o lançamento da PNA em abril deste ano. As mudanças que mais preocupam são a priorização ao método fônico, baseado na decodificação, no ensino de leitura e escrita e o fato do público-alvo ser, principalmente, crianças na primeira infância (0 aos 5 anos de idade).
ResponderExcluirNão vejo o método fônico como um problema na alfabetização das crianças, mas sim a política impor essa metodologia, enquanto a preocupação deveria ser encontrar formas de unir as diferentes abordagens existentes com foco na aprendizagem dos alunos.
Para além disso é preciso ressaltar que numa sala de aula existe uma diversidade de discentes com suas peculiaridades específicas, portanto a necessidade de diversas abordagens de ensino com intuito de atender a essas demandas.
Talita Karen Santos Barros Magalhães- EDCB85/T01/Diurno - 2019.2
Oi, Talita,
ExcluirO público-alvo da PNA são as crianças da pré-escola, ou seja, do final da Educação Infantil (4 e 5 anos), e as do início do Ensino Fundamental.Não para as de 0 a 3.
Abordagem única nunca foi nem nunca será bom para nada! A diversidade é potente, diferentes concepções sempre nos interpelam a pensar em aspectos que não focamos, mesmo quando temos outra concepção.
Agora, uma coisa é falar de procedimentos fônicos, outra de método fônico. Procedimentos fônicos, sim, são necessários, devidamente pensados no âmbito de uma noção de que é mais ampla de linguagem escrita. Mas método fônico, como um pacote de princípios e procedimentos pré-estabelecidos, nem sempre negociáveis do ponto de vista dos princípios em jogo, nem sempre podemos concordar que são bem vindos.
Professora, a impressão que eu tive ao ler o caderno da PNA é que ele traz uma visão homogênea e reducionista sobre a Alfabetização ao destacar somente o método fônico, desconsiderando assim as contribuições dos outros métodos de alfabetização e de outras áreas do conhecimento que tanto contribuíram e contribuem nesse âmbito, como a sociolinguística, por exemplo.
ResponderExcluirObservei também, durante a leitura, que os idealizadores da PNA priorizaram os estudos e as concepções de Alfabetização advindos de outros países, os quais possuem realidades socioculturais totalmente distintas da nossa. Para além disso, fiquei me questionando sobre a expressão “evidência científica válida”, e cheguei a conclusão que só podem ser aquelas que comungam com a abordagem fônica e com os ideais políticos do governo. Até porque a senhora salienta no post que Magda Soares e Artur Gomes de Morais, dentre outros estudiosos, já destacavam muito antes da apresentação da PNA a importância do método fônico, porém os autores citados não são alinhados com o governo.
Contudo, acredito que não podemos minimizar a importância do método fônico no processo de alfabetização, ele é muito importante e auxilia, por exemplo, no despertar da consciência fonêmica e fonológica; ajuda a criança a compreender o princípio alfabético e as relações entre fonemas e grafemas. Entretanto, a ênfase na “instrução fônica sistemática” (correlações grafema-fonema), tomando o fonema (uma unidade tão abstrata - por ser a menor unidade sonora da fala) como ponto de partida é preocupante, pois pode-se levar a instrumentalização da aprendizagem do sistema alfabético.
Por fim, desejo salientar que eu não defendo um único método. Acredito em uma perspectiva de alfabetização mais conciliadora, no sentido de adaptar o ensino a realidade da turma, bem como, as particularidades de cada criança, de modo a contribuir para a sua aprendizagem. Ademais, independentemente da abordagem de alfabetização adotada pelo governo, o ideal é se investir em políticas públicas para a formação inicial e continuada dos educadores de todo o país.
Mariana Pereira de Santana Santos - EDCB85 (Diurno) - 2019.2
Oi, Mariana,
ExcluirO argumento que está na base de suas reflexões é muito pertinente, mas temos que diferenciar coisas aí. Uma coisa é destacar a importância de ensinar explicitamente as relações fonema-grafema e abordar a consciência fonológica, outra é defender método fônico. Magda e Artur não defendem o método fônico. Método fônico, como um pacote de procedimentos baseados em princípios que eles não comungam, não é o que destacam.
Não é só o método fônica que aborda a consciência fonológica e fonêmica, as capacidades metalinguísticas não são exclusivas do método fônico, eles não são donos desse conhecimento - isso é essencial para se compreender essa discussão.
Abordagem é abordagem, método é método, e procedimentos são procedimentos...
Muito menos o princípio alfabético! O princípio alfabético é um princípio do sistema de escrita, não de um método!!!!
"Desmisture" isso tudo na sua cabeça, senão vai ser uma bagunça só!
E saiba - tomar a consciência fonêmica e a instrução fônica como ponto de partida são procedimentos essenciais do método fônico, percebe? Não é isso que Magda e Artur defendem...embora defendam tudo isso aí que você falou.
Precisa desmisturar urgente!!!
E sim, abordagem única, método único, jamais dará conta da complexidade da linguagem e de seu ensino!
Olá, professora
ResponderExcluirApós percorrer os diferentes posts desse blog e das diversas leituras sobre a PNA (Política Nacional de Alfabetização), a nomeação de Carlos Nadalim como secretário de Alfabetização, percebo o quão ameaçada está a aprendizagem das nossas crianças que cursam os primeiros anos do Ensino Fundamental e Educação Infantil (exclusivamente 4 e 5 anos) perante os novos acontecimentos que circundam o cenário das políticas do MEC. Posto isso, surgem diversos questionamentos sendo que, um deles perpassa diante das vivencias e carreira acadêmica do então secretário. Como um indivíduo que possui a sua maior referência uma instituição privada de ensino pode pensar Políticas Públicas para Alfabetização? o resultado de tal acontecimento, será no mínimo excludente e limitado e assim acontece com o posicionamento explicitado pelo então secretário. As crianças que irão ser Alfabetizadas pelo método fônico defendido pelo Nadalim, em sua maioria, serão crianças que frequentam a Rede Pública de ensino, de classes sociais inferiores as que o secretário obteve contato, tornando assim inviável uma metodologia única em um país heterogêneo como o Brasil e com crianças que possuem diferentes especificidades, então cabe a nós educadores buscarmos identificar como a criança aprende cognitivamente e ter apropriação de diversos campos do conhecimento. Alfabetizar, portanto, não é receita de bolo e possui diversos aspectos que devem ser considerados, algo que fica claro com as contribuições que Emília Ferreiro [que desenvolveu a Psicogênese da língua escrita] argumenta que não desenvolveu um método, mas o Carlos Nadalim em suas vazias críticas aos construtivismo insiste em nomear uma teoria de método e invalida toda a sua contribuição para a aprendizagem das crianças. Enfim, devemos utilizar da nossa autonomia docente em sala de aula, ainda que seja um trabalho árduo e difícil. Optar sempre pelo estudo, nos embasar com um arcabouço de conhecimento diante dos métodos, abordagens e teorias que optarmos por utilizar em nossa sala , visando sempre as especificidades das crianças que frequentam as nossas escolas. Logo, a educação pública tem que ser discutida por pessoas que conhecem a realidade de um ambiente educador público e reconhece as carências que o chão da escola necessita. Embora as políticas públicas, atualmente,estejam retrocedendo.
Mônica Santos de Melo|EDCB85 (Diurno)- 2019.2
Olá, Mônica!
ExcluirO Secretário não está trabalhando sozinho...na verdade, deve ser um enfeite, cargo meramente político. Tem uma equipe de trabalho, composta ora de pesquisadores, de fato (ainda que com concepções diversas da que possamos defender) e outros nem tanto...(e nesse governo, e uns que são uma piada, mais para filme de terror).
O problema é que, de fato, todo esse governo está mirando os privilegiados, e não seria diferente no campo das políticas de alfabetização.
Mas você tem razão...a equipe que pensa a alfabetização hoje no MEC é composta por tudo, menos por educadores de fato, pois mesmo os que são pesquisadores de fato, são de áreas como psicologia, educação física, etc. A Pedagogia está tão ameaçada quanto está a educação em geral, a Universidade e a escola pública...Eis o nosso problema!
Tá barril - dizem os jovens. E está mesmo!
Professora
ResponderExcluirÉ nítido o descaso dado aos debates e estudos sobre alfabetização pelo atual governo, eles tentan fazer com que a sociedade fora da academia desacredite nos estudos dedicados a esse campo pelos pesquisadores e isso é uma forma estratégica para que seja implementada políticas que atuem a favor da hegemonia, a começar pelo desmonte, ataque às Universidades, assim eles irão pouco (não tão pouco assim) inserindo argumentos que vão contra ao que são pesquisados e assim abandonando os avanços que estudiosos vem tendo no campo da Alfabetização, ainda que em desacordo, como a senhora cita, entre uns e outros, mas a atuação do MEC no plano atual indica, pelo que li, que qualquer método que fuja do que eles aprovem , não receberá verbas do governo. (Fascismo)
Não há muito o que esperar quando quem eles tem ao lado para pensar uma política séria seja um Youtuber que negocia educação. A mercantilização da educação é um passo para que um governo fascista atinja seu objetivo de retroceder políticas e diminuir o nível de alfabetizados no país assim como leitores assíduos e com a produção de analfabetos funcionais aumentam suas chances de permanecer no poder dentro de uma "democracia".
Lamentável.
Ana Paula de Jesus Nunes - Matutino
Alfabetização e letramento
Sim, eles usam de estratagemas muito bem pensados e articulados, mas totalmente falaciosos, fake, para angariar descrédito e até animosidade do público leigo com o campo da alfabetização - aliás, já mostram bem explicitamente como odeiam a educação em geral, não é?
ExcluirLamentável mesmo.
A mercantilização da educação não começou com eles, é uma força crescente, mas tomou ares, aqui e agora, de uma disputa predatória que está destruindo tudo, inclusive as políticas públicas, o Estado, que, bem ou mal, ainda freava a total dominação do país pelo mercado.
Muito lamentável!
Quando temos um ministro que declara: "Queremos começar no ano que vem. Assim que as crianças voltarem às aulas vão ter uma surpresa"
ResponderExcluirSem declarar como as coisas funcionarão e sem apresentar seus dados científicos já temos uma parcialidade, diferente do que os mesmos declaram, para além disso professora, recentemente alguns dos grandes nomes foram exonerados, reafirmando o descaso, para além dos descasos com as pesquisas, pensadores e educadores.
Vale mais nesse governo importar ideologias e palavras e nos dizer que o problema está nos olhos de quem lê, ops, de quem vê!
Ana Paula de Jesus Nunes - Matutino
Alfabetização e letramento
Nesse governo, Ana Paula, dizer que as crianças terão uma surpresa parece quase uma ameaça...Eu heim?!
ExcluirEles não têm uma política ainda...ainda é impossível vislumbrar a implementação... Na verdade, têm só abordagem teórico-metodológica e pontos vagos de implementação, que mais dão medo do que esperança de surpresa boa...
Infelizmente, a tosqueira do governo está em todo lugar...com a alfabetização não seria diferente, não é?
Este governo está submisso a interesses externos, não basta a pouca sutileza no desmonte das estatais, no entreguismo vexatório. Fazem questão de deixar bem claro que não temos direito ao melhor do ensino, que quanto menos melhor. Pra que formar sujeitos críticos capazes de tomarem melhores decisões? A educação pública brasileira é um projeto que está fadado ao fracasso, já dizia Darcy Ribeiro. Mas não por nós, será que teremos forças suficientes para enfrentar um governo tão maligno? Eu espero que sim, porque um dia foi nos dado o direito de pensar, foi nos proporcionado melhores condições e estudo e apropriamos do melhor do conhecimento e esse ninguém nos tira! Nos deram melhores formadores e esses estão aqui fazendo sua parte, trabalho de formiga que vai espalhando, espalhando!
ResponderExcluirEssa PNA é o retrocesso, retomando uma educação tecnicista e engessada. Não existe um método de ensino que solucione todas as respostas de um formador, que o oriente, que o medie para ser um exímio mediador. Precisamos ser pesquisadores, precisamos questionar nossas próprias verdades. Magda Soares disse em sua última Live que ela sempre tem dúvidas, elas nos levam aprender mais e mais. Como acreditar numa PNA ditadora de um método que não é método? Que não valoriza autores pesquisadores brasileiros e ainda afirmam que estes não existem? É algo inadmissível.
Thailcy EDCB85
Pois é, Thailcy! Mas é bem coerente com esse governo de tantas coisas inadmissíveis, mas que estão aí, né?
ExcluirSigamos fazendo a nossa resistência! Sempre! E defendendo nossa função docente, também assaltada por uma instrumentalização técnica ao extremo, que quer nos tornar mero aplicadores de prescrições externas a nosso fazer, impondo um viés único e reducionista.
Sigamos na resistência! Sigamos Mafalda na vida!
Em algumas pesquisas que fiz sobre alfabetização encontrei o método fônico como o mais indicado, mas foi muito interessante ver que há um intenção de torna-lo o único. Achei muito interessante no texto quando demonstra perceber a relevância do método fônico, mas não como suficiente para suprir todas as questões que envolvem a alfabetização. Por essas breves pesquisas que fiz percebo que concordo, como dito em aula " não se tem uma receita" acredito que seja da relação do método que o professor acredita com aquele melhor para seu aluno. Vanessa Santos - EDCB85 T01
ResponderExcluirSim, Vanessa...agora, acolher a dimensão fônica não é o mesmo que acolher o método fônico, pois esse último tem prescrições que vão de encontro à perspectiva que defendo, pois parte já de uma instrução fônica prévia, como ponto de partida, quando defendo a perspectiva que vê isso como a culminância de um processo que envolve reflexões anteriores, até a criança poder compreender, de fato, a segmentação fonêmica. Também tomam como consciência fonêmica o estudo do fonema isolado e a segmentação da palavra em fonemas e contagem dos fonemas como aspecto imprescindível à alfabetização - o que vai de encontro totalmente aos estudos que baseiam outras perspectivas. Ou seja, há uma diferença entre considerar a consciência fonológica e o ensino sistemático do funcionamento fonêmico, por um lado, e defender o método fônico. O método fônico, enquanto prescrição de passo a passo que não considera os sujeitos de aprendizagem, esse é outra história...
ExcluirDebate importantíssimo que incitou em mim a feitura de uma análise crítica acerca do viés ideológico trazido na PNA. O caráter neoliberal vem de uma maneira latente, ainda que nas entrelinhas.
ResponderExcluirNão existem e não se devem existir verdades únicas, e no caso da educação, métodos únicos. Se isso for de fato posto em prática apenas irá aumentar as desigualdades. Está claro que o método fônico apenas não abarca todas as especificidades do processo de alfabetização, então temos que ter cuidado com uma política pública de tamanha amplitude que defende a utilização de apenas um único método como o correto e que irá resolver todos os problemas educacionais no âmbito da alfabetização. Isso é uma falácia e temos que prestar atenção das reverberações disso nas escolas, em especial nas escolas públicas. É preciso que sejam respeitadas as diversidades de concepções e metodologias, respeitando o que cada estudo pode trazer de contribuição para esse âmbito.
Marina Barretto EDCB85
Isso aí, Marina!
ExcluirA mercantilização da educação, com um viés neoliberal, não veio com esse governo, tem se instalado progressivamente desde os anos 90, ao menos. Mas nesse governo, aliada a uma visão ultraconservadora, altamente ideologizada, nos fez chegar nesse ponto de instrumentalização do ensino e artificialização da linguagem.
E tem docentes achando ótimo! Precisamos desvelar o que está por trás...
Sigamos!
Professora Liane, a senhora foi muito feliz ao afirmar que a PNA tenta passar uma ideia de neutralidade, mas que na realidade ela não é neutra. Foi exatamente essa a minha sensação ao ler o caderno da PNA. A desculpa de estar embasado em "evidências cientificas" tentava esconder as escolhas politicas, ideológicas e de concepções de alfabetização feitas para a construção dessa política pública. A PNA age de forma desrespeitosa com todos os estudiosos que se dedicam a pesquisar sobre esse campo, negando a validade de suas contribuições. Ela também desrespeita o próprio campo da alfabetização, por tentar reduzido e simplifica-lo, escondendo e negando a sua complexidade. E baseada na sua fala neste texto, já que eu não conhecia as ideias da ciência cognitiva da leitura, me parece que a PNA desrespeita até a perspectiva que diz defender, já que nega os conflitos entre as pessoas que defendem essa perspectiva e faz um reducionismo( ou talvez uma interpretação "maldosa" mesmo) das ideias, conceitos e visões da ciência cognitiva.
ResponderExcluirAlém disso, a PNA se apresenta como a solução perfeita para os problemas de alfabetização no Brasil... Como pode alguém achar que num país desigual como o Brasil, com problemas de infraestrutura das escolas, com altos índices de trabalho infantil, uma única politica pública que se dedica a definir apenas questões pedagógicas, de ensino aprendizagem, será capaz de resolver tudo?
E, por fim, queria dizer que parece que as pessoas que escreveram a PNA quiseram se mostrar tão estudiosas, tão embasadas cientificamente que esqueceram de estudar as politicas de alfabetização anteriores, porque é um absurdo que além de negarem todas as outras perspectivas, eles ainda tiveram a coragem de colocar como novidade aspectos que já estavam presentes na PENAIC, sem se quer citar esse documento e as pessoas que contribuíram com a sua construção. Mas é como a senhora bem disse, eles só aceitam o pacote todo... tem que ser tudo do jeito e dentro da perspectiva deles.
celly Damasceno- EDCB85
Pois é, Celly, é revoltante mesmo.
ExcluirA perspectiva fônica embasada na ciência cognitiva é uma entre as concepções de alfabetização, que, claro, como qualquer concepção, tem bases epistemológicas e políticas em seus alicerces. Podemos debater, questionar e, no caso de resultados de pesquisas da ciência cognitiva, contextualizar, interpretar, reconfigurar com base em outras concepções. Mas aí, é outra coisa. Usam o que interessa para validar, muitas vezes de modo muito enviesado, e atravessar a aparente neutralidade de uma visão altamente ideologizada.
Um desrespeito jamais visto ao campo da alfabetização.
Obrigada Liane, pelo debate proporcionado em seu texto!
ResponderExcluirConfesso que havia comentado nos fóruns sobre a PNA no AVA a respeito dos termos “eficiência e eficácia” antes de ler o seu post, no qual, são utilizados no documento. Fiquei entusiasmada, pois, vi que estou no caminho certo em minhas reflexões sobre a PNA rsrs
Tais termos revelam a concepção da escola como empresa, pois na área de administração são muito utilizados esses termos para falar sobre o processo operacional e corporativo, apresentando uma concepção de educação muito difundida por aí, que tem o professor/diretor como gerente e os alunos como clientes.
A PNA considera a língua como um código a ser decifrado, negligenciando as práticas situadas dos alunos. É possível observar que o documento considera a língua como algo somente escolar, como se não fosse praticada em todos os espaços sociais, banindo a língua como prática social, no entanto, mesmo focando no sistema alfabético, o documento o reduz, banindo sua complexidade e apropriação necessária. Visto que, todo texto expressa alguma comunicação. Se apropriar do sistema alfabético é o cerne do documento, deixando de lado o que Emília Ferreiro propunha em sua pesquisa sobre o desenvolvimento da escrita, que diz que, a criança pensa; cria hipóteses; reflete e constrói sua aprendizagem ao seu tempo, com o professor como mediador/estimulador e não facilitador desse processo.
Os idealizadores do documento não se preocuparam em apagar toda pesquisa e trabalho anterior e contínuo sobre a alfabetização e o letramento, tanto no campo nacional, como no internacional. Como apresentado no post, tentam forçar uma imparcialidade que não existe, colocando sua concepção/verdade como única e própria para romper com as desigualdades e analfabetismo no Brasil.
Heloisa Santos - EDCB85 - Diurno
Ótimas ponderações, Heloisa!
ExcluirEstou entusiasmada com o modo que vocês estão expressando interesse e boas reflexões sobre a temática.
A lógica empresarial está tomando conta da educação...não de hoje, mas hoje está num nível bem agressivo.
Ótimo texto professora. Ficou bem explícito o quanto é problemática a PNA, o que ela vem promover não é um avanço que tanto o campo da alfabetização precisa, mas sim um retrocesso/descompasso imenso na abordagem da prática alfabetizadora. Esse governo perdeu a oportunidade que teria de construir juntamente com os sujeitos presentes no campo da alfabetização uma política que abrangesse as diversidades metodológicas e de concepções, mas preferiu claramente engessar tudo e todos dentro da perspectiva da abordagem fônica, essa sendo apresentada como a “salvadora da pátria”, como o caminho verdadeiro e único que levará magicamente ao sucesso no desenvolvimento da alfabetização, enquanto os professores e pesquisadores do campo e as discussões e materiais ao longo dos anos são simplesmente ignorados. É preocupante porque felizmente pra gente e infelizmente pra eles somos uma sociedade diversificada, inúmeros sujeitos, pluralidade cultural; indicar um caminho específico a seguir vai contra a realidade, é algo fadado a criar mais problemas. Por isso essa discussão e esclarecimento sobre essas políticas públicas se fazem cada vez mais necessário, compreender e ficar atento as intencionalidades presentes nessas propostas é essencial.
ResponderExcluirÉrick Reis Carvalho - EDCB85
Exato, Érick!
ExcluirSó que eles não escolheriam mesmo esse caminho, então, nem podemos falar em oportunidade...Na verdade, eles estão sendo aí bem coerentes com o que estão fazendo em todas as áreas da vida em sociedade - política, educação, artes, tudo! O desmonte é geral, como sabíamos que seria... Mas, cabe a nós, em cada área, seguir fazendo frente a isso.
Se colocar como “salvadores da pátria”, com sua ideologia ultraconservadora, também no campo da alfabetização, é super coerente dentro da lógica deles, não é?
Sim, precisamos ficar bem atentos! E fico feliz de ajudá-los a ver isso tudo, no específico do campo da alfabetização.
Muito importante a discussão deste documento!!
ResponderExcluirquem dera que esse debate alcançasse a todos os envolvidos com a educação, pois muitos não têm conhecimento das diferentes concepções que compõem o campo da alfabetização, e acabam caindo nessa proposta que se apresenta de forma tão atrativa, se colocando como a solução simplificada do problema com a alfabetização no país.
Como a senhora disse, e é um dos pontos mais críticos desse documento, considerar o campo da alfabetização (o que é complexo e envolve tantas questões não só pedagógicas) através de uma dicotomia (isso ou aquilo) apresentar-se como a solução desconsiderar, além dos pontos levantados, os sujeitos alunos e os sujeitos professores.
Desconsidera o sujeito aluno, uma vez que valoriza apenas seu aspecto cognitivo, reduzindo o indivíduo cheio de experiências, curiosidades e potencialidades a serem desenvolvidas, apenas aluno que absorve o que ele é ensinado de forma sistêmica, descontextualizada e abstrata.
Desconsidera também os sujeitos professores, pois prescreve o que deve ser ensinado como deve ser ensinado e como deve ser avaliado. Dessa forma o professor passa a ser o executor das prescrições (receita dada), volta a ser também a centralidade do processo de aprendizagem pois toma lugar de detentor do conhecimento para escrito, porém quando essas estratégias não dão certo é atribuído também aos professores o fracasso escolar.
Geisiane Cardoso, EDCB85 - Diurno.
Sim, Geisiane...muitos(as) professores(as) caem direitinho nessa armadilha. Por isso, faço questão de discutir esse panorama com vocês. Aliás, é por isso mesmo que eu escolho falar de alfabetização no nosso componente (bem como em outros contextos) pelo viés das diferentes concepções de alfabetização. Ou seja, penso que o caminho mais potente é tematizar essa dinâmica de conflitos, tensões e diálogos - no campo teórico e político da alfabetização - para que vocês possam aprender a analisar qualquer coisa sobre alfabetização considerando esse contexto. Por isso escolho não falar de apenas um lugar único, como se não houvesse tensões, por isso declaro ser a concepção que abraço também uma concepção. Acho que isso é uma responsabilidade e um compromisso com a formação de vocês.
ExcluirE acho que está dando muito certo!
Pertinente demais esse texto Professora!
ResponderExcluirA reflexão que deixa é justamente de que a falta de conhecimento gera consequências graves, a PNA para muitos pode parecer um documento que vai acabar com os problemas do analfabetismo no Brasil, mas essa política desconsidera as diferentes concepções de alfabetização e exclui a importância do letramento na vida das crianças, é muito triste ver a alfabetização, que é um aprendizado fundamental na vida escolar sendo tratada como uma mercadoria a ser vendida como solução, uma solução que utiliza de uma barreira que já vem sendo quebrada, a sistematização, e a pedagogia como um conceito embasado transmissão de informações. Ou seja, cada vez mais precisamos atuar em um quadro que busque melhorias na formação de professores qualificados para a democratização do ensino que respeite cada etapa de aprendizagem do aluno, trabalhando nas suas dificuldades e desenvolvendo suas habilidades.
Helena Tavares Sordi, EDCB85 - Diurno
ExcluirObrigada, Helena!
ExcluirA educação está se distanciando de sua essência ligada à democratização do conhecimento, ao compromisso com a justiça social e a formação plena dos sujeitos, caminhando para uma vertente de educação para o mercado.
É preciso compreendermos esse cenário, pois ele se embrenha em todos os campos da educação: currículo, didática, formação docente, recursos didáticos, tudo! E a alfabetização idem, pois tem um forte apelo nos interesses empresariais neoliberais. E isso extrapola esse momento político ultraconservador. Acirrou-se nele, mas vem de antes e seguirá depois dele.
Eis uma problemática que é parte de nosso tempo...
Eu gostaria muito que outras pessoas tivessem acesso a esses matérias, sobretudo, a esse texto tão esclarecedor, professora. É perceptível as problemáticas que há na PNA. De fato, é um retrocesso imenso. E visa uma perspectiva completamente divergente do projeto de Magna, mesmo sendo, atualmente, uma das educadoras mais importante desse país, sobretudo no tema de Alfabetização e letramento. É assustador que, mesmo diante de diversas pesquisas, estejamos seguindo um caminho árduo e de várias incógnitas. É preciso ouvir, ler, debater mais... e, como é claro nessa PNA, isto não foi feito.
ResponderExcluirPois é, Walisson! E além da perspectiva de Magda Soares, temos muitos pesquisadores importantes de outras concepções, trazendo discussões potentes para o campo da alfabetização, todos completamente ignorados nessa política que que silenciar essas vozes e instituir uma suposta verdade única que o campo todo questiona.
ExcluirSigamos estudando, resistindo, divulgando!
É revoltante se deparar com um cenário como este na educação, depois de diversos estudos dentro e fora do país ainda temos representantes que não enxergam a necessidade de diversificar o espaço de aprendizado. A alfabetização é algo amplo e a todo custo deve ser pensada como um processo plural e diverso pois é assim que são @s estudantes. É clara a deficiência desta política, só não enxerga quem não quer ver.
ResponderExcluirEmanuelle Cavalcante- pedagogia diurno
ExcluirRevoltante mesmo!
ExcluirE tem muitas/os professores/as que não veem mesmo! Ufa!
Texto engradecedor, professora! Realmente, a PNA representa, ao contrário do que diz ser, um enorme RETROCESSO na alfabetização no Brasil. É muito triste e desmotivante ver que décadas de pesquisa em alfabetização no Brasil foram jogadas fora em nome de uma ideologia. Esse projeto está longe de ser imparcial! Só alimenta, por vias explícitas e implícitas, o projeto de nação idealizado pelo governo em gestão, que em nada condiz com a realidade e as verdadeiras necessidades de nosso povo. A língua é reduzida a um código, o professor é reduzido a um transmissor, os alunos são reduzidos a receptores, e com tudo isso a construção do conhecimento é limitada. Se a alfabetização é precarizada, quem dirá o letramento! Mas faz sentido eles proporem essa política: realmente, o que menos querem é um povo letrado e crítico. É indignante, mas não devemos desistir: isso é exatamente o que eles querem! Resistamos a essa PNA em nome de um projeto que realmente leve em consideração as pesquisas na área de alfabetização e os fatores socioculturais e políticos da realidade de cada aluno, bem como de suas demandas individuais, e que vise não só a alfabetização, mas também o letramento e o desenvolvimento da criticidade!
ResponderExcluirEDCB85, diurno - Maria Victória Purificação de Castro Neves
É isso aí, Victória!
ExcluirUm retrocesso absurdo, mas coerente com a perspectiva ideológica, conservadora e contra tudo que seja "social" desse governo.
Ao ler a PNA na íntegra, tive a impressão de que se tratava apenas da adoção de uma perspectiva teórico-metodológica particular em detrimento de outras, da mesma forma que ocorre com outros pesquisadores no meio acadêmico, pois as diferentes concepções e abordagens de conhecimento não são equanimemente apresentadas. Cada professor-pesquisador "pesa a mão" naquilo que mais se afiniza e as nossas escolhas enquanto estudantes passam a ser orientadas também com base no que os nossos orientadores escolheram. Isso se equilibra no conjunto da universidade, mas nem sempre temos a oportunidade, individualmente, de aprofundar os conhecimentos sobre cada linha de pesquisa. O curso fica com a cara das escolhas da maioria dos docentes. Minha formação como professora, por exemplo, foi construída a partir do sociointeracionismo, com o qual me afinizo, mas ainda quero saber como funcionam outras abordagens de ensino.
ResponderExcluirEntretanto, ao ler o post da professora Liane, observo duas importantes características: 1º A professora busca, de fato, apresentar um panorama mais equilibrado das abordagens sobre alfabetização e letramento 2º A experiência e os estudos da professora demonstraram que as escolhas que movimentam a PNA não são despretensiosas, nem se tratam apenas de uma mera negligência epistemológica. Ao que parece, escolheram uma concepção que facilita a aproximação com o tecnicismo e a deturparam conforme os seus valores, não só excluindo outras concepções, mas alterando aquelas mesmas que escolheram, em razão de seus próprios interesses. É um problema ético bastante grave, que tem implicações na vida de pessoas, pessoas em processo de formação.
Muito bom seu comentário, Tamires.
ExcluirMesmo que tenhamos nossas convicções e sendo natural que escolhamos uma visão teórica e epistemológica de base (porque também não se trata de misturar tudo inadvertidamente, coisas que, epistemologicamente e politicamente nem sempre podem ser combinadas), mesmo assim, em contexto formativo, é preciso que a gente não se feche numa bolha como se fosse a única perspectiva possível, é preciso mostrar o panorama dessas concepções em disputa. É o que tento fazer, contribuindo com a formação de vocês para analisar esse campo de forma multidimensional e complexa.
É claro que precisamos ter nossos princípios, nossa concepção de base para guiar a nossa prática, e que façamos escolhas didáticas fundamentadas nessas bases, coerentes com nossa perspectiva mantendo a coerência interna.
Mas mesmo tendo nossa perspectiva, o guia de uma concepção (o que é normal), devemos sempre saber que falamos dessa perspectiva, ou seja, saber que é uma concepção e que vê as outras desse ponto de vista.
Saber o todo, fazer o elefante - como discutimos a partir da fábula dos cegos e o elefante-, é ao mesmo tempo, tanto poder entender que diferentes facetas exigem diferentes visões (por vezes mais enfatizadas por uma ou outra concepção), quanto sermos instigado a, dentro da nossa concepção, tentar dar respostas a essas diversas "partes" que fazem o todo. Porque é fácil defender uma faceta, teorizá-la, levar essa bandeira, silenciando sobre outras facetas, né?
Se eu consegui trazer esse panorama para vocês, já fico muito satisfeita!
Gente, esse "unknow" aí respondendo a todos/as sou eu, Lica, dona do blog. Depois que a UFBA fez parceria com o Google, agora embaralhou tudo e quando está logado na conta ufba acontece isso. Saco!
ResponderExcluirÉ preocupante ver como os interesses políticos estão acima da importância de uma educação de qualidade. Desconsiderar o termo letramento é ignorar as contribuições e todos trabalhos desenvolvidos por pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam para melhoria do processo de ensino -aprendizagem, como por exemplo, a professora Magda Soares.
ResponderExcluirJociclecia Almeida
Jociclecia,
ExcluirSim, é isso mesmo. Mas como esse comentário faz parte de nossa atividade do componente, gostaria de vê-la aprofundar mais as suas reflexões...
Vamos lá?
Ótimas reflexões “Sobre a PNA” Professora Liane, percebe-se que há retrocessos nas políticas públicas para o campo da Alfabetização, pois, á PNA - Política Nacional de Alfabetização implantada através de um decreto em abril de 2019 pelo atual governo federal, baseia-se em pesquisas e teorias importada que desconsidera as desenvolvidas no Brasil. Além dessas questões, outro fator é a imposição do uso apenas do método fônico como a única metodologia para alfabetizar, desconsiderando as condições sociocultural, sociopolítica, socioantropológica, intelectual dos estudantes. Consequentemente, esses fatores causa impactos devastadores tanto para os educandos como para os educadores que estão sendo silenciados, invisibilizado, desvalorizados, passando á ser reduzidos apenas como executores. Por fim, essas políticas públicas vem:
ResponderExcluir[...]reduz a educação a uma instrumentalização técnica dos sujeitos numa sociedade mercantil, meritocrática e neoliberal. A educação em seu sentido “essencial”, social e humanista, visando à formação de sujeitos pensantes, críticos, e a alfabetização e letramento vinculados às oportunidades desses sujeitos em lidar com as diversas práticas sociais de leitura e escrita da sociedade em que estão inseridos, parece bastante ameaçada – sabemos disso. Com isso, minimizase o papel da escola, numa sociedade com tamanhas desigualdades sociais, e em um tempo em que descobrimos que os ideias de justiça social, respeito à diversidade e aos direitos humanos não estão garantidos. (ARAÚJO, 2019).
ANAILZA SANTOS - EDCB85-T02-ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
O texto da PNA, embora não cite o método fônico, indica pilares que são alinhados aos aspectos valorizados por esse método. Diferentemente do Caderno da PNA em si, programas e produtos que dela se derivam, por sua vez, trazem, explicitamente, procedimentos não apenas dos métodos fônicos, mas de um tipo bem antigo, mecânico e sintético.
ExcluirApoiar a PNA é ser conivente com o retrocesso que este projeto implementado por meio de um Decreto, nº 9.765, será capaz de fazer. A PNA foi imposta de forma autoritária e defende apenas um único método como correto, acabando também com as concepções de letramento que foram desenvolvidas nos últimos anos aqui no Brasil. Sem contar que a base das pesquisas que vão sustentar a PNA não condizem com a realidade do nosso país.
ResponderExcluirOutro ponto é a substituição do termo “letramento” pelo termo “literacia”, que quer dizer muita coisa nas entrelinhas do processo que estamos vivendo.
Esse texto é muito esclarecedor e a PNA deveria ser discutida de forma que toda a população pudesse compreender a real intenção deste decreto. Infelizmente o que parece ser bobo pode deixar estragos imensos na educação brasileira. A PNA almeja varrer a diversidade dos métodos de alfabetização e as suas riquezas. E um Estado sem diversidade vai ocasionar também na falta de pensamento crítico da população. O final disso tudo nós já sabemos, a história está aí e não nos deixa mentir..
Professora, eu não sei o motivo do nome ter ficado assim.. rs
ExcluirVinícius Lima - Pedagogia Noturno 2021.1 - EDCB85 T02
Oi, Vinicius, assim como? Seu nome aparece correto para mim.
ExcluirExato, não podemos, por um lado, subestimar os alcances dos estragos que podem fazer, a despeito do tanto de absurdo e bobo que parece. É um governo que sabe usar o "pateta" tosco aliado ao ataque agressivo e destruidor, com muitos estratagemas por trás, inclusive usar o tosco e pateta, seja para angariar aliados cretinos fundamentais (como dizia Nelson Rodrigues), seja para funcionar como cortina de fumaça.
Mas por outro, podemos também confiar que o campo da alfabetização é bastante organizado no Brasil, e há de retomar as rédeas disso. Por enquanto, sigamos na luta, na resistência, firmes desmascarando esses falsos "profetas" da ciência.
Tem ações que por si só já deixam explícitas quais são as verdadeiras intenções,ficando evidente com a PNA(Política Nacional de Alfabetização) que foi instituída por decreto de forma impositiva sem nem sequer deixar margem para debates e aprofundamento sobre o tema(mesmo com as pesquisas já existentes e ainda em pauta referente ao tema).
ResponderExcluirA alfabetização é um campo de muitas disputas e pouco consenso, mas não deixa de ser importante estar atentos aos estudos e pesquisas, pois elas que podem conduzir para uma melhor forma de alfabetizar e refletir sobre as práticas docentes.
Nota-se que o governo desconsidera as pesquisas feitas em território nacional que abrangem as diferentes metodologias e concepções para destacar as pesquisas internacionais, estas que não condizem com a nossa realidade.
O documento se constitui com base na perspectiva da abordagem fônica, a única capaz de atingir os objetivos estabelecidos pelo documento reduzindo a educação que visa a formação do sujeito pensante, crítico e que reflete sobre o mundo para formar sujeitos que atendam as necessidades apenas do capitalismo.
Com isso, menosprezam o papel da escola, das diversidades existentes nesse espaço, aumentam as desigualdades sociais e por fim descredibilizam a função do docente, promovendo o sucateamento sistemático da educação básica até o ensino superior.
ELIEIDE NERES DOS SANTOS ROCHA , Pedagogia Noturno, EDCB85 T02
Isso aí, Elieide.
ExcluirMas faço adendo, eles consideram apenas as pesquisas internacionais que se alinham a sua perspectiva, pois há pesquisas e pesquisas. E ainda assim, consideram dessas pesquisas da perspectivas que abraçam apenas os dados que reforçam o que querem defender, pois muito do que propõem não acha respaldo nesse referencial, e se acha em alguns autores, não é unanimidade, pois mesmo dentro de um mesmo referencial - no caso, a ciência cognitiva da leitura - não há unanimidade. Essa ideia de verdade última e única é um falseamento do que de fato se passa no campo científico! Muito mais complexo e dinâmico do que essa coisa chapada que apresentam para validar suas escolhas mecanicistas de ensino.
Este post esclarece bastante o que está (estava) nas entrelinhas da PNA, os disfarces por trás de uma bela propaganda e suas "boas" intenções de salvar a alfabetização em nosso país.
ResponderExcluirA Política Nacional de Alfabetização foi construída baseada na abordagem fônica e referenciada em pesquisas da ciência cognitiva. Durante todo o documento da PNA, é possível ver o real apagamento as tantas pesquisas brasileiras sobre a alfabetização, suas concepções e práticas, pois eles só falam de pesquisas estrangeiras, trazendo uma "salvação" para o nosso país exportado de uma realidade diferente da nossa, em vários contextos. Eles fazem questão de dizer que utilizaram como base os estudos estrangeiros por saberem que de modo geral, o povo brasileiro dar crédito (muitas vezes até demais) as pesquisas de fora do nosso território nacional do que os nossos próprios estudos.
É possível perceber que, das referências usadas para a realização do documento, eles só utilizam o que é do interesse deles (do governo, MEC...). Sabemos como é grande a discussão em torno do campo da alfabetização para saber qual concepção é a mais verdadeira, a que mais traz resultados e cada educador terá a sua opinião. A PNA escolheu defender a todo custo uma única perspectiva que é a abordagem fônica, silenciando totalmente o letramento e a diversidade e complexidade da alfabetização, eles se acham no direito de impor no processo nacional de alfabetização a mesma abordagem, uniformizando e desconsiderando as diferenças regionais, culturais, históricas e a autonomia das professoras e dos professores juntamente com suas gestões.
Eles querem sistematizar o ensino, treinar nossas crianças. Buscam uma única salvação, em curto prazo, instrumentalizando a educação e, ao invés de proporcionar formações continuadas de qualidade aos nossos professores, disseminam meras reproduções e se agarram nela, deixando de considerar as outras demandas pertinentes no processo de alfabetização além das questões relacionadas a problemas estruturais, institucionais, desvalorização de professores dentre outros tantos problemas que afetam diretamente na Educação.
Liara Maria Martins - Pedagogia Noturno 2021.1 - EDCB85 T02
Perfeita colocação, Liara! Precisamos estar de olhos bem abertos para a verdadeira intencionalidade da PNA e o que esse Estado quer formar.
ExcluirE nem é apenas desconsiderando o letramento, Liara. É fato que é preciso também abordar o ensino da escrita alfabética, o funcionamento do nosso sistema de notação da língua. Mas o modo de fazê-lo não precisa ser, necessariamente, esse. Além da alfabetização no contexto de letramento (ou das práticas de leitura e escrita, da cultura escrita), o modo de aprender e ensinar o sistema pode ser reflexivo, significativo, lúdico e letrado, ou seja, referenciado em práticas sociais. O sistema de escrita é um instrumento cultural - isso já dizia Vigotsky! É muito mais potente do que letras e sons isolados, ensinados como formas abstratas, sem relação com nossa vida sociocultural.
ExcluirTexto muito necessário!
ResponderExcluirO argumento da PNA sobre como a ciência cognitiva da leitura irá melhorar a alfabetização do nosso país é completamente insuficiente e simplista. A impressão que eu tive ao ler o documento é que o estudante é um sujeito completamente passivo, e o professor o sujeito ativo que vai aplicar um único método com o objetivo de desenvolver habilidades.
O documento desconsidera totalmente a participação do estudante no processo e torna nós professores apenas aplicadores de métodos. Como se um único método fosse dar conta da pluralidade de contextos e vivências que se insere as pessoas do nosso país.
É muito triste ver essa nova ciência sendo colocada totalmente desvinculada das pesquisas, estudos e avanços que tivemos no campo da alfabetização e letramento. Um grande retrocesso!
A visão de professor também é muito reducionista, Larissa. Longe de um ser ativo, no sentido de ser um intelectual que pensa a educação, que percorre trajetos autorais, que constitui sua prática com autonomia fundamentada. Ele é visto como um aplicador de prescrições. Esse governo não gosta de professores! Um horror!
ExcluirRealmente, para o exercício da práxis na educação, no contexto da alfabetização não é viável a utilização de uma única abordagem, pois representa a exclusão das demais e a fundamentação de um contexto mais excludente para os alunos ou instituições que possuam algum empecilho a abordagem fonológica da maneira em que é abordada. Compreendo que o desenvolvimento da consciência fonológica, o processo de decodificação entre os sons e a representação gráfica destes, a aquisição do letramento e da leitura automática são partes importantes do processo de alfabetização e são de certa maneira contemplados pelo método fônico, assim como a relação fonema-grafema. Mas estes aspectos também estão presentes em outras abordagens! O que leva a crer que a abordagem fônica é uma estratégia planejada e adotada com objetivos maiores a plena alfabetização dos brasileiros através do PNA... E sim um planejamento, uma estruturação para um projeto de educação. E como disse Darcy Ribeiro: "A crise da educação no Brasil, não é uma crise; é um projeto".
ResponderExcluirLua, preciso saber se você é Luana do componente EDCB85...
ExcluirLua,
ExcluirNem tudo que é nomeado da mesma forma é a mesma coisa, e nem tudo que é nomeado diferente são coisas tão diferentes. A consciência fonológica pode ser entendida de diversas formas, até mesmo confundida com consciência fonêmica, e pode ser desenvolvida em contextos completamente diversos de proposições mecânicas do método fônico sintético, tal qual está sendo com a implementação da PNA. Mas discutiremos mais sobre isso ainda...
Olá professora
ExcluirMuito interessante o seu texto sobre essa temática. Ainda estou aprofundando nas reflexões sobre o PNA e suas implicações. Contudo, percebo o quão é acirrada as disputas de poder no campo da alfabetização. Mas o que mais me marca sobre a questão da PNA é o apagamento proposital de todos os pesquisadores e suas linhas de pesquisas já construída sobre o tema no país. O estrangeiro será sempre mais valorizado?
Sigo em minhas leituras para aprofundar sobre o tema!
Muito prazeroso ler o seu texto! Avante!
Alice Matos EDCB85
Pois é, Alice...eles só validam o que vem de fora, torcem o nariz para quase todos os pesquisadores brasileiros - a não ser os da panelinha deles, desconsideram - e desrespeitam mesmo - o campo da alfabetização no Brasil.
ExcluirEngraçado é que alguns autores estrangeiros que eles usam como referência, se referem positivamente e cientificamente a autores que, aqui, eles rechaçam... É de se pensar, não é?
Professora Liane, seu texto realmente nos provoca a refletir sobre o que está sendo feito com o campo da Alfabetização no Brasil.
ResponderExcluirNão dá mesmo para defender um método único simplesmente se observarmos a imensa diversidade que a nossa língua engloba. Se é um abordagem que leva em conta evidências científicas, jamais deveria ser traduzida como “verdade absoluta”, porque no alcance da ciência a verdade absoluta não existe. Todo conhecimento científico é plausível de contestação, atualizações, novas descobertas, até mesmo antigas “verdades” podem ser convertidas em pilhérias. Mas não é tão difícil entender o porquê dessas alterações na política de alfabetização, considerando que as escolas a cada dia mais são vistas como negócios, como fonte bastante rentável para alguns segmentos, e mais, como o ambiente em que se pode propagar a ideologia (mesmo que oculta) do governo quando pensamos na rede pública.
Eles dizem trazer o conceito de alfabetização mas desprezam o letramento que, para bem do enriquecimento educacional das crianças, deveriam andar de mãos dadas... Algo que também me chama a atenção é o fato de um documento que traz uma política pública enfatizar “a preocupação que o governo federal tem para com todos os brasileiros”. Em algum momento durante minha trajetória escolar compreendi que políticas públicas não devem estar atreladas a governos, passando uma ideia eleitoreira.
E quando essa política vem jogando fora tudo que já vinha sendo produzido, desconsiderando os avanços já conquistados, é como se a produção nacional que vai de encontro às suas ideias não tivesse valor algum. Ainda enaltecem a produção estrangeira, com sua capacidade de pinçar algo que lhes interessa em documentos americanos, ingleses e franceses para justificar as imposições sobre o que se pratica nas salas de aula brasileiras.
A alfabetização é um processo complexo que não pode se “resolver” com uma solução simples e única, desconsiderando as demais vertentes que poderiam dialogar com o que se está propondo afim de chegar a algum consenso. Mas essa política que estamos enfrentando desconhece o diálogo com o diferente, dialoga (e se chega a tanto!) apenas com seus pares.
E quem está na ponta é que sofre o ônus dessa falta de diálogo; o professor, que está na sala de aula com as crianças pequenas, e muitas vezes precisa de apoio para lidar com os problemas da alfabetização, acaba encontrando então mais interrogações pelo caminho: como jogar fora tudo que já vinha sendo feito? Como lançar mão de uma única abordagem como se todos os alunos aprendessem da mesma forma? Como desconsiderar a importância do letramento no contexto da alfabetização?
São muitas reflexões...
Rosilene Guimarães (EDCB85)
Pois é, Rosilene! Mesmo o diálogo com os pares deles é enviesado. Recordam o que interessa a eles das pesquisas e dos autores que validam, silenciando e até apagando completamente, outras coisas que essas mesmas referências discutem. Descaradamente, como estratagemas de convencimento por informação distorcida - aliás, bem ao gosto desse governo, não é?
ExcluirO neoliberalismo na educação não começou nesse governo, mas aqui, essa perspectiva se alia ao conservadorismo, em um viés ideológico extremado. E chega querendo varrer tudo e impor o que eles querem impor.
Sob a retórica das "evidências científicas", as escolhas deles são políticas!
Que texto esclarecedor!!
ResponderExcluirA PNA com uma bela propaganda e uma ideia de renovação da educação,mas que não mostra a sua verdadeira faceta. Uma política que ignora todas as pesquisas e métodos existentes, que foram construidos no decorrer da história da alfabetização, focando em apenas um único método, que em minha opinião, é ultrapassado e ineficaz para a aprendizagem das crianças. O método fônico, não dá conta do processo de alfabetização.
É uma construção focada no interesse deles. Afinal, o que esperar de uma politica implantada por decreto né?
O processo de alfabetização possui várias facetas, não se trata de escolher um método, mas sim, alfabetizar com o método. É entender a criança e o seu contexto, e não considerá-la um sujeito passivo. A PNA fala o tempo todo sobre HABILIDADES, onde está o uso social?.
Uma realidade enviesada, que soterra, propositadamente, a verdadeira realidade.
Uma politica com pilares, que possui caráter neoliberal e mecanicista que considera o ensinar a ler e escrever como uma série de passos mecanizados, puramente técnicos e que não se correlacionam.
Tenho esperanças, que essa politica não vai prevalecer e que vamos resistir por uma melhora da educação do nosso país.
Eduardo Neves de Souza - Pedagogia Diurno - EDCB85 T02.
Infelizmente o viés neoliberal, mercantilista da educação não começou nem termina com esse governo, e teremos muito ainda a lidar com isso. Mas nesse governo, isso foi escancarado e associado a uma perspectiva ideológica altamente conservadora e perigosamente miliciana. Essa parte, ao menos, torcemos que acabe em breve!
ExcluirAh! Muito boas reflexões, Eduardo!
ExcluirComo muito bem salientado pela pró Liane, o caminho para repensar as práticas de alfabetização é muito mais complexo do que a adoção de uma concepção unânime sobre a alfabetização, ainda mais, estando essa, centralizada em um único método alfabetizador, eleito como o solucionador de todas as questões que permeiam esse campo de estudo.
ResponderExcluirAdemais, o discurso de neutralidade e de compromisso com a ciência – proferido como justificativa à tamanha arbitrariedade – chega a ser cômico (se não fosse trágico), em se tratando desse desgoverno e da postura autoritária e negacionista que o estrutura desde o período eleitoral.
Como também enfatizado pelo post, a articulação entre os conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas do saber – direcionados à alfabetização – e a interpretação pedagógica sobre os resultados obtidos, são fundamentais para se pensar em novas perspectivas para a alfabetização no país, que, no contexto atual, necessita estreitar o diálogo entre a apropriação do sistema de escrita e os seus usos socioculturais – não havendo mais espaço, após tantos avanços nesse campo, para a implementação de uma política que desconsidera tais preceitos e se volta à mecanização e instrumentalização da alfabetização.
(EDCB85)
Exatamente, Soraia!
ExcluirE quanto à ciência, esse cenário "esquizo": enfatizam as tais evidências científicas (reduzidas a um único campo e uma ciência única tida como válida) no campo da alfabetização, mas ignoram completamente as evidências científicas na área da saúde, torcendo tudo para beneficiarem uns e outros, capitalizando a pandemia. Seria cômico, não fosse trágico, como você bem diz...
Ao longo dos anos vimos e ouvimos grandes pesquisadores e estudiosos se esforçarem incansavelmente para produzir meios, artigos, pesquisas a fim de trazer as suas enormes contribuições no campo abrangente da alfabetização. Em tão pouco tempo vimos representantes inexperientes no ramo alfabetizar impor o que deve ser feito, como deve ser feito, e de que forma deve ser feito. E o pior, sem discussão, sem opinião, sem colaboração de pessoas, como a Magda Soares, por exemplo, sem contribuição de pessoas que semelhante a essa grande mulher possuem bagagem suficiente de conhecimento para estarem contribuindo com a PNA. E quem dera eles tivessem colaborado…
ResponderExcluirProfessora, faço das palavras de muitos a minha.
A impressão é que ao invés de avançar, superar a defasagem, estamos retrocedendo. E quando alguém toma a causa e tenta avançar, o outro vem para paralisar, desmontar, robotizar. A PNA anula o excelso ato de interação do aluno/professor, professor/aluno, pois torna-se perceptível que o estudante apenas ouve e recebe aquilo que lhe for informado pelo professor. Essa política, na verdade, robotiza o professor limitando aquilo que pode ser falado e o aluno por ouvir e ouvir. Ao professor eles dão a receita do bolo, o passo a passo, ao aluno eles dão o bolo pronto sem qualquer chance de questionamento.
Tá cansativo demais
EDCB85, Lorena Vieira, diurno
Instrumentalização técnica reducionista dos sujeitos, sejam eles alunos ou docentes! Fica de fora dessa política a natureza humanista e crítica da educação.
ExcluirO texto da professora Liane de Castro nos faz refletir bastante. Pude observar o quanto o Plano Nacional de Alfabetização (PNA) é devastador. A PNA desrespeita toda a história da alfabetização e diversidade de concepções existentes para impor somente uma única visão, ou seja, ao método fônico. Esse método é baseado na decodificação, no ensino de leitura e escrita.
ResponderExcluirPartindo desse ponto de vista, acham eles (o governo) que uma única concepção vai dar conta dos problemas de ensino e aprendizagens existentes na nossa educação brasileira. Entretanto, se acompanhassem de perto a aprendizagem do nosso país, saberiam que nenhuma concepção já existente sozinha daria conta da complexidade que é a língua e escrita. Isso me fez pensar, poderiam ter elaborado um documento incentivando e explicando a diversidade de concepções existentes para uma maior valorização profissional dos docentes, diminuir a desigualdade social formando cidadãos críticos. Mas pra quê, né? Mais um pouco a frente isso derrubaria o governo deles. Afinal, a casa grande já surta quando a senzala aprende a ler, imagina se souber se impor ? Né verdade?
Voltando a falar do documento em questão, a PNA ignora todas a diversidade de concepções que não é considerada, do seu ponto de vista, eficaz. E nós, pedagogos e futuros pedagogos não podemos calar diante da situação, pois sabemos como é a diversidade de tempo e aprendizagem de cada aluno. Apesar dos argumentos apresentados, não desconsidero o método escolhido por eles, desconsidero por ser mais considerado único e mais eficiente. Devemos mostrar que as outras concepções têm a mesma importância, pois, partindo disso, iremos aprender e ensinar utilizando a pluralidade das idealizações podendo trabalhar da melhor maneira com aquela turma aprimorando suas especificidades.
EDCB85, Carine Cruz, 2021.
Pois é, por Decreto, impuseram uma perspectiva única, e negando e desvalorizando tudo o mais. No país, temos perspectivas e autores que já consideram e dialogam com os resultados das pesquisas cognitivas. Mas para eles não interessa fazer esse diálogo - só serve o pacote completo e bem toscamente enviesado para atender a seus interesses. Não há um único modo de valorizar a perspectiva fônica da alfabetização. Eles elegeram a mais mecanicista, reducionista e artificial de todas!
ExcluirBoa noite!
ResponderExcluirGrandes reflexões acerca da PNA, que contribui positivamente no nosso processo de aprendizagem, sendo assim as críticas se fazem construtivas.
Parando para discutir sobre a Política Nacional de Alfabetização me entristece essa deslegitimação de todo um trabalho no âmbito nacional, como se as evidências científicas e as pesquisas não existissem. As diferentes concepções/procedimentos metodológicos necessitam serem ouvidos, alfabetização é isso (complexidade), não há um método 100% eficaz e não se deve "enfiar de goela abaixo" a sua metodologia/método como se fosse o salvador da pátria, até poque como a senhora cita há conflitos dentro das próprias concepções, que faz parte dese processo de pesquisa. Não deve-se calar os diferentes pontos e abordagens acerca da educação, não existe uma única saída, não há neutralidade. A diversidade é importante para o próprio processo de ensino-aprendizagem.
A reflexão deve-se estar presente sempre no nosso caminho, ainda mais como futuras pedagogas(os), a educação é a solução, dessa forma faz-se necessário essas discussões.
EDCB85 - Kathleen Santana, 2021.
Sigamos estudando e discutindo, Kathleen!
ExcluirPost muito necessário para refletirmos sobre a atual situação que a educação se encontra em nosso país.
ResponderExcluirInfelizmente todo o PNA é um descaso com a educação e os profissionais da área. Tantos avanços que os pesquisadores na área de alfabetização conseguiram, de grande importância para a educação brasileira e com foco na educação brasileira, foi simplesmente ignorado, dando preferências a pesquisas estrangeiras que não coincide com a realidade do nosso país. Deixa de lado tudo que é inovador para oferecer um ensino tradicional e ultrapassado que não é suficiente para alfabetizar as crianças, e que não faz articulações com as diversas concepções. Nesse governo apenas sua verdade é levada em consideração, todas as outras perspectivas são jogadas fora como se fizesse parte de um mesmo grupo e como se não tivesse o que aproveitar, apenas a sua perspectiva é verdadeira. O PNA é um projeto de educação que prioriza o ensino instrumentalizado, mecânico e tecnicista, baseada em princípios mercantilistas. Tanto as diversidades sociais quanto as diversidades linguísticas são rejeitadas. A Educação humanizador que Paulo Freire tanto defende está sendo desprezada constantemente, para priorizar um ensino alienante e desprovido de qualquer sensibilidade humanística. Este governo estar causando o desmonte da educação, desde a alfabetização ao ensino superior. O Professor, talvez um dos autores principais para uma educação de qualidade, são desvalorizados e humilhados, a formação de professores constantemente vem sofrendo ataques. É todo um conjunto de ações afim de acabar com a nossa educação. E sem dúvida quem mais vai ser atingido por essas ações serão as pessoas de classes sociais mais baixas. Enfim, é um programa que passa por cima de tudo e todos, precisamos estar atentos e estudar para podermos lidar com essas situações, para nos defendermos e defendermos as crianças, precisamos ter consciência de nosso papel na sociedade, e agir a favor de uma educação de qualidade que respeite a diversidade.
Fátima Barbosa Nascimento – EDCB85-T02-Alfabetizaçao e Letramento- 2021.2
Pois é, Fátima... É como um projeto de instrumentalização dos sujeitos - docentes e estudantes de todas as etapas da Educação - para atender aos interesses mercantis e ideológicos desse governo. E a alfabetização não fica de fora disso, muito pelo contrário, é um campo disputadíssimo nesses termos...
ExcluirÉ desolador. Mas sigamos defendendo nossas outras perspectivas!
Existe um ditado popular que diz: "A diferença entre o remédio e o veneno é a dose". Pois bem, a nossa atual política nacional de alfabetização - PNA, parece desconhecer os efeitos nocivos de investir em programas que pouco ajudam a melhorar os índices de alfabetização, mas que impactam grandiosamente os cofres públicos e recursos educacionais que poderiam estar sendo investidos em programas de maior efetividade como, por exemplos, programas de formação continuada.
ResponderExcluirA PNA estabeleceu alguns programas como medidas educacionais de intervenção no atual cenário educacional brasileiro, sendo eles: Conta pra mim; tempo de aprender; graphogame.
Ao analisar esses programas veremos uma alta dosagem de credibilidade para perspectivas de formação já "superadas", vemos através desses programas a retomada de aprecie que acreditam fielmente que alfabetizar é uma atividade sistemática e que se bem "executada" não terá como dar errado. Um outro aspecto que esses programas têm em comum é a visão obtusa sobre as famílias brasileiras, parece que a PNA desconhece a real família brasileira que nem sempre tem recursos e tempo para executar as instituídas pela atual política.
Me preocupa ver que os fundos educacionais estão sendo investidos em programas de pouco alcance e efetividade dentro da realidade brasileira, ou seja, estamos jogando fora recursos que poderiam estar sendo investidos em ações mais efetivas e me pergunto, será que essa agora dosagem não irá ser a fita derradeira dia fracasso da alfabetização?
A questão é que a noção de efetividade deles é reducionista assim como suas proposições. Não dá para aceitar que efetivo em alfabetização se reduz a saber mecanicamente codificar e decodificar, não é? Como se isso garantisse todo o resto. E como se para chegar nisso seja preciso um caminho tão mecânico e que artificializa a língua desse jeito!
ExcluirQue reducionismo!
Obrigado pelo texto professora! A PNA nada mais é um documento de caráter colonialista que privilegia apenas uma epistemologia do conhecimento: a ciência cognitiva, ignorando a parte social e cultural de qualquer estudante, além das produções brasileiras também. Ao ler a PNA e em seguida ler esse texto lembrei do livro "Epstemologia do professor" de Fernando Becker. Nele, há uma passagem sobre ter muito cuidado para não cairmos nos "ismos", apenas sociologismo ou psicologismo, todas as correntes são fontes de conhecimento e podem se dialogar na sala de aula. A PNA faz justamente o contrário...
ResponderExcluirGenivaldo Batista
Sim, isso mesmo, Genivaldo...e remete também ao que discutimos sobre as facetas da apropriação da linguagem na alfabetização...
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