Ritmo
Mário Quintana
Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa
até que enfim se desenrola
a corda toda
e o mundo gira imóvel como um pião!
Muito se já se disse e muito se analisa sobre esse poema de Quintana. Ele realmente “dá pano pra manga”. É um poema aparentemente simples, mas garimpando aqui e ali, podem ser achados muitos vieses de por onde olhar. Por vezes vêem tanta coisa que até apagam o poema, a possibilidade de sua fruição. Por vezes, no entanto, aprender a ver alguns aspectos, ajuda a apreciá-lo melhor. Essa é uma discussão complexa!
Aqui, no entanto, vamos apenas brincar com ele... mas para isso, precisamos observar umas coisinhas...
Reparem que em sua estrutura, o poema traz repetições que ressaltam o tal ritmo de que fala o título. No conteúdo, repetem-se ações, na forma, repetem-se palavras, versos, estruturas sintáticas, sons. A repetição dos fonemas consonantais (aliterações) no interior de cada estrofe, em versos que se repetem também, é bem importante para reforçar o sentido e a graça do poema. E vejam que as três primeiras estrofes são idênticas na estrutura, criando o que chamam de “paralelismo sintático”:
Na porta... Na rua... No arroio....
A varredeira... A menininha... A lavadeira...
Varre o cisco... Escova os dentes... Bate a roupa... e mais a repetição da segunda parte do último verso duas vezes.
Na última estrofe, por sua vez, rompe-se essa repetição de estrutura, com um “até que enfim”, junto com a intenção de romper o ritmo repetitivo das ações cotidianas em seus gestos também repetitivos. O ritmo, no entanto, parece ser restituído pelo mundo que gira imóvel como um pião.
Dito isto, a brincadeira que sugiro, então, é a de criar novas estrofes, na mesma estrutura das três estrofes iniciais. Lembre de pensar em situações e ações que tornem a estrofe interessante do ponto de vista de ações que se repetem cotidianamente e, em si, exigem gestos repetitivos. Vamos tentar?!
Na feira
o pescador vende o peixe
vende o peixe
Na escola
a professora apaga o quadro
apaga o quadro
Podemos tentar uns menos concretos, mais líricos ou mais subjetivos...
a velhinha vê a rua
vê a rua
Na janela
a mocinha chora a dor
chora a dor
chora a dor
Recitando as estrofes do poema de Quintana em voz alta, podemos também observar que com as escolhas fonológicas nos versos repetidos, são sugereridos sons relativos às ações apresentadas em cada estrofe. Em “varre o cisco”, a aliteração do fonema /s/, trazida pelas letras C e S, remete-se ao som da vassoura arrastando no chão... Em “bate a roupa”, a presença dos fonemas /b/, /t/, /p/ e sua aliteração dão a ideia da pancada da roupa batendo. Já no “escova os dentes”, a repetição e aliteração, também do /s/, em "escova" e em "dentes" evocam o som da escova.
Assim, para nossas criações de estrofes ficarem ainda mais bacanas, que tal tentar não só seguir a estrutura sintática das estrofes e a referência a ações repetitivas, mas também pensar em escolhas fonologicamente interessantes!? Pensei a minha assim:
No escritório
a secretária bate a tecla
bate a tecla
bate a tecla
Os fonemas /b/, /t/ e, especialmente, o fonema em encontro consonantal /cl/, nessa proposta, dá a ideia da tecla teclando, não acham? Agora tentem uma... Se gostarem, mandem! E tentem com seus alunos.
Lica
Na obra
ResponderExcluirO operário bate o prego
Bate o prego
Bate o prego
Fiz alguns, gostei desse. É impossível fazer um só! Vou propor aos meus alunos de segunda série.
Abraços,
Leila Cristina
Nunca trabalhei poemas assim,brincando e criando novas estrofes.
ResponderExcluirGostei da idéia, vou colocá-la em prática, creio que as crianças iram adorar.
Abraços, Taise
PS: Gostei muito do blog!
Amei o espaço do Blog com as atividades e jogos.
ResponderExcluirChegou em uma ótima oportunidade, inicio das aulas.
Obrigada pelas sugestões.
Abraço.
Gildete
Oi, meninas...
ResponderExcluirApareçam sempre!
Beijos,
Lica
OI Lica,
ResponderExcluirGostei demais do seu blog e estou divulgando aqui em João Pessoa. Fiz com meus alunos o poema de Mario Quintana e ficou bem legal. Fiz o meu tb que é assim:
Na viagem
a professora sente saudade
sente saudade
sente saudade
Na escola
a criança gosta de brincar
gosta de brincar
gosta de brincar
Gostou??? É só o início.
Um abraço para vc e Joaquim.
Telma Maria Dutra
Oi, Telma!
ResponderExcluirQue bom você interagindo aí de longe!
Gostei. E divulgue mesmo...
Abçs,
Lica
Olá, eu estava fazendo um trabalho para a escola e não entendi muito bem tinha que gravar o texto !!!
ResponderExcluirda mesma forma muito obrigada !
E minha irmã adora este texto e não tem este livrinho eu acho ela adora ficar lendo quero dizer eu leio para ela porque tenho 10 anos mais ela e eu adoramos este site e escola kids muito obrigada licia
ResponderExcluirBjs !!
Oi, anônimo! Fico feliz em saber que uma pessoa de 10 anos gosta do blog! Uma surpresa!
ResponderExcluirEle não é destinado exatamente para crianças, mesmo de 10 anos, e por isso talvez seja difícil de entender...rs!
Mas em todo caso, é muito interessante que te interesse de algum modo. E se você gosta, tem algo que também pode ser para você, né?
Um abraço,
Lica