Oi, gente!
Finalmente vou iniciar os posts dos Tangolomangos. Nesse primeiro post, vou falar um pouco do que encontrei sobre esse texto nas minhas pesquisas. É muito interessante! Você sabia que a origem dos tangolomangos tem relação com orações de cura da cultura popular, que eram ditas para curar de várias coisas? Pois é, é uma história bem divertida! A cultura popular é cheia dessas invencionices!
Logo mais vou postar sobre apropriações da estrutura dos tangolomangos por autores diversos e dar dicas de vários livros que trazem tangolomangos, disfarçados ou não. E por último, vou postar sobre atividades legais de leitura, escrita e matemática a partir deles, com dica de material também. Aguardem! A leitura de cada post traz um pouquinho do universo dos tangolomangos. Espero que deem boas ideias a vocês! Mas vamos lá!
O tangolomango é uma
cantiga popular ou uma forma tradicional da parlenda, uma espécie de parlenda
longa, às vezes cantada, com estrutura cumulativa ao contrário ou, digamos,
enumerativo decrescente. Não chega a acumular, mas há a retomada das
quantidades e a enumeração. Com certeza tem uma estrutura repetitiva, trazendo uma das formas da repetição, que é por subtração. E como parlenda, pode ser considerada como uma mnemônica - parlenda para aprender e memorizar coisas como nomes, números, letras, sequências ou como uma lenga-lenga, parlenda que traz certa repetição, certo nonsense e que parece nunca acabar.
Os seus versos ritmados e rimados constituem uma narrativa e, geralmente, em cada estrofe, diminui-se um personagem - geralmente da mesma família, com algum grau de parentesco - acometido por algum malefício. Os elementos que
compõem a narrativa do tangolomango, em vez de irem se acumulando, vão
diminuindo...até que reste nenhum! Por isso, fala-se em acumulação às avessas,
enumeração de trás pra frente, decrescente!
O tangolomango traz uma construção textual que possibilita às crianças brincarem com a operação de subtração de um a um, como uma lengalenga de contar para trás, de subtrair um elemento a cada trecho. Geralmente
começa com nove ou dez elementos (irmãs, filhas, filhos, velhas etc),
mas não sempre, pode ser doze, treze... Esses vão diminuindo a cada estrofe e,
quando acontece alguma coisa com o último, não sobra nenhum. Por vezes, porém,
outros desfechos aparecem, especialmente nas reapropriações da estrutura do
tangolomango por autores diversos. Isso porque se há muitas versões populares
de tangolomangos, também há os tangolomangos autorais, apresentados, por vezes,
em belos livros ilustrados.
O tangolomango é um texto recorrente
no universo popular, garantindo, outrora, divertidas brincadeiras de criança. Conta
com inúmeras versões espalhadas pelo Brasil. Quando é cantado – e muitas vezes
o é, pois ele tinha sua música – se estrutura como um canto cumulativo decrescente. No Dicionário do Folclore Brasileiro,
Cascudo fala em cantiga ou parlenda, pois o tangolomango ora se apresenta como
uma, ora como outra.
Constitui-se,
assim, também como uma cantiga de roda, uma brincadeira cantada, na qual os
participantes vão saindo da roda, a cada rodada, a cada tangolomango em cada
estrofe. Um a um todos vão sendo eliminados, excluídos da roda, até o desfecho:
“Acabou-se a geração!”. Essa brincadeira tradicional anda mais desaparecida,
mas os textos ainda circulam por aí...
No artigo de Argus, citado mais adiante, ele diz que no folclore baiano o tangolomango era representado, numa espécie de auto, como um grande homem ou animal com boca enorme, que ia “engolindo”, ao final de cada estrofe, cada menino (representado por manequins) acometido da enfermidade. Se esse auto e a brincadeira das crianças eram parecidos, por aqui, eu não sei... só pesquisando mais...
Jogos com números
são muito comuns em versos de diversas partes do mundo. No nosso folclore
aparecem em parlendas, brincos, cantigas, contos e em tangolomangos. Versões
dos tangolomangos foram encontradas em Portugal e na Espanha e, segundo
Cascudo, é de lá que se originam. Alguns autores falam de origem africana. Dos
três povos que inicialmente formaram a cultura brasileira, foi o português que
parece ter trazido a maior influência no que tange a essas brincadeiras
cantadas. Mas, certamente, as cantigas e os modos de brincar contaram com a
mistura dos costumes africanos e lusitanos. Os ritmos africanos sem dúvida
deixaram tempero importante ao legado da cultura lúdica brasileira.
Há várias versões
do tangolomango na literatura oral, contadas ou cantadas. Por vezes, como já foi dito, começam com dez, por
vezes nove, ou doze ou treze. Veremos algumas versões, inclusive a que foi registrada por Sílvio Romero, citada por Cascudo. Em versões cantadas, temos a de José Mauro Brant e a de Bia Bedran, no Cd Brinquedos Cantados.
TANGOLOMANGO
Domínio público
Eram nove irmãs numa casa, uma foi fazer
biscoito.
Deu tangolomango nela e das nove ficaram oito.
Eram oito irmãs numa casa, uma foi amolar canivete.
Deu tangolomango nela e das oito ficaram sete.
Eram sete irmãs numa casa, uma foi falar inglês.
Deu tangolomango nela e das sete ficaram seis.
Eram seis irmãs numa casa, uma foi caçar um pinto.
Deu tangolomango nela e das seis ficaram cinco.
Eram cinco irmãs numa casa, uma foi fazer teatro.
Deu tangolomango nela e das cinco ficaram quatro.
Eram quatro irmãs numa casa, uma foi falar francês.
Deu tangolomango nela e das quatro ficaram três.
Eram três irmãs numa casa, uma foi andar nas ruas.
Deu tangolomango nela e das três ficaram duas.
Eram duas irmãs numa casa, uma foi fazer coisa alguma.
Deu tangolomango nela e das duas ficou só uma.
Era uma irmã numa casa, e ela foi fazer feijão.
Deu tangolomango nela e acabou a geração.
O Tango-Lo-Mango
Versão recolhida por
Sílvio Romero
Eram nove irmãs numa casa,
Uma foi fazer biscoito;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão oito.
Destas oito, meu bem, que ficaram
Uma foi amolar canivete;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão sete.
Destas sete, meu bem, que ficaram
Uma foi falar francês;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão seis.
Destas seis, meu bem, que ficaram
Uma foi pelar um pinto;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão cinco.
Destas cinco, meu bem que ficaram
Uma foi para o teatro;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão quatro.
Destas quatro, meu bem, que ficaram
Uma casou c'um português;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão três.
Destas três, meu bem, que ficaram
Uma foi passear nas ruas;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão duas.
Destas duas, meu bem, que ficaram
Uma não fez cousa alguma;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão uma.
Essa uma, meu bem, que ficou
Meteu-se a comer feijão;
Deu o tango-lo-mango nela,
Acabou-se a geração.
AS NOVE FILHAS
Versão de José Mauro Brant
Era uma velha que tinha nove filhas.
Foram todas comer biscoito.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das nove ficaram oito.
Essas oito, meu bem, que ficaram,
Foram juntas jogar confete.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das oito ficaram sete.
Essas sete, meu bem, que ficaram,
Foram juntas aprender francês.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das sete ficaram seis.
Essas seis, meu bem, que ficaram,
Foram juntas comprar um brinco.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das seis ficaram cinco.
Essas cinco, meu bem, que ficaram,
Foram juntas pintar um quadro.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das cinco ficaram quatro.
Essas quatro, meu bem, que ficaram,
Foram juntas jogar xadrez.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das quatro ficaram três.
Essas três, meu bem, que ficaram,
Foram juntas passear nas ruas,
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das três ficaram duas.
Essas duas, meu bem, que ficaram,
Viajaram pra Paraibuna.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das duas ficou só uma.
Essa uma, meu bem, que ficou,
Resolveu comer feijão.
De um tangolonomangolo nela
E acabou-se a geração!
A expressão
tangolomango apresenta diferentes formas gráficas, como tango-lo-mango ou
tanglomango – ou ainda tangomango, tanglomanglo, e por vezes até como “tanto
surumango” ou “deu no tango deu no mango”, segundo José Mauro Brant, dentre
outras expressões semelhantes. No artigo de Guilherme Neves, “Variações sobre o
tangolomango”, referido abaixo, outras tantas expressões semelhantes são
registradas. Ver algumas versões de tangolomangos e outras expressões usadas aqui.
E o tangolomango
também aparece referido em diferentes textos e contextos com sentidos um pouco diverso, mas em um
universo comum de significações. Às vezes aparece como mal estar imprevisto, má
sorte, azar, malogro, caiporismo; outras como feitiço, magia ou como obscura força destrutiva; às vezes
como doença súbita ou prolongada, real ou imaginária; outras como morte mesmo
ou sumiço inexplicável. Frequentemente aparece – inclusive em dicionários –
como uma doença produzida por feitiço ou sortilégio, nunca de causa natural. Sempre
atribuída a feitiçaria, malefício, coisa-feita. José Mauro Brant, no encarte de
seu CD “Contos, Cantos e Acalantos” (que traz o tangolomango “As nove filhas”),
diz que tangolomango é um piripaque que não se explica, um mal súbito, repentino.
Apesar desses sentidos, o tangolomango tem hoje um uso lúdico. Aliás, essa indefinição (ou
pouca clareza) do que seja exatamente o tangolomango permite que hipóteses
sejam feitas, que se brinque com o mistério, que significados sejam inventados, interagindo-se com o texto.
Na verdade, essa
indefinição bem pode ter relação com a origem dos tangolomangos, que, como
ressalta Cascudo e outros autores, remete-se aos ensalmos enumerativos, que são
fórmulas oracionais mágicas recitadas, usadas para curar, tendo também uma
conotação de prática de cura por meio de reza, benzedura, feitiço. Tanto que,
muitos tangolomangos tradicionais, na verdade, começam sua fórmula regressiva com
nove e não com dez elementos, considerando-se o nove como um numeral altamente
carregado de simbolismo, a que se atribuem poderes, frequentemente presente nas
rezas e bezenduras praticadas ainda hoje. O nove é o quadrado de três, outro
número carregado de simbolismo no catolicismo como em outras crenças. Não à toa
existem as novenas... O nove, no campo das religiões e magias, diz Guilherme Santos
Neves “é uma presença iterativa e teimosa”.
Sem contar também
o prestígio e a força da ordem decrescente, dos números invertidos ou do
sentido inverso nesses contextos, como ressaltado também por vários autores –
elementos esses presentes nos tangolomangos. A ordem decrescente teria o poder
de domar forças adversas.
Embora muitos desses ensalmos não
tragam a palavra “tangolomango”, trazem a enumeração invertida iniciada em
nove. No estudo de Guilherme
Neves, citado e elogiado por Cascudo, ele se refere a origens bem arcaicas de
textos enumerativos decrescentes, encantatórios, iniciados por nove, ligados à
medicina curandeira da Gália latina e suposta origem dos tangolomangos.
Além desse
estudo, há o de Argus Vasconcelos de Almeida, intitulado “Tangolomango:
ensalmos, benzimentos e parlendas nas práticas de cura e folguedos populares”,
que pode ser acessado aqui e
aqui.
Esse autor também
aborda a uma origem arcaica do tangolomango, e ligada à cura, analisando a sua evolução
histórica de ensalmo terapêutico até virar parlenda nos folguedos populares. Tem
até ensalmos tangolomanguentos para curar
de carrapatos, bicheiras e até lombrigas!!! Sabia disso?! Eu não! Pois tem! Vejam lá!
As lombrigas eran nueve;
de nueve volvéronse ocho;
de ocho volvéronse siete;
de siete volvéronse seis...
... e assim por diante...
Esses são dois textos muito
interessantes e saborosos de ler! O tangolomango, como podemos aprender nesses artigos,
foi citado em tratados sobre doenças, antes de virar brincadeira de criança...
Tendo essa relação com orações
curatrizes, os tangolomangos se situavam entre um bem e um sortilégio. Como
ensalmo traz o sentido de cura de malefícios...e como tangolomango, indica algo
de mal ou mortal...Talvez,
por essa origem, e por ficar obscuro se é caso de bruxaria ou exorcismo, de
feitiço ou cura de feitiço, alguns tangolomangos, quando fixados no repertório
de lengalengas da cultura popular, como folguedo de crianças, passaram apenas a contar
a história do sumiço dos personagens na enumeração decrescente, sem relação com
essas origens mágicas e, muitas vezes, sem citar a expressão “tangolomango” ou
similares. Alguns textos ainda trazem certo mistério quanto aos sumiços, outros
não.
Mas muitas
versões mantiveram a expressão “tangolomango”, e repetimos a fórmula já
destituída de relação com sua origem, suas virtudes mágicas, seu objeto
original. Apenas as repetimos como uma cantiga, ou parlenda. Mas, seja como
for, como ensalmo ou como folguedo, o tangolomango faz parte da cultura popular
luso-brasileira e foi trazido ao Brasil, já como brincadeira, parlenda ou
cantiga, pelos colonizadores portugueses.
Quanto à origem da
palavra “tangolomango” em si mesma - já que nos ensalmos nem sempre aparecem - e, especialmente de seu uso nesses textos enumerativos, parece que se conhece menos. Em um estudo de João Ribeiro, diz-se que
sempre se supôs uma palavra africana que passou a Portugal. No continente africano,
com a forma tangomau, designava aquele
que resgatava e comprava escravos para revendê-los. Mas o próprio João Ribeiro
problematiza essa origem, veja aqui.
Muitos
tangolomangos criados contemporaneamente, usando ou não a expressão, começam
não com nove, mas com dez, talvez, justamente porque, destituído desse sentido
mais místico, passam a ser voltados mais para o deleite subtrativo das crianças
e, sendo assim, começar a contagem regressiva por dez - os dez dedos da mãos, a primeira série de números que aprendem, a base do nosso sistema numeral - faz muito mais sentido do que começar por nove.
E, assim, com
esse sentido meio fluido, pouco claro, o tangolomango fica como um mistério
instigante que não há necessidade de explicar e com o qual, já distante de suas
origens, se pode brincar. Brincar com a linguagem, brincar com os números,
brincar com outras crianças...
Como diz
Guilherme Neves:
“Ensalmo, oração, parlenda, cantiga de
gente grande, auto ou dramatização do povo, o tangolomango, cansado de
perambular nessas áreas adultas, fixou-se, até hoje (até hoje?) no alegre e
colorido campo do folclore infantil”.
O parêntese do autor certamente se refere ao
fato de que atualmente pouco se brinca ou se canta ou se recita o tangolomango,
bem como outras brincadeiras e textos da tradição oral. Como ele mesmo diz no
final de seu artigo:
“Todos sentimos que, com o perpassar dos
tempos, muito da preciosa riqueza do folclore menineiro se desvirtuou, se
desfez, se esqueceu e morreu (...). E é uma pena, uma grande grande grande
pena…”
Nem desmerecendo nem romantizando as
culturas populares – pois essas são armadilhas que convém evitar – é preciso
ter em mente o que significa esse “popular” referido, o que significa trabalhar
com esse popular na escola, o seu papel nas culturas lúdicas infantis, o seu
lugar como cultura, diversidade, parte de nós, e não como uma visita na semana
do folclore, entrando pela porta dos fundos da escola. Como trazer a riqueza
dessas brincadeiras e textos, fazê-los parte do repertório textual e brincante das nossas crianças, sem folclorizar
as manifestações da cultura popular? Essas são discussões importantes, que
temos que ter em mente, pensar, discutir, afirmar. Falaremos mais disso em outra oportunidade...
Por ora,
resta-nos não perder de vista a origem oral, popular, desses textos, que hoje podem
entrar na escola de modo mais valorizado e legitimado que em tempos atrás,
justificados pela cultura lúdica infantil, por seu valor na apropriação das
identidades e diversidades culturais e valor nas explorações de linguagem das crianças, inclusive bem apropriados para o desenvolvimento da oralidade e reflexão sobre a escrita, como já tivemos oportunidade de discutir inúmeras vezes (ver mais sobre essa questão na minha brochura sobre textos da tradição oral na alfabetização, aqui.)
Esses textos resistem e persistem também
pelas mãos dos autores que os retomam, recontam, reinventam e os reapresentam,
de novo, para nós, ainda que através da cultura escrita, registrados nos livros, com
belas ilustrações.
Bom, gente, mas se os tangolomangos foram perdendo
terreno também como folguedo infantil, ao menos estão reaparecendo aqui e ali
em apropriações contemporâneas por autores de literatura infantil. Por outro
lado, é certo que alguns desses textos renunciam a aspectos próprios aos
tangolomangos... o que torna interessante poder retomar os tangolomangos mais
tradicionais também. Talvez o contato com esses livros, além de proporcionar
deliciosas brincadeiras, seja uma boa oportunidade para conhecer a estrutura
desse texto enumerativo decrescente e reavivar o interesse pelos tangolomangos
tradicionais. Dez, nove, oito, sete, seis...não vamos deixar o tangolomango
desaparecer de uma vez!!!
É isso aí, gente. Interessante origem, não é? Eu aprendi muito com essa pesquisa... espero que vocês também aproveitem! Tem mais outros dois posts sobre tangolomangos, tem muito mais!!! No próximo, falo dessas reapropriações dos tangolomangos, com dicas de livros de literatura infantil que trazem as enumerações decrescentes em estruturas semelhantes a eles. Aqui. E por fim, tem o post com algumas atividades de língua e de matemática, aqui.
Mas para deixar um aperitivo, digo: e não se enganem, além desses, há tangolomangos por toda parte! Mesmo para maiores de idade... Quer ver? Para quem não se lembra, há uma versão atual pernambucana de tangolomango cantado, do Mestre Ambrósio: “Usina (Tango no Mango)”, composição de Chico Antônio e Paulírio, que você pode ouvir, aqui, e ler a letra aqui.
Divirtam-se!
Lica
Referências:
- ALMEIDA, Argus Vasconcelos de. Tangolomango: ensalmos, benzimentos e parlendas nas práticas
de cura e folguedos populares. Recife : EdUFRPE, 2012. Disponível aqui.
- CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore brasileiro. 9ª edição. São Paulo: Global, 2000
- NEVES, Guilherme dos
Santos. Variações sobre o tangolomango. Revista
Brasileira do Folclore, Rio de Janeiro: MEC; DAC, ano XIV, n.41, p.13-35,
Mai-Ago 1976. Disponível aqui.
- RIBEIRO, João. Frases feitas; apresentação Evanildo Bechara; introdução Joaquim Ribeiro. 3. ed. Rio de Janeiro: ABL, 2009. Coleção Antônio de Morais Silva. Coleção Antônio de Morais Silva ; v. 8. Disponível aqui.
- ROMERO, Sílvio. Folclore brasileiro: cantos populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1985.
- Site Jangada Brasil: http://jangadabrasil.com.br/novembro/ca31100e.htm
Gostei muito de aprender com o posto sobre o tagolomango. É ótimo saber que podemos levar outras possibilidades e linguagens para contribuir com as aprendizagens das crianças. Esta brincadeira com as palavras promove a construção do pensamento lógico-matemático e aciona as noções de identificação, classificação, inclusão, reversibilidade... Parabéns pelos posts. Adoro esta oportunidade de aprender por aqui viajando no tempo e no espaço.
ResponderExcluirRiso Almeida
Lica,
ResponderExcluirnão conhecia os tangolomangos com esse nome. Eles são muito legais, né? Muito bom ter essas informações sobre eles. Conhece essa música do Mestre Ambrósio? Eu adoro!
Usina (Tango no Mango)
Mestre Ambrósio
Ajustei um casamento
Com a nêga dum bordel
Pensando que era uma moça
E era o diabo duma véia
Tombo no martelo tombador
Tombo no martelo militar
Me caso contigo véia
Deve ser em condição
D'eu dormir na minha rede
E tu véia, no fogão
Me casei com esta véia
Pra livrar da fiarada
A danada dessa véia
Teve dez numa ninhada
Desses dez que nasceram
Um deu pra ladrão de bode
Deu no tango e deu no mango
Dos dez só ficaram nove
Dos nove que ficaram
Um deu pra ladrão de porco
E deu no tango e deu no mango
Dos nove ficaram oito
Dos oito que ficaram
Um deu pra ladrão de jegue
Deu no tango e deu no mango
Dos oito ficaram sete
Dos sete que ficaram
Um deu pra ladrão de rês
Deu no tango e deu no mango
Dos sete ficaram seis
Desses seis que ficaram
Um deu pra ladrão de pinto
E deu no tango e deu no mango
Dos seis só ficaram cinco
Dos cinco que ficaram
Um deu pra ladrão de pato
E deu no tango e deu no mango
Dos cinco ficaram quatro
Dos quatro que ficaram
Um deu pra roubar outra vez
Deu no tango e deu no mango
Dos quatro ficaram três
Desses três que ficaram
Um deu pra ladrão de boi
Deu no tango e deu no mango
Dos três só ficaram dois
Desses dois que ficaram
Um deu pra roubar jerimum
Deu no tango e deu no mango
Desses dois só ficaram um
Desse um que ficaram
Um deu pra roubar ladrão
Deu no tango e deu no mango
Acabou-se a geração
Oi, Juli...
ResponderExcluirA canção do Mestre Ambrósio está citada no post, bem no finzinho...
Pois é...são legais, né?
Cada um sabe um pedacinho sobre os tangolomangos, tentei trazer o máximo de novidades que achei pesquisando sobre eles.
...e numa esquina podemos descobrir mais...
Bjos,
Lica
Riiiiso!!!!
ResponderExcluirÓtima contribuição. Nos posts seguintes vou justamente falar sobre o trabalho com a linguagem e o pensamento lógico-matemático a partir dos tangolomangos.
E com toda essa origem deles, o que fica reinando mesmo é o riso...
Adorei que você comentou aqui, viu?
Bjs,
Lica
Oi Lica,
ResponderExcluirLendo o post lembrei de dois livros infantis. Um se chama os 10 sacizinhos e o outro acho que é as 10 Lagartas. Mas acho qua a expressao tangolomangos não aparece, Mesmo assim são considerados??? Você os conhece???
Saudades..
Renata / DF
Oi, Renata,
ResponderExcluirObrigada pela contribuição! Esses dois já estão no post que seguirá a esse, que será justamente sobre livros que trazem essa estrutura enumerativa decrescente dos tangolomangos, com a palavra expressa ou não...
Os dez sacizinhos, de Tatiana Belinky, eu até tenho.
Mas tem muuuuuitos outros, você vai ver!!!
Tô só finalizando o post e já já estará por aqui... e divulgado no Face.
Na verdade, a palavra pode não estar presente, como não estava nas orações curatrizes, não sei o quanto podemos chamar todos os textos enumerativos decrescentes de tangolomangos, até porque essa ordem inversa aparece em outros tipos de texto também, mas a estrutura é sim semelhante: além da ordem, versos ritmados e rimados, personagens que vão sumindo...
E os autores se inspiram sim nos textos da tradição oral. Isso com certeza!!!
Beijos,
Aguarde o post!
Lica
Muiiiiito divertido!
ResponderExcluirPessoal, olhem esses artigos indicados, são muito interessantes.
Muito bom esse post, Lica. Legal poder saber essas coisas.
Beijo,
Patrícia
Não é bacana? Eu também adorei encontrar esses artigos e saber dessas coisas.
ResponderExcluirBjs,
Lica
O professor Romilson de Recreação certa vez nos chamou a atenção para não folclorizarmos a cultura popular. Aliás, como bem trouxe o texto, "culturas populares". E aí ele fez uma provocação: até que ponto as culturas populares podem ser absorvidas pela cultura de massa etc. Não conhecia os tangolomangos, talvez meus avós tenham cantado. É jogo, é lúdico. Lembrei-me de homo ludens de Johan Huizinga: "O jogo antecede a cultura". O tangolomango é jogo. Gostei muito.
ResponderExcluirJoston Darwin
ABCB85
Exatamente, Joston!
ExcluirPor isso o campo das ciências sociais usam a expressão cultura popular e não folclore, que não dá conta da complexidade das práticas culturais em jogo, e traz - como discutimos na aula - uma perspectiva reducionista e até atravessada por juízo de valores.
Quanto às relações com a cultura de massa, no minha visão, as matrizes culturais e as diferentes linguagens se mesclam, se hibridizam, não há separação estanque, não são impermeáveis e sofrem influência de outras culturas e linguagens o tempo todo. A fronteira entre a questão da preservação das culturas e o hibridismo inerente é uma questão complexa, não podemos ver as coisas de modo achatado. Cultura, cultura popular, cultura de massas, ou qualquer adjetivação, merecem sempre análise cuidadosa.
Sim, o tangolomango, como os diversos textos poético-musicais da tradição, é jogo e é cultura.
Que bom que gostou!
Liane
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAlgumas coisas vão se perdendo no tempo, principalmente nos dias de hoje que a cada segundo surgem novos conteúdos, as informações chegam tão rápido que nem temos tempo para assimila-las. Eu lembro dos tangolomangos, aprendi na escola, na epoca da alfabetização, mas foi algo que foi se perdendo a ponto de eu não mais lembrar.
ResponderExcluirComo disse o Joston "é jogo, é lúdico" e as crianças aprendem muito dessa forma. As parlendas são prazerosas, divertidas, as rimas levam à curiosidade, a aflorar a imaginação.
As parlendas estão presentes na nossa vida desde sempre, então apresentar esse recurso no processo de alfabetização é uma forma muito interessante para a aprendizagem.
Fiquei muito feliz ao ler esse POST e relembrar os tangolomangos.
Abraços,
Camila Lomba
EDCB85
Oi, camila!
ExcluirQue bom!
Esse é, de fato, um repertório da cultura lúdica muito, muito potente para a alfabetização. Mas, claro, é preciso resguardarmos seu caráter de texto oral, que se sabe de cor, que se diz e ouve pela voz, carregada da situação de interação cultural significativa e afetiva.
Falaremos mais sobre isso na aula sobre o tema.
Abraço
Aliás, Camila, um bom começo para constituir nosso repertório inicial de textos da tradição oral, bem como de literatura, para ter na nossa "paleta metodológica" como professores, é resgatar essas referências que fizeram parte de nossa infância e que é nosso, e com o qual temos uma relação afet
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