quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Tangolomango

Oi, gente!

Finalmente vou iniciar os posts dos Tangolomangos. Nesse primeiro post, vou falar um pouco do que encontrei sobre esse texto nas minhas pesquisas. É muito interessante! Você sabia que a origem dos tangolomangos tem relação com orações de cura da cultura popular, que  eram ditas para curar de várias coisas? Pois é, é uma história bem divertida! A cultura popular é cheia dessas invencionices! 

Logo mais vou postar sobre apropriações da estrutura dos tangolomangos por autores diversos e dar dicas de vários livros que trazem tangolomangos, disfarçados ou não. E por último, vou postar sobre atividades legais de leitura, escrita e matemática a partir deles, com dica de material também. Aguardem! A leitura de cada post traz um pouquinho do universo dos tangolomangos. Espero que deem boas ideias a vocês! Mas vamos lá!

O tangolomango é uma cantiga popular ou uma forma tradicional da parlenda, uma espécie de parlenda longa, às vezes cantada, com estrutura cumulativa ao contrário ou, digamos, enumerativo decrescente. Não chega a acumular, mas há a retomada das quantidades e a enumeração. Com certeza tem uma estrutura repetitiva, trazendo uma das formas da repetição, que é por subtração. E como parlenda, pode ser considerada como uma mnemônica - parlenda para aprender e memorizar coisas como nomes, números, letras, sequências ou como uma lenga-lenga, parlenda que traz certa repetição, certo nonsense e que parece nunca acabar. 

Os seus versos ritmados e rimados constituem uma narrativa e, geralmente, em cada estrofe, diminui-se um personagem - geralmente da mesma família, com algum grau de parentesco - acometido por algum malefício. Os elementos que compõem a narrativa do tangolomango, em vez de irem se acumulando, vão diminuindo...até que reste nenhum! Por isso, fala-se em acumulação às avessas, enumeração de trás pra frente, decrescente! 

O tangolomango traz uma construção textual que possibilita às crianças brincarem com a operação de subtração de um a um, como uma lengalenga de contar para trás, de subtrair um elemento a cada trecho. Geralmente começa com nove ou dez elementos (irmãs, filhas, filhos, velhas etc), mas não sempre, pode ser doze, treze... Esses vão diminuindo a cada estrofe e, quando acontece alguma coisa com o último, não sobra nenhum. Por vezes, porém, outros desfechos aparecem, especialmente nas reapropriações da estrutura do tangolomango por autores diversos. Isso porque se há muitas versões populares de tangolomangos, também há os tangolomangos autorais, apresentados, por vezes, em belos livros ilustrados.

O tangolomango é um texto recorrente no universo popular, garantindo, outrora, divertidas brincadeiras de criança. Conta com inúmeras versões espalhadas pelo Brasil. Quando é cantado – e muitas vezes o é, pois ele tinha sua música – se estrutura como um canto cumulativo decrescente. No Dicionário do Folclore Brasileiro, Cascudo fala em cantiga ou parlenda, pois o tangolomango ora se apresenta como uma, ora como outra. 

Constitui-se, assim, também como uma cantiga de roda, uma brincadeira cantada, na qual os participantes vão saindo da roda, a cada rodada, a cada tangolomango em cada estrofe. Um a um todos vão sendo eliminados, excluídos da roda, até o desfecho: “Acabou-se a geração!”. Essa brincadeira tradicional anda mais desaparecida, mas os textos ainda circulam por aí...

No artigo de Argus, citado mais adiante, ele diz que no folclore baiano o tangolomango era representado, numa espécie de auto, como um grande homem ou animal com boca enorme, que ia “engolindo”, ao final de cada estrofe, cada menino (representado por manequins) acometido da enfermidade. Se esse auto e a brincadeira das crianças eram parecidos, por aqui, eu não sei... só pesquisando mais...

Jogos com números são muito comuns em versos de diversas partes do mundo. No nosso folclore aparecem em parlendas, brincos, cantigas, contos e em tangolomangos. Versões dos tangolomangos foram encontradas em Portugal e na Espanha e, segundo Cascudo, é de lá que se originam. Alguns autores falam de origem africana. Dos três povos que inicialmente formaram a cultura brasileira, foi o português que parece ter trazido a maior influência no que tange a essas brincadeiras cantadas. Mas, certamente, as cantigas e os modos de brincar contaram com a mistura dos costumes africanos e lusitanos. Os ritmos africanos sem dúvida deixaram tempero importante ao legado da cultura lúdica brasileira.

Há várias versões do tangolomango na literatura oral, contadas ou cantadas. Por vezes, como já foi dito, começam com dez, por vezes nove, ou doze ou treze. Veremos algumas versões, inclusive a que foi registrada por Sílvio Romero, citada por Cascudo. Em versões cantadas, temos a de José Mauro Brant e a de Bia Bedran, no Cd Brinquedos Cantados.


TANGOLOMANGO
Domínio público

Eram nove irmãs numa casa, uma foi fazer biscoito.
Deu tangolomango nela e das nove ficaram oito.

Eram oito irmãs numa casa, uma foi amolar canivete.
Deu tangolomango nela e das oito ficaram sete.

Eram sete irmãs numa casa, uma foi falar inglês.
Deu tangolomango nela e das sete ficaram seis.

Eram seis irmãs numa casa, uma foi caçar um pinto.
Deu tangolomango nela e das seis ficaram cinco.

Eram cinco irmãs numa casa, uma foi fazer teatro.
Deu tangolomango nela e das cinco ficaram quatro.

Eram quatro irmãs numa casa, uma foi falar francês.
Deu tangolomango nela e das quatro ficaram três.

Eram três irmãs numa casa, uma foi andar nas ruas.
Deu tangolomango nela e das três ficaram duas.

Eram duas irmãs numa casa, uma foi fazer coisa alguma.
Deu tangolomango nela e das duas ficou só uma.

Era uma irmã numa casa, e ela foi fazer feijão.
Deu tangolomango nela e acabou a geração.



O Tango-Lo-Mango
Versão recolhida por Sílvio Romero

Eram nove irmãs numa casa,
Uma foi fazer biscoito;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão oito.

Destas oito, meu bem, que ficaram
Uma foi amolar canivete;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão sete.

Destas sete, meu bem, que ficaram
Uma foi falar francês;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão seis.

Destas seis, meu bem, que ficaram
Uma foi pelar um pinto;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão cinco.

Destas cinco, meu bem que ficaram
Uma foi para o teatro;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão quatro.

Destas quatro, meu bem, que ficaram
Uma casou c'um português;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão três.

Destas três, meu bem, que ficaram
Uma foi passear nas ruas;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão duas.

Destas duas, meu bem, que ficaram
Uma não fez cousa alguma;
Deu o tango-lo-mango nela,
Não ficaram senão uma.

Essa uma, meu bem, que ficou
Meteu-se a comer feijão;
Deu o tango-lo-mango nela,
Acabou-se a geração.


AS NOVE FILHAS
Versão de José Mauro Brant

Era uma velha
que tinha nove filhas.
Foram todas comer biscoito.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das nove ficaram oito.

Essas oito, meu bem, que ficaram,
Foram juntas jogar confete.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das oito ficaram sete.

Essas sete, meu bem, que ficaram,
Foram juntas aprender francês.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das sete ficaram seis.

Essas seis, meu bem, que ficaram,
Foram juntas comprar um brinco.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das seis ficaram cinco.

Essas cinco, meu bem, que ficaram,
Foram juntas pintar um quadro.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das cinco ficaram quatro.

Essas quatro, meu bem, que ficaram,
Foram juntas jogar xadrez.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das quatro ficaram três.

Essas três, meu bem, que ficaram,
Foram juntas passear nas ruas,
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das três ficaram duas.

Essas duas, meu bem, que ficaram,
Viajaram pra Paraibuna.
Deu um tangolonomangolo numa delas
E das duas ficou só uma.

Essa uma, meu bem, que ficou,
Resolveu comer feijão.
De um tangolonomangolo nela
E acabou-se a geração!


A expressão tangolomango apresenta diferentes formas gráficas, como tango-lo-mango ou tanglomango – ou ainda tangomango, tanglomanglo, e por vezes até como “tanto surumango” ou “deu no tango deu no mango”, segundo José Mauro Brant, dentre outras expressões semelhantes. No artigo de Guilherme Neves, “Variações sobre o tangolomango”, referido abaixo, outras tantas expressões semelhantes são registradas. Ver algumas versões de tangolomangos e outras expressões usadas aqui 

E o tangolomango também aparece referido em diferentes textos e contextos com sentidos um pouco diverso, mas em um universo comum de significações. Às vezes aparece como mal estar imprevisto, má sorte, azar, malogro, caiporismo; outras como feitiço, magia ou como obscura força destrutiva; às vezes como doença súbita ou prolongada, real ou imaginária; outras como morte mesmo ou sumiço inexplicável. Frequentemente aparece – inclusive em dicionários – como uma doença produzida por feitiço ou sortilégio, nunca de causa natural. Sempre atribuída a feitiçaria, malefício, coisa-feita. José Mauro Brant, no encarte de seu CD “Contos, Cantos e Acalantos” (que traz o tangolomango “As nove filhas”), diz que tangolomango é um piripaque que não se explica, um mal súbito, repentino. 

Apesar desses sentidos, o tangolomango tem hoje um uso lúdico. Aliás, essa indefinição (ou pouca clareza) do que seja exatamente o tangolomango permite que hipóteses sejam feitas, que se brinque com o mistério, que significados sejam inventados, interagindo-se com o texto. 

Na verdade, essa indefinição bem pode ter relação com a origem dos tangolomangos, que, como ressalta Cascudo e outros autores, remete-se aos ensalmos enumerativos, que são fórmulas oracionais mágicas recitadas, usadas para curar, tendo também uma conotação de prática de cura por meio de reza, benzedura, feitiço. Tanto que, muitos tangolomangos tradicionais, na verdade, começam sua fórmula regressiva com nove e não com dez elementos, considerando-se o nove como um numeral altamente carregado de simbolismo, a que se atribuem poderes, frequentemente presente nas rezas e bezenduras praticadas ainda hoje. O nove é o quadrado de três, outro número carregado de simbolismo no catolicismo como em outras crenças. Não à toa existem as novenas... O nove, no campo das religiões e magias, diz Guilherme Santos Neves “é uma presença iterativa e teimosa”.

Sem contar também o prestígio e a força da ordem decrescente, dos números invertidos ou do sentido inverso nesses contextos, como ressaltado também por vários autores – elementos esses presentes nos tangolomangos. A ordem decrescente teria o poder de domar forças adversas.

Embora muitos desses ensalmos não tragam a palavra “tangolomango”, trazem a enumeração invertida iniciada em nove. No estudo de Guilherme Neves, citado e elogiado por Cascudo, ele se refere a origens bem arcaicas de textos enumerativos decrescentes, encantatórios, iniciados por nove, ligados à medicina curandeira da Gália latina e suposta origem dos tangolomangos.  

Além desse estudo, há o de Argus Vasconcelos de Almeida, intitulado “Tangolomango: ensalmos, benzimentos e parlendas nas práticas de cura e folguedos populares”, que pode ser acessado aqui e aqui.

Esse autor também aborda a uma origem arcaica do tangolomango, e ligada à cura, analisando a sua evolução histórica de ensalmo terapêutico até virar parlenda nos folguedos populares. Tem até ensalmos tangolomanguentos para curar de carrapatos, bicheiras e até lombrigas!!! Sabia disso?! Eu não! Pois tem! Vejam lá!

As lombrigas eran nueve;
de nueve volvéronse ocho;
de ocho volvéronse siete;
de siete volvéronse seis...

... e assim por diante...

Esses são dois textos muito interessantes e saborosos de ler! O tangolomango, como podemos aprender nesses artigos, foi citado em tratados sobre doenças, antes de virar brincadeira de criança...

Tendo essa relação com orações curatrizes, os tangolomangos se situavam entre um bem e um sortilégio. Como ensalmo traz o sentido de cura de malefícios...e como tangolomango, indica algo de mal ou mortal...Talvez, por essa origem, e por ficar obscuro se é caso de bruxaria ou exorcismo, de feitiço ou cura de feitiço, alguns tangolomangos, quando fixados no repertório de lengalengas da cultura popular, como folguedo de crianças, passaram apenas a contar a história do sumiço dos personagens na enumeração decrescente, sem relação com essas origens mágicas e, muitas vezes, sem citar a expressão “tangolomango” ou similares. Alguns textos ainda trazem certo mistério quanto aos sumiços, outros não.

Mas muitas versões mantiveram a expressão “tangolomango”, e repetimos a fórmula já destituída de relação com sua origem, suas virtudes mágicas, seu objeto original. Apenas as repetimos como uma cantiga, ou parlenda. Mas, seja como for, como ensalmo ou como folguedo, o tangolomango faz parte da cultura popular luso-brasileira e foi trazido ao Brasil, já como brincadeira, parlenda ou cantiga, pelos colonizadores portugueses.

Quanto à origem da palavra “tangolomango” em si mesma - já que nos ensalmos nem sempre aparecem - e, especialmente de seu uso nesses textos enumerativos, parece que se conhece menos. Em um estudo de João Ribeiro, diz-se que sempre se supôs uma palavra africana que passou a Portugal. No continente africano, com a forma tangomau, designava aquele que resgatava e comprava escravos para revendê-los. Mas o próprio João Ribeiro problematiza essa origem, veja aqui. 

Muitos tangolomangos criados contemporaneamente, usando ou não a expressão, começam não com nove, mas com dez, talvez, justamente porque, destituído desse sentido mais místico, passam a ser voltados mais para o deleite subtrativo das crianças e, sendo assim, começar a contagem regressiva por dez - os dez dedos da mãos, a primeira série de números que aprendem, a base do nosso sistema numeral - faz muito mais sentido do que começar por nove.

E, assim, com esse sentido meio fluido, pouco claro, o tangolomango fica como um mistério instigante que não há necessidade de explicar e com o qual, já distante de suas origens, se pode brincar. Brincar com a linguagem, brincar com os números, brincar com outras crianças... 

Como diz Guilherme Neves:
Ensalmo, oração, parlenda, cantiga de gente grande, auto ou dramatização do povo, o tangolomango, cansado de perambular nessas áreas adultas, fixou-se, até hoje (até hoje?) no alegre e colorido campo do folclore infantil”.
O parêntese do autor certamente se refere ao fato de que atualmente pouco se brinca ou se canta ou se recita o tangolomango, bem como outras brincadeiras e textos da tradição oral. Como ele mesmo diz no final de seu artigo:
Todos sentimos que, com o perpassar dos tempos, muito da preciosa riqueza do folclore menineiro se desvirtuou, se desfez, se esqueceu e morreu (...). E é uma pena, uma grande grande grande pena…
Nem desmerecendo nem romantizando as culturas populares – pois essas são armadilhas que convém evitar – é preciso ter em mente o que significa esse “popular” referido, o que significa trabalhar com esse popular na escola, o seu papel nas culturas lúdicas infantis, o seu lugar como cultura, diversidade, parte de nós, e não como uma visita na semana do folclore, entrando pela porta dos fundos da escola. Como trazer a riqueza dessas brincadeiras e textos, fazê-los parte do repertório textual e brincante das nossas crianças, sem folclorizar as manifestações da cultura popular? Essas são discussões importantes, que temos que ter em mente, pensar, discutir, afirmar. Falaremos mais disso em outra oportunidade... 

Por ora, resta-nos não perder de vista a origem oral, popular, desses textos, que hoje podem entrar na escola de modo mais valorizado e legitimado que em tempos atrás, justificados pela cultura lúdica infantil, por seu valor na apropriação das identidades e diversidades culturais e valor nas explorações de linguagem das crianças, inclusive bem apropriados para o desenvolvimento da oralidade e reflexão sobre a escrita, como já tivemos oportunidade de discutir inúmeras vezes (ver mais sobre essa questão na minha brochura sobre textos da tradição oral na alfabetização, aqui.)

Esses textos resistem e persistem também pelas mãos dos autores que os retomam, recontam, reinventam e os reapresentam, de novo, para nós, ainda que através da cultura escrita, registrados nos livros, com belas ilustrações. 

Bom, gente, mas se os tangolomangos foram perdendo terreno também como folguedo infantil, ao menos estão reaparecendo aqui e ali em apropriações contemporâneas por autores de literatura infantil. Por outro lado, é certo que alguns desses textos renunciam a aspectos próprios aos tangolomangos... o que torna interessante poder retomar os tangolomangos mais tradicionais também. Talvez o contato com esses livros, além de proporcionar deliciosas brincadeiras, seja uma boa oportunidade para conhecer a estrutura desse texto enumerativo decrescente e reavivar o interesse pelos tangolomangos tradicionais. Dez, nove, oito, sete, seis...não vamos deixar o tangolomango desaparecer de uma vez!!!

É isso aí, gente. Interessante origem, não é? Eu aprendi muito com essa pesquisa... espero que vocês também aproveitem! Tem mais outros dois posts sobre tangolomangos, tem muito mais!!! No próximo, falo dessas reapropriações dos tangolomangos, com dicas de livros de literatura infantil que trazem as enumerações decrescentes em estruturas semelhantes a eles. Aqui. E por fim, tem o post com algumas atividades de língua e de matemática, aqui.

Mas para deixar um aperitivo, digo: e não se enganem, além desses, há tangolomangos por toda parte! Mesmo para maiores de idade... Quer ver? Para quem não se lembra, há uma versão atual pernambucana de tangolomango cantado, do Mestre Ambrósio: “Usina (Tango no Mango)”, composição de Chico Antônio e Paulírio, que você pode ouvir, aqui, e ler a letra aqui. 

Divirtam-se!
Lica

Referências:
  • ALMEIDA, Argus Vasconcelos de. Tangolomango: ensalmos, benzimentos e parlendas nas práticas de cura e folguedos populares. Recife : EdUFRPE, 2012. Disponível aqui.
  • CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore brasileiro. 9ª edição. São Paulo: Global, 2000
  • NEVES, Guilherme dos Santos. Variações sobre o tangolomango. Revista Brasileira do Folclore, Rio de Janeiro: MEC; DAC, ano XIV, n.41, p.13-35, Mai-Ago 1976. Disponível aqui. 
  • RIBEIRO, João. Frases feitas; apresentação Evanildo Bechara; introdução Joaquim Ribeiro. 3. ed. Rio de Janeiro: ABL, 2009. Coleção Antônio de Morais Silva. Coleção Antônio de Morais Silva ; v. 8. Disponível aqui.
  • ROMERO, Sílvio. Folclore brasileiro: cantos populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1985.
  • Site Jangada Brasil: http://jangadabrasil.com.br/novembro/ca31100e.htm

14 comentários:

  1. Gostei muito de aprender com o posto sobre o tagolomango. É ótimo saber que podemos levar outras possibilidades e linguagens para contribuir com as aprendizagens das crianças. Esta brincadeira com as palavras promove a construção do pensamento lógico-matemático e aciona as noções de identificação, classificação, inclusão, reversibilidade... Parabéns pelos posts. Adoro esta oportunidade de aprender por aqui viajando no tempo e no espaço.
    Riso Almeida

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  2. Lica,
    não conhecia os tangolomangos com esse nome. Eles são muito legais, né? Muito bom ter essas informações sobre eles. Conhece essa música do Mestre Ambrósio? Eu adoro!


    Usina (Tango no Mango)

    Mestre Ambrósio



    Ajustei um casamento
    Com a nêga dum bordel
    Pensando que era uma moça
    E era o diabo duma véia

    Tombo no martelo tombador
    Tombo no martelo militar

    Me caso contigo véia
    Deve ser em condição
    D'eu dormir na minha rede
    E tu véia, no fogão

    Me casei com esta véia
    Pra livrar da fiarada
    A danada dessa véia
    Teve dez numa ninhada

    Desses dez que nasceram
    Um deu pra ladrão de bode
    Deu no tango e deu no mango
    Dos dez só ficaram nove

    Dos nove que ficaram
    Um deu pra ladrão de porco
    E deu no tango e deu no mango
    Dos nove ficaram oito

    Dos oito que ficaram
    Um deu pra ladrão de jegue
    Deu no tango e deu no mango
    Dos oito ficaram sete

    Dos sete que ficaram
    Um deu pra ladrão de rês
    Deu no tango e deu no mango
    Dos sete ficaram seis

    Desses seis que ficaram
    Um deu pra ladrão de pinto
    E deu no tango e deu no mango
    Dos seis só ficaram cinco

    Dos cinco que ficaram
    Um deu pra ladrão de pato
    E deu no tango e deu no mango
    Dos cinco ficaram quatro

    Dos quatro que ficaram
    Um deu pra roubar outra vez
    Deu no tango e deu no mango
    Dos quatro ficaram três

    Desses três que ficaram
    Um deu pra ladrão de boi
    Deu no tango e deu no mango
    Dos três só ficaram dois

    Desses dois que ficaram
    Um deu pra roubar jerimum
    Deu no tango e deu no mango
    Desses dois só ficaram um

    Desse um que ficaram
    Um deu pra roubar ladrão
    Deu no tango e deu no mango
    Acabou-se a geração

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  3. Oi, Juli...
    A canção do Mestre Ambrósio está citada no post, bem no finzinho...
    Pois é...são legais, né?
    Cada um sabe um pedacinho sobre os tangolomangos, tentei trazer o máximo de novidades que achei pesquisando sobre eles.
    ...e numa esquina podemos descobrir mais...
    Bjos,
    Lica

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  4. Riiiiso!!!!
    Ótima contribuição. Nos posts seguintes vou justamente falar sobre o trabalho com a linguagem e o pensamento lógico-matemático a partir dos tangolomangos.
    E com toda essa origem deles, o que fica reinando mesmo é o riso...
    Adorei que você comentou aqui, viu?
    Bjs,
    Lica

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  5. Oi Lica,
    Lendo o post lembrei de dois livros infantis. Um se chama os 10 sacizinhos e o outro acho que é as 10 Lagartas. Mas acho qua a expressao tangolomangos não aparece, Mesmo assim são considerados??? Você os conhece???
    Saudades..
    Renata / DF

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  6. Oi, Renata,
    Obrigada pela contribuição! Esses dois já estão no post que seguirá a esse, que será justamente sobre livros que trazem essa estrutura enumerativa decrescente dos tangolomangos, com a palavra expressa ou não...
    Os dez sacizinhos, de Tatiana Belinky, eu até tenho.
    Mas tem muuuuuitos outros, você vai ver!!!
    Tô só finalizando o post e já já estará por aqui... e divulgado no Face.
    Na verdade, a palavra pode não estar presente, como não estava nas orações curatrizes, não sei o quanto podemos chamar todos os textos enumerativos decrescentes de tangolomangos, até porque essa ordem inversa aparece em outros tipos de texto também, mas a estrutura é sim semelhante: além da ordem, versos ritmados e rimados, personagens que vão sumindo...
    E os autores se inspiram sim nos textos da tradição oral. Isso com certeza!!!
    Beijos,
    Aguarde o post!
    Lica

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  7. Muiiiiito divertido!
    Pessoal, olhem esses artigos indicados, são muito interessantes.
    Muito bom esse post, Lica. Legal poder saber essas coisas.
    Beijo,
    Patrícia

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  8. Não é bacana? Eu também adorei encontrar esses artigos e saber dessas coisas.
    Bjs,
    Lica

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  9. O professor Romilson de Recreação certa vez nos chamou a atenção para não folclorizarmos a cultura popular. Aliás, como bem trouxe o texto, "culturas populares". E aí ele fez uma provocação: até que ponto as culturas populares podem ser absorvidas pela cultura de massa etc. Não conhecia os tangolomangos, talvez meus avós tenham cantado. É jogo, é lúdico. Lembrei-me de homo ludens de Johan Huizinga: "O jogo antecede a cultura". O tangolomango é jogo. Gostei muito.

    Joston Darwin
    ABCB85

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    1. Exatamente, Joston!
      Por isso o campo das ciências sociais usam a expressão cultura popular e não folclore, que não dá conta da complexidade das práticas culturais em jogo, e traz - como discutimos na aula - uma perspectiva reducionista e até atravessada por juízo de valores.
      Quanto às relações com a cultura de massa, no minha visão, as matrizes culturais e as diferentes linguagens se mesclam, se hibridizam, não há separação estanque, não são impermeáveis e sofrem influência de outras culturas e linguagens o tempo todo. A fronteira entre a questão da preservação das culturas e o hibridismo inerente é uma questão complexa, não podemos ver as coisas de modo achatado. Cultura, cultura popular, cultura de massas, ou qualquer adjetivação, merecem sempre análise cuidadosa.
      Sim, o tangolomango, como os diversos textos poético-musicais da tradição, é jogo e é cultura.
      Que bom que gostou!
      Liane

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Algumas coisas vão se perdendo no tempo, principalmente nos dias de hoje que a cada segundo surgem novos conteúdos, as informações chegam tão rápido que nem temos tempo para assimila-las. Eu lembro dos tangolomangos, aprendi na escola, na epoca da alfabetização, mas foi algo que foi se perdendo a ponto de eu não mais lembrar.
    Como disse o Joston "é jogo, é lúdico" e as crianças aprendem muito dessa forma. As parlendas são prazerosas, divertidas, as rimas levam à curiosidade, a aflorar a imaginação.
    As parlendas estão presentes na nossa vida desde sempre, então apresentar esse recurso no processo de alfabetização é uma forma muito interessante para a aprendizagem.
    Fiquei muito feliz ao ler esse POST e relembrar os tangolomangos.

    Abraços,

    Camila Lomba
    EDCB85

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    1. Oi, camila!
      Que bom!
      Esse é, de fato, um repertório da cultura lúdica muito, muito potente para a alfabetização. Mas, claro, é preciso resguardarmos seu caráter de texto oral, que se sabe de cor, que se diz e ouve pela voz, carregada da situação de interação cultural significativa e afetiva.
      Falaremos mais sobre isso na aula sobre o tema.
      Abraço

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  12. Aliás, Camila, um bom começo para constituir nosso repertório inicial de textos da tradição oral, bem como de literatura, para ter na nossa "paleta metodológica" como professores, é resgatar essas referências que fizeram parte de nossa infância e que é nosso, e com o qual temos uma relação afet

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