Como
prometido, vamos falar um pouco sobre o trabalho com as histórias com repetição
e acumulação na apropriação da leitura, já que esses são gêneros que, além de
muito indicado para os pequenos, são também privilegiados nesse sentido. Entremeado
a essa reflexão, vou mostrar um kit de materiais da história “Ah, Cambaxirra, se eu pudesse...”, de
Ana Maria Machado, confeccionado por Ana Antunes e seus alunos.
Evidentemente,
antes de qualquer trabalho com foco na reflexão sobre a linguagem, importam as
histórias em si mesmas, sua natureza literária. Seja de tradição oral ou
escrita, o foco primordial é a história, a graça ou encantamento que elas
trazem. As histórias com repetição ou acumulativas têm esse quê de brincadeira
com a retomada repetitiva de frases e situações e com a embolação acumulativa,
que agrada muito às crianças, se bem lidas ou contadas.
À
medida que o professor propõe às crianças a leitura ou a contação de contos
desse tipo, elas vão constituindo um repertório de textos conhecidos, fazendo
articulações entre contos diferentes, observando semelhanças e diferenças e se
apropriando da estrutura repetitiva que os caracteriza. Isso Ana bem percebeu em
sua turma! Já podem até criar uma história acumulativa, já pensou, que legal
que deve ser pensá-la?! Pois bem, essa é uma possibilidade... pensar na
situação, nos personagens, de que jeito vão ser repetidas ou acumuladas as
ações...e o desfecho...e a professora ir escrevendo, relendo, todos opinando,
até que fiquem satisfeitos. Fica a dica! Mas é preciso, primeiro, ouvir várias
histórias desse tipo.
Bom,
e o que essas histórias têm de especial no trabalho com a leitura? Após um
elemento desencadeador da narrativa, um mesmo evento ou situação semelhante se
repete várias vezes, se acumulando ou não. As ações ou situações anteriores vão
sendo retomadas a todo o instante e, nas acumulativas, a cada repetição,
agrega-se mais um elemento, resultando numa longa enumeração. Ora, essa
estrutura facilita a antecipação das crianças do que virá em seguida, permite
que repitam oralmente as ações anteriores que se repetem ou se acumulam, o que possibilita
a retenção do enredo da história, de formas linguísticas, de trechos. O enredo,
muitas vezes bem simples, tem um ritmo também repetitivo, favorecendo essa memorização.
Isso vai facilitar diversas práticas, como veremos.
Mas
não são somente as crianças que podem memorizar a história, não! Devido a sua
origem como narrativa oral, é interessante que algumas histórias acumulativas
sejam contadas de memória, sem o
texto escrito, com toda a vitalidade e colorido da contação, especialmente
aquelas da tradição oral. Experimentem, por exemplo, contar o Macaco e o Rabo!
Para isso é preciso ler várias vezes, se apropriar da história, fazê-la sua! E
aí sim contar para as crianças sem o livro. Como é um conto da tradição oral,
você pode contar do seu modo, com suas palavras, mantendo o enredo e a estrutura
da acumulação. No post anterior tem um vídeo com a história. Veja aqui duas versões desse conto: O Macaco e o Rabo. Encontre o seu jeito de contar!
Mas como
contar de memória nem sempre é possível – pois para isso quem conta deve se
sentir à vontade para narrá-la oralmente sem o apoio do livro – então, mesmo
quando lida oralmente pelo professor, é fundamental que a leitura seja viva, cadenciada, atribuindo ao texto o ritmo que a
oralidade lhe daria, enfatizando o seu encadeamento. E a familiaridade com o
texto – ainda que não memorizado completamente – é essencial para se conseguir
esse efeito. Esse cuidado é importante não apenas para não tornar a leitura
monocórdia, monótona, sem ritmo – o que na história acumulativa, especialmente
nas que se assemelham a uma longa parlenda, é um risco ainda maior e estraga a
história – mas também para restituir-lhe a sua natureza oral. Aliás, qualquer
que seja o gênero de texto, a leitura compartilhada, como a contação, exige
sempre uma preparação.
|
Ana lendo para a turma |
Assim,
é necessário preparar-se para ler,
para contar, ensaiar a leitura oral, o ritmo, explorar as nuances do texto,
experimentar modos de ler e de contar que cativem as crianças e prendam a sua
atenção... Há trechos que podem ser lidos de forma mais lenta, outros que
demandam uma leitura mais rápida, como, por exemplo, quando a acumulação se
inverte... E, assim, ensaiando, você poderá tanto restituir bem, pela voz, a
oralidade do texto escrito, quanto ler para as crianças sem estar com os olhos
grudados na página a todo o momento, já que há trechos repetidos que podem
ganhar vida com gestos e olhares mais presentes, que busquem e capturem os
olhares das crianças. O leitor aí se coloca um pouco como contador, que busca
para si a atenção, não a centralizando apenas no objeto livro.
É
comum que depois de ouvir alguns trechos da história, as crianças também
comecem a enunciar as frases que se repetem e se acumulam no texto,
participando da narração e dando-lhe vida. O modo como essas histórias se
organizam favorece a participação mais autônoma das crianças na leitura,
permitindo que antecipem os acontecimentos, memorizem gradativamente o texto e
compartilhem a leitura, mesmo antes de ter o domínio da leitura autônoma. E
isso será importante para a apropriação dessa autonomia. As ilustrações – no caso de leitura de
livro – geralmente ajudam a fazer tais antecipações.
Mas
não se iluda! Como se retoma sempre os eventos anteriores e agrega-se a eles um
elemento novo, para avançar, estão presentes no texto tanto a repetição, o
reconhecimento de uma situação, quanto a novidade, garantindo assim o
desenvolvimento do enredo. E, no final, a surpresa! Lembre-se de dar um
colorido especial à leitura do trecho final, em que se introduz na história a
novidade que faz o rumo da acumulação parar, inverter ou prometer nunca
acabar... Observe que entonação, pausas e silêncios podem ajudar a ressaltar a
graça, a surpresa, o sentido da história.
Outra
coisa interessante é que, pelo fato de as repetições e retomadas se darem por
expressões de linguagem, esse gênero de texto pode apresentar também jogos verbais lúdicos, muito interessantes
tanto do ponto de vista de uma boa interação com os ouvintes, quanto para o
trabalho com a oralidade e a escrita: expressões e palavras repetidas,
onomatopeias, trocadilhos, rimas etc. Esses recursos podem, em um momento
posterior, favorecer a reflexão sobre os sons da língua e a observação das relações entre a linguagem falada e
escrita. E, durante a leitura, dão vida ao texto e à interação entre leitor e
ouvintes.
Assim,
além de divertir e encantar as crianças, função primordial da literatura, as
histórias com repetição e acumulação ajudam a desenvolver a oralidade e as aproxima da leitura. A estrutura de repetição,
acumulativa ou não, torna mais fáceis a leitura e a compreensão da história,
bem como possibilita a recuperação de sua estrutura narrativa e de suas formas
linguísticas. Em si, a memorização de parte ou de toda a história, facilita o
reconto, a pseudoleitura, práticas interessantes de apropriação da língua
escrita e da leitura.
Por
lançarem mão de um recurso muito interessante para a compreensão e a
memorização do texto, livros com histórias com repetição e com acumulação
favorecem a leitura interativa – as crianças ajudando a enunciar o texto em
trechos que se repetem – e a leitura autônoma (pseudoleitura) pelas crianças,
pois elas podem experimentar modos de ler um texto, com apoio da memorização e
nas ilustrações, antes mesmo de dominar a leitura.
Como
já dito, as situações de leitura
interativa, participativa, convidam a criança a assumir o papel de leitora
antes de saber ler com autonomia. Quando o enredo é mais elaborado, elas podem
assumir esse papel em determinados trechos, que trazem a repetição e
acumulação, enquanto o professor lê as outras passagens.
Na leitura autônoma, além de enunciar o
enredo do jeito que lembram, elas expressam procedimentos de leitura que
aprenderam observando quando leem para ela, a exemplo da entonação, o passar
das páginas, o tipo de linguagem do gênero ou do texto específico, a varredura
do texto pelo olhar da esquerda para a direita, dentre outros procedimentos de
leitura. A leitura de livros para e com as crianças ou por elas próprias são situações muito importantes de
aprendizagem de procedimentos e comportamentos leitores, de colocar-se como
leitor.
Além da
leitura compartilhada ou interativa e da contação, a estrutura repetitiva e
acumulativa se presta bem também a propostas como coro falado e encenação,
animando leituras coletivas.
Recontar a história, por sua vez,
preservando suas características, a sequência e o enredo, é uma atividade igualmente
muito produtiva de organização textual, de compreensão leitora, de aprendizado
das características do discurso escrito (ainda que trazendo marcas de
oralidade). O reconto, assim como a pseudoleitura, que são importantes
situações de apropriação da leitura, são possíveis graças ao apoio na
memorização da história, sua sequência, sua estrutura. No caso dos livros,
apoio também nas ilustrações.
Materiais para apoiar o reconto e refletir
sobre a escrita
Além
das próprias ilustrações dos livros, alguns materiais podem ser criados para
ajudar na recuperação da sequência da história, permitindo às crianças a recontarem
ou se arriscarem a ler mesmo que ainda não o façam de modo convencional. Fichas
com as figuras ou com nomes dos personagens e/ou ações, objetos e outros
elementos próprios a cada história podem servir como apoio à recuperação dos
personagens e ações sucessivas encadeadas. Como nas histórias acumulativas é
frequente ter vários personagens que vão se sucedendo uns aos outros, com ações
que vão se encadeando, para apoiar a recuperação da história e seu reconto, esses
recursos são muito úteis, como venho ressaltando nos posts das várias caixinhas de livros.
As
crianças podem, com ou sem a ajuda do professor, a partir do reconhecimento dos
personagens representados nas ilustrações das fichas ou mesmo escritos, ordená-las
na sequência de entrada dos personagens na trama e, depois disso, tentar
recuperar o texto, de forma aproximada. Aos que ainda não têm recursos
para tentar reconhecer as palavras das fichas por estratégias diversas, podem
ser dadas as fichas com as ilustrações. Mas para os que já podem tentar
reconhecer as palavras ou parte de palavras, através de estratégias diversas e
do conhecimento que têm de letras e relações entre letras e sons, ainda que
este seja um enorme desafio, terão uma boa tarefa de reflexão pela frente para
conseguir montar a sequência dos personagens para, então, fazer o reconto,
apoiar a recuperação do enredo.
Como
venho insistindo em vários posts, a
atividade de reconto - reconto oral ou reconto para produzir uma reescrita -
são oportunidades muito interessantes de usar as palavras para apoiar essa
reconstituição, em uma atividade que é a um só tempo de letramento e de reconhecimento
de palavras, de reflexão sobre o sistema de escrita, já que exige que as
crianças façam relações para descobrir onde está escrito o quê, usando seus
conhecimentos sobre a escrita.
Mas
além de apoiar o reconto, os nomes dos personagens escritos podem servir para
várias atividades de reflexão sobre a língua escrita, nas quais está em jogo
pensar nas relações entre a pauta sonora e gráfica. As fichas com figuras podem
ser associadas, pelas crianças, às fichas de palavras, ou podem ser usadas para
se jogar como jogo da memória, baralho, sempre emparelhando, associando, a
ficha da figura com a ficha do nome correspondente. Além disso, pode-se propor
a montagem desses nomes com letras móveis, com ou sem o apoio de fichas “faltando
letras”, constituindo-se, nesse caso, em atividade de escrita, não de leitura.
Estas
são atividades que exigem pesquisa inteligente, uso de estratégias, comparação
de pedaços das palavras com outras, já conhecidas, como os nomes próprios das
crianças da sala, por exemplo. No reconhecimento de palavras está em jogo tanto
a leitura mais global das palavras, que favorece a ampliação do repertório de
modelos estáveis de escrita convencional, quanto a ativação de estratégias de
leitura por parte das crianças, exigindo que usem o conhecimento que têm
disponível sobre letras e sons, partes de palavras, para resolver o que ainda
não sabem com autonomia. As letras finais e inicias das palavras, a presença de
algumas vogais ou mesmo consoantes, o tamanho das palavras, uma sílaba que é
reconhecida, comparada a um nome próprio, tudo isso pode constituir em
elementos para as reflexões das crianças.
No
material abaixo vocês podem observar essas fichas. Os personagens foram desenhados tendo por base as ilustrações do livro.
Esse
material, como vocês podem observar, foi desenhado por crianças. Então, essa
foi um ideia que tive e que Ana desenvolveu em sua turma, a partir da história Ah, Cambaxirra, se eu pudesse... Falando
com ela sobre desenvolver um kit de materiais a partir de histórias
acumulativas, sugeri que as próprias crianças fizessem o desenho dos
personagens. Eu sempre quis ter um material ilustrado pelas crianças e sugiro
isso sempre aos professores que confeccionam seus materiais nas oficinas. Ana
gostou da ideia e fez um trabalho muito bacana com a turma dela de 1º ano. Esse
é o material que aparece nas fotos com as crianças. Na foto acima aparecem
fichas do kit que fiz para Joaquim, a partir dos desenhos das crianças de Ana.
Para
seus alunos, que, em sua maioria, já sabiam ler, o mais gostoso e produtivo foi
mesmo toda a preparação do material. Mas é Ana
mesma quem conta sobre esse processo, em um texto que pode ser lido aqui.
Assim
como o nome dos personagens, outras palavras e expressões que marcam o texto –
como as suas ações, seus qualificativos, caso haja isso no texto, os objetos
que carregam, quando é o caso – podem ser escritas em outras fichas para ajudar
a reconstituição da história, a recuperação de sua sequência, e também serem
usados em jogos de emparelhamento.
|
As três fichas do kit |
A
história Ah, Cambaxirra se eu pudesse...
inspirou o grupo de Ana a criar um outro conjunto de fichas, dessa vez com elementos
definidores de cada personagem, que foram selecionados para facilitar o
reconhecimento dos desenhos. Nesse caso, esses elementos não estavam na
história, no texto, mas foi um recurso usado para facilitar a caracterização de
cada personagem, alguns dos quais são muito parecidos: lenhador, capataz,
barão, duque, marquês, conde, visconde, imperador...caracterizados pelos
seguintes elementos: camiseta, camisa, blusa com babados, capa, casaco, túnica,
chapéu, coroa.
Assim,
surgiram também as fichas com esses marcadores escritos, criando-se, assim, a
possibilidade de associar as fichas com os personagens desenhados, as fichas
com seus nomes escritos e as fichas com esses marcadores. Um jogo de trinca!
Em
outras histórias, aparecem já no texto elementos que podem compor fichas do
kit. Há contos em que cada personagem carrega um objeto ou cada personagem faz
uma ação. Esses objetos e ações podem também compor conjuntos de fichas, tanto
para favorecer a reconstituição do texto pelas crianças, as sequências, o que
vai com o quê ou faz que ação, quanto para serem associadas entre si: cada
imagem do personagem associado ao seu nome, ao seu objeto ou ação, e assim por
diante. Quando há ações ou qualificativos associados a cada personagem, novas
palavras podem, assim, surgir no kit de materiais. No conto o Macaco e o rabo, por exemplo, podem ter fichas com o desenho e outras com a palavra leite, capim, sapatos, cerdas, e assim por diante...
Outra coisa interessante é
quando na história enumerativa há, de fato, números – por vezes há, como em “O
nabo gigante” e “E o dente ainda doía”, dentre outros – os algarismos (5) e os numerais
escritos (cinco) podem também compor o kit, em fichas escritas. Na coleção de
livros com histórias acumulativas de Ana Maria Machado (mostrada no post anterior, sobre o tema), tem duas
histórias enumerativas: “O domador de monstros” e “Uma boa cantoria”.
|
Memória nome-figura |
Em
kits de materiais desse tipo, as fichas com os nomes dos personagens e de
outros elementos da história podem ser usadas para outras tantas atividades,
como fazer comparações de palavras, apoiar a escrita, compor trem de nomes,
preguicinha, dentre outras propostas. Enfim, as possibilidades são inúmeras. Cada
história se presta a diferentes propostas, cada uma pode constituir um kit
diferente, com propostas e materiais semelhantes e outros bem peculiares àquela
história específica. Nesse kit da Cambaxirra, Ana trabalhou com três tipos de ficha,
que podem ser associadas duas a duas ou em trios.
Interessante
também é quando há, no conto, situações que, ao final, se invertem, pois novas
reorganizações da ordem das palavras – ou mesmo novas palavras para o kit – podem
ser propostas. Por exemplo, na "Casa Sonolenta", bem como na história
"A Velhinha Maluquete" e no "Por que o caranguejo não tem
cabeça", “A história da coca”, dentre outras, a ordem, ao final é
invertida. Os dorminhocos que se acumulam na cama aconchegante da casa
sonolenta começam a acordar, de um em um, invertendo-se a ordem, com novas
ações dos personagens. Quem dormia leva um susto, e vai acordando: a pulga
acordada pica a rato, que assusta o gato, que arranha o cachorro, que cai no
menino, que dá susto na avó, que quebra a cama...
Em
termos de apropriação do sistema
alfabético, além de toda a reflexão que a tentativa de reconhecimento de
palavras põe em jogo, vale ressaltar ainda que histórias com palavras, frases e
trechos repetidos e acumulados favorecem a observação de aspectos qualitativos
e quantitativos da escrita, de algumas regularidades da organização da escrita
que, embora óbvias para um leitor proficiente não o é para os que ainda não leem
com autonomia. Como exemplo, podemos citar a relação entre a quantidade de
ações que vão se acumulando e a quantidade de texto escrito (na “Casa
Sonolenta”, o texto vai aumentando a cada personagem que se deita na cama, uns
por cima dos outros); a observação do que muda e do que permanece em enunciados
que se repetem (repete-se a frase, mas muda-se o personagem, por exemplo, como
em “Bruxa, Bruxa”, dentre outros); que palavras iguais escrevem-se da mesma
maneira, com a mesma sequência de letras; que há espaços entre as palavras e a
própria ideia do que é palavra; que tudo o que se diz ao ler está escrito e na
mesma ordem que se enuncia, dentre outros aspectos.
Assim,
por meio de textos desse tipo, é possível estruturar atividades que permitam
diversas ordens de apropriações e a construção de diferentes conhecimentos
ligados à oralidade, à escrita e à leitura, tanto no sentido amplo do
letramento, quanto na alfabetização propriamente dita. Além disso, não podemos
perder de vista o aspecto de brincadeira que esses textos trazem. Brincadeiras
com a linguagem...
Jogar
com as palavras que povoam as histórias pode ampliar a leitura ou matá-la, tudo
depende de como se faz... e, por isso, nessas propostas, é fundamental não
perder nunca de vista os aspectos literário e lúdico, centro de toda a potência
da leitura literária...
Aliás,
por falar em brincar, quem não se lembra daquela brincadeira acumulativa que é “Fui à feira e comprei...”. Cada um
vai dizendo uma coisa que comprou e o jogador seguinte deve repetir a dos
jogadores anteriores e acrescentar a sua compra...e assim por diante... Se colocarmos
um critério sonoro nessa brincadeira, a exemplo de outra brincadeira parecida
que é a “Lá vai a barca carregadinha de...”, podemos então fazer uma feira de
rimas, como por exemplo: “Fui à feira e comprei pão”... “Fui à feira e comprei
pão e feijão...”...”Fui à feira e comprei pão, feijão e agrião”... Ou uma feira
de sons iniciais... E assim, essa brincadeira acumulativa já se constitui em
uma ótima atividade de reflexão fonológica. A “Lá vai a barca carregadinha
de...” já é em si fonológica, na medida que o objetivo é, justamente, levar na
barquinha palavras que tenham alguma semelhança fonológica (rimas, sílaba
inicial, fonema inicial etc) com as ditas anteriormente, cada um dizendo uma,
completando a barca: “Lá vai a barca carregadinha chaves, xales, xícaras,
chuchu, chuva, cheiro, chaveiros, chiclete...”
Bom,
para finalizar, por ora, adianto que estamos pensando em fazer uma série de kits
de histórias acumulativas, com textos e materiais, iniciada com o “Ah, Cambaxirra se eu pudesse...”. Não
sei se formarão kits diversos ou se depois juntaremos em um grande kit
acumulativo. E quero investir mais – através de minhas parceiras, já que não
estou em sala de aula - nas fichas com as próprias ilustrações das crianças, a
partir dos contos acumulativos lidos e trabalhados. Vamos ver, aos poucos,
o que sai.
Como
alguns de vocês sabem – através das oficinas e aqui no blog – esse tipo de
história repetitiva e acumulativa faz tempo está no meu repertório de materiais
para alfabetização a partir da literatura e da tradição oral. Com o Projeto Trilhas,
essa paixão antiga foi renovada, pois dois dos cadernos do projeto referem-se a
isso, o Caderno das Histórias com Repetição e o Caderno das Histórias com
Acumulação. Os dois cadernos, que estão na biblioteca do Portal, trazem algumas propostas de atividades a partir
desses gêneros. É só acessar:
As propostas
desse post e as dicas de livros do post anterior sobre histórias
acumulativas podem perfeitamente se articular com as propostas do Trilhas, para
as escolas que estão desenvolvendo o projeto. É uma dica!
É
isso, gente. Logo mais continuo esse post
com outros relacionados a ele: o dos Tangolomangos, que já está quase pronto, e
um que já prometi há tempos, da Caixinha do livro A Casa Sonolenta, já bem
antiga no meu acervo. Tão antiga que até pensei que já tinha feito o post. Rsrsrs!!! Mas as fotos vocês já
viram, para que não a conhece ao vivo e a cores, né?
E no
mais, aos poucos, vou mostrando outras caixinhas de livros do kit de
acumulativos que, com certeza, chegarão...
Não
se esqueçam de dar uma olhada no texto de Ana Antunes, com mais notícias de
como ela desenvolveu o trabalho com essa história em sua turma esse ano e a
confecção do kit com a participação ativa das crianças! Tem mais fotos do
material lá, e ótimas dicas! O link é aqui: clique!
Aproveito para agradecer, mais uma vez, a Ana, por essa parceria. Valeu, Aninha!!!
Abraços,
Lica
Seguindo a sua sugestão, Lica, já iniciamos o processo de construção da nossa história acumulativa...
ResponderExcluirEu adorei participar desse trabalho, as crianças também e certamente teremos novos desafios com outros livros.
A participação das crianças na elaboração do material foi uma novidade e o resultado uma surpresa muito agradável.
Vale a pena investir naquilo que acreditamos!
Beijos,
Ana
Oi, Aninha!
ResponderExcluirQue bom que já começaram! Depois conte para a gente como foi, se deu certo, os desafios e surpresas que ocorreram...será um ótima contribuição!
Oba! E ela já topou experimentar com os outros livros, cês estão vendo, né? Rsrsrsrs!!!
É isso, gente, os depoimentos de quem experimenta fazer são fundamentais para confirmar que é possível refletir sobre a língua pela via da literatura e da brincadeira...
Bjs,
Lica
Aaaaah!!! Eu lembro desse livro da minha infância...que nostalgia me deu!
ResponderExcluirMas era outra edição.
Adorei as dicas!
E mais ainda a idéia das fichas com os desenhos das próprias crianças.
bjão,
Taise
É Taise...a Ana Maria Machado já esteve na infância de muita gente, né?
ResponderExcluirBjs,
Lica
Gostei muito das ideias, principalmente da produção dos alunos participando ativamente de todo o processo. Obrigada pelas dicas!
ResponderExcluirÉ isso aí, Cristiane!
ExcluirFoi isso que eu gostei também, mostrar junto com Ana que é possível fazer junto com as crianças e constatar o que a gente já sabe - desse jeito elas ficam muito mais interessadas e implicadas.
Abraço,
Lica
Gostei muito das ideias Professora. Ouvimos muito falar sobre a questão de ensinar a partir das curiosidades e interesses das crianças e não vemos muito na prática. O blog auxilia muito para quem tem a sede de fazer diferente, revolucionando as maneiras de ensino.
ResponderExcluirAdoro os livros de repetição\ acumulação, nas minhas experiências de estágio, pude constatar que as crianças também adoram, não somente pela possibilidade de prever o que acontecerá, como também o desenvolvimento da capacidade de adaptar o enredo de forma divertida e fazendo um jogo com diversas palavras que além de diferentes, para eles tem sonorização "engraçada". Por isso contar histórias para criança se torna tão fundamental. Aprendizagem de diversos elementos que para nós já está internalizado e que para eles é só o começo de uma grande jornada, que da forma como você pontua aqui, pode ser muito leve e lúdica.
A literatura e a tradição oral é uma fonte riquíssima de aprendizados potentes e culturalmente contextualizados sobre a linguagem.
ExcluirPara mim, teorizar sem pensar em desdobramentos práticos não funciona, para mim, já vem junto!
Abraço,
Liane
Não sabia, mas depois do contato com o componente e algumas leituras, para as crianças pequenas, repetições são fundamentais para o formação da consciência linguística. A repetição de sons da língua, presente em recursos como rimas e aliterações, constrói a percepção fonológica, que está na base da formação do leitor. E essa habilidade se desenvolve brincando, em momentos de leitura de versos, canções e jogos de linguagem.
ResponderExcluirNesta fase da alfabetização, os livrinhos que brincam com sons e rimas são recebidos com entusiamo pelos pequenos leitores, pois mostram que a língua tem ritmo e pode ser divertida. Isso demonstra como o processo de aprendizagem, pode e deve ser leve e divertido.
Mariana Costa
EDCB85- Alfabetização e Letramento
Isso aí, Mariana!
ExcluirA única coisa que faço a ressalva é que não se trata exatamente de percepção, no sentido de algo perceptivo. É cognitivo, metacognitivo! Bem diferente.
Lógico que a percepção entra, mas o importante é a natureza metalinguística envolvida aí.
Claro que falamos "percepção" em um sentido comum, mas como, nesse contexto importa muito, melhor evitar o termo.
Estou gostando de ver sua interação com o blog!
Abraço,
Liane
Liane,
ResponderExcluirEsse post me fez pensar a importância de uma formação que ultrapasse os limites do conteúdo. Para cativar as crianças, a professora (ponho no feminino, pois somos maioria com as a educação infantil até o fundamental I) precisa de um mega tempo de leitura e um exercício de desenvoltura, rs!! Para experimentar esses modos de ler que o texto sugere, precisamos nos lançar sem vergonha e modular a nossa voz, e nossas expressões. Na faculdade pouco priorizamos o corpo todo. No cotidiano da escola com as crianças a gente nota o quanto precisamos ter um baú "dentro" e "fora" de nós para cativá-los e o quanto usamos muito mais que as mãos.
Fiquei encantada com o livro "Bruxa, Bruxa" da Arden Druce . Porém, me fisgou o vídeo no Youtube com uma criança super interagindo com o este livro. Será que as nossas crianças são estimuladas no que se refere a oralidade a partir dos livros de repetição? Quando criança não tive esta oportunidade. Como estudante de Pedagogia fico feliz por poder pensar aproximação da leitura desde cedo. Creio que seja um passo para a formação de futuros leitores só que respeitando o presente desses leitores.
Louise
EDCB85 2018.2
Sim, Louise, concordo plenamente que o curso prepara pouco, nem em termos do repertório, nem em termos da própria performance. E sempre que há experiências bacanas nesse sentido, vemos a diferença que faz... Os professores precisam aprender a contar histórias, a ler bem em voz alta, a brincar, ser um pouco brincante e criança também...
ResponderExcluirDa minha parte, busco ao menos ampliar o repertório de vocês quanto a possibilidades literárias, de jogos, da tradição oral, de brincadeiras com a linguagem...
Vamos fazer diferente do modo como foi com a gente!
Oi Lica,
ResponderExcluirMais uma vez me encantei com o que você mostrou na sala de aula e quando li suas postagens fiquei mais encantada ainda.
Essas caixas dos livros são incríveis e elas conseguem ir além da leitura, fazendo com que as crianças descubram e se aprofundem mais na leitura. Eu considero o reconto uma coisa muito importante e criativa e essas caixas auxiliam muito nesse processo.
Obrigada mais uma vez.
ANTONIA FEIERABEND CALLAS
EDCB85 2018.1
Pois é, Antônia...garantindo a leitura, a compreensão, o deleite, a fruição - o principal da leitura, a literatura pode também ser contexto (nunca pretexto) para analisar aspectos da língua... A língua é viva! Os processos mais elementares da leitura são parte da possibilidade de ler e se encantar. E podemos refletir sobre a língua de forma leve, alegre, brincante, sem matar o texto.
ExcluirÉ como penso...
Liane, parabéns pelo belo texto!
ResponderExcluirE quero te dizer que sempre saio das suas aulas encantada de como você nos mostra os métodos e a importância de estimular os momentos de leitura desde a infância. Pois como se encontra no texto, a leitura interativa e participativa, é onde convida a criança a assumir o papel de leitora antes de saber ler com autonomia. Pois traz o desenvolvimento e ampliação das capacidades cognitivas da criança para uma compreensão de ideias com novos conhecimentos e visões de mundo diferenciados. Além de tudo, formaremos futuro leitores com importante hábitos para a formação intelectual, cognitiva e cultural.
Lorena Ribeiro
EDCB85 2019.1
Que bom que está gostando das aulas e do posts, Lorena.
ExcluirTemos uma carga horária pequena para tudo que a questão da alfabetização envolve, especialmente, pouca chance de, na formação inicial, mais generalista, abordar aprofundadamente a dimensão didática do trabalho com a alfabetização.
Por isso, tento, dessa forma que encontrei nas aulas e com o complemento do blog, ir ampliando nossos momentos em torno dessa dimensão didática, de tentar se aproximar mais de uma articulação entre teoria e prática.