quinta-feira, 4 de julho de 2019

AULA ABERTA



Essa postagem refere-se a parte do estudo que fizemos no componente curricular EDC B85 – Alfabetização e letramento, na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (FACED/UFBA), no semestre de 2019.1. No estudo do campo atual das concepções de alfabetização e dos conceitos de alfabetização e letramento, geralmente articulamos as instâncias das teorizações, das políticas públicas e das concretizações na prática escolar. Esse estudo, esse semestre, envolveu a contextualização dessas discussões no cenário atual das políticas de alfabetização, que envolve desde a criação da Secretaria da Educação no MEC, a indicação de Carlos Nadalim como secretário, até a publicação do Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019, que instituiu a Política Nacional de Alfabetização, indicando uma varredura do letramento e uma redução da dimensão fonológica, fundamental na alfabetização, à consciência fonêmica.

A nomeação de Carlos Nadalim, youtuber que defende a educação familiar e o método fônico sintético como única metodologia válida de alfabetização, foi comemorada pelos defensores da abordagem fônica e criticada por profissionais do campo. A própria Magda Soares – atacada diretamente pelo youtuber – veio à mídia se manifestar, em duas entrevistas contundentes, aqui e aqui. A Associação Brasileira de Alfabetização – ABAlf lançou um Manifesto direcionado ao Ministro da Educação, questionando a indicação de um método único pelo MEC.  Essa discussão você pode ver aqui mesmo no blog, no post de contextualização, aqui

Como o conteúdo do nosso estudo é a alfabetização e o letramento, acompanhamos esses acontecimentos pela mídia, estudamos o campo das concepções de alfabetização, e uma das referências que tomamos para refletir sobre esse campo conceitual e essas polêmicas foi um dos vídeos do canal de Carlos Nadalim, intitulado “Letramento, o vilão da alfabetização”, anterior a sua indicação ao cargo no MEC. Por tratar, justamente, de alfabetização e letramento, nos pareceu importante nos dedicar a analisar esse vídeo. Uma análise detalhada do vídeo, com estudo da temática, está aqui, no blog.

A nossa indignação foi tamanha, diante das afirmações, da animosidade e dos equívocos conceituais desse vídeo - equívocos relativos também ao campo que ele defende - que muitas das produções dos estudantes do componente se apoiaram nas críticas ao pensamento reducionista do atual secretário. E eis a nossa primeira explanação do tema, essa produzida por mim, docente da turma:


Sim! conhecer e resistir. Por isso me empenhei esse semestre em esclarecer sobre essas questões, tanto nas aulas, quanto no blog.

Entretanto, sabemos que Nadalim não está trabalhando sozinho – e nem poderia, considerando o nível de simplismo e dos equívocos conceituais de suas propostas – e nos baseamos também, para essa apresentação, no Decreto nº 9.765, que instituiu a Política Nacional de Alfabetização (PNA). Por isso, essa referência ao final da receita. Como o Decreto foi tardio em relação ao nosso estudo inicial, foi menos abordada e, assim, concentrei, na minha parte dessa apresentação, nesse documento.

Assim, do mesmo modo que a receita acima, a consigna dada aos estudantes foi a de que, baseados em nossos estudos e nas fontes que acompanhamos na mídia, expressassem as aprendizagens e discussões através de algum gênero textual, considerando a discussão sobre a relação da diversidade textual e o letramento, conforme nossos estudos. E nossa ideia sobre isso vem também num gênero textual. Para tal, assinamos um contrato:

O Contrato fala, por si só, de nosso intuito ao tomar os gêneros nessa relação de metalinguagem, desviando de suas funções para falar, através de todos eles, desse cenário. E como, em seu parágrafo único, o Contrato refere a possíveis dúvidas sobre o léxico usado no texto, indicando a consulta aos verbetes do Glossário anexo, eis também o Glossário.

Dito isso e feitos os acordos necessários, avancemos! Para conhecer mais sobre a situação, com o nosso abre alas!


E para contextualizar melhor essa indignação, vamos de textos jornalísticos, de início, com jornal televisivo, com os jornalistas Iuri Silva e Perla Fonseca, bloguerinha estreante como repórter - dá pra notar, né? 😏😉


Fica claro aí que a questão do método não é panaceia para as complexas questões de alfabetização no Brasil, não é? E emendando... segue o cartaz da propaganda de uma Cartilha explicativa para instruir sobre esse assunto, elaborada por um dos grupos, e a própria Cartilha, que formou um livreto, pronto para circular, informando ao povo sobre a situação. A Cartilha explicativa informa, a seu modo, a situação polêmica envolvendo Magda Soares e a indicação do secretário da alfabetização, Carlos Nadalim. A linguagem simples, direta, o uso de recursos como quadros, imagens, figuras esquemáticas, balões de fala, garantem a explicação didática e, ao mesmo tempo, irônica.


Cartilha e Cartaz... Mais dois gêneros nessa nossa conversa! 





E como intervalo, pausa no jornalismo, vem aí alguns versos do mesmo grupo, que nos convocam a pensar.

E como é isso de ataque ao letramento? Por que esses versos terminam afirmando a alfabetização e o letramento? Vamos ver? Voltando aos textos jornalísticos, depois do intervalo comercial, com propaganda e versos, vamos a mais informações. Seguem as MANCHETES dos últimos acontecimentos sobre a Política Nacional de Alfabetização (PNA), no Jornal O LOBO, para nos deixar mais informados, e os CLASSIFICADOS, para entendermos o que querem vender de nossa educação!



Antes, porém, convém lembrar que o Decreto que institui a Política Nacional de Alfabetização (PNA), embora não indique o método fônico como único, define os componentes que julgam essenciais na alfabetização, que se afiliam a essa abordagem. Essa indicação é considerada, por diversos pesquisadores do campo, como um grave erro político e pedagógico, reduzindo a complexidade da linguagem escrita e de sua realidade multifacetada - coisa que a BNCC aponta.

Quanto ao currículo, é importante ressaltar que o Decreto não cita a BNCC, que traz perspectiva diversa dessa PNA. A BNCC, com todas as críticas que podemos fazer a ela – e não são poucas –, paradoxalmente, nos protege, hoje, de tal barbaridade. A BNCC, ao menos, compreende a alfabetização como um fenômeno complexo, e marca o contexto social que a criança está inserida, o grau de letramento familiar dentre outros aspectos, como importantes aspectos a serem considerados. 

Da mesma forma, o Decreto não utiliza o termo letramento, conceito que, embora não seja consensual no campo, é complexo e amplamente utilizado  e estudado  no Brasil. Mesmo os partidários de não usarmos o termo letramento, ou melhor, não de termos dois termos, alfabetização e letramento, o defendem considerando a alfabetização em sua dimensão mais ampla, sociocultural e discursiva. Entretanto, nesse caso da PNA, a opção semântica pelo termo literacia, usado em Portugal, não é uma opção neutra, tem implicações pedagógicas e ideológicas. Trata-se de conceito que reduz o letramento a conhecimentos e habilidades individuais,  banindo sua natureza sociocultural e sociopolítica, que envolve as diversas práticas sociais letradas, os usos e funções sociais da escrita nas diversas esferas da comunicação humana. Para saber mais sobre isso, veja esse post aqui no blog.

E vamos às manchetes e classificados! Role e veja! (pena que aqui não aparece rodando feito notícia de jornal em desenho animado, como no efeito na hora da apresentação...).



Sobre a manchete que fala das evidências científicas, podemos ler na matéria: "A PNA instaura uma retórica da alfabetização 'baseada em evidências científicas'. Embutida nessa linha argumentativa está a ideia de que há um tipo de ciência mais válido do que outro e uma suposta neutralidade na transmissão de conhecimentos vistos como objetivos, universais e estáveis.

Magda Soares, importante pesquisadora na área, afirma que há, nesse tipo de argumentação um privilégio concedido à pesquisa quantitativa, experimental, como únicas confiáveis, em detrimento de pesquisas qualitativas. A autora denuncia o pressuposto de que os resultados de pesquisas experimentais, com alto grau de controle de variáveis, possam  ser generalizados para toda e qualquer escola, sala de aula, professor e grupo de alunos. Já a professora Liane Araujo lembra que resultados de pesquisas precisam passar por interpretação pedagógica e se articular com outros fatores, inclusive de ordem sociocultural. Há resultados das pesquisas cognitivas que precisam ser considerados, diz a docente da UFBA, mas pesquisa não pode se confundir com prática pedagógica, na qual é preciso dar conta de diversos aspectos.

Ademais, esses resultados não podem se constituir em fundamento exclusivo para o ensino, pois é sabido que a prática também contribui para a construção do conhecimento pedagógico. Pesquisadores da área da alfabetização afirmam que julgar resultados de pesquisas como suficientes para validar reducionismos metodológicos é uma imposição que desconsidera a própria Pedagogia". 

Enfim, essas manchetes e classificados nos ajudam a problematizar os aspectos apontados no Decreto, e a seguirmos alertas quando ao lançamento da PNA.

E para continuar no jornal, vamos à tirinha do dia, de Aline e Natália, para entender esse negócio de método fônico na prática. A tirinha com seu humor conciso e sua ironia rasgada, nos ajuda nessa resistência.


Tirinha também é texto, texto híbrido de linguagem verbal e visual. E textão de Facebook é texto? Claro! E textinho, e tweet e tudo mais...é tudo texto e, nesse caso, de novos gêneros surgidos comas novas tecnologias. E como a tecnologia ampliou muito os gêneros de textos, eles não podiam ficar de fora aqui, não é? Embora os prints estejam aqui, a ideia é vocês irem ao post comentar. E Aleide os convida a ler e comentar no seu post de Facebook, nesse linkhttps://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2090200767775508&id=100003568144131



Vamos voltar aos versos, com cordéis...porque a poesia também denuncia e nos salva! 
O primeiro, uma prosa com o presidente, em forma de quadras.



E lembrando que, se por um lado, se trata de uma aproximação da métrica do cordel, por outro, o ritmo e o estilo próprio ao cordel se apresentam lindamente nesses versos, e em sua enunciação oral, que é o que, de fato, materializa o cordel. E foram lidos com a malemolência do gênero. E assim, vamos ao outro, esse em sextilha, mais usada no gênero, e com esquema de rimas de cordel mesmo:


O conceito de texto, como dissemos, é amplo, outros gêneros não parecem que são textos, mas são! Então, vamos aqui de outro gênero, os passatempos. Vamos jogar? De vez em quando precisamos esfriar nossa cabeça! Esfriar para umas coisas, mas fazê-la trabalhar, não é? Vamos de Caça-palavras e Palavras Cruzadas? Siiiiiim, os jogos de palavras são práticas socioculturais, circulam em jornais, revistas, revistinha de passatempos, e envolvem muita reflexão, atenção, desenvolvendo o raciocínio e a linguagem. Vamos a eles? Com direito a cartaz de lançamento e tudo!



Voltando à nossa indignação, que tal enforcar um desafeto, no jogo de Forca? Quem será? Role e descubra!


Gente, a indignação é tão grande, que até para o travesseiro levamos as preocupações que, todo dia, o MEC nos apresentou esse semestre. E não era de se espantar, que foi parar até em nossos Diários!!! Ou pelo menos, no diário de Dandara!


Diário relata coisas acontecidas, e mesmo as imaginadas, mas história é diferente... Ficcionalizar também é uma boa saída... E foi o que um grupo fez. Mas para apresentar a história, fizeram outro gênero: a sinopse.


Vamos à história?


Como a história traz o universo do Japão, como contexto para a nossa história do Brasil atual, temos também o manual de instruções para fazer o origami do tsuru, pássaro que, na cultura japonesa, simboliza a saúde, a boa sorte, a felicidade, a longevidade e a fortuna...Estamos mesmo precisando!


E sobre isso de ficcionalizar, como disse Ana Maria Machado, "narrativas falsas criam fake news, espalhando mentiras como se fossem reais. Mas o que vale é o contrário: a ficção que finge ser mentira para revelar a verdade". É ou não é?

Cantar também nos salva, não é gente? Pois vem aí, Carina, com o gênero canção, a letra da canção e também o gênero entrevista, numa conversa com a cantora e compositora...
Letra da canção


E vamos à entrevista:


De volta à palavra poética, poema-jogo de palavras, vem Letícia fazer sílaba virar resistência! Na apresentação oral, na Aula Aberta do dia 04/07/2019, os slides ressaltavam as palavras lidas, que ganham força aparecendo assim, concretas, ao modo de um jogo (que poderia até ser concretamente), nos lembrando que palavra e imagem, mesmo a imagem das palavras, amplificam os sentidos dos textos. Vejo ainda, cá na minha interpretação, como se fossem palavras gafitadas em muros, pintando o poema de força e luta.

SI-LA-BA versus RE-AÇÃO

Letícia Argolo

Nesse jogo da memória, a nossa busca pedagógica
lógica, não se perdeu
Passou-se num rumo que não foi à copa
nada entende de alfabetizar
inventa que o Brasil
Em 2014 não teve sorte
Já 2019 para as estruturas letradas
O COR-TE
nas mãos um título de eleitor
Eles que determinam a “qualidade da alfabetização”
O POR-TE
A não oportunidade funcional gerando na sociedade de privilégios
Aos excluídos do jogo de poder
os estudos é uma atitude outras formas de tentativa de ocupar
O NOR-TE.
Existe na aparência
grito de resistência
aprende cada sílaba
SO-LE-TRAR
Sem políticas públicas
Estado vendido
Desinventam
O LE-TRAR
povo pelo ódio rendido
como se alfabetizar?
Pelo amor
no fonema fluência
na classe consciência
produzir a escrita não se faz necessário
jogam-nos nas diretrizes do COPIAR
Sonhos perdidos
Desejos no olho do furacão
usam a palavra LITERACIA
Espera-se mudança
no fundo esperança
subjugam o papel da REPETIÇÃO
estratégia de condicionar a infância
Vontade de revolução
RE-VOLTA
Tudo que vem tem VOLTA
RE-VOL-TA
palavra verbo, ação
na busca política de professor
imperativo verbo
busque SOLUÇÃO
oposto do dita-a-dor
ditado de palavras opõe-se,
princípio substantivo
soletramos A-MOR
Saudação de POR FAVOR
acalma e encaminha a REAÇÃO
silenciosa ao mesmo tempo barulhenta
Políticas minuciosas que para o lado de cá princípio coletivo de EDUCAÇÃO
balbúrdia
para o lado direito tormenta
para o esquerdo pulsação
para a criança respiração
devolvendo os horizonte do terreno-caminho
não usa autoridade
Letramento de consciência o menino
PRI-O-RI-DA-DE
Nasce fora, reverbera
UNIVERSIDADE
Aqui faz-se com verdade incentivo
inventivo
científico
valor principal de APRENDIZAGEM
Gera-se decreto 9675/19
do que adianta gerar números
se o que vem de uma classe que nem de longe se comove?
Política nacional de alfabetização
condiciona, mas não gera compreensão
se eles prezam por DITAR-a-DOR
A gente EDUCAR-a-DOR
lembramos Paulo Freire, Grande Professor
Todos e todas, segura firme, não solta essa mão
O Brasil precisa mais que nunca desse
Campus-universo em seu princípio  EDUCA-a-AÇÃO.


Pena que a força poética da leitura de Letícia não pode ser aqui passada, nem a concomitante projeção das palavras na tela. Mas role e imagine como seria essas palavras "pularem" da tela enquanto são lidas no poema, unindo a força da palavra e a força das imagens:





E como estamos diante de um cenário político-pedagógico que pede, bem como, na apresentação, diante de um coletivo potente para tal, não podia faltar ele: o Manifesto, que foi lido por Juliana e devidamente passado para todos os presentes assinarem, afinal, Manifesto pede nossa mobilização, não é? Mesmo sendo poemático!




E para maior legibilidade:



Agora minha gente, se nada disso foi suficiente para lavar nossa alma – jornal, poesia, canção, tirinha, história, jogo, desabafo no diário ou no Facebook, então, jogamos a toalha, precisamos mesmo é de cura! E de riso! Então, vamos lá, com a cura proposta pelo grupo de farmacêuticas! Os "precisados" ganharam sua pílula de cura! 



Paulonato de Freiretoína certamente dará um gás para continuarmos na luta! Confiram a bula!
E vamos chegando ao fim de nossa Aula Aberta, fechando com riso e remedinho-chiclete, porque ninguém é de ferro! Mas sem esquecer do alerta:



Com esse alerta, costurado pela luta, pela criação e pelo riso, chegamos ao final dessa aula aberta. Vale ressaltar que terminamos o semestre do curso discutindo outros modos de abordar a dimensão fonológica, essencial à alfabetização, muito longe da abordagem mecânica e descontextualizada do método fônico, em contextos letrados lúdicos, reflexivos, significativos...

Para vocês que nos escutaram até aqui, temos uma coisa. Mas vocês vão ter que adivinhar. Depois role e confira:



Sim, temos uma declaração para vocês que nos assistiram, mas que serve também para vocês que nos acompanharam aqui no blog:

A declaração é para lembrar que agora podem ficar atentos aos próximos passos do que vem do MEC e do que vai circular na mídia sobre a temática. A alfabetização é um tema atualíssimo no campo da educação esse ano. 

Bom, falta ainda os nossos créditos... as referências, o “elenco”, agradecimentos, devidamente apresentados nesse formato de "créditos", enquanto ouvimos música, pois o seu olhar, o olhar de todos e de cada um, melhora o meu...o nosso!




P.S. Os créditos aqui não "rolam" feito créditos no final de um filme, mas lá lá hora da apresentação rolou!!! Isso pra dizer que, evidentemente, a postagem não substitui a presença na Aula Aberta, mas ao menos dá uma ideia para quem não pôde estar lá, não é?

Obrigada gente! Pela presença de todos! Foi bem bacana, teve público, apesar do esvaziamento da FACED, já em ritmo de recesso, e fiquei muito orgulhosas dos estudantes. Valeu, gente!

E aqui no blog, obrigada pela leitura!  Deixem seu recadinho aqui!

quarta-feira, 5 de junho de 2019

SOBRE O MÉTODO DE 20 PÁGINAS E 5 PASSOS – Parte 2


As 5 etapas
Depois da Introdução dessa série, chegamos às milagrosas 5 etapas! São, segundo ele, etapas que antecedem o princípio alfabético, e tomadas como exercícios prévios necessários à tomada de consciência dos fonemas, algo que, de fato, como ele diz, é abstrato para as crianças. Então, para que possam chegar nisso, precisam passar por tais etapas:

1ª Etapa: Leitura partilhada
2ª Etapa: Memória auditiva de curto prazo
3ª Etapa: Consciência de frases e palavras
4ª Etapa: Consciência silábica
5ª Etapa: Consciência fonêmica

Prestem bem atenção nisso, etapas que antecedem o princípio alfabético. Vamos a elas, desconstruindo essa ideia de novidade e de segredo que as escolas não revelam, que as professoras e pedagogas não sabem, e que poderia revolucionar o ensino – revelação que garante aos pais alfabetizarem seus filhos! (sic!).

1ª etapa – Leitura partilhada
O que ele chama de leitura partilhada, após uma anedota supostamente “reveladora” que teria acontecido com ele (merecia carinhas gargalhando...não dá para não rir...vão lá ler), é os pais lerem para as crianças pequenas, que ainda não sabem ler com autonomia... Oxe, e qual a novidade disso??? E onde é que leitura para e com os filhos é etapa de alguma coisa? Já começa por aí... Chamar de “etapa” reduz muito o que é essa rica prática de leitura. 
Muitos autores já vêm tematizando a leitura literária na primeira infância, seja do campo da leitura literária, seja do campo da educação, inclusive construtivistas e sociointeracionistas que ele odeia. Tem os que focam, inclusive, a leitura para bebês. E é uma prática, justamente, de letramento e formação leitora. Mas ele vem com orientações instrumentalizadas que torna essa prática potente em um mero passo-a-passo, receituário de botica, que não dialoga com a vasta bibliografia que discute a escuta da leitura na infância, especialmente a leitura literária. E é um campo vastíssimo! E claro, ele ainda desconsidera a enorme diversidade de famílias, silenciando completamente sobre a realidade brasileira em que muitas crianças não têm esses pais que tenham condições de ler para as crianças. Ah, esqueci! Ele está falando só para a família do comercial de margarina...
Bom, é digno de nota que ele ressalta, nessa prática (que ele chama de etapa), apenas o léxico, a aprendizagem de novas palavras e de estruturas frasais mais complexas, pois isso teria ressonância na compreensão da leitura bem depois... Essa escuta de histórias, evento de letramento fundamental na infância, tal qual sublinhado por diversos autores, tem um papel muito mais importante do que esse. Sim, a escuta de histórias como ação permanente é fundamental. Trata-se de formação leitora, trata-se de se apropriar do discurso escrito, da linguagem e textualidade próprias aos textos escritos em gêneros diversos, de diferenciar a linguagem oral da escrita (ainda que oralizada), de ampliar a compreensão de textos via oralidade, de se apropriar de comportamentos, procedimentos e estratégias de leitura, tão bem discutidos por Lerner (2002), Rojo (2004) e Solé (1998), e que eu discuto nesse artigo. Sim, porque a via é oral, mas o texto lido é linguagem escrita! A única referência, rasa, a algum aspecto textual, é a menção, na página 23, à apropriação de estruturas frasais mais complexas, não presentes nas interações cotidianas. Bela redução! Frase solta não é texto, justamente, não necessariamente. Fora isso, nada! Nada disso tudo elencado aí entra no rol de aprendizagens envolvidas nessas práticas. O Guia fica apenas em orientações e prescrições chulas e rasas, meio bobocas, e irresponsáveis até, quando diz, por exemplo, que a leitura tem que ser todo dia, como se isso fosse uma tarefa antibiótica, e não fazê-lo comprometeria todo o programa. Com isso, essa prescrição rígida, traz a orientação para o terreno do não plausível, do irreal, do prescritivo sem fundamento. Leitura frequente, né? Não significa seguir uma bula. Muito menos de antibiótico.
De todo modo, ainda que tome essa escuta da leitura de modo muito limitado, o que ele ressalta não deixa de ser do âmbito do letramento – querendo ele ou não. A escuta de histórias na infância é evento de letramento emergente. Ou seja, são orientações que, paradoxalmente, se relacionam com o que ele abomina: letramento, práticas sociais de leitura, etc.
E também revela a contradição com sua bandeira de que os pais podem levar a cabo essa tarefa. Que pais? Fora do mundinho Doriana dele, precisamos da escola, né, já que nem todas as famílias podem cumprir com essa missão. Como diz Ângela Kleiman (1995), a família é a agência de letramento mais potente nesse letramento emergente, e o letramento não se dá apenas na escola mesmo, mas a responsabilidade da escola é imensa, principalmente quando as famílias não oportunizam um rico contato com as práticas de leitura e escrita, devido aos inúmeros problemas sociais que nosso país enfrenta – inclusive devido a babacas como ele, que acha que o mundo é só para uns.
Duas coisas precisamos constatar: primeiro, até aqui, nenhuma novidade...ler para as crianças é admitido como fundamental há muito tempo, e tomada como prática muito além de uma etapa; segundo, até aqui nada disso tem relação com a apropriação do sistema de escrita, com o princípio alfabético (lembrem que ele diz que são etapas prévias para chegar a esse princípio...). Ele está, sem querer, é dizendo que essa prática letrada é fundamental, hahahaha!
A única coisa que ele ressalta é que essa leitura partilhada é “uma espécie de trampolim entre a leitura em voz alta e a leitura silenciosa”. Diz ele: “quando seu filho começar a ler livros sozinho, o desempenho dele será muito parecido com o que ele tinha enquanto escutava histórias” (p. 22). Primeiro, gostaria de saber mesmo o que ele está dizendo aí e que base “científica” ele tem para essa afirmação... Depois, se tem esse trampolim, é justo porque as crianças aprendem sobre o discurso escrito, aprendem as estratégias de compreensão leitora (via oralidade), aspectos que se relacionam, justamente, com o letramento, com os aspectos socioculturais e interativos (ou facetas, como refere Magda Soares) da apropriação da escrita, e não dos aspectos propriamente linguísticos da alfabetização (notação do sistema e sua base fonológica). Justamente o que ele critica... Mas ele não leu Magda, não é? Bem como todo o campo teórico sobre a formação leitora.
Pois...sem mais...

2ª etapa – Memória auditiva de curto prazo
Memória auditiva de curto prazo – uma etapa? Kkkkkkk, só rindo mesmo! Essa “etapa” é uma farsa completa. A memória de trabalho e a memória verbal de curto prazo são, evidentemente, fundamentais para desenvolver a atenção consciente na apropriação inicial da leitura, mas daí a ser traduzida nessas situações artificiais de condução pelos pais, há uma grande distância! O fato desse aspecto cognitivo estar na base dos processamentos envolvidos na aprendizagem da leitura, da transformação de sinais gráficos em linguagem, não significa, diretamente, de forma tão simplória, explorá-lo dessa maneira bizarra que o Guia propõe. Tudo o que é dito aí é desenvolvido nas brincadeiras e nas interações sociais naturais na família, na escola, e em todos os grupos sociais dos quais participam, entre as crianças, entre crianças e adultos. Brincadeiras como “Boca de forno”, “Mamãe posso ir”, dentre outras, inclusive as de faz de conta, são muito mais ricas e significativas em termos de obedecer a comandos do que ordens aleatórias, sem nenhum sentido para a criança. Além disso, nas interações reais cotidianas, isso acontece a todo momento – para que criar situações fakes para treinar essa memória? Ah, lembrei, gostam de fakes, gostam de treino, gostam de coisas sem significado...

Não é necessário nem desejável criar situações artificiais de emissão de comandos para isso e tampouco colocar esse item como “pré-requisito” para aprender o sistema alfabético. Para que “treinar” essa memória, se ela é base das interações reais??? Balela!

É bizarro demais. Vira um Guia de cumprir um passo-a-passo e passar adiante, tudo muito aligeirado, tudo muito mágico. Quantos comando desses os pais devem fazer, Nadalim? Felizmente, para as crianças, como a orientação é vaga, provavelmente os pais vão passar rápido por isso, e seguir adiante...E as respostas das crianças, claro, não terão nada a ver com o “exercício”, mas com o que já sabem fazer, por terem aprendido...vivendo... interagindo...
E depois, se for considerar essa coisa ampla como etapa precedente, que se relaciona com diversos outros aspectos do desenvolvimento cognitivo, teria muitas outras a considerar, não é? Claro que a memória é fundamental para se aprender a língua escrita (como tudo o mais), mas a memória de longo prazo também é importante...e as tantas outras competências cognitivas, funções executivas, que também se relacionam à aprendizagem da leitura e da escrita... Por que elegeu só essa?  Se ela vai a esse tão amplo, tem tantas outras coisas...
Além das funções executivas, cadê o desenvolvimento da linguagem oral e dos processos de compreensão de discursos orais? E a função simbólica – diretamente associada à escrita? Nem uma menção...né? Como defendem Luria e Vygotsky, a função simbólica relaciona-se ao que chamam de pré-história da escrita! O gesto, o desenho, os rabiscos, o faz de conta...tudo isso contribui para o desenvolvimento da função simbólica – essencial para se compreender um sistema de representação simbólica, que é a escrita alfabética. Instrumento cultural complexo, a escrita envolve signos (de segunda ordem) e, portanto, o desenvolvimento da função simbólica de primeira ordem é essencial. Cadê as orientações para desenvolvê-la?
Até aqui nos perguntamos: é isso o guia mágico, inovador, o segredo guardado a 7 chaves pelas escolas?
Vamos às etapas propriamente linguísticas para ver se o segredo, a novidade, finalmente, vêm...

3ª etapa – Consciência de frases e palavras
A primeira observação é a que já fiz – vemos aqui proposta de situações artificiais quando há tantas possibilidades de brincadeiras e interações linguageiras reais que dão conta dessas aprendizagens. A criança brinca com a língua, e muitas de suas brincadeiras já dão notícias de sua incipiente capacidade de manipular a linguagem para provocar o riso, justamente por saber, ainda que inconscientemente, que o enunciado proferido não cabe, fazendo, justamente, a graça acontecer... A coerência sintática e semântica de enunciados verbais, bem como a identificação de itens lexicais podem ser provocadas nessas situações e mesmo em situações pedagógicas mais controladas, mas sem perder de vista os uso reais ou lúdicos da linguagem.
Ou seja, o que precisa mesmo, meu caro, é que as crianças possam brincar e se relacionar com outros sujeitos na escola, em casa e em outros grupos sociais, especialmente no caso de famílias com poucas condições de proporcionar essas interações e brincadeiras. Seja em conversas sobre livros, histórias, atividades cotidianas, outros textos e sobre os programas culturais dos quais participam, brincando com a língua, ou nas vivências da cultura lúdica infantil, tudo isso pode acontecer de modo significativo, natural, nas experiências de linguagem, e não em situações artificialmente fabricadas, robotizadas. E se as crianças já têm isso em suas interações familiares, as orientações artificiais serão meras constatações frias e vazias de que sabem avaliar a gramaticalidade de uma frase... Coitadas dessas crianças! Que tédio aprender e/ou interagir com a linguagem assim, toda fragmentada, toda sem vida, toda maltratada, toda regrada, toda fatiada...
Prefiro brincar de substituições, inversões e invenções, como “Quem cochicha, o rabo...encurta!”, “Quem cochicha, o rabo...cochila”, “Quem espicha, o rabo cochicha”; “Foi à cadeira e perdeu a feira...”; de transgredir cantigas "Atirei um gato no pau..."; de cantar “O meu chapéu tem 3 pontas”; de substituir as palavras em “Quando digo Digo digo digo, não digo Diogo...” por outros pares, como alto/baixo, por exemplo: “Quando digo alto, digo alto, não digo baixo...”; e tantas outras situações que, brincando com as combinações e seleções, os eixos dos sintagmas e paradigmas, no contexto de brincadeiras orais não regradas ou as ritualizadas da cultura lúdica infantil, garantem o riso amplo e a aprendizagem sobre a gramaticalidade dos enunciados e a consciência de itens lexicais.
Bom, mas vamos aos outros argumentos. Eles também me impelem a imaginar as barbaridades que pais sem formação fariam a partir deles...
É fato que a consciência lexical e a sintática são importantes para a apropriação da língua escrita. Mas essas atividades metalinguísticas estão longe de ser expressas de forma simplória como saber “o que é uma frase e, principalmente, que a frase se compõe de uma sequência de palavras”, como Nadalim abre essa parte.  
A orientação dele para “ensinar o que é frase” é hilária:
“Você pode definir frase de modo bem simples, dizendo que é uma breve historinha, e oferecer o seguinte exemplo: “João foi à feira.” Depois de perguntar à criança se ela entendeu a frase, interrogue-a: “Mas que foi que João fez?”. Seu filho responderá: “Foi à feira.” Em seguida, faça esta outra pergunta: “Quem foi à feira mesmo?”. E ele dirá: “João”.
Desse modo a criança entenderá que a frase conta uma pequena história sobre quem faz e o que é feito. Aqui se está ensinando, na verdade, a noção de sujeito e de predicado. Para a pergunta: “Quem fez isto?” ou “O que fez isto?”, a resposta será o sujeito; e para a pergunta: “Que ele fez?”, a resposta será o predicado. A criança adquire assim a noção de que a frase é uma história curtinha, geralmente composta de duas partes” (p. 24). 
Ora, ora, caro youtuber, e o que uma criança pequena quer com a definição de frase, com aprender sujeito e predicado? Até porque é uma definição parcial, chula, de frase, e em situações sem nenhuma coerência com o que é, de fato, consciência sintática. A consciência sintática  envolve a habilidade de refletir e manipular mentalmente a estrutura gramatical das sentenças, mas no Guia essa habilidade é simplificada ao extremo. E que tal falar da consciência sintática e semântica, que andam muito juntas? Já aí, muitas outras brincadeiras possíveis... Porque, sinceramente, à “frase” “Mas que foi que João fez?”, será mesmo que o filho responderá: “Foi à feira.”? E se ele responder: “João comprou melancia!”, resposta muito mais plausível para um sujeito que está buscando o sentido da linguagem (porque é o que as crianças buscam, os sentidos ou a graça com os significantes...) do que preocupado em aprender o conceito de frase. Aliás, um conceito complicadíssimo o de frase... A consciência sintática em situações orais certamente é fundamental para aprender a língua escrita, mas daí a reduzi-la a "entender" que frase é uma historinha, me poupe, viu? A experiência com a linguagem oral, em si mesma, contribui para desenvolver o senso de gramaticalidade de enunciados, e o julgamento mais metalinguístico através de transgressões lúdicas dessa gramaticalidade não tem preço nesse desenvolvimento. Muito longe dessas prescrições bobocas desse Guia.
Daí, das “frases” ele passa à consciência de palavras, dizendo que “as frases na mente das crianças estão coarticuladas, uma palavra com outra, de modo tal que elas não conseguem segmentar as frases”. Bom, em parte, podemos fazer certa concessão a essa afirmação, mas ela é imprecisa, ainda assim. É a fala que é articulada, que quer dizer que é segmentável em diversas unidades. Não é a frase num embaralhamento na mente das crianças, e muito menos nesse modo de dizer quase infantil. Mas digamos que aceitamos a afirmação, ok, interpretando-a como a realidade articulada da fala. Ele conclui: “Por isso é importante praticar os exercícios de tomada de consciência das palavras que compõem as frases”, simplificando também a consciência lexical ao extremo, identificando-a com contar palavras – e como as crianças vão saber o que são as palavras, Nadalim? Você mesmo não disse que elas são “coarticuladas”?
A questão aí é que, justamente, na corrente contínua da fala, essas unidades “palavras” não são facilmente identificáveis por sujeitos ainda não alfabetizados, ou seja, os sons se combinam na enunciação oral, e as palavras se combinam entre si de forma que não as percebemos como unidades, não saibamos detectar facilmente suas fronteiras. Experimente saber onde começam e terminam as palavras enunciadas oralmente numa “frase” em língua estrangeira, que você não conhece...
A consciência lexical envolve a habilidade em segmentar a linguagem oral em palavras, seja aquelas com função semântica (que possuem um significado independente do contexto, tais como os substantivos, adjetivos, verbos), seja aquelas com função sintático-relacional (que adquirem significado apenas no interior de sentenças, como as conjunções, preposições, artigos). Só que para desenvolver a consciência lexical, é necessário que a criança tenha estabelecido critérios gramaticais de segmentação da linguagem. Entretanto, segundo pesquisas indicadas por Barrera e Maluf (2003), isso só parece ocorrer de modo sistemático por volta dos 7 anos de idade. As autoras dizem, baseadas em Linnea Ehri – como elas pesquisadora da ciência cognitiva da leitura –, que antes disso, embora as crianças sejam capazes de produzir e compreender enunciados, seu conhecimento lexical é implícito e inconsciente. Ou seja, onde estaria isso de que a consciência lexical é anterior ao princípio alfabético? Até porque, ele está defendendo o ensino desse princípio já na Educação Infantil. Contraditório, não é? Pesquisas mostram é que há pouca correlação entre consciência lexical e apropriação do funcionamento alfabético e, quando há, há muitos outros aspectos em jogo. Ademais, a consciência de unidades menores mais globais como as sílabas contribuem também para o desenvolvimento da consciência lexical. Além de tudo disso, como podemos aprender a partir de Gombert (1990), dentre outros – inclusive autores também do campo da ciência da leitura – as relações entre consciência fonológica, sintática, semântica, lexical e morfológica são bem mais dinâmicas do que essa hierarquia rígida que Nadalim coloca, como “etapa precedente” e treino para, magicamente, adquirir essa “consciência” do que é frase e palavra. Se há certas hierarquias entre essas capacidades metalinguísticas, muitas pesquisas mostram, no entanto, que elas mais se “embaralham” do que se enfileiram, como querem os que gostam de simplificações.
É fato que a consciência lexical e a sintática são importantes para a apropriação da língua escrita, mas isso não é, necessariamente, prévio à consciência de unidades menores. Várias pesquisas mostram, justamente, que a consciência explícita da unidade lexical se dá, justamente, com aprendizagem da escrita, e não previamente. Sim, a fala é coarticulada e é justamente a escrita que consolida a noção de “palavra”. Não há isso de ter que ter consciência de todas as palavras para poder aprender o princípio alfabético. Prova disso é que muitas crianças, mesmo já tendo passado pelo processo inicial de alfabetização e já considerando o princípio alfabético, ao escreverem textos aglutinam diversas palavras, especialmente as sintático-relacionais, que são aglutinadas às que têm função semântica. Ou seja, são aprendizagens concomitantes e não uma precedente à outra. Certos níveis de habilidades metalinguísticas, seja de ordem lexical ou sintática, certamente precedem a apropriação da escrita, e podem ser verificadas entre crianças não alfabetizadas, mas a alfabetização é que as desenvolve, em grande medida, especialmente a consciência lexical.
Vejam o que dizem Barrera e Maluf (2003, p. 501), lembrando que Regina Maluf fez, brevemente, parte da Secretaria da Alfabetização de Nadalim:
Ou seja...o que ele diz não tem substância nem na perspectiva que ele assume como sua – a da ciência cognitiva! Vejam, estou referindo a autoras alinhadas ao que ele diz defender, não aos de outras concepções... Acho que até aquelas teriam vergonha alheia disso tudo...
Soma-se a tudo já discutido, um modo de enunciar nesse Guia que dá a entender que se o pai faz um pouquinho, o/a menino/a já aprendeu!!! Mágica! Pois...como tá lá, é bem o que vai acontecer. Quase um ensino da metalinguagem, depois de forçar a barra para o/a menino/a dar a resposta esperada, como ele mesmo diz: “[...] utilizando inicialmente frases curtas, você pedirá que seu filho diga quantas palavras há na frase. Por exemplo: “Paulo pulou” (ao pronunciar, faça uma pequena pausa entre as palavras). A criança deverá responder: ‘Duas’” (p. 24-25). E se não responder, Nadalim? (???). Tá preparado para isso? Os pais estarão? (!!!). Ah! Contam as palavras porque os pais vão falar cada uma bem separadinha ou ajudados por elementos concretos, para contar menos abstratamente... Affe, me poupe, viu?! Essa pausa indicada aí – artificializando duplamente a língua – já dá a resposta, né? Está querendo ensinar a língua ou a contagem??? Fiquei em dúvida!
A simplificação, que reduz o que é complexo, rico, amplo a algo fragmentado, técnico, mágico, nesse passo-a-passo rígido, nessa situação idealizada (em que a criança deverá responder o esperado), não é apenas uma estratégia para “falar para pais”, é um total charlatanismo, de quem não conhece nem mesmo o campo ao qual diz se filiar – a ciência da leitura.
É muito, muito importante aí, nessa discussão, também diferenciar o que é procedimental, espontâneo, implícito, epilinguístico, do que é declarativo, consciente, explícito, metalinguístico, no que se refere aos conhecimentos fonológico, lexical e sintático manifestos pelas crianças. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e o modo de abordar esses conhecimentos, em diferentes momentos, precisa considerar a criança! A brincadeira epilinguística e a conscientização metalinguística gradual dos aspectos formais e estruturais da linguagem oral não têm que ser um rol de exercícios, de treinos, de estudo enfadonho...
Para terminarmos essa discussão com refrigério, sugiro assistirem minha fala no Ceale Debate, sobre textos poético-musicais da tradição oral na alfabetização, em que abordo a reflexão metalinguística de forma significativa, no contexto das práticas lúdicas infantis.
No próximo post, aqui, vamos falar das etapas 4 e 5, mais diretamente relacionadas à alfabetização, que é a consciência silábica e fonêmica...Pensa que vai melhorar?