sexta-feira, 24 de maio de 2019

Alfabetizar em 5 etapas - POST 1

Introdução

Olá, minha gente,
Enquanto aguardamos a Política Nacional de Alfabetização, sigo analisando o material proposto por Carlos Nadalim, o Secretário de Alfabetização no MEC. Nas próximas duas postagens falaremos do E-book de Carlos Nadalim, "As 5 Etapas para Alfabetizar seus Filhos em Casa - O Guia Definitivo", que foi feito para os pais alfabetizarem seus filhos em casa, apresentado como um guia milagroso, um tesouro revelado. Então, sigo na minha luta que é partilhar posições com professores e estudantes de pedagogia, mobilizar o debate com os colegas e trocar conhecimentos, para contribuir com a discussão na detecção de argumentações distorcidas e equivocadas que tentam, nessa querela atual no campo da alfabetização, nos empurrar.

E porque vale analisar o E-book de Carlos Nadalim, se não é isso que baseará a Política Nacional de Alfabetização do MEC? Sim, há gente mais competente na Secretaria da Alfabetização, embora todos de abordagem fônica. Volto a dizer que importa entendermos quem está à frente da Secretaria e, embora o E-book seja anterior a essa gestão, e seja um livro para pais, como o título mesmo já indica, foram essas “produções” de Nadalim que, junto a sua “fama” de youtuber e o apreço do guru influenciador do governo, que o alçaram à posição em que está, justamente por sua visão da alfabetização.

Não sei se temos como esperar ponderações dessa Secretaria, a não ser que as argumentações e deliberações de especialistas de verdade, ainda que de perspectiva fônica, se sobreponham às dele e o canal do diálogo não se feche no obscurantismo. Acho que não será obscurantista, mas será impositivo e reducionista. Afinal, esses especialistas, embora falem de um lugar fundamentado e não de um delírio, como é o caso do próprio secretário, eles também trazem perspectivas que, do ponto de vista de uma outra concepção, são complicadas. Ao se apoiarem em pesquisas em língua estrangeira e procedimentos metodológicos adotados em outros países, sem ressalvas, por exemplo, desconsideram o contexto brasileiro, bem como outras pesquisas nacionais e internacionais não aderentes a esses argumentos. Mas Nadalim não só desconsidera, ele despreza a pesquisa realizada no Brasil – seja de pesquisadores da ciência da leitura, seja de outras perspectivas – e qualquer pesquisa que não seja de seus pares e de natureza experimental. Distorce, mal intencionadamente, os argumentos e posicionamentos de pesquisadores e autores que não se alinham a sua perspectiva, e mesmos os que se alinham, colocando foco apenas nas partes que lhe interessa criticar ou ressaltar. Desconsidera também as especificidades da língua portuguesa e seu grau de transparência, que é diverso dessas outras línguas das pesquisas internacionais e, por isso, nem sempre os mesmos processos são aplicáveis ipsis literis. Ainda que todas as línguas alfabéticas se baseiem no princípio alfabético, e os processos sejam análogos, é muito diferentes alfabetizar numa língua transparente como o finlandês e  em uma língua opaca, de profundidade ortográfica tão intensa quanto o inglês

E, por fim, ele tem toda a retórica de quem “vende” milagre.

É inacreditável já a capa do E-book: diz lá: Guia Definitivo (sic!!!). Nunca vi tamanha pretensão! Ô povo que tem mania de grandeza esse povo aluno do guru que também se acha o suprassumo da inteligência,#sqn. É recorrente em seus vídeos e sua escrita a busca por validar seu ponto de vista, a necessidade de dizer que está habilitado para defender x ou y, numa evidente e flagrante “conversa” com contrapalavras dos que sabem que ele, de fato, não está validado para tal (se tem dúvidas, consulte o texto em vermelho no POST 4 da série que analisa o vídeo “Letramento, o vilão da alfabetização”).

Eis a capa:
E vamos ao milagroso guia de 5 passos e 20 páginas – sim, porque fora os pré-textuais iniciais e os depoimentos finais laudatórios ao blog, ao canal do youtube e aos cursos de Nadalim – são apenas cerca de 20 páginas, e 20 páginas com letras e margens bem grandes, pouquíssimo texto em cada. 

O “livro” se inicia anunciando-se como uma alternativa simples para “livrar os filhos” da situação terrível da escola e “remediar” essas falhas. Livrar! Ele realmente se acha o Vingador, o super-herói da alfabetização... O jeito de começar já diz muito sobre este senhor e sua perspectiva. Depois, ele mesmo valida sua capacitação para formar leitores hábeis, dizendo de sua experiência (!!!) na escola de sua mãe, e os depoimentos de pais que “comprovam” sua habilidade. Conclui ele: “Portanto, conheço o passo a passo para formar um leitor hábil”.  Não sei se essa gente é só oportunista ou se têm mesmo transtorno doentio de grandeza.

Segue fazendo questão de afirmar o papel de Olavo de Carvalho em sua quase “missão”, e vem contando um monte de coisas pessoais e apelando para a religiosidade, indicando um sinal de Santa Teresinha para justificar sua opção pela escola, em vez da universidade: “Carlos, retire-se da universidade, porque o seu lugar não é aí, e vá ao encontro das crianças”. Realmente, só apelando para os santos, para um pavão justificar não ter condições de uma vida acadêmica. Quanto ressentimento!

E, então, confessando não saber NADA de educação, a partir desse sinal foi para a escola da mamis dele e buscar tutela de Luiz Carlos Faria (logo se entende de onde vem tanto obscurantismo e animosidade). Passa a contar de seus estudos e sua aplicação na escola de sua mãe. Afffeee... E, por fim, diz: “Três anos depois, eu já tinha um método de alfabetização e de pré-alfabetização comprovado, eficaz, para alfabetizar crianças de 3 a 6 anos”. Noooooossaaaa!!! Que iluminação!!! E, nisso, já estamos na página 08...

A parte que se segue a essa introdução pessoalista e espiritual chama-se: “Métodos ineficazes: conhecendo o inimigo”. Gente, dá vontade de rir...Gregório Duvivier! Veja, aqui tem piada pronta pra você!!!

De forma bastante simplória, rasa e valorativa, ele começa a descrever o método global e, depois, o método silábico, os tais inimigos! Quanto aos globais, a descrição que ele faz é apenas do global ideovisual, silenciando sobre outras abordagens analíticas que não tem NADA de leitura pela percepção gráfica do todo da palavra. Esse silenciamento é, de seu ponto de vista, bastante providencial, pois lhe serve para desqualificar outras perspectivas, ao associar método global a letramento, a construtivismo, colocando – como o faz no vídeo que analisamos – tudo no mesmo saco. Seja equívoco de fazer vergonha, seja estratagema mesmo, o fato é que a baboseira simplista não tem par.

Quanto ao método silábico, que, embora reconheça como melhor do que o global, ele taxa como ineficaz. Bom, lembrando que não se trata aqui de defender o método silábico tradicional, já que trata-se de um método de base empirista, associacionista, mecanicista, vou no entanto, questionar os argumentos usados para a crítica dele ao método. Primeiro, ele confunde método alfabético com silábico, pois o método que parte do nome das letras como unidade de formação das sílabas não é o silábico, mas o alfabético, ou o método da soletração – aquele do bê-a-ba. O método silábico parte das sílabas completas BA-BE-BI-BO-BU para formar as palavras. Mesmo que se ensine as letras (que método não as ensinas?), não são elas o ponto de partida, nesse caso. Primeiro equívoco conceitual. Grande! E mesmo assim ele estampa em negrito o seu erro, enfatizando-o e repetindo-o: “O erro fundamental do método silábico é estabelecer essa falsa correspondência entre o nome de uma letra e o seu valor fonológico, ou seja, o seu som.” O método silábico não é isso e tanto as pesquisas quanto a empiria mostram que é frequente que as crianças abstraiam os fonemas a partir das sílabas, que é uma unidade sonora menos abstrata para elas do que o fonema, que é uma representação mental do som, e não um som. A mínima emissão sonora é silábica, não fonêmica. E talvez por isso mesmo, os procedimentos silábicos, especialmente no contexto dos métodos mistos, tenham tido uma longa história na alfabetização no Brasil, eles aproximam a grafia de sua emissão sonora de uma forma mais “natural”, menos artificial, pois a consciência silábica é bastante natural em nossa língua. Já a segmentação fonêmica é o sistema alfabético que destaca. Os procedimentos silábicos são importantes, sim, e ele mesmo coloca a consciência silábica em uma das 5 etapas de seu guia.

Ou seja, aqui nessa parte só vi argumentos críticos que são mais ao método alfabético, de soletração. Mas voltaremos a essa questão da sílaba quando falarmos das 5 etapas.

A parte seguinte do Guia intitula-se: “Métodos eficazes: dominando o princípio alfabético”.  E ele inicia dizendo: “O núcleo dos métodos mais eficazes de alfabetização é o chamado domínio do princípio alfabético. O princípio alfabético é o coração dos métodos fônicos”.

Bom, nessa afirmação, aparentemente singela, esconde-se uma premissa completamente equivocada: parece que ele acredita que só o método fônico aborda o princípio alfabético. Como já discutido no POST 2, sobre o vídeo de Nadalim, o princípio alfabético é o princípio que rege nosso sistema de escrita. Não se trata de exclusividade de um ou de outro método. Diferentes métodos chegam ao princípio alfabético por diferentes vias. O fônico foca as relações entre fonemas e grafemas como ponto de partida, mas o princípio alfabético, chave da decifração do escrito, não é propriedade do método fônico, e nem mesmo da abordagem fônica, dependendo do que se considere como essa abordagem. Se estratégias fônicas são as estratégias que levam as crianças a compreenderem as relações entre fonemas e grafemas, elas podem ser usadas em qualquer outro método, inclusive o silábico. Ou seja, é uma barbaridade considerar que esse princípio só está presente e enfatizado no método fônico – é um princípio do sistema! Não do modo de ensiná-lo. É um princípio, não um procedimento exclusivo de um método. A questão é que o método fônico toma esse princípio como ponto de partida e põe grande ênfase na relação fonema/grafema em seus procedimentos, propondo ensiná-las desde muito cedo e de forma bastante artificial. 

Bom, mas ele segue argumentando que “o princípio alfabético consiste em converter, conscientemente, grafemas em fonemas. Isso significa que as crianças precisam converter os sinais gráficos (letras) em seus valores fonológicos (sons)”. E então ele se pergunta – “E como fazê-lo?” E responde: “Primeiro é necessário ensinar às crianças os valores fonológicos das letras, ou seja, os seus sons. Infelizmente no Brasil se faz o contrário: apresenta-se primeiro o alfabeto, o nome das letras, as formas das letras, e assim por diante”.
Oxe! Como é que se ensina os sons das letras, sem que as crianças conheçam as letras e a metalinguagem para se referir a elas (seus nomes)? E que “som” é esse que não tem existência concreta na emissão oral? Vamos vendo...

E ele continua, trazendo o maior equívoco de sua argumentação: “Mas pensemos bem: tanto logicamente, quanto cronologicamente, o som precede a letra que o representa. A realidade sonora, de fato, é anterior à sua representação gráfica. Logo, é evidente que devemos obedecer a essa ordem no processo de alfabetização”.

Geeeeente, isso é uma asneira sem tamanho e sem fundamento! Nem na ciência da leitura, nem nos autores que ele mesmo se apoia, vocês leriam tal afirmação. E ele repete isso algumas vezes ao longo do Guia. “O som precede a letra que o representa” – onde isso? O que é “preceder”? Claro que a linguagem oral precede a escrita e as palavras faladas precedem a sua grafia (e mesmo assim, a escrita reorganiza a fala, fornece um modelo de análise da fala). Mas o som da letra isolada não precede à escrita, justamente porque o fonema não é um som, é uma unidade abstrata, não tem realidade sonora concreta, não tem realidade isolada, nem mesmo é pronunciável isoladamente (apenas de forma artificial). Até José Morais, que ele idolatra, insiste nesse ponto. Como já argumentado, a menor unidade natural de emissão sonora é a sílaba, não o fonema, quando segmentamos a fala em unidades menores, essa emissão é silábica: MA-CA-CO. E nossa língua é extremamente silábica – aliás, diferente do inglês. Não existe realidade sonora do fonema previamente à escrita, o fonema é uma unidade que a estrutura alfabética é que destaca, que chama a atenção, não estando previamente na mente do sujeito. É abstrata, uma unidade mental, não sonora, e mesmo o “fone”, esse som das letras, não é natural. Para Nadalim, por não ser, deve ser treinado, justo por não ser.  Tem que meter guela abaixo, previamente à escrita alfabética interpelar a criança, antes mesmo de tornar-se uma necessidade. Como pode isso?

Como as unidades sublexicais fonêmicas não são produzidas como unidades isoladas, mas sim em um fluxo contínuo, está certo que é preciso que tomemos consciência delas, mas isso de ser uma consciência prévia à escrita, um pré-requisito para aprender o sistema alfabético, isso já não se sustenta. A despeito dessa ideia de pré-requisito da consciência fonêmica para se alfabetizar ser uma das vertentes na análise da relação entre consciência fonêmica e aprendizado da língua escrita, o que as pesquisas tendem a indicar é que é o processo de alfabetização que garante a consciência do fonema. A tendência dos pesquisadores, mesmo da perspectiva cognitiva à qual Nadalim se alinha, é a de colocar a compreensão do sistema alfabético e a consciência fonêmica como numa relação de causalidade recíproca, não de pré-requisito, como ele apresenta. Aliás, a consciência dos fonemas tende mais a ser consequência da alfabetização do que pré-requisito para ela. A causalidade recíproca significa dizer que há elementos necessários para se alfabetizar e outros cuja alfabetização é que permite, um influenciando o outro. Vejam o que diz José Morais, importante autor no campo da ciência da leitura, guru de Nadalim, em "A arte de ler": 
Numa palavra, a consciência fonêmica e o conhecimento do código alfabético surgem simultaneamente. Nenhuma é a ‘causa’ da outra. Entretanto, veremos que elas se influenciam e se reforçam mutuamente. Juntas, elas contribuem para o sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita (MORAIS, 1996, p. 176) (Ver nota 1). 

Ou seja, Nadalim está defendendo algo, com tanta firmeza, que nem seu queridinho José Morais defende!!! Outros tantos autores, como Byrne (1995), por exemplo, insistem nesse ponto, de que a consciência fonêmica e o conhecimento da relação letra-fonema atuam de maneira complementar para a apropriação do funcionamento alfabético. A conclusão de Nadalim quanto a essa argumentação em seu E-book é completamente equivocada. Ele conclui: “portanto, em primeiro lugar, as crianças devem aprender, por meio da experiência auditiva, os sons que compõem o nosso sistema alfabético”, argumentando, como já referido, ser esse o caminho natural, lógico e cronológico. O mais natural, lógico e cronológico seria apresentar os “sons” sem as letras? Previamente às letras? Em abstrato? Não! E olha, isso aí, que no início é só citado, mais adiante aparece como orientação proibitiva: “Inicialmente, não ensine às crianças os nomes das letras e o reconhecimento visual delas, mas os sons das letras”.

José Morais, dentre outros (cito ele justamente pelo lugar que ele ocupa como queridinho de Nadalim...), afirma que só tomamos consciência dos fonemas consonantais – unidade muito abstrata – porque são representados pelas letras do alfabeto. Ele analisa pesquisas que mostram que a análise fonêmica sem o respectivo conhecimento das correspondências entre as letras e os “sons” (os fones) não é tão eficaz e potente quanto quando esses dois elementos vêm juntos.  E diz: “[...]  o treinamento para a análise da fala em fonemas é pouco eficaz se não tornarmos explícita sua relação com os signos escritos” (MORAIS, 1996, p. 177). No seu livro “A arte de ler” (MORAIS, 1996, p. 175-176), bem como em outros textos seus (aliás, ele indica lá um artigo em inglês que trata especificamente desse argumento), ele argumenta explicitamente que os adultos iletrados (não alfabetizados) não têm consciência dos fonemas, pois, ao que parece, a consciência fonêmica não precede a aprendizagem da leitura, ou melhor, não precede a algum conhecimento, mesmo que parcial, do “código” que relaciona fonemas e grafemas. Diz ele, mais adiante, que expostas ao alfabeto é que as crianças interrogam sobre as correspondências fonêmicas das letras – inclusive nas relações familiares. Outros autores (dentre os quais BRAD­LEY e BRYANT, 1983) discutem que há pesquisas de intervenção didática que mostram – assim como as pesquisas experimentais controladas citadas por Morais – que as situações de reflexão fonológica, e fonêmica em especial, realizadas paralelamente à reflexão so­bre a notação escrita são mais produtivas do que as que não fazem tal articulação, investindo na consciência prévia dos fonemas. Ora, isso tudo é, justamente, contrário ao argumento de Nadalim. Percebem?

E olha que aprendizagem mais mecânica essa de aprender primeiro pela experiência auditiva “sons” que compõem o sistema alfabético! Nadalim, com a indicação desse procedimento, se filia a um método fônico bem mecânico, bem tradicional, sintético, que é diferente do que propõe contemporaneamente e cientificamente a ciência da leitura. Ademais, pesquisas – inclusive de autores da ciência cognitiva da leitura – mostram que os NOMES das letras dão pistas sobre seus sons e contribuem, assim, para as crianças descobrirem os seus valores sonoros, na alfabetização inicial – bem ao contrário do que ele afirma. Uma brasileira, Claudia Cardoso-Martins, de perspectiva cognitiva, considerada por José Morais, tem estudos sobre essa questão dos nomes das letras, bem como outros autores estrangeiros da ciência da leitura. Mas uma pesquisadora, mulher, brasileira, não teria a atenção dele, né?

E mais ainda, as letras do alfabeto fazem parte das práticas sociais, estão nos livros, no ambiente, nos jogos, nos imãs de geladeira,  nos outdoors, nas placas, na mesa do café da manhã, em seus nomes gravados em seus pertences...estão por todo lado! As crianças se interessam por elas, querem saber sobre elas, seus nomes, suas formas. Vamos criar situações artificiais (não sociais) de esconder as letras ou fugir das curiosidades das crianças, para esperar aprenderem a pronunciar fonemas isolados a troco de nada? Loucão isso! Situação altamente controlada em contexto familiar?! Socorro! O natural é fazer de conta que as letras não existem, para que primeiro se apropriem desses “sons” isolados que, sem as letras, não fazem nenhum sentido para as crianças???? Qual o propósito de ensinar o valor sonoro da letra F sem falar em letra, mas “soprando uma vela: fffffffff” (!!!)? Nadalim, que tal brincar, só brincar, de “Farofa feita com muita farinha fofa faz uma fofoca feia”? Que tal em vez de falar em isolar fonemas, chamar a sua atenção pela repetição (aliteração)? E que tal observar com as crianças que, justamente, esse som que se repete e trava a língua, aparece no texto escrito também repetido – “Ah, pró! É a letra F!!! Ela é que faz travar a língua”. Que bobagem isso de não apresentar as letras! Vai esconder a criança do mundo letrado? Das inúmeras escritas? Fazer cara de paisagem se elas perguntam? Valha-me! Não só quer que a pesquisa experimental guie o ensino, sem outros referenciais, como quer fazer virar a espontaneidade das interações sociais e familiares uma farsa controlada. E depois acusa os professores de fazerem arremedos de situações de letramento (no vídeo Letramento, o vilão da alfabetização”)...

Que tal considerar os estudos de Émile Gombert, também da perspectiva cognitiva da leitura, que articula as atividades epilinguísticas e metalinguísticas? Essa articulação que ele enfatiza mais recentemente em suas argumentações fornece inúmeras possibilidades para pensarmos em explorações epilinguística significativas das sonoridades, explorações essas que chamam a atenção à dimensão sonora da língua e, que podem, depois, serem provocadas no nível metalinguístico, inclusive no nível do fonema, numa continuidade muito mais interessante do que “soprar vela” para fazer o som de um F que nem se sabe o que é... Vou de Claudemir Belintane aqui, para argumentar que só brincar com os textos da cultura tradicional, que exploram as sonoridades da língua, tornam essa língua “altamente alfabetizável” pelas segmentações que provocam em sua enunciação: “Co-rre co-ti-a na-ca-as-da-ti-a...co-rre-ci-pó na-ca-as-da-vó...”. Com os trava-línguas, até mesmo os fonemas ganham destaque em sua aliteração, em situações orais e epilinguísticas. Ver no texto escrito as letras que provocam essa trava na língua para pronunciar o texto, traz a reflexão para o nível metalinguístico – e olha que maravilha! Sem artificializar a língua, muito pelo contrário. Sobre essa discussão, indico meus artigos sobre textos poético-musicais em que discuto sobre situações orais de exploração epilinguística no contexto da cultura lúdica infantil, aqui, aqui, aqui e, em breve, num outro artigo sobre textos da tradição oral na alfabetização, no prelo. Um outro artigo, só sobre trava-línguas e a consciência fonêmica e grafofonêmica está no forno...por ora, apenas no prelo do desejo!

Bom, adiante, Nadalim simplifica ao extremo as explicações linguísticas para orientar os pais a não apresentarem os sons das letras pela ordem alfabética. O que ele quer dizer aí (mas diz muito mal amanhadamente) é que há fones consonantais mais fáceis de serem observados e pronunciados isoladamente das vogais (e sustentados pelas crianças, ele diz) do que outros, e diz que é por esses que os pais (!!!) devem iniciar. Entendo que fonologia, para esse público, não é possível explicar sem simplificações, mas aí já é informação incorreta. Não se trata de as crianças conseguirem ou não “sustentar por mais tempo” esses sons. São os fones (sons) que são mais ou menos pronunciáveis, a depender de seu modo de articulação. Os fricativos são mais “esticáveis” e, portanto, mais pronunciáveis isolados da vogal: /ffffffff/, /vvvvvvvv/, /xxxxxxx/, /jjjjjjjjjj/, /ssssss/, /zzzzzz/. Já os oclusivos, não: /p/, /t/, /b/, /d/, /k/, /g/. Sim, é mais fácil as crianças observarem os fones fricativos e vibrantes (/R/ e /r/) do que os oclusivos, mas a explicação, ou melhor, a simplificação, é incorreta, inadequada e desloca a questão para um elemento que não é bem o que está em jogo.

Depois disso, ele dá a tabela com a ordem de facilidade de pronúncia dos fones, sem discutir porque as vogais são mais fáceis. Ora, são mais fáceis porque são fones que soam isoladamente – e é por isso que são núcleo das sílabas, enquanto os fones consonantais “soam com”, por isso “consoantes”. Tampouco aborda que não é necessário mapear TODOS os fones (sons) para a criança se apropriar do princípio alfabético. E isso seria importante? Claro! Os pais massacrariam menos as crianças, nem precisariam chegar nos oclusivos, porque é o fim da picada ficar pronunciando o impronunciável! O desserviço de fazer parecer que a escrita é espelho da fala é incomensurável... Já repetidos em um trava-língua, até os oclusivos são observáveis: “Quando digo Digo, digo Digo, não digo Diogo...”

Além de não ser necessário isolar fonemas, muito menos previamente à escrita, nem mapear todos eles, pois as crianças entendem o princípio alfabético antes de chegar a todas as correspondência (segundo SNOW e JUEL, 2013, também pesquisadores da ciência cognitiva da leitura), tampouco é necessário treinar a segmentação fonêmica de palavras. Artur Gomes de Morais argumenta que a consciência fonêmica é muito mais do que apenas a capacidade de segmentar fonemas de uma palavra ou pronunciar os fones isolados das letras. O que esse autor, bem como Magda Soares, dentre outros nos quais me incluo, defendem, é que a consciência fonêmica pode ser desenvolvida em presença da escrita, como consciência grafofonêmica, de forma não artificial. Isso inclui a reflexão sobre palavras, seus sons iniciais e finais, a comparação de palavras iniciadas pelo mesmo fonema, ou de palavras semelhantes, que se diferenciam em apenas um fonema. Há pesquisas que mostram que observar a invariância dos fonemas, ou seja, observar a identidade dos fonemas em palavras diferentes, e ensinar a segmentação fonêmica de palavras não garantem a transferência de conhecimento em termos de consciência fonêmica e da apropriação do princípio alfabético (BYRNE, 1995), e só combinando-as com a correspondência entre letras e "sons" é que surtem algum efeito positivo. Só que a situação de reflexão sobre a invariância e distintividade do fonema são infinitamente menos artificiais do que segmentar ou isolar fonemas, como discuto nesse post (Ver nota 2)

No caso da aproximação das crianças menores com as sonoridades em geral, mais globais, como a rimas, as sílabas, e com as unidades fonológicas abstratas que estruturam o sistema, os fonemas – isso pode ser feito de uma forma mais lúdica, como em jogos e pelos textos poético-musicais, como os trava-línguas, em atividades epilinguísticas e sem criar situações artificiais de consciência fonêmica – e no Ensino Fundamental, “puxadas” para as atividades metalinguísticas no nível do fonema. Pesquisa não é prática pedagógica – na prática, há a Pedagogia! Outros fatores precisam ser considerados, e o ensino da língua em contextos significativos, letrados, lúdicos, reflexivos é um valor! Não à toa andamos muito preocupados com o que vai se tornar a Educação Infantil com essa tal “pré-alfabetização” que o Nadalim propõe, baseada nesses tantos equívocos e visão estreita da própria concepção de alfabetização que ele defende.

Diferente disso que eu argumento, o que se segue no E-book são orientações para trabalhar esses “sons” através de uma série de situações artificiais e descontextualizadas – que Nadalim chama de “dramatizações”. Orientações essas  que, na forma, se apresentam como mágica. Quer ver? Veja: “Peça que a criança coloque uma folha sobre a mão e assopre até que a folha voe, ou que apague uma vela soprando. Ela produzirá o som: f-f-f-f. Assim a criança aprenderá o valor fonológico da letra f”. Oi? Que afirmação mágica e irresponsável! Primeiro, emitir um som (fffff) não resulta, necessariamente em aprender algo. E uma só vez assim, resulta na verdade em NADA. E também não aprendeu aí o valor fonológico da letra F, porque não tem letra F na situação descrita... A afirmação é totalmente descabida de lógica, em um enunciado que chega a ser ingênuo, quase pensamento mágico mesmo. E quando diz “aprenderá o valor sonoro da letra f” ele mesmo se contradiz, já que era “sem letra” (é som sem letra, lembram?), e a menção à letra e a própria letra surgem aí não sei de onde... Ele o diz, mas não diz como faz. Percebe? Assim, esse aprendizado do valor fonológico das letras fica completamente vago, mágico. Mas isso deve ser porque, sendo a escrita um código (para ele), deve bastar dizer: “Viu filho, esse fffff é o som da letra F”. Pronto, aprendeu! Simples assim. Tão simples que até se dispensa de dizer claramente no seu Guia.

Depois de retomar a última orientação, que é “Comece pelos sons mais simples e passe aos mais complexos, sempre por meio de brincadeiras e dramatizações”, sugerindo mapear todos os sons, ele emenda: “Quando o seu filho tiver dominado o princípio alfabético, estabelecendo a correlação entre grafemas e fonemas, sinais gráficos e valores fonológicos, letras e sons, será capaz de ler palavras simples, como a palavra ‘uva’”. Proooonto! Mágica, que ele não diz como acontece essa apropriação do princípio alfabético – mas é isso, a chave do funcionamento do sistema é só um monte de informação técnica. Depois de 26 zoadas soltas no ar, eis o menino alfabetizado! #sqn. Será que o exemplo com  “uva” foi um ato falho que retoma o “Ivo viu a uva”? é um clin d’oeil, né? Se não foi, fica sendo, na minha visão da sua argumentação...

Se a escrita fosse esse código tão simplório, não teria tanta celeuma em torno da alfabetização, né? Mas...pelo que vem depois, é simples assim mesmo, mas é um segredo que a escola guarda a 7 chaves!!!

Gente, e isso tudo aí ele sugere para a Educação Infantil, a partir de 3 anos, viu? É uma etapa da “pré-alfabetização”! Socorro!

Ele termina essa parte (página 18!) com uma revelação que é de rir, para não chorar! Eis a pérola: “Por fim, quero agora contar-lhe um segredo, que as escolas costumam cobrar caro para revelar. Antes de ensinar às crianças o princípio alfabético, é necessário conduzi-las por 5 etapas. É sobre esse assunto que passarei a tratar no próximo capítulo”.

Gente! Eu li isso mesmo? Seria hilário, não fosse trágico. Ele é o salvador da pátria da alfabetização, vai revelar um segredo de estado que as escolas guardam a 7 chaves – escondem para quê? Para não se tornarem dispensáveis? A insinuação deve ser essa, né? Oxe, mas se têm esse segredo mágico, porque é mesmo que não alfabetizam, como ele insiste em dizer? Para se autoboicotarem? E aliás, os próprios professores não sabem, segundo ele. É um segredo de estado dos donos das escolas ou dos gestores das escolas públicas, sabe-se lá para proteger o quê. Realmente, fica difícil imaginar porque as escolas guardam esse segredo e cobram (para quem?) por isso... Não faz o mínimo sentido, e é um enunciado valorativo, gratuito, sem nexo, sem lógica, sem substância, só para fazer fita. Enunciado-bombástico-fake-delírio. Enunciado-fita, enunciado-lacre! É de uma irresponsabilidade sem tamanho! Bom, mas ele, como o salvador dos filhos dos brasileiros, vai revelar para os pais esse segredo...Estou tão curiosa!!!

E o texto que se segue – que ele chama  de “o caminho das pedras” e constitui o segredo das escolas malvadas – apresenta as tais 5 etapas. Vamos a elas! Ainda temos estômago?
No próximo post, falarei das 5 etapas. Inté já!
Postado aqui.
Notas 
1.Atenção à tradução do original do livro em francês, em que conhecimento/connaissance é feminino, ou do artigo referido, em inglês, sendo os termos para “conhecimento” em geral, também femininos. Em português, não, “conhecimento” é masculino, havendo aí, me parece, um problema de concordância.
2.Convém lembrar que essas pesquisas não levam em conta como as crianças estão pensando sobre a escrita alfabética e, portanto, seus resultados mostram apenas a relação entre o que se ensinou e o que ficou e foi passível de transferência e generalização.

21 comentários:

  1. Professora Liane,
    Resolvi ler o Ebook e é impressionante mesmo a arrogância e o teor tão raso do material. Mesmo para pais. Iluminada por sua análise, essa leitura foi muito importante nos meus estudos e para fundamentar-me para a resistência que temos à frente.
    Muito obrigada, professora.
    Janete

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  2. EDCB 85- ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOTURNO CARINA DA SILVA LACERDA

    Ver a complexidade da alfabetização de forma tão leiga e desarticulada com a nossa realidade de poucos investimentos e atualização de meios de informações conectadas com a escola constroem essa patamar de desigualdades e ineficiências. Não responsaveís pela e pelo professor que não tem apoio,autonomia,condições de pesquisa dentro e fora do espaço escolar necessárias,que vêem as mudanças da tecnologia batendo gritantes as porta s de uma escola que não compartilhar dessa evolução e sensibilidade,com pais que não podem está presentes para manter a sobrevida dessas crianças,violência variantes que dependem de uma articulação e capacitação efetivas e com um olhar para a realidades das crianças e não privá-las da socialização,troca,aprendizagens e perspectivas diferentes da sua.A quem está proposto essa educação? Que pai será capaz de formar consciências de mundos numa visão simplista e limitante dos saberes de mundo,da diversidade de opiniões,da educação formal e informal que a escola contribui,é claro que sem os familiares isso não se consolida mas eles são os únicos responsáveis pela educação garantida constitucionalmente para ser papel do estados e municípios!!

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  3. Boa tarde, professora.
    Fiquei aqui me perguntando como um pai vai ensinar o som s, sendo que ele pode aparecer em 8 representações: s, ss, c, ç, SC, sç, x, xc. Como se daria isso? É muito complexo e ele torna esse processo muito simplista. E além do mais ensinar sons de letras sem as letras para crianças de 3 anos? Ou esse homem é louco ou não tem um pingo de caráter.
    Aline Rocha
    EDC B85 Alfabetização e Letramento
    Noturno

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    1. Oi, Aline...pois é. É complicado.
      As relações entre letras e sons variam muito em nossa língua. Uma mesma letra pode representar diferentes sons e vice-versa, como esse caso da letra X, da letra S, e de outras. O som de um letra depende, em alguns casos, do contexto dela na palavra, como é o caso de S entre vogais, que fica com som /z/, de O e E no final das palavras, que pode ser pronunciadas como /u/ e /i/. E ainda tem as questões da variação linguística.
      Ou seja, o sistema de escrita é uma representação complexa. A abordagem fônica, sozinha, não dá conta dela.
      Mas é fato que a base de nosso sistema é o princípio alfabético, a relação entre fonemas e grafemas. Assim, o que ele está defendendo é ensinar esses sons das letras na alfabetização bem inicial - isso não quer dizer que depois não passe a essas questões ortográficas às quais você se refere. Mas, de todo modo, lógico que é fato que isso de ensinar os sons de unidades gráficas fora do contexto das palavras é doido.
      É possível ensinar o funcionamento do sistema, inclusive a consciência do fonema, em contextos significativos, reflexivos, lúdicos e letrados, sem ser de forma descontextualizada e mecânica.
      Veja mais sobre isso nesse post:
      http://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com/2018/09/e-os-fonemas.html

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  4. Fui tentar baixar o e-book do Nadalim e acabei nesse blog https://metodofonico.com.br/o-que-e-fonema-e-grafema-2/
    O fundador do blog é um homem chamado Odair José Machado e ele diz que não é pedagogo, mas um pai preocupado com a educação dos filhos. Ele diz que não quer desmerecer os professores, mas lista 3 motivos para baixar o seu e-book:

    1- Não acredita nas metodologias adotadas nas escolas brasileiras para a alfabetização de crianças;

    2- Se você acredita que pode fazer a diferença na vida do teu filho ou aluno;

    3- E se você acredita que a criança pode ser melhor alfabetizada com o uso do Método Fônico;

    Como um pai pode ou não acreditar nos métodos de alfabetização, se muitos deles não têm conhecimento? Eles só querem que seus filhos leiam e escrevam o mais rápido possível. Por isso que esse picaretas de internet ficam se intrometendo na seara alheia e vendendo soluções milagrosas. Dizem que de médico e louco todo mundo tem um pouco, acho que já pode incluir a pedagogia nesse ditado, pois hoje todo mundo sabe como ensinar alguma coisa melhor do que as escolas.
    Aline Rocha
    EDC B85 Alfabetização e Letramento
    Noturno

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    1. Pois é, Aline...
      A Educação é hoje a menina dos olhos de "mercadores da educação", sejam eles as grandes organizações, fundações ou Institutos ligados à iniciativa privada, ou picaretas individuais, com mania de grandeza, que se acham em posição de ocupar nosso lugar no discurso pedagógico.
      É lamentável!

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    2. Arisneuza Souza Goncalves

      OBS -Teclado com problema. desconsiderar, por gentileza a falta de acento ou pontuacao

      Essse senhor Nadilim acredita mesmo ser magico. Confessa que em tres anos ja havia criado um metodo de alfabetizacao. Ele deve ser magico mesmo, pois criou um metodo e jamais conseguira entender que um sistema de escrita nao e apenas alfabetico, tambem e fonetico e muito
      mais complexo que ele descreve.
      Um simples treinamento nao conseguira atingir o objetivo principal.o foco estar em alfabetizar pessoas.
      Nadalim diz
      “Três anos depois, eu já tinha um método de alfabetização e de pré-alfabetização comprovado, eficaz, para alfabetizar crianças de 3 a 6 anos”
      Serio!!!!

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    3. O brasil está em último lugar em interpretação de textos no mundo, temos uma multidão de analfabetos funcionais com diploma superior, mas vocês professores nunca assumem a culpa pelo trabalho mal feito, somente sabem pedir valorização, especialmente quando o assunto é aumento de salário, engraçado que em países como o Japão o professor é responsabilizado pelo mal desempenho dos alunos, existem muitos países com condições piores que o nosso mas onde os alunos se saem melhor.

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    4. Uma pessoa que se dá ao trabalho de vir aqui para comentar uma asneira dessas tem mesmo que deixar o perfil anônimo e não se identificar, não é?
      Você não vem aqui no meu espaço desqualificar professores com argumentos sem fundamento, parciais e com essa agressividade com a classe docente.
      Não quer debater? Fique quieto, não conversamos com anônimos.

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  5. É, cara Liane, conforme o seu texto mesmo apresenta, a amplitude da alfabetização é bastante estreitada quando se pensa em criar situações artificiais de consciência fonêmica ao invés de se usar jogos e textos poético-musicais como os trava-línguas em atividades epilinguísticas, e esse uso, é que vai gerar a aproximação das crianças menores com as sonoridades em geral, mais globais, como a rimas, as sílabas, e com as unidades fonológicas abstratas que estruturam o sistema, os fonemas, de forma mais lúdica e significativa. E ainda como é importante o ensino da língua em conteúdos significativos, letrados, lúdicos e reflexivos em todos os níveis dos processos de ensino-aprendizagem.

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  6. Essas sínteses, de fato, vão ajudando-os a consolidar os conhecimentos...Mas queria ver você argumentar mais aí, como fez em outros posts...

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  7. Nadalim é um ignorante, mas um ignorante com seguidores o que me assusta mais, pois muitos são os que compram seu discurso apelativo que ignora a pesquisa, os teóricos especialistas e qualquer estudo que o contradiga. Contudo, Nadalim citar Olavo de Carvalho já no início de sua obra só nos leva a rejeitar ainda mais seu método “salvacionista” e “definitivo”, pois Olavo de Carvalho, assim como o Nadalim não possui credibilidade ou conhecimento para tratar de questões tão importantes quanto os métodos de alfabetização.
    Quando o secretário vai descrever os métodos que para ele são ineficazes pareceu-me que as explicações foram simplistas e incompletas, buscando apenas convencer o leitor que método trazido por ele como o melhor e único método é de fato o caminho a ser seguido por todos. Esta é só mais uma forma de induzir o leitor, assim como fez no início de seu ebook, quando narrou experiências pessoais para gerar comoção e até confiança nas descrições posteriores. Ainda estou no início do ebook, mas já estou horrorizada com as falas do secretário.

    Danielle Queirós
    EDCB85 - 2019.2 - Diurno

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    1. Siiiim!!! Um ignorante com muitos seguidores, inclusive professores. Preocupante mesmo.
      Essa gente é especialista em estratagemas para ludibriar o leitor e parecer ter razão.
      Suas impressões são perfeitas!

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  8. Olá professora. Adorei o texto, muito esclarecedor!
    Enquanto estava lendo, me perguntava se esse senhor realmente tem algum contato com crianças, pois as afirmações dele são confusas e não tem nenhum fundamento educacional na experiência empírica. Sua teoria é completamente absurda, desconhecendo os métodos de alfabetização e as especificidades das crianças e infâncias. Ele vende uma ideia de que todas as crianças são iguais e seu livro conseguiria ensinar a todos, sem distinções. Achei um tanto hilário as afirmações sobre o "som preceder as letras". Imaginei um professor ou os pais ensinando a criança "agora fale Bê". Isso ficaria totalmente desprendido de alguma significação, seria mera repetição. Além disso, me pergunto como seria o processo avaliativo dessas crianças? Pois na minha cabeça, esse método não ensinaria nada a criança. E depois disso? Será que eles notariam que a criança não aprendeu, ou simplesmente fechariam os olhos e diriam "essa criança é alfabetizada!". Enfim, eu só consigo pensar que para eles não adianta sucatear a educação, precisam destruir a base, pois além da alfabetização, a Educação Infantil está sendo despedaçada.

    Vitor Rafael Ribeiro
    EDCB85 - 2019.2 Diurno

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    1. Pois é Vitor. A Educação Infantil certamente sofrerá as consequências dessa política de alfabetização.
      Isso de ensinar os sons antes das letras ou mesmo das letras isoladas é um despropósito que mesmo os pesquisadores do campo no qual ele diz se apoiar não defendem. Por não ter estudo aprofundado, ele repete coisas sem sentido, mais baseadas no método fônico tradicional do que na perspectiva das pesquisas cognitivas, de fato, que hoje embasa a abordagem fônica. Um descalabro!
      Note que ele fala de uma criança (e uma família) supostamente abstrata, baseada num tipo de criança/família de classe média alta em diante, não fala da diversidade de crianças, infâncias e famílias. Um engodo destes não podia estar na secretaria da alfabetização...Mas, enfim...nem o ministro...nem o presidente... Faz tudo parte desse desmonte e de instituir um "mundo" para esses "vips" aí, os endinheirados, enquanto todo o "resto" vira meros figurantes dessa Matrix deles. Um horror!
      E, assim, voltamos a um conceito instrumental de estar alfabetizado...Mas vamos resistir!

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  9. Eu estou chocada com esse guia, uma grande piada mesmo. Como explicar os sons das letras sem mostrá-las de forma concreta? Gente, as crianças tem a imaginação fértil, mas nem tanto... (GRITO!)

    Que tipo de crianças queremos alfabetizar dessa forma? Só reforça uma aprendizagem mecânica e fora do contexto. Isso é trágico, me custa acreditar... O auge da loucura! Como alfabetizar sem letrar? O que
    vou dizer ao meu aluno V.A de 4 anos quando ele falar "eu sei lazer isso pró!" Usando /f/ ao invés de /l/ (isso porque ele não escreveu...) Exemplo, vou pedir para ele "açoprar" uma vela e tcharananam: "fuuuuulaser" (risos). Se ele não se queimar vai com certeza criar uma nova palavra para incluir no dicionário. Além disso, é muito violento implementar um método de alfabetização na Educação Infantil sendo que ainda não estão preparadas para tal. Nessa fase o processo deve ser de aproximação com as letras, de forma leve, lúdica, porém concreta! As letras fazem parte das práticas sociais, estão presente em todo canto... Sério, seria cômico se não fosse trágico tudo isso (#medo)!!

    Nosso sistema de escrita é de alta complexidade e cada país tem o seu contexto... Não podemos criar modelos e métodos que não dialogam com a nossa própria realidade. Me preocupo com a "habilidade" que essa galera tem de querer sucumbir a educação. Querem formar robôs mesmo. Afastar a criança da escola impede o seu processo de socialização, de aprender com o outro e etc. Não é qualquer pessoa que pode ser docente. Eles acham que a licenciatura em Pedagogia é para que? Deslegitima a nossa profissão e nos fere diretamente. Óbvio que a família é um espaço inicial de letramento também, mas não legitima pais alfabetizadores.

    Olha, depois dessa só tomando "cafuuuué e fingindo demência...

    Juliane Santos EDCB85 - (2019.2)

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    1. Oi, Juliane,
      É...a ironia é uma forma potente de refletir e questionar isso tudo que está acontecendo e que estão nos impondo, seja no campo da alfabetização, da educação em geral ou do contexto político mais amplo.
      Tá bem difícil suportar...vamos de estudo, de reflexão potente e fundamentada, de ironia, de afirmação e reafirmação do que acreditamos, sem cessar!

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  10. EDCB85 - Diana Bispo Ribeiro da Silva

    Logo ao ler o título do e-book do Carlos Nadalim a respeito das 5 etapas para se alfabetizar uma criança, já imaginei o quão problemático é apenas a afirmação de uma porção mágica, uma solução milagrosa e universal para que se possa chegar a algum lugar, o sujeito alfabetizado. Foi fortemente discutido nesse post, e é real: a alfabetização não se resume apenas a grafemas e nem apenas a fonemas. A alfabetização é um processo, cujo requer movimentações, e não cabe apenas uma metodologia, mas sim o conjunto das metodologias. Assim como não há como definir um processo que sirva a todos os sujeitos para que estes cheguem a um resultado, se cada sujeito possui demandas de construções de aprendizados diferentes. Desta forma, o que funciona para uma turma não necessariamente vai funcionar para a outra, e isso não representa que um método seja mais ou menos válido que o outro, mas sim que há diferentes metodologias e diferentes processos, e respeitar isso é algo essencial. Não há como dizer que os sujeitos devem ser colocados no contexto de aprendizados dos fonemas antes dos grafemas, porque as pessoas naturalmente já vivem numa cultura letrada, estão em contato com palavras, letras e significações a todo momento, e não é verdadeiro afirmar que o conhecimento do fonema deve vir antes do conhecimento do grafema, porque é um processo em simultâneo, ainda que cada um tenha sua devida demanda e especificidade.

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    1. Pois é, Diana... O fonema só ganha destaque mesmo na necessidade de se apropriar da escrita alfabética. É muito artificial para as crianças para ser ponto de partida do processo de alfabetização, como você bem entendeu...
      Agora, além das diferenças individuais e de grupos sociais, tem também o fato de que a linguagem é um objeto multifacetado. Mesmo a gente sabendo que há esse ou aquele aspecto importante a ser considerado na alfabetização (e a relação fonema-grafema é importante), e esses aspectos exijam certos procedimentos metodológicos, nunca darão conta de todos os aspectos, todas as facetas dessa apropriação da linguagem escrita.
      Isso de fonema antes dos grafemas é absurdo mesmo no âmbito da perspectiva cognitiva que Nadalim abraça. Um tonto!

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