Lica
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Gente!
Como esse ano atípico não tem me permitido estar tão presente no blog, para os que ainda não foram lá, vão e curtam a página do blog no Facebook, na qual tem dado para ser mais assídua ao menos para algumas dicas, já que lá é tudo mais vapt vupt!
Lica
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Defesa de Tese
Gente, estou sumidíssima, mas é por uma boa causa.
Finalmente saiu a tese e a defesa já está marcada!
Ainda terei um resto de ano pesado, mas aos poucos vou retomando o blog, as oficinas, os materiais.
A pesquisa procura tornar observáveis
os modos de apropriação de elementos de narrativas verbovisuais – quadrinhos,
mangás, desenhos animados, filmes e games – nas histórias escritas por crianças
e discutir sobre suas implicações para o ensino da escrita. As marcas de
relações intertextuais diversas e de intercâmbios entre as diferentes
linguagens revelaram procedimentos astutos e, ao mesmo tempo, a construção de
habilidades da criança em dar conta da textualidade própria à escrita,
diferente de quando se tem o apoio no visual.
Quando a versão digital estiver disponível no Repositório da Universidade, disponibilizo o link, ok?
Muito obrigada pela paciência de vocês, e não desistam de mim!
Um abraço,
Lica
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Publicação
Oi, gente!
Ando sumida, muito trabalho, reta final de redação da Tese para defesa lá para setembro. Por isso os posts estão rareados e só no Face de vez em quando aparece uma notícia...
Ando sumida, muito trabalho, reta final de redação da Tese para defesa lá para setembro. Por isso os posts estão rareados e só no Face de vez em quando aparece uma notícia...
Mas logo que essa correria acabar, volto ao blog com força total!
Escrevo hoje para divulgar o lançamento de uma publicação sobre Educação Infantil, que conta com um artigo meu. A publicação, contendo artigos de vários pesquisadores e professores, é intitulada "Estudos e Passagens do Proinfantil na Bahia".
O meu artigo intitula-se "Tá iquito aqui! Eventos de letramento e as práticas de leitura e escrita antes da alfabetização".
Esse é um artigo que escrevi já faz um tempo, um pouco depois da apresentação que fiz sobre eventos de letramento no SIEPE de 2010, que está postado aqui. Ele segue essa ideia de discutir sobre o tema a partir de eventos de letramento efetivamente vividos por meu filho Joaquim, minha enteada Dora e algumas outras crianças. Daí o "Tá iquito aqui", frase que ouvi muito de um e de outro e que agora ilustra e ilumina o título de minhas reflexões.
O artigo completo está disponível digitalmente aqui, na página 55 do livro.
Um abraço,
Lica
Referência completa: ARAUJO, L. C. . Tá iquito aqui! Eventos de letramento e as práticas de leitura e escrita antes da alfabetização. In: Mary de Andrade Arapiraca; Lícia Maria Freire Beltrão; Cleverson Suzart Silva. (Org.). Estudos e passagens do Proinfantil na Bahia. 01ed. Salvador: EDUFBA, 2012, p. 55-70.
domingo, 14 de abril de 2013
O Canto do Galo
Oi,
gente!
Vou
contar hoje um pouquinho sobre um pequeno material que surgiu - como o Jogo do SIM e do NÃO - de uma brincadeira com as palavras inventada por Joaquim, meu
filho.
Em
2012, no contexto do projeto que culmina na Feira de Livros da escola,
cujo gênero explorado foi a poesia, Joaquim apreciou muitos poemas, seja
na escola ou em casa, e foi aprendendo sobre esse gênero que brinca
com as palavras, as sonoridades, seus sentidos e nonsenses, que
traz um caráter lúdico, com suas metáforas, sua graça, seu riso ou
encantamento...
Como
eu trabalho na escola e sou uma das responsáveis por esse projeto da Feira
de Livros (cuido da área de Leitura, Escrita e Oralidade na escola...e
Matemática também!), eu estava muito envolvida na produção de oficinas
para os professores, indicação de livros, poemas, organização de materiais e
propostas, bem como orientação aos professores quanto à produção de poemas pelas
crianças (e Joaquim percebia isso). Assim, também para me agradar e fazermos
coisinhas juntos, ele investiu muito nessa onda poética que tomou conta de
nosso dia a dia.
Ele
também memorizou alguns, que recitava com muito gosto!
Eu
lhe apresentei os poemas de Sérgio Capparelli, autor de que gosto muito, e
desse autor, ele memorizou alguns pequenos poemas. Outros, maiores, ele
recitava junto com a minha leitura, dizendo as passagens que lembrava,
enfatizando rimas, respondendo, quando a estrutura do poema era de perguntas e
respostas, ou recitando junto comigo quando a estrutura repetitiva permitia
essa declamação compartilhada.
Os
que ele mais gostava, desse autor, eram "Minha cama", "Guaraná
com canudinho" e "Relâmpago". Todos esses poemas estão na
antologia de poemas do autor, intitulada "111 poemas para crianças",
da LP&M, que dei pro pai de Joaquim há muito muito tempo atrás,
ressaltando o poema "As sardas de Dora", em homenagem (minha) a sua
filhota.
Joaquim
costumava recitar os poemas em casa, no carro, em qualquer lugar, orgulhoso que
estava, tanto de sua memória quanto de estar fazendo parte dessa grande
movimentação coletiva em torno da poesia na escola. Ele se interessou de
verdade!
Dois
dos poemas curtinhos que Joaquim memorizou, "Cores" e
"Manhã", viraram jogos orais muito interessantes, completamente
criados por ele. E de um deles, fizemos um kit para brincar também com o poema
escrito. É desses jogos orais e escrito que vou falar para vocês agora.
Manhã
O Canto
Do galo
Abre as cortinas
Do dia
Cores
No fim
do dia, cansadas,
As borboletas
penduram as asas,
Pra não amarrotar as
cores.
Um
dia, indo para a escola, ele começou a recitar o poema Manhã e, logo em
seguida, começou a propositadamente trocar palavras de lugar no poema, criando
efeitos de sentido interessantes, engraçados e, por vezes, nonsense.
Rimos muito e eu também contribui com algumas sugestões.
"O
canto do galo abre as cortinas do dia" virou, para Joaquim,
"O canto do galo abre a cortina do dia", no singular. Não
teve jeito de ele consertar... Mas, no fim, isso facilitou o jogo de palavras
que inventou... com a licença de Capparelli. Licença, viu, Capparelli?
Olhem
as novas frases que surgiram dessa brincadeira e vejam que interessante, ainda
mais inventada por uma criança de 5 anos!:
O
canto da cortina abre o dia do galo
O
dia do galo abre o canto da cortina
O
canto do dia abre a cortina do galo
A
cortina do galo abre o canto do dia
O
galo do dia abre a cortina do canto
Tudo
isso só trocando, oralmente, as palavras de lugar. Gente, achei isso que ele
inventou fantástico! Decompondo e recompondo o poema, trocando as palavras
de lugar na frase, ele descobriu uma brincadeira muito bacana com os sentidos, além de ser uma ótima brincadeira metalinguística com frases e
palavras. Sem saber, ele brinca aí, inclusive, com o eixo paradigmático da frase - como diriam
os linguistas - que é o eixo das possibilidades, das relações virtuais
entre unidades da frase que são comutáveis por outras, ausentes na frase, mas
possíveis (ex. Em "Eu como banana", posso trocar banana por maçã,
feijão, ou trocar o verbo conjugado "como" por amo, detesto...).
Pois
bem, vejam que coisa, né? Nesse caso ele trocou as próprias palavras da frase
de lugar, cambiando os possíveis nesse eixo paradigmático, experimentando os sentidos engraçados que isso originava. E, como bom conhecedor intuitivo da estrutura de sua língua, só trocava determinadas
palavras, não todas... Trocava os substantivos entre si, que por sinal, por vezes mudavam de
sentido: em "o canto do galo", canto é canto, substantivo relacionado
ao verbo cantar. Já em "o canto da cortina" ele pensou no canto mesmo,
na junta, na esquina da cortina, no cantinho dela, ponto de encontro entre duas
retas, ainda que retas de tecido esvoaçante. Fantástico! Joaquim
brincou de lego com as palavras, diriam os mais poéticos!
E
toda essa multiplicação de sentidos que a brincadeira proporcionou certamente o
fez se apropriar ainda mais da versão original, já que dizia coisas lindas
sobre as imagens poéticas que estavam ali postas, como o que seria
abrir as cortinas - ou a cortina -do dia...
Como
poema não é para ser interpretado ao pé da letra, nem é caso de impor um único
modo de interpretá-lo, deixei voar a polissemia das imagens poéticas e, por
dias, ele voou longe. E bem perto da simplicidade complexa do poema...:
-
Mãe, quando abre a cortina, fica claro, não é? Então... Abre a cortina para
ficar de manhã e fecha para ficar de noite. E a culpa é do galo!
Depois
que tomou gosto, ele começou a fazer a mesma brincadeira com o poema Cores,
ainda que nesse poema as trocas fossem mais complexas e as possibilidades,
menores. Assim, surgiram coisas como:
No fim
do dia, cansadas,
As borboletas
penduram as cores,
Pra não amarrotar as
asas.
No fim
do dia, cansadas,
As borboletas
amarrotam as asas,
Pra não pendurar as
cores.
No fim
do dia, cansadas,
As asas penduram
as cores
Pra não amarrotar
as borboletas.
E
assim ia ele, inventando... e eu gostando e entrando na brincadeira também.
Inventamos muitos jeitos de dizer o poema. É gostoso, experimentem!
Depois
de toda essa exploração oral, resolvemos fazer um fatiado do poema Manhã. Na
verdade, brincar com o fatiado foi um jeito que pensei para contar essa
história nossa no Sarau do UQT, grupo do qual faço parte. No fim, lá ele nem
quis fazer comigo, tímido que é, mas sem a plateia, em casa, brincamos muito.
Como ele sabia o texto de cor, íamos montando a partir do reconhecimento que
ele ia fazendo das palavras, ajustando o oral e o escrito, ajudado também por
minhas intervenções, questionamentos. Agora ele brincava de lego com palavras
escritas, como tijolinhos de som e sentido que ia juntando, separando, recombinado.
Foi muito legal!
No
início não tinha me ocorrido fazer o fatiado, mas depois caiu a ficha, e daria
muito certo, especialmente se mantivéssemos "a cortina" no
singular... Essa adaptação era importante na escrita, para não ter que fazer
mais fichas com artigos e preposições para encaixar com cortinas a cada vez que
a trocássemos de lugar, nem o verbo "abre" precisaria ter a versão
"abrem", para o mesmo fim. Ia ser mais complicado. Como esse singular
já foi incorporado na brincadeira oral, achei que era tudo bem mantê-lo no
fatiado. Capparelli que nos perdoe.
E
o fatiado ficou assim:
E
recombinando de outros jeitos...
Bom,
é isso, gente. Esse foi o relato de outra experiência lúdica de Joaquim com as
palavras, frutos de nossas interações em torno da linguagem oral e escrita.
E
não esqueçam, no poema original são as cortinas, metáfora da
manhã, que são abertas pelo canto do galo... no plural, heim?
Lica
sexta-feira, 15 de março de 2013
Festa das Letras
Gente,
Meu pequeno Joaquim - já não mais tão pequeno - fez 6 anos... está na Alfabetização - no primeiro ano! E como agora a escrita e a leitura fazem festa lá em casa, considero importante registrar aqui o seu aniversário, que foi , justamente, a Festa das Letras!
Diante da ideia do mais novo interessado pelo universo das letras, eis o convite, onde escrevi o nome de cada convidado no quadrinho em branco. Tive essa ideia de convite uma vez que vi algo parecido em um site, ao pesquisar um pouco para fazer essa festa, mas não me lembro qual foi.
A festa foi na escola, tinha tudo a ver fazê-la lá, com seus colegas que estão no mesmo barco, nessa aventura com as letras. Como isso é assunto de alfabetização, e como para uma mãe que trabalha com isso esse é um momento especial, registro aqui no blog o que vivenciamos para essa comemoração dupla: do nascimento e do início formal do processo de alfabetização. Digo formal porque as crianças não esperam datas nem autorizações para aprender e a pensar na escrita - nem em nada -, não é? Assim, pensar em letras, sons, palavras, textos e tudo o mais, são eventos constantes no dia a dia de Joaquim, desde muito tempo, muitos desses eventos registrados em um caderninho que intitulei "Eventos de Letramento do Joaquim", e que tem pérolas desse processo. Já virou até artigo, que já foi publicado, e em breve vou ver como disponibilizo para vocês.
Bom, voltando ao aniversário, na onda da animação para aprender a ler, tivemos essa ideia da Festa das Letras juntos, já faz algum tempo, e ele nunca esqueceu, sempre falava... Já é praxe na nossa família, e sabido pelos amigos e colegas, que os aniversários de Joaquim sejam sempre assim inventados, diferentes e home made mesmo, "feito-em-casa", como se diz. Já fizemos por exemplo um grito de carnaval a fantasia, muito legal, e a Festa dos Monstros, no ano passado, que foi show de bola, com aqueles monstrinhos de pano que fiz de lembrancinha e que até hoje os amigos têm como naninha para abraçar na hora de dormir. Um dia eu mostro!
Assim, desde algum tempo já animado com a ideia da Festa das Letras, Joaquim sugeriu algumas coisas para a festa, como jogar bingo de letras no dia, fazer biscoitinhos de letras para a lembrancinha, colocar letras no bolo. Assim fizemos. A ideia era fazer as letras dos nomes de cada criança e cada uma ganhar seu saquinho com suas letras para se deliciar. Mas delícia também foi a preparação.Como não achei cortadores médios, fizemos biscoitinhos e biscoitões: os nomes inteiros de biscoitinhos de letras e a letra inicial grande.
Biscoitinhos sendo feitos, 4 tipos de massa, normal, integral, polvilho e chocolate:
A vez dos biscoitões, em massa e assadinhos, de polvilho e de chocolate:
Foi um trabalhão para concretizar essa ideia de Joaquim, que certamente veio de nossas outras investidas em fazer biscoitos em casa. Já teve até de lembrancinha, uma vez, biscoitos que iam com a receitinha digitada em um papel de caderno, imitando até as manchinhas de cozinha, gordura e farinha. Pois ele deve ter juntado isso com as a ideia das letras e tchanram!
Para o toque final, inventei mais uma coisa: Joaquim escreveu, em cada inicial grande, o nome dos colegas com canetinha comestível. Ou ele olhava numa lista e copiava, ou eu dizia as letras e ele escrevia.
A essas ideias dele - os biscoitos e o bingo - eu juntei outras, como o Caça-palavras com o nome dos convidados no verso do convite e o poeminha das letras iniciais de cada um, que foi nos saquinhos de biscoito (todas dos livros O Batalhão das Letras, de Mario Quintana, ou de Uma letra puxa a outra, de José Paulo Paes). A preparação foi trabalhosa, mas muito divertida!
Aliás, os poeminhas também foram para a decoração, junto com uma versão maior do Caça-palavras, com as respostas, para todos que não acharam seus nomes poderem achar. A professora ficou de depois ler com eles e continuar a brincadeira.
Uma letra puxa a outra e era letra para todo lado! Na mesa, letras de e.v.a e dados de letras se misturavam às comidinhas. Na foto, a mesa ainda em arrumação. E no bolo - ah, o bolo ficou como gosto, simples e bonito - coloquei balas de gelatina de letras Fini e ficou bem colorido. Vejam:
Depois dos parabéns, das comidinhas, dos abraços contagiantes, dos presentes e das lembrancinhas, propomos as mesas de jogos e jogamos variações do bingo, todos do meu acervo. As crianças se dividiram em três grupos, cada um com um adulto ajudando e "cantando" as letras. Uma animação só!
Um deles era um Bingo de Letras normal, só de identificação das letras.
Mas jogamos também o Bingo de Letras-Palavras, em que as letras formam palavras, embora a criança só tenha mesmo que procurar em sua cartela a letra que foi "cantada". Nesse caso, há várias letras repetidas na cartela, e têm que marcar todas. Esse jogo tem uma variação mais desafiante, para adiante, como vocês podem ver mais abaixo.
Por fim, jogamos também o 4 Cartelas, que é como um bingo, com as letras de uma palavra na cartela, mas só que cada jogador só pega uma palavra de cada vez. Também nesse caso jogamos a versão do jogo que solicita das crianças apenas o reconhecimento das letras "cantadas".
Esse jogo também tem uma versão mais desafiante, em que as crianças têm que imaginar a palavra escrita, pois em vez de ter as letras nas fichas, tem os quadradinhos vazios, apenas a figura é indicada. E em vez de marcar com feijões ou outro marcador qualquer, têm que preencher os quadrinhos, cujas letras foram "cantadas", com fichas de letras. O desafio aí é para os que têm hipóteses de escrita alfabética ou silábico-alfabética. Vejam as duas versões abaixo:
A outra versão do Bingo de Letras-Palavras tem no mesmo princípio, as crianças têm que colocar as fichas de letras nos quadradinhos correspondentes à medida que as letras são "cantadas" e, para isso, precisam ir pensando em como se escreve aquela palavra, representada na cartela apenas pela figura.
Para esses dois jogos, o interessante é poder ter as crianças de uma mesma sala jogando o mesmo jogo, só que com desafios diferentes, de acordo com o domínio da leitura e escrita de cada uma. E heterogeneidade na sala de aula é o que não falta, não é? Salas homogêneas não existem!
Enfim, gente, a festa foi simples, mas muito legal. Espero que tenha sido uma "cosquinha" em cada uma das crianças, para se aventurarem com gosto na aventura da escrita.
Meu pequeno - já não tão pequeno - está muito animado!
Beijos,
Lica
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Sobre os materiais deste blog
Esse é um texto mais atualizado sobre os materiais apresentados nesse blog, a partir de um dos primeiros posts que fiz. É um texto que dá uma ideia geral dos materiais do acervo e ajuda a organizar em blocos os jogos e materiais que vão sendo postados, considerando sua natureza.
Os jogos, materiais, atividades, dicas e as oficinas apresentados nesse blog destinam-se a todos que se interessam por alfabetização e que buscam ampliar seu repertório de propostas didáticas fundadas em firmes concepções de aprendizagem e ensino da língua escrita.
Enfatiza-se aqui a perspectiva de aprendizagem do sistema de escrita em contexto de letramento, por um lado, e a especificidade do processo de aprendizagem do sistema alfabético, por outro, confluindo para o que Magda Soares chama de "Reinventando a Alfabetização", ou seja, o trabalho específico com o sistema de escrita, com a identificação das palavras, sem perder de vista o eixo relativo à construção do sentidos na leitura e o contexto mais amplo relativo à cultura escrita.
As atividades propostas a partir dos materiais apresentados focalizam a aprendizagem do funcionamento do sistema de escrita alfabética, o trabalho de reflexão fonológica, a mobilização de estratégias de leitura, a pesquisa inteligente, e abordam as diferentes unidades da língua – texto, palavra, sílaba, grafemas e fonemas e unidades inter e intrasilábicas (maiores e menores que a sílaba, como -OLA em bola, escola, sacola, viola, cola... e TR em troco, trinco, trator, truque...) – em contexto de exploração de textos - orais e/ou escritos - e de jogos.
Costumo separar os materiais, kits e jogos que fazem parte do acervo que venho construindo, em três diferentes blocos, que, no contexto das Oficinas, se organizam, algumas vezes, em três módulos. Por ora, vou apresentar brevemente cada um desses blocos e, depois, à medida em que os posts forem aparecendo, aprofundaremos a discussão em torno de cada um deles.
Os jogos, materiais, atividades, dicas e as oficinas apresentados nesse blog destinam-se a todos que se interessam por alfabetização e que buscam ampliar seu repertório de propostas didáticas fundadas em firmes concepções de aprendizagem e ensino da língua escrita.
Enfatiza-se aqui a perspectiva de aprendizagem do sistema de escrita em contexto de letramento, por um lado, e a especificidade do processo de aprendizagem do sistema alfabético, por outro, confluindo para o que Magda Soares chama de "Reinventando a Alfabetização", ou seja, o trabalho específico com o sistema de escrita, com a identificação das palavras, sem perder de vista o eixo relativo à construção do sentidos na leitura e o contexto mais amplo relativo à cultura escrita.
As atividades propostas a partir dos materiais apresentados focalizam a aprendizagem do funcionamento do sistema de escrita alfabética, o trabalho de reflexão fonológica, a mobilização de estratégias de leitura, a pesquisa inteligente, e abordam as diferentes unidades da língua – texto, palavra, sílaba, grafemas e fonemas e unidades inter e intrasilábicas (maiores e menores que a sílaba, como -OLA em bola, escola, sacola, viola, cola... e TR em troco, trinco, trator, truque...) – em contexto de exploração de textos - orais e/ou escritos - e de jogos.
Costumo separar os materiais, kits e jogos que fazem parte do acervo que venho construindo, em três diferentes blocos, que, no contexto das Oficinas, se organizam, algumas vezes, em três módulos. Por ora, vou apresentar brevemente cada um desses blocos e, depois, à medida em que os posts forem aparecendo, aprofundaremos a discussão em torno de cada um deles.
No primeiro bloco incluem-se os materiais confeccionados a partir de textos da tradição oral – que são expressão da cultura popular, parte de nosso universo cultural – estruturados para favorecer a leitura através de estratégias diversas, bem como a reflexão sobre a escrita alfabética e ortográfica.
São kits confeccionados a partir de parlendas, trava-línguas, adivinhas, quadras, cantigas, ditados populares, frases feitas, permitindo atividades diversificas para diferentes níveis de leitura. Nota-se nesse bloco que, em se tratando de gêneros originalmente orais, é fundamental não perder de vista a sua abordagem em termos de oralidade. Para discutir mais sobre esse aspecto, e sobre textos da tradição oral, ver a brochura de minha autoria aqui.
São kits confeccionados a partir de parlendas, trava-línguas, adivinhas, quadras, cantigas, ditados populares, frases feitas, permitindo atividades diversificas para diferentes níveis de leitura. Nota-se nesse bloco que, em se tratando de gêneros originalmente orais, é fundamental não perder de vista a sua abordagem em termos de oralidade. Para discutir mais sobre esse aspecto, e sobre textos da tradição oral, ver a brochura de minha autoria aqui.
No segundo bloco, incluem-se os materiais confeccionados a partir de textos de vários gêneros literários, como fábulas, contos, lendas e contos indígenas e africanos, histórias infantis, quadrinhos, poesia, favorecendo ainda mais a articulação entre letramento e alfabetização.
Aqui encontramos também materiais produzidos a partir de narrativas audiovisuais, tão presentes na cultura infantil contemporânea - como desenhos animados e filmes de animação - e parte do repertório de “textos” dos sujeitos infantis, considerando a noção de múltiplos letramentos.
Esse bloco se desenvolveu a tal ponto que, hoje, em seus desdobramentos, acolhe as Caixinhas de Livros - sobre as quais vocês podem conhecer mais aqui - e os Arquivos Poéticos - que, por ora, inclui os Arquivo Alfabético Poético e o Arquivo Capparelli, que vocês podem ver no link, clicando neles. Novos Arquivos estão no forno!
Há Caixinhas de Livros que namoram com os Arquivos Poéticos, como a Caixinha O que tem nesta venda, a partir do livro de Elias José de mesmo nome, da Paulus, já que o que o livro traz é um texto com a ludicidade e o ritmo próprios ao texto poético. Confira parte dos materiais aqui. Essa Caixinha - ou Arquivo - rendeu outros jogos e posts, como o Lince, dentre outros. Todos eles se encontram tanto no marcador Caixinhas de Livros quanto no marcador Arquivo Poético. Confiram na lista de marcadores do lado direito da sua tela! No marcador Caixinhas de Livros vocês podem encontrar também os posts de Caixinhas a partir de outros livros infantis. Os materiais das Caixinhas e Arquivos são voltados para diversas atividades de reflexão sobre a leitura e a escrita a partir das histórias ou poemas, cuidando sempre, no entanto, de preservar o aspecto literário, estético como primordiais e prioritários em relação ao aspecto pedagógico. A esse respeito, ler o post sobre Literatura e Alfabetização, aqui.
No terceiro bloco, incluem-se jogos diversos, com diferentes objetivos relativos à aprendizagem da escrita e leitura, como o aprendizado de letras, a apropriação do sistema alfabético, a consciência fonológica e a ortografia. O jogo, com sua natureza lúdica e intrinsecamente sociocultural, vem aqui contribuir para a reflexão sobre diversos aspectos da língua. Por vezes, os mesmos jogos, com pequenas adaptações, podem favorecer a reflexão de crianças em diferentes níveis de apropriação da escrita.
Os jogos desse bloco não têm relação com um texto, mas muitos jogos a partir de textos - incluídos no bloco anterior - são similares aos categorizados aqui. São classificados lá por serem produzidos a partir de determinado livro, parlenda ou poema, mas se assemelham a alguns postos aqui, como o caso do Bingo de Rimas, da Caixinha de O que tem nesta venda, e outros jogos do Arquivo Capparelli, por exemplo.
Divido os jogos e materiais em:
Por vezes, evidentemente, esses três blocos de materiais se imbricam e outras categorias ou novos aspectos em cada categoria podem surgir, já que a invenção, adaptação, inclusão de novos materiais ao acervo é constante, a partir do próprio desenvolvimento das oficinas e das trocas com outros educadores. Em cada Oficina que promovi até hoje, houve sempre quem inventasse, partindo dos materiais e atividades propostas, novos materiais ou novas atividades, variantes, adaptações, considerando as classes singulares que cada professor tem. Já houve quem adaptasse alguns jogos para crianças menores, outros para crianças maiores, para uso em salas de AEE, professores de inglês tendo ideias para o ensino de língua estrangeira a partir dos materiais, tentativa de pensar adaptações para crianças de inclusão...
As oficinas e também o blog, nesses anos, têm sido espaços de trocas, inclusive, para que possam ser ampliadas essas possibilidades. O blog, nesse sentido, pode funcionar também como um registro, um testemunho desse processo de ampliação de repertório, de acervo, de propostas, tanto para mim, para minhas/meus alunas(os), quanto para quem vier visitar essa página. Portanto, opine, interaja, discorde, pergunte, oferte... Esse é o meu convite... Atualmente os acervos de materiais e as oficinas de produção e criação de jogos e materiais são vinculados ao LAP - Laboratório de Acervos e Práticas, Laboratório de Alfabetização que coordeno na FACED/UFBA.
O caminho da literatura trouxe, ainda, essa prática de dica de livros e comentário sobre eles ou de exploração de gêneros de textos (como as histórias acumulativas e os tangolomangos, a partir dos quais fiz alguns posts recentemente). Tenho feito também alguns posts com propostas de atividades não atreladas a um material específico. Tudo isso também se articula, hoje, ao LAP, às três dimensões de suas ações: material, simbólico cultural e didático-pedagógica. O blog foi, por muito tempo, e segue sendo, esse meu espaço de compartilhamento de ideias, de criação, de experimentação e de boas parcerias, que agora se expandiram para as redes do próprio Laboratório, que vocês podem seguir no Instagram e Facebook.
O caminho da literatura trouxe, ainda, essa prática de dica de livros e comentário sobre eles ou de exploração de gêneros de textos (como as histórias acumulativas e os tangolomangos, a partir dos quais fiz alguns posts recentemente). Tenho feito também alguns posts com propostas de atividades não atreladas a um material específico. Tudo isso também se articula, hoje, ao LAP, às três dimensões de suas ações: material, simbólico cultural e didático-pedagógica. O blog foi, por muito tempo, e segue sendo, esse meu espaço de compartilhamento de ideias, de criação, de experimentação e de boas parcerias, que agora se expandiram para as redes do próprio Laboratório, que vocês podem seguir no Instagram e Facebook.
Abraço,
Lica
sábado, 23 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Troca letras e palavras flutuantes...
Post vapt vupt...
Um dia, já há algum tempo, postei o poema de José Paulo Paes, Letra Mágica, a propósito do qual eu comentei sobre atividades em torno da noção de par mínimo. Eis o poema abaixo e o post aqui.
No livro A turma do ABC, de Fátima Miguez, Nova Fronteira, vários são os pequenos textinhos poéticos que trazem duas ou três palavras formadas por par mínimo. São bem simples, mas bem lúdicos e dão boas brincadeiras. Eis dois deles:
O livro História em três atos, de
Bartolomeu Campos de Queirós, da Global, brinca com os três atos: o ato do gato, o
ato do pato, o ato do rato... E na história, outras ressonâncias sonoras
aparecem, como as aliterações do fonema /g/ em "O pato bica a garra do gato e engole o G" e fonema /p/ em "o
gato arranha o pé do pato e papa o P". Esse livro foi presente de minha amiga Aline Moura.
Essas brincadeiras de trocas de letras são muito interessantes para tornar observável o diferencial entre essas palavras que, no caso, aqui, diz respeito aos fonemas /g/, /p/ e /R/ e as letras que os representam G, P e R. Os fonemas consonantais, especialmente os oclusivos (como é o caso de /p/, /g/) - pois os fricativos e os vibrantes (como o /R/), por exemplo, são mais fáceis de serem isolados dos sons orais que os acompanham e, por consequência, mais fáceis de serem percebidos - são unidades muito abstratas para as crianças, que percebem o todo, a unidade silábica e, por um tempo, julgam que são essas as unidades representadas pelas letras. E elas percebem assim justamente porque a fala é co-articulada, pronunciamos a sílaba, não os fonemas isolados, e são os sons orais que constituem o núcleo da sílaba.
Ora, para se alfabetizarem, ou melhor, no processo de se alfabetizarem, é certo que as crianças precisam se dar conta dessas unidades fonêmicas. Mas, diferente de treinamentos fonêmicos sem sentido algum para elas, isso é perfeitamente possível de ser feito através de atividades de reflexão fonológica (fonêmica) em presença da escrita - ver as palavras escritas, compará-las, ajuda as crianças a observarem as diferenças gráficas (entre as letras) e associarem essa diferença às diferenças fonológicas de cada palavra, que é a diferença que o fonema, justamente, implica. Ou seja, a consciência fonêmica vem a partir da análise do escrito. E observar fazer isso brincando com a poesia da linguagem é muito mais divertido, implicado e contundente!
O que dizer, por exemplo, da poesia de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, livro que é cheio dessas brincadeiras com rimas, pares mínimos, assonâncias e aliterações? São recursos estilísticos da poesia, que, propondo mil ressonâncias das palavras umas nas outras, conferem musicalidade e ritmo às estrofes - e constituem em matéria fantástica para a reflexão sobre a língua! Vejam esse, Tanta tinta, que adoro:
Ah! Menina tonta
Ah! a menina tonta!
Bom, e lógico, muitos outros
autores brincam com essas trocas fonêmicas, como o próprio José Paulo Paes, autor que, aliás,
tem muitas maravilhas de poemas em que outros jogos de palavras aparecem, como
alguns do Uma letra puxa a outra, que é parte do kit Arquivo Alfabético
Poético, postado aqui.
Mas vale à pena lembrar alguns, especialmente aqueles em que acrescentando-se
letras vão surgindo outras palavras... Note que nem sempre a palavra está de fato presente, mas só aludida pelo sentido do enunciado, como Cabral, palavra aludida no verso que diz que a letra L faz "cabra descobrir o Brasil". Eis alguns:
O L é uma letra louca
Se você for detetive
É isso, gente!
Um dia, já há algum tempo, postei o poema de José Paulo Paes, Letra Mágica, a propósito do qual eu comentei sobre atividades em torno da noção de par mínimo. Eis o poema abaixo e o post aqui.
Letra Mágica
Que pode fazer você
para o elefante
tão deselegante
ficar elegante?
Ora, troque o f por g!
Mas se trocar, no rato,
o r por g,
transforma-o você
(veja que perigo!)
no seu pior inimigo: o gato.
Dessa vez o trago de novo para
dar a dica de textos que brincam com essas trocas de letras, esse pareamento de
palavras diferentes a partir de uma só diferença de fonema e letra. Brincadeira com os aspectos fonológicos e fonográficos da linguagem. Pura poesia também!
Bom, e para provocar, são bons textos para, inclusive, nos lembrar das possibilidades de reflexão fonológica e fonográfica que a poesia nos oferece, muito mais gostosas do que o trabalho mecânico de treinamento fonológico que certos programas de alfabetização propõem.
Bom, e para provocar, são bons textos para, inclusive, nos lembrar das possibilidades de reflexão fonológica e fonográfica que a poesia nos oferece, muito mais gostosas do que o trabalho mecânico de treinamento fonológico que certos programas de alfabetização propõem.
No livro A turma do ABC, de Fátima Miguez, Nova Fronteira, vários são os pequenos textinhos poéticos que trazem duas ou três palavras formadas por par mínimo. São bem simples, mas bem lúdicos e dão boas brincadeiras. Eis dois deles:
Salta o S do sapo,
o P entra no papo...
O sapo está no papo
ou é papo de sapo?
O Z de zoada
faz muita zoeira,
prefiro o T de toada.
É som de primeira.
Essas brincadeiras de trocas de letras são muito interessantes para tornar observável o diferencial entre essas palavras que, no caso, aqui, diz respeito aos fonemas /g/, /p/ e /R/ e as letras que os representam G, P e R. Os fonemas consonantais, especialmente os oclusivos (como é o caso de /p/, /g/) - pois os fricativos e os vibrantes (como o /R/), por exemplo, são mais fáceis de serem isolados dos sons orais que os acompanham e, por consequência, mais fáceis de serem percebidos - são unidades muito abstratas para as crianças, que percebem o todo, a unidade silábica e, por um tempo, julgam que são essas as unidades representadas pelas letras. E elas percebem assim justamente porque a fala é co-articulada, pronunciamos a sílaba, não os fonemas isolados, e são os sons orais que constituem o núcleo da sílaba.
Ora, para se alfabetizarem, ou melhor, no processo de se alfabetizarem, é certo que as crianças precisam se dar conta dessas unidades fonêmicas. Mas, diferente de treinamentos fonêmicos sem sentido algum para elas, isso é perfeitamente possível de ser feito através de atividades de reflexão fonológica (fonêmica) em presença da escrita - ver as palavras escritas, compará-las, ajuda as crianças a observarem as diferenças gráficas (entre as letras) e associarem essa diferença às diferenças fonológicas de cada palavra, que é a diferença que o fonema, justamente, implica. Ou seja, a consciência fonêmica vem a partir da análise do escrito. E observar fazer isso brincando com a poesia da linguagem é muito mais divertido, implicado e contundente!
O que dizer, por exemplo, da poesia de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, livro que é cheio dessas brincadeiras com rimas, pares mínimos, assonâncias e aliterações? São recursos estilísticos da poesia, que, propondo mil ressonâncias das palavras umas nas outras, conferem musicalidade e ritmo às estrofes - e constituem em matéria fantástica para a reflexão sobre a língua! Vejam esse, Tanta tinta, que adoro:
Tanta Tinta
Ah! Menina tonta
toda suja de tinta
mal o céu desponta!
(Sentou-se na ponte,
muito desatenta…
E agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?…)
A ponte aponta
e se desaponta
A tontinha tenta
limpar a tinta
ponto por ponto
e pinta por pinta…
Ah! a menina tonta!
Não viu a tinta da ponte.
O L é uma letra louca
transforma a nota mi em 1000
cabra descobrir o Brasil
É com o H
Que a filha sai da fila,
Que malha sai da mala.
Com H a mana faz manha.
São textinhos muito indicados
para as crianças prestarem atenção na escrita das palavras, na mudança mínima de fonema que faz com que as palavras mudem completamente, ótimos para as reflexões do processo
de alfabetização! Dá para fazer várias brincadeiras...
Mas considerando que poemas são constituídos dos significantes e significados das palavras, do jogo entre essas duas faces do signo linguístico, ambos colaborando com a construção de sentido e na poesia do texto, além dos jogos com os sons e grafia, temos também jogos com os significados das palavras.
Assim, se alguns poemas propõem esse jogo com a mudança das palavras pela troca, inclusão, acréscimo ou substituição de letras, outros trazem o foco nos diferentes significados de uma mesma palavra, brincando com a semântica da língua, com figuras de linguagem, figuras de estilo - e não mais com os aspectos fonológicos e gráficos. José Paulo Paes mesmo tem os poemas "Inutilidades", Pura verdade" e "Atenção, Detetive", obras de puro deleite semântico.
Mas considerando que poemas são constituídos dos significantes e significados das palavras, do jogo entre essas duas faces do signo linguístico, ambos colaborando com a construção de sentido e na poesia do texto, além dos jogos com os sons e grafia, temos também jogos com os significados das palavras.
Assim, se alguns poemas propõem esse jogo com a mudança das palavras pela troca, inclusão, acréscimo ou substituição de letras, outros trazem o foco nos diferentes significados de uma mesma palavra, brincando com a semântica da língua, com figuras de linguagem, figuras de estilo - e não mais com os aspectos fonológicos e gráficos. José Paulo Paes mesmo tem os poemas "Inutilidades", Pura verdade" e "Atenção, Detetive", obras de puro deleite semântico.
Atenção
Detetive
Se você for detetive
Descubra por mim
Que ladrão roubou o cofre
Do banco do jardim
E que padre disse amém
Para o amendoim
Se você for detetive
Faça um bom trabalho
Me encontre o dentista
Que arrancou o dente do alho
E a vassoura sabida
Que deixou a louca varrida
Se você for detetive
Um último lembrete
Onde foi que esconderam
As mangas do colete
E quem matou o piolho
Da cabeça do alfinete.
Inutilidades
Ninguém coça as costas da cadeira.
Ninguém chupa a manga da camisa.
O piano jamais abana a cauda.
Tem asa, porém não voa, a xícara.
De que serve o pé da mesa se não anda?
E a boca da calça se não fala nunca?
Nem sempre o botão está em sua casa.
O dente de alho não morde coisa alguma.
Ah! se trotassem os cavalos do motor ...
Ah! se fosse de circo o macaco do carro ...
Então a menina dos olhos comeria
Até bolo esportivo e bala de revólver.
Ele brinca aí com a polissemia das palavras e com a figura de estilo chamada de catacrese, que é quando se usa emprestada uma palavra em seu sentido figurado por falta de uma palavra própria. Mesa não em pé, cadeira não tem costas, tomamos emprestado esses termos usados para seres vivos e usamos para esses objetos. Assim como cabeça ou dente de alho...eis a catacrese. E usar simultaneamente os dois sentidos de banco, manga, cavalos, bala, etc, é brincar poeticamente com a polissemia das palavras. Vê que a graça está em captar ao mesmo tempo os dois sentidos - ao menos- dessas palavras? Muito bacana, não é?
Um outro texto que acho bacana que explora a catacrese é a lista de "coisas que não servem para nada", do livro Listas Fabulosas, de Eva Furnari, da Moderna. A lista é assim:
Bom, mas voltando a José Paulo Paes, olha como ele usa a polissemia e essa figura de estilo - a catacrese - também no seu poema Pura verdade, em que fala de "braço de mar coçando o sovaco", de "ângulo obtuso ficar inteligente e a boca da noite palitar os dentes", de "pé de vento calçar as botinas" e de "cavalo-motor sacudir as crinas". E o autor fecha o poema brincando com o aparente ilogismo, dizendo: "É a pura verdade/A mais nem um til/E tudo aconteceu/Num primeiro de abril"!
Um outro texto que acho bacana que explora a catacrese é a lista de "coisas que não servem para nada", do livro Listas Fabulosas, de Eva Furnari, da Moderna. A lista é assim:
Coisas que não servem para nada
1. Depilar perna de mesa
2. Calçar sapato em pé de feijão
3. Passar esmalte em unha de gato
4. Por colírio no olho do furacão
5. Descascar a batata da perna
6. Passar batom na boca do balão
7. Fazer massagem nas costas da cadeira
Essa é a lista da Olfa, membro do Clube das Listas. Tem outras listas lá! Minha preferida: Lista dos nomes preferidos de duplas caipiras, da Dárdara (Eva Furnari e seus nomes estramboticamente engraçados). Só para deixar um gostinho: Cisco e Farelo; Abóbora e Celeste! Rsrsrsrs, essa Eva! Aliás, veja que abóbora aí está no nosso tema - trocas de letras -afinal, faz uma referência à expressão abóbada celeste, não é?
Bom, mas voltando a José Paulo Paes, olha como ele usa a polissemia e essa figura de estilo - a catacrese - também no seu poema Pura verdade, em que fala de "braço de mar coçando o sovaco", de "ângulo obtuso ficar inteligente e a boca da noite palitar os dentes", de "pé de vento calçar as botinas" e de "cavalo-motor sacudir as crinas". E o autor fecha o poema brincando com o aparente ilogismo, dizendo: "É a pura verdade/A mais nem um til/E tudo aconteceu/Num primeiro de abril"!
Desse tipo de jogo com a
semântica, com a polissemia, muito bacana também é o livro Isso, isso, de Selma Maria, da Peirópolis, em
que a autora traz coisas assim, em forma de verbetes, imagens poéticas muito interessantes:
Biruta
A pessoa quanto mais biruta fica mais se perde no
pensamento
A biruta quanto mais biruta fica mais acerta a direção do
vento.
Bamba
A piada bamba faz rir
A corda bamba faz cair.
Canto
Um gato acha seu canto dentro da casa
o passarinho solta seu canto lá na mata.
Bom, quanto a isso, é a própria
matéria da poesia, não é? Figuras de linguagem, de estilo, imagens poéticas, brincadeira
com os sons e significados... Matéria de fazer poema, matéria de fazer
linguagem, tudo a ver com aprender sobre a língua...
No processo de produção para a Feira de Livros da escola onde trabalho, fizemos oficinas de poesia com várias propostas de "desembolorar" as palavras, brincando com a polissemia, as metáforas, os sentidos literais e conotativos, a construção de imagens poéticas... Esse livro foi muito usado nessas aventuras poéticas, com os professores e com as crianças!
No processo de produção para a Feira de Livros da escola onde trabalho, fizemos oficinas de poesia com várias propostas de "desembolorar" as palavras, brincando com a polissemia, as metáforas, os sentidos literais e conotativos, a construção de imagens poéticas... Esse livro foi muito usado nessas aventuras poéticas, com os professores e com as crianças!
É isso, gente!
Ah, completem essa leitura com o post antigo, citado, que você pode ver aqui.
Beijos,
Lica
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