Post 3 – O que dizem mesmo os experts; Predição ou decifração OU
predição e decifração?; ler é decifrar? Ler é compreender? Ler e compreender? Leitura:
conceito polissêmico; modelos de processamento da leitura.
Esse post é um crocotó, um apêndice, uma barriga,
um adendo, um “a mais”, que continua o post anterior, o POST 2, e é meio
pretensioso, eu confesso. Mas não resisto a fazer esses comentários
elucidativos, que reforçam os equívocos conceituais do vídeo.
No vídeo “Letramento, o vilão da
alfabetização”, além de igualar letramento e construtivismo, e essa
“dobradinha” à whole language, Nadalim
iguala tudo isso também a método global, a método ideovisual, forçando caber na
perspectiva do letramento a ideia de leitura por predição e do “jogo
psicolinguístico de adivinhações”, procedimentos defendidos pelo aporte da
whole language (um dos principais teóricos da estratégia de predição é Goodman
em “Reading: a Psycholinguistic Guessing Game”, 1985). Quando chegamos a essa
parte do vídeo, vemos que a mistureira é sem fim. E o saco está ficando grande
demais, não acham, não? Nada mais equivocado...pra variar. Isso tudo se configura,
no entanto, como uma estratégia bem montada de generalizar bem o lado do
adversário, cabendo tudo ali, para, então, apresentar o seu antídoto. Aliás mais
do que uma estratégia, é um estratagema, por seus componentes: astúcia,
subterfúgio, ardil, sabotagem.
No post 0 argumentei sobre isso das propostas
atuais de alfabetização em contexto letrado não ter nada a ver com método
global, muito menos com propor que o reconhecimento de palavras se dê por sua
configuração, seu desenho gráfico, sua identificação ideovisual. Mas não
bastasse isso, mais adiante no vídeo, voltando a esse amalgama mal amanhado de
construtivismo-letramento (e multiletramento ele inclui aí também) com a
perspectiva da whole language, ele diz que “um dos grandes erros dessa
perspectiva é acreditar que as crianças podem aprender a ler e a escrever por
meio de um ‘jogo psicolinguístico de adivinhações’, a partir do levantamento de
hipóteses e predições sobre os textos, estabelecendo elas mesmas,
autonomamente, as relações entre grafemas e fonemas, descobrindo os significados
das palavras por meio do contexto”. Volto a dizer que, se isso poderia até ser
atribuído a algumas estratégias defendidas pela didática construtivista, que
investe na leitura por predição, sem considerar intervenções intencionais e
planejadas sobre unidades sublexicais (unidades menores, fonológicas e
gráficas, constitutivas das palavras, como morfemas, sílabas, fonemas, letras...),
não tem, no entanto, nada a ver com o letramento, como já argumentado– e é ele que é atacado como vilão da
alfabetização (“invenção do construtivismo”, lembram?). E a didática construtivista, como argumentei
no post anterior, de fato se aproximou da perspectiva da whole language...
Mas de todo modo, nem a didática
construtivista ignora as reflexões sobre as relações entre partes do oral e do
escrito. Não as aborda de modo sistemático no ensino, mas pressupõe que as
crianças usem seus conhecimentos sobre a escrita para tentar decifrar e
escrever. É importante ressaltar que as situações de pesquisa inteligente das
crianças sobre o escrito, suas reflexões a partir da análise de diversos
aspectos do texto e das palavras, não podem ser vistas como da ordem da
adivinhação. E, desde que entre nessa pesquisa inteligente também as
informações sublexicais, rumo à crescente possibilidade de decifração precisa
das palavras, esse “ler sem ainda saber ler”, usando informações contextuais,
fazendo predições e usando, ao mesmo tempo, informações sublexicais para
decifrar as palavras e partes das palavras, pode ser produtivo, sim. Produtivo
para os aspectos textuais, a compreensão do texto, os processos descendentes
(top-down) da leitura.
Mas é fato: não podemos deixar de considerar
que as informações fonológicas, fonográficas e ortográficas têm um papel preponderante
na leitura propriamente dita. A leitura por predição, ou seja, o uso do
contexto do texto, da semântica, para ler, ajuda no desenvolvimento da capacidade
de inferência, de construção de sentidos, mas para a identificação das
palavras, os processos sublexicais, as informações gráficas e sua relação com a
pauta sonora da língua são imprescindíveis. O que diversas pesquisas mostram
hoje é que para o reconhecimento e identificação de palavras na alfabetização
inicial, a predição é um procedimento não produtivo. Mas não quer dizer que não
seja produtivo de todo tampouco. A leitura precisa, fluente e autônoma de
textos não é precisamente um processo de predição contínuo e de elaboração de
hipóteses sobre as palavras que o compõem. Envolve o processamento das letras e
das unidades da estrutura fono-ortográfica de cada palavra, que conduz ao seu
reconhecimento ou à sua identificação e, depois torna-se um processo automático
complexo. A decifração é um passo importante na conquista da identificação
automática das palavras que é, sim, necessária à meta de ler de forma fluente,
automática, por via lexical, ortográfica, sem decifrar letra por letra, ao lado
dos processos mais amplos de compreensão textual.
A leitura lexical, ou seja o reconhecimento
ortográfico que permite a automatização da leitura, ou seja, a leitura
eficiente sem ter que decifrar letra por letra, no entanto, depende da leitura
pela rota fonológica, no aprendizado inicial da escrita alfabética, em um
processo ainda bem misterioso para os pesquisadores da ciência cognitiva. Ou
seja, para ler de forma automática, pelo reconhecimento ortográfico das
palavras é preciso passar, na aprendizagem, pela decifração, pela rota fonológica.
Esse domínio não vem pela predição sobre a escrita das palavras na
alfabetização inicial. Ler e aprender a ler são dois processos diferentes, se
ler envolve reconhecimento automático, aprender a ler envolve também a
decifração. Penso que esses são aspectos da ciência cognitiva que, sim, é
preciso levarmos em consideração para pensar nas propostas alfabetizadoras. Então,
nem tanto, nem tão pouco.
A fluência da leitura será alcançado por meio
da prática frequente da leitura, após vencer essa etapa fonológica, que
promoverá o reconhecimento automático, e possibilitará a leitura eficiente, que
implica o jogo entre processos ascendentes e descendentes e entre as duas rotas
de leitura – fonológica (para palavras desconhecidas ou pouco frequentes) e
lexical (para as já firmadas no léxico mental).
Agora, não podemos aceitar que associem a defesa
da exposição das crianças aos textos a um ensino por predição. Além da
justificativa do letramento, colocar as crianças na alfabetização inicial, bem
no início da sua formação leitora e escritora, em contato com a leitura e
escrita de textos, antes mesmo de chegarem a ler com autonomia e escrever de
forma convencional, tem relação com o fato de que a se considera a
alfabetização como um processo que vai além do ensino da decifração do sistema
alfabético. Aposta-se que as crianças se perguntam sobre a escrita – desde que
tenham oportunidade para tal – e vão formulando hipóteses sobre seu
funcionamento, argumentando sobre suas ideias, mesmo que ainda distantes da leitura
autônoma e da escrita convencional. É isso e não exatamente e necessariamente,
porque creem que a leitura por predição e a imersão na cultura escrita bastam
para, efetivamente, se alfabetizar. Isso
porque olham pelo ponto de vista da aprendizagem e não apenas do ensino, apostando
no pensamento das crianças, em sua capacidade de indagar ativamente o objeto de
conhecimento. E aqui é uma diferença epistemológica de base em relação à
perspectiva que só considera o objeto e o ensino, sendo a aprendizagem apenas
um resultado desse ensino. E essa é uma lição do construtivismo e do
socioconstrutivismo (ou sociointeracionismo) que é inegociável.
Mas, dito isto, precisamos reconhecer o que
nisso tudo dá brecha a essas interpretações equivocadas. A questão é que a,
ainda que a didática construtivista preveja princípios e estratégias para
provocar a reflexão sobre o princípio alfabético,apostam muito alto na leitura por predição
(sem incluir nessa pesquisa os elementos sublexicais de forma sistemática) e negligenciam
as reflexões sistematizadas e provocadas coletivamente pelo professor, sobre a
dimensão sonora da escrita. E isso por acreditar que as próprias crianças
constroem os procedimentos de análise necessários para que a alfabetização se
realize, deixando a mediação docente um tanto casual nesse aspecto. Tanto é que
Telma Weisz (2016, p. 17) afirma que “nas atividades de ‘leitura’, o aluno
precisa analisar todos os indicadores disponíveis para descobrir o significado
do texto e poder decidir o que está escrito (e onde)”. E isso, conforme a
autora, pode ser feito de duas formas: pelo ajuste dos segmentos do texto
falado, memorizado, aos segmentos escritos, e por estratégias de antecipação
pelo contexto verbal ou extraverbal. Não nego nada disso. Mas esses
procedimentos não devem implicar em negligenciar a decifração, e nem se opõem a
ela, como tentarei argumentar mais adiante. Decifração, consciência fonológica,
fonema, sílaba, por vezes são termos quase proibitivos a essa didática – como
já argumentado. Eis a porta que se fecha, também aí, para dialogar mais
produtivamente com a perspectiva da ciência da leitura. Diálogos, no entanto,
apesar de epistemologias diversas, são possíveis, saindo, em ambos os casos,
das perspectivas polarizadas, sectárias.
Uma coisa é opor completamente decifração a
predição pelo contexto, como se só houvesse a possibilidade de um ou outro
processo, outra é reconhecer a leitura como um processo cognitivo complexo, que
envolve processos ascendentes (ou botton-up, foco na decifração) e descendentes
(ou top-down, foco na produção de significados, na compreensão, na formulação
de hipóteses sobre o texto, inferências, antecipações, predições). A leitura
eficiente envolve procedimentos textuais, lexicais e sublexicais. Um modelo
interativo, também teorizado nesse campo de pesquisas cognitivas, prevê um
papel importante, mas diferenciado, de ambos os processos. Nem tanto ao mar,
nem tanto à terra!
O simples convívio com textos escritos e a
leitura por predição não garante a apropriação do princípio alfabético – ao
menos Magda nunca defendeu que garante. Ler é também decifrar. Esse é um procedimento fundamental, mas não é
só decifrar, haja visto que decifrar não garante a compreensão do que se lê, os
processos inferenciais que o texto exige, a apropriação dos discursos em suas
complexidades diversas. Ler é um termo polissêmico e, essa leitura que permite
a interação plena com o escrito, não é só decifrar. Isso já sabemos, aliás, o
analfabetismo funcional é justo isso – a falta de competência de uso do
conhecimento da decifração e do domínio da escrita alfabética e ortográfica para
compreender e produzir textos, interagindo na cultura escrita. Agora, a leitura
que garante a autonomia em relação à notação alfabética é, sim, sobretudo,
decifrar o escrito. E isso Magda mesma fala, apesar de ser a ela dirigida a
crítica do vídeo, não a outros que, inclusive, dão menos ênfase à decifração do
que ela. Ou seja, essa briga sobre se ler é decifrar ou não, se é decifrar ou
compreender, é contraproducente, pois se fala aí de sentidos diferentes de
leitura. O próprio campo da ciência da leitura conclui essa querela, defendendo,
em geral, um modelo interativo que envolve ambos os processos – ascendentes e
descendentes – ou ao menos boa parte dos autores desse campo. O modelo
interativo de leitura é mais amplamente aceito na comunidade científica do que
o modelo ascendente que Nadalim defende. Novamente, precisamos ressaltar que, nem
com o campo que ele mesmo abraça, ele dialoga bem para fundamentar seus argumentos.
Pelo visto, nem ao menos as obras clássicas da ciência cognitiva da leitura,
perspectiva à qual ele diz se filiar, ele de fato leu. Existem pesquisas, nesse
campo, que indicam a importância tanto dos processos ascendentes quanto
descendentes na aprendizagem da leitura, e que coadunam com a ideia da
importância de ler em busca do significado, em práticas e textos significativos
e reais. Para uma visão mais nuançada e lúcida da perspectiva da ciência da
leitura, ver Snow e Juel (2013). Mas eles silenciam sobre isso, não é? Porque
não interessa abrir brechas para o diálogo, interessa tensionar ao extremo! E
porque? Em nome da ciência é que não é – essa é mais uma falácia!
Nesse campo, encontramos também autores
ponderados, que discutem no nível científico e acadêmico sobre suas
divergências, achados e interpretações diferentes, pois sabem que a ciência tem
também perspectivas – não é ciência exata aqui. E autores que sabem que
pesquisa não se aplica diretamente às práticas pedagógicas, que têm, essas, de
dar conta de exigências diversas, diversos fatores intervenientes. Mas o
problema é que Nadalim se baseia em autores sectários, cujos argumentos são
também carregados de viés ideológico e posicionamentos inflamados. Essas
posições, mais dogmáticas do que propriamente científicas, que criam
estratagemas para fechar o diálogo com outras perspectivas, revelam também o
enorme interesse editorial com investimentos do dinheiro público – ficarão felizes
quando essa concepção basear os documentos oficiais, não é? Só isso consegue
explicar a tomada de um partido tão radical e “cego”, sem ponderações no campo
das teorias, ciências de diversas perspectivas, e diferentes concepções de
alfabetização. Afinal, não nos esqueçamos, tampouco, que a compreensão leitora, nessa perspectiva, toma a decifração pela via fonológica e a posterior automatização do reconhecimento lexical como elementos fundamentais para a posterior compreensão de textos. Ora, está certo que ao automatizar o processo de ler palavras, o sujeito fica com a atenção liberada para os processos superiores de compreensão. Até aí, tudo bem. Só que os processos de compreensão não decorrem apenas de uma boa decifração ou da leitura automática das palavras do texto, exigem muito mais, exigem processos cognitivos complexos e relação com conhecimentos que vão para além do texto concreto. Assim, aguardar o domínio da leitura, em seu sentido mais restrito, para trabalhar a leitura em seu sentido mais amplo, achando que isso é que vai resolver o problema de alfabetização e letramento (de literacia funcional, eles dizem na PNA) é dar um tiro no pé. Por isso, cuidado com cair na argumentação de que a compreensão leitora não existe antes de ler propriamente, pois as estratégias, procedimentos e comportamentos leitores que contribuem muito na compreensão leitora, quando as crianças tiverem autonomia de leitura lexical, podem e devem ser trabalhadas desde sempre, e não apenas ao já se saber ler. Isso é, de longe, a ideia mais perigosa e ideológica dessa perspectiva: esperar as crianças aprenderem a ler para investir na compreensão de textos. Por isso, insistamos no letramento antes da alfabetização! Nas facetas sociocultural e interativa do letramento, que inclui também os processos leitores e produtores de textos.
De todo modo, também quanto a essa história
do reconhecimento das palavras nos textos, a birra de Nadalim, embora ele não saiba, continua sendo com a
didática construtivista, não tanto com a perspectiva do letramento – ah, esqueci que
para ele é tudo a mesma coisa! Mas é Magda, ela mesma, que é atacada e, já que
são ataques destituídos de argumentos sólidos, são ataques “ad hominen”...Aliás...ataques
a uma mulher, não é? Só por isso deve merecer todo esse desrespeito, mesmo
descabido, de quem não se deu nem ao trabalho de estudar suas obras. Ora,
bolas, mas para quem só liga para as tutelas estrangeiras, pra que ler autoras
tupiniquins, não é?
Bom, gente, é certo que essa polêmica sobre
ler ser decifrar ou compreender é vasta, não daria aqui para explorar essa
seara aprofundadamente, e sei também que algumas perspectivas, de fato,
enfatizam apenas o pólo da compreensão – o que para mim, também é equivocado –
assim como a abordagem à qual Nadalim é afiliado enfatiza apenas a decifração. Compreender,
diz ele, é algo para depois, é a finalidade da leitura, não leitura. Mas nem
todos estão situados nesses pólos extremos, como já discutido anteriormente.
Tudo depende do conceito de leitura que se considera.
Nadalim tem outro vídeo em seu canal que
fala, justamente, sobre isso. É um vídeo curto, vale a pena assistir para
continuar a discussão.
Quanto a esse vídeo, ele segue a argumentação
capciosa, polarizando dois componentes da leitura, separando-os, e prioriza
apenas a decifração no processo complexo de leitura.
Afirmar que as crianças só se apropriam da
leitura se for de forma mecânica é uma afirmação irresponsável. Além disso,
diferente dele, não queremos formar apenas leitores hábeis, mas leitores inteligentes,
críticos, sagazes.
Sobre sobrecarga cognitiva – será que sabe
mesmo o que é? Duvido muito. Afinal, dizer que tem experiência nesse ramo: quá
quá quá...é tudo que tenho pra dizer.
Mas vamos comentar, mesmo assim. Entendo que quando se fala que ler é
compreender refere-se a esse sentido
mais amplo de ler, não à capacidade de transformar a notação em sentido, via
reconhecimento das palavras (por via fonológica ou lexical), porque é óbvio que
é possível ler (decifrar) sem compreender (analfabetismo funcional é bem esse
caso), e compreender sem ler (no sentido de decifrar), como no caso de
compreender uma história lida por outro ou qualquer outra situação. Trata-se aí
da leitura como um processo interativo, reflexivo, ativo, em que o leitor não é
mero receptor das informações linguísticas do texto. Trata-se de um leitor ativo
que constrói sentidos na interação com o texto. Ângela Kleiman, Ingedore Koch, Isabel
Solé, e tantos outros autores e autoras já nos deram régua e compasso nesse
departamento aí... É dessa leitura mais ampla, que envolve a compreensão, a
produção de sentidos, o processo inferencial, de que se trata. Ler é
polissêmico! Mas – e isso é que importa sublinhar – também é equivocado dizer
que compreender é apenas a finalidade de ler, porque se fosse assim, bastava
decifrar bem para compreender os textos, e a realidade nos mostra que isso não
é assim, não é? Leitura (decifração) literal não garante a leitura
(compreensão). Há diferentes habilidades envolvidas na leitura, não apenas a
decifração. É esse entendimento que estamos tentando defender diante dos rumos
das propostas do MEC quanto às políticas de alfabetização. E não defender que
ler seja prever o escrito. Essa é mais uma argumentação falaciosa que, repetida
à exaustão, se pretende tornar verdade. Não deixemos! E aliás, essas diversas habilidades
não precisam ser abordadas sequencialmente, uma depois da outra, mas sim
simultaneamente. Até porque, aprender a ler sem pensar no sentido, sem compreensão é muito chato! Subestima-se as
crianças achar que não dão conta e, a língua sem vida torna a aprendizagem mecânica,
sem sentido para elas. Nem sempre o que é bom no âmbito da ciência é bom no âmbito
social e, nesse caso, no âmbito das práticas pedagógicas, que precisam dar
conta de um objeto de conhecimento que é multifacetado. Num país que as
crianças, aliás, não têm garantidas as ricas experiências com o mundo letrado,
é até perverso sentenciá-las a um ensino instrumental (ou é isso mesmo que
querem, né?). Como argumenta Magda Soares (2016) e Isabel Frade (2007), as várias aprendizagens que envolvem a apropriação da leitura e da escrita exigem diferentes metodologias.
Rebatendo outro argumento do vídeo, afirmar,
peremptoriamente, que o convívio com textos não permite que as crianças
construam hipóteses sobre o funcionamento da escrita, que pesquisem
inteligentemente sobre como a escrita funciona, sobre como se lê ou escreve uma
palavra, sobre o que diz um verso, um texto, está baseado em quê? Ele fez
pesquisas quanto a isso? Citou alguma? De novo ele mistura coisas diversas. Uma
coisa é fazer hipóteses sobre o funcionamento da escrita – e muitas pesquisas,
mesmos de perspectivas da psicologia cognitiva da leitura que ele assume,
indicam, assim como outras tantas pesquisas, de outras perspectivas, também
válidas. Outra coisa é fazer hipóteses e predições no reconhecimento de
palavras no texto. Ele parece misturar
isso tudo numa coisa só, alertando quanto ao perigo dessa perspectiva. Perigo de
as crianças refletirem sobre a língua? Perigo de pensarem sobre os textos mesmo
sem saber ler? Perigo de pensarem? É isso?
Bom, mas sei que tudo isso é muito complexo, não
cabe, em um post, entrar em detalhes sobre essas questões. Mas são temas a
estudar, a debater, a trazer para essa discussão, contribuições do campo da ciência
cognitiva da leitura das quais devemos nos apoderar e passar pelo crivo da
interpretação pedagógica. Mas, para quem quiser se aventurar nesse estudo,
sugiro para começar o capítulo do livro de Micotti, de 2012 (minha versão é 2017), com um resumo dessa
questão. Para aprofundar mais, podem consultar o capítulo introdutório do livro "Aprendizagem da leitura e da escrita: o papel das habilidades metalinguísticas", de Sandra Regina Kirchner Guimarães.
Deixo, entretanto, registrado o achatamento –
mais um achatamento – da questão, quando Nadalim silencia, ou melhor, elimina,
outras perspectivas, para colocar de forma impositiva – postura nada científica
– a sua própria posição. O que importa é que o nosso secretário da
alfabetização coloca sua posição unilateral como verdade última e fechada,
enquanto o campo da ciência da leitura – o campo que ele mesmo valida –
diferente desse sectarismo, segue debatendo, pesquisando, ponderando,
divergindo – nem eles fecham questão assim. Ao atribui um caráter incontestável
às pesquisas cognitivas em leitura, silenciando sobre discordâncias nesse
próprio campo, negando cunho científico às perspectivas científicas de outras
linhas, atribuindo-lhes o valor de ideologias, e desconsiderando a necessária
interpretação pedagógica dos resultados de pesquisa (já que na prática, o que
temos que dar conta é de um objeto multifacetado e de realidades não
consideradas), Nadalim – como outros dessa vertente mais sectária – fecha o
debate.
Toda a complexidade do campo se esvai em
fórmulas simplificadas e binárias frequentes em seus vídeos. Ou seja, o que
podemos concluir aí é que seus argumentos de ataque, aparentemente bem
construídos, escondem uma miscelânea de diferentes perspectivas atacadas malandramente
como se fossem uma coisa só e a adesão a uma única perspectiva como se fosse a
única válida no campo científico – o que não é verdade – reduzindo um campo
complexo a um binarismo simplório. Engodo para os pais e para os professores
desavisados.
Se defender o convívio com a cultura letrada
e aprender o sistema no contexto do uso da língua nas práticas de leitura e
escrita, tem aproximações com o que a marcha analítica defendia, confundir isso
com método analítico e com leitura por adivinhação, colocando o letramento como
vilão, é muita má fé. Mas é fato que esse não é um equívoco só dele. Vários
comentadores, que se acham “educadores” de última hora, divulgam suas opiniões
na mídia baseados em premissas equivocadas, tratando da atual querela como se
fosse a velha querela entre método sintético (fônico) X método global,
analítico – que associam ao que há hoje nas políticas de alfabetização. E os
jornalistas que escrevem as matérias, ainda que trazendo as duas visões, ainda
que, por vezes, bem intencionados e mesmo críticos da perspectiva do governo,
partem também dessas premissas equivocadas, que é o modo deles (de Nadalim, de
muitos defensores do método fônico) de colocar a questão (ver aqui, aqui e aqui, exemplos). Quanto a isso, ver também o post
0, com o panorama sobre o campo da alfabetização no Brasil, e as duas
entrevistas que já indiquei, com Magda Soares, a esse propósito, aqui e aqui.
Vamos dar uma pausa para o refrigério, mas
ainda tem mais a analisar nesse vídeo. Na próxima postagem, seguirei apontando
e discutindo sobre equívocos conceituais e afirmações que não se sustentam, mas
em posts mais breves, já que o essencial já foi discutido. Comentarei absurdos
que extrapolam as questões relativas ao processo linguístico de alfabetização,
sobre ideologia, fazendo, também, algumas considerações sobre os argumentos de
Nadalim quanto à formação de professores e o homeschooling.Sim, tem mais...Em breve... Por ora, lembro que no meu acervo de jogos e materiais há muitas propostas que implicam em reconhecimento de palavras quando ainda não se sabe ler decifrando. Quero lembrar que, embora baseadas em propostas caras à didática construtivista, minha visão sobre elas é de que precisam incluir - nessa pesquisa inteligente que as crianças fazem sobre a escrita das palavras - os aspectos sublexicais de forma menos casual. Ou seja, trata-se de provocar as crianças, explicita e intencionalmente, a considerarem em suas reflexões também os aspectos sonoros: sons iniciais de sílabas ou fonemas salientes, rimas, relação entre as letras e os fonemas vocálicos que, por soarem, e seus nomes coincidirem com seus sons, facilitam a identificação das palavras. Fatiados, lacunados, textos enigmáticos (como os provérbios e Trava-línguas do acervo), as Adivinhas 4 opções ou o Minhas Adivinhas, são kits com essa proposta. Não se trata de contar apenas com a predição, com o que sabem oralmente sobre os textos e com estabelecimentos casuais de relação entre a dimensão sonora e gráfica.
Nota de esclarecimento: a Ciência Cognitiva
da Leitura consiste em um conjunto de pesquisas produzidas em áreas diversas,
tais que a Psicologia Cognitiva, a Neurociência Cognitiva e a Linguística
Cognitiva.
Aos desavisados, que possam reclamar
do textão, volto a esclarecer: trata-se de textos para estudo, cujos
interlocutores são, em geral, estudantes, professores do ensino básico,
buscando relacionar os estudos do campo da alfabetização ao panorama atual das
políticas públicas em nosso país, e especialistas, aos quais junto minha voz para
contribuir com esse debate – propósitos enunciados no início da série.
Portanto, o texto é “explicudo”, tem glosas necessárias ao estudo, ao
aprofundamento necessário para compreender a seriedade das distorções perpetradas
pelos que atacam concepções sem fundamento e com muita desonestidade
intelectual. E, por vezes, tem também alguns juízos quanto ao que se diz, ao
como se diz e a quem – de que lugar – diz, para rebater juízos que não se sustentam,
o que revela minhas indignações, indignações que cabem nesse gênero de texto –
postagem de blog. De todo modo é contrapondo-se a argumentos, não à pessoa,
embora, por vezes, seja difícil mesmo separar isso, nesse momento, não é? Ademais,
refletir não apenas sobre o que se diz, mas como se diz e o próprio processo de
dizer do enunciador e as condições de sua produção, também faz parte do campo
de estudos da linguagem. Aqui é um blog, não um periódico científico, nos qual
teço minhas considerações a partir de outras organizações discursivas e linhas
argumentativas.
Lê quem quer e quem precisa. Se você quer
comentários mais breves, sínteses e estudar não é bem o que procura, o lugar é
o Facebook, lá teço minhas considerações também. Aqui sou eu, indignada,
perplexa, em luta! E o estudo compartilhado é um modo de lutar! Porque por trás dos discursos há um problema de fundo que diz respeito aos usos do dinheiro público para livros e materiais didáticos, e todo o movimento de mercantilização da educação. Desconstruir esses discursos nos ajudam a pactuar com o que realmente importa!
Vamos lá, continuando e
aprofundando...
1.
Miscelânea conceitual
Continuando...vamos seguir na
argumentação sobre o vídeo “Letramento é o vilão da alfabetização”, iniciada no
Post 1 dessa série que discute o vídeo. Os argumentos de Nadalim, nesse vídeo,
seguem com outros tantos equívocos conceituais. Falaremos, nesse post, de
outros equívocos relacionados aos já enunciados. São tantos, que só textão mesmo
para dar conta!
Como ele confunde letramento e
construtivismo, colocando tudo no mesmo saco – ou acredita queo letramento é a aplicação da teoria
construtivista na alfabetização (sic!!!), como discutimos no post anterior –
ele acha, igualmente, que “o letramento é também uma espécie de ambientação
latino-americana, especialmente brasileira, do whole language” – nas palavras dele. Nada mais incorreto! O whole language, ou linguagem integral, é uma perspectiva
psicolinguística holística dos anos 1970, cujos representantes são Ken Goodman e Frank Smith, e faz parte das querelas dos métodos nos Estados Unidos, se contrapondo
à perspectiva fônica.
O whole language
gerou, nos EUA, propostas pedagógicas em que as relações fonema–grafema não são
objeto de ensino direto e explícito, sua aprendizagem decorreria de forma
natural da interação com a língua escrita, com os textos. A aprendizagem sobre
a notação da língua se dá, nessa perspectiva, na imersão na linguagem escrita,
sem investimento no ensino sistemático do funcionamento alfabético da notação
da língua. A decifração era evitada ou adiada. Embora vejamos hoje os limites dessa proposta, ela também traz uma importante contribuição no sentido de cuidarmos de, na abordagem das unidades que estruturam o sistema para aprender sobre seu funcionamento, não nos descuidarmos da linguagem significativa, das próprias particularidades sonoras quando se analisa os fonemas no contexto das palavras, das variedades linguísticas - aspectos muito importantes, dentre outros, que Goodman sinaliza.
Agora, a pergunta é: onde é que a perspectiva do letramento, defendendo
a interação com as práticas letradas, implica em não ensinar a notação
alfabética? Onde é que falar em inserir as criança na cultura letrada implica
em ensinar a ler pelo todo sem abordar o funcionamento do sistema, sem ensinar
os procedimentos de decifração? Onde ele viu isso? Em que livro de Magda
Soares? Esse “livro” não existe!!! A perspectiva do letramento, ainda mais a de
Magda, que é diretamente atacada no vídeo, enfatiza tanto a faceta
sociocultural e interativa da língua e de sua apropriação, quanto as
aprendizagens relativas ao sistema de escrita alfabética. Não há negligência
com essa faceta linguística, referente à notação alfabética da língua, sua base
fonológica, os procedimentos de decifração. Não necessariamente e, categoricamente,
não na perspectiva da autora que ele critica abertamente no vídeo. Aliás, é
justamente a isso que Magda Soares se refere quando fala de alfabetizar letrando
e letrar alfabetizando, defendendo a especificidade da aprendizagem do
funcionamento alfabético na apropriação da língua escrita. É o que ela chamou
de “reinvenção da alfabetização”, em um artigo de 2003!!! Mais de 15 anos! Então...o
que você acha? Ele leu Magda Soares? Reinventar a alfabetização é, segundo a
autora, justamente voltar a colocar foco nessa especificidade do processo de
alfabetização, do ensino do funcionamento alfabético, que foi um tanto
negligenciada pelo foco nos aspectos psicogenéticos e socioculturais da
apropriação da escrita – que ela denominou de “desinvenção da alfabetização”.
Justo ela – que embora seja uma voz importante no campo dos estudos do
letramento, defende tanto esse ensino explícito do sistema – sendo atacada por
algo completamente dissonante em relação ao que defende. Ele com certeza não
leu Magda Soares! Letramento não tem nada a ver com whole language, Sr. Nadalim!!!
Numa postagem no blog de Nadalim, há
um texto de um professor, Luiz Carlos Faria da Silva, adepto do homeschooling, que, após juntar
Vygotsky, Luria e a neuropisicologia, também nesse mesmo saco, diz: “Aprender a
ler com base em textos, aprender a ler privilegiando as habilidades cognitivas
superiores, aprender a ler do todo para a parte, aprender a ler dando valor à
função social da linguagem, tudo isso é whole
language, tudo isso é construtivismo aplicado à alfabetização, tudo isso é
letramento” – atestando, ele também, a sua miscelânea completa. Quanta asneira!
Quanta desconsideração por tantos campos de conhecimento! E Vygotsky, diga-se
de passagem, entrou de gaiato no saco apenas por defender o óbvio, de que o
ensino da língua deve se dar no uso vivo da linguagem – coisa que até hoje,
ainda nem conseguimos, de verdade, garantir. Na certa, para esse professor,
validado por Nadalim, construtivismo também é uma etiqueta que cobre a
perspectiva histórico-cultural, sociointeracionista, e um monte de coisa mais. Dizem
que “construtivismo” é vago, porque há tantos conceitos de construtivismo
quanto autores que o defendem (segundo Luiz Faria, no Blog
Como educar seus filhos), mas eles mesmos fazem uma mistureira sem fim. Sim, o
construtivismo terminou por agregar diversas referências e ajustes são
necessários para entender as nuances entre teorias e discurso pedagógico e
político-pedagógicos. Mas daí a desqualificar as perspectivas contrárias aos
ideais deles e igualá-las todas é muita desonestidade... Em outro texto, esse
mesmo professor diz: “aplicado ao ensino de leitura e escrita, o construtivismo
ganhou no Brasil o nome de letramento”. Então, finalmente, entendi de onde
Nadalim tira essas afirmações esdrúxulas e a empáfia de dizê-las com tanta
convicção. Esses caras são loucos!
Agora, para não ficar apenas na
perplexidade, vamos tentar entender... É fato que essa perspectiva do whole language se aproxima de como, no
Brasil, o construtivismo foi didatizado na alfabetização (o construtivismo, não
o letramento. Lembram? Não é a mesma coisa!).... E isso a própria Magda Soares
afirma, reconhecendo as aproximações. As próprias Emilia Ferreiro e Ana
Teberosky (1985) abordaram, em seu livro sobre a pesquisa psicogenética, os
princípios de Goodman e Smith, se alinhando a eles e abrindo a brecha para tal
aproximação. A didática de cunho construtivista, no Brasil – estabelecida na
alfabetização, principalmente, com o PROFA no início dos anos 2000, a partir dos
PCNs, segue fundamentando projetos municipais e é bastante presente no discurso
pedagógico, com propostas didáticas que se aproximam daquelas do whole language.
A hegemonia do discurso pedagógico construtivista e suas concepções sedutoras
quanto à aprendizagem das crianças, de fato favoreceu o tensionamento com a
perspectiva fônica, pois, bem ao contrário da ênfase exagerada na relação
fonema-grafema no método fônico, a didática construtivista é pouco intencional
e efetiva quanto às estratégias didáticas de ensino explícito do sistema
alfabético. E, de fato, adota-se aí princípios e procedimentos (como a leitura por predição), que
se aproximam muito de princípios ose procedimentos da perspectiva do whole language, que julga produtiva a leitura por predição e não
por decifração. Propondo um ensino do funcionamento alfabético mais casual,
incidental, deu espaço para se pensar que as crianças devem descobrir quase que
por si mesmas o princípio alfabético, as relações fonema–grafema, na interação
com material escrito em diversas práticas de leitura e de escrita.
Ao defender que a criança é capaz de
descobrir por si mesma as relações fonema–grafema, na interação com o material
escrito e nas práticas de leitura e de escrita, sem investir nos procedimentos
de decifração, é como se, então, priorizasse o que se denomina como letramento.
Ah...o letramento... E aqui chegamos a um ponto importante. Talvez seja por isso
que Nadalim e seus gurus se acham no direito de colocar esses conceitos –
letramento e construtivismo – no mesmo saco. Percebem? Só que precisa forçar
bem a barra para concluir, então, que o letramento é o mesmo que whole language.
E também para jogar fora, de forma desrespeitosa e autoritária, toda a
perspectiva construtivista, em função de certos equívocos que sua didatização e
hegemonia nos discursos e políticas operaram no campo da alfabetização. A sabedoria
de aparência de Nadalim é quase sofismática. Como lembra Artur Gomes de Morais
(2006), o debate já se originou, no Brasil, de forma inadequada, pois importou
a antiga discussão entre “método global” e “método fônico”, ‘whole language’ e ‘phonics’ em outros países, tomando a premissa equivocada dos
partidários do método fônico de que a didática construtivista de alfabetização
se igualaria ao método global.
Mas continuando... Sabemos que Emilia
Ferreiro, ela mesma, não criou nenhuma didática, apenas estabeleceu princípios
a partir da pesquisa e da teoria, que foram didatizados com pouca ênfase no
ensino do funcionamento alfabético. Nem na perspectiva psicogenética, nem na
perspectiva do whole language, nem na
didatizaçãodo
construtivismo, no
entanto, ignora-se os aspectos fonológicos e notacionais da escrita alfabética.
A própria Telma Weisz (2004), representante maior dessa didática no Brasilafirma – assim como Goodman (1997) – que não
se pode negar o processo de tomada de consciência dos aspectos fonológicos da
língua no processo de alfabetização. Goodman (1997) afirma que essa abordagem não ignora a fônica, apenas a coloca na perspectiva da leitura e escrita reais. Mas é fato que as propostas baseadas nessa abordagem não se ocupam e até negligenciam aos procedimentos didáticos sistemáticos de tais
aspectos, dando margem à polarização em relação à perspectiva fônica. Embora
a didática dita construtivista não ignore as relações da escrita com a pauta
sonora da língua falada – inclusive, nem poderia, já que a perspectiva
psicogenética busca, justamente, compreender como as crianças vão construindo
essas relações – as aprendizagens nesse sentido, especialmente no que se refere
à apropriação do princípio alfabético, são mais incidentais do que resultado do
ensino sistemático e explícito do funcionamento da notação da língua. Como a própria Telma Weisz (2016, p.
18) afirma, “desde que haja informação disponível e espaço/condições para a
reflexão sobre o sistema de escrita, os alunos constroem os procedimentos de
análise necessários para que a alfabetização se realize”. Ao professor, nessa
perspectiva, cabe organizar a atividade e agrupamentos produtivos, colocar as
“boas perguntas” nos pequenos grupos ou duplas, que orientem as análises das
crianças, orientar a busca por fontes de pesquisa (ex. modelos estáveis de
escrita convencional, como os nomes próprios), oferecendo informações
específicas apenas quando necessário. Ora, precisamos mais do que isso. E esse
“mais do que isso” não precisa ser, necessariamente mecânico, desconsiderando
como a criança pensa, como alguns defensores também sectários dessa didática
argumentam por aí também.
Ou seja, da perspectiva de
alfabetização à qual me alinho, a crítica de Nadalim, sobre o whole language, teria algum sentido se
direcionada a esse aspecto da didática construtivista – crítica que eu também
faço. Mas não, ele direciona sua crítica à dobradinha construtivismo-letramento,
ao construtivismo em geral e ao letramento como sinônimo de construtivismo no
Brasil. E, ao que parece, o faz “fundamentado” (com aspas mesmo!) nesse Luiz Faria
– e, com uma ênfase ainda maior no letramento e em Magda Soares. A birra maior
dele parece ser o letramento, Magda, tudo volta para isso, com distorções
argumentativas. E justo ela que não pertence a uma perspectiva de letramento
que se ocupa mais da imersão na cultura letrada do que dos processos de
alfabetização propriamente dita. Justo ela, que, como já dito, fala na
necessidade de recolocar foco na especificidade das aprendizagens relativas ao
funcionamento alfabético do da notação da língua e sua relação com a base
fonológica da língua falada. Justo ela que escreveu o último livro justamente
sobre a especificidade da alfabetização.
Nadalim aproxima construtivismo e
letramento da abordagem do whole language
devido a essa perspectiva se preocupar com as práticas reais de leitura e
escrita, mas desconsidera completamente o que de fato está em jogo na discussão
sobre letramento (não sabe o que, lembram?) e ignora desonestamente o fato de
que, na perspectiva da alfabetização em contexto de letramento da qual fala
Magda, não há a negligência com o ensino do sistema de escrita alfabética –
muito pelo contrário!Ou seja, ou ele
parece ignorar completamente a perspectiva da autora, pois a critica por falta
de algo que ela, justamente, faz tão bem, ou ele é muito má fé mesmo! Ou os
dois, provavelmente os dois.
Além da má fé, mostra desconhecimento
mesmo, deve se basear em discussões de segunda ou terceira mão. Mesmo sem
conhecer a obra da autora, sua perspectiva, se arvora a criticá-la e de modo
tão tosco e fraudulento. Ele não sabe o que é letramento e se arvora a misturar
tudo numa argumentação frágil com ares de sabido que teria descoberto a falha
do outro, distorcendo, mal intencionadamente, a perspectiva da autora, para
caber em sua argumentação raivosa, arrogante e desrespeitosa, para validar sua
retórica e “vender” a sua própria perspectiva, o seu “milagre”, em cima de uma
grande desonestidade intelectual (e vender aí também no sentido literal, seu curso on-line "Ensine seus Filhos a Ler - Pré-Alfabetização" custa quase 3 mil reais!!!). Mal sabe ele que os defensores mais sectários
da didática construtivista – que, inclusive, associam procedimentos fonológicos
a perspectivas epistemológicas positivistas e posições políticas conservadoras
– criticam Magda e a abordagem da consciência fonológica (com premissas
equivocadas também), e atribuem quase um valor de “palavrão” a unidades da
língua como fonemas e sílabas, associando-as a procedimentos, necessariamente,
mecânicos e não significativos. Ou seja, tão sectários quanto, criticam Magda
justamente pelo contrário do que Nadalim critica: por ela defender aspectos
que, ele, por outros caminhos e com outras ênfases, defende. Curioso não é? Muito
curioso...
2. Letramento, práticas sociais e literacia
Há, visivelmente, nesse vídeo, um
birra com o letramento. Outras perspectivas também relativizam a necessidade
desse conceito, inclusive a própria Emilia Ferreiro, mas num outro tipo de
argumentação. A questão é se há necessidade dessa separação entre letramento e
alfabetização e o que estaria implicado nisso. Mas nenhuma dessas perspectivas
desconsideram a escrita como uma prática social, seja referindo-se a
letramento, seja referindo-se a cultura escrita ou a alfabetização como
englobando tanto isso quanto o sistema notacional. Mas reparem que, nesse
governo, vão tentar abolir das políticas públicas o termo letramento. Tanto nos
anúncios da mídia sobre os planos do governo, quanto no próprio Decreto n.9.465 de 2 de janeiro de 2019 do MEC, nos artigos 28 a 31, que tratam da instituição
da Secretaria de Alfabetização e das três diretorias que ela engloba, observa-se
o uso do termo literacia em vez de
“letramento”, ambos importados do termo literacy,
usado em referências anglo-saxônicas. Usam aqui literacia – como em Portugal –,
para não usar o termo letramento em uso no Brasil – o que diz muito sobre as
rusgas com o campo e os rumos do que pretendem. O pesquisador da ciência da
leitura e neurocientista português, professor emérito da Universidade livre de
Bruxelas, José Morais, usa preferencialmente esse termo, mesmo referindo-se ao
Brasil, e um de seus argumentos é que letramento traz uma dimensão social nem
sempre existente nos textos que circulam – como diários íntimos! Ao que remeto
a minha argumentação no primeiro post da série. Outro argumento que já ouvi a
esse respeito é de que letramento seria mais a apropriação inicial, enquanto
literacia não – argumento que não se sustenta. Essa aprendizagem inicial é
referida por eles como reading
acquisition, reading instruction, beginning litteracy, enquanto literacia
seria, segundo José Morais (2013, p. 4), o “conjunto das habilidades da leitura
e da escrita (identificação das palavras escritas, conhecimento da ortografia
das palavras, aplicação aos textos dos processos linguísticos e cognitivos de
compreensão).” Ou seja, a dimensão sociocultural é que parece ser problemático
para eles, que focam apenas a dimensão individual, autônoma, da literacy/literacia/letramento, e não sua
dimensão social. Enfim...Brian Street neles! Agora, percebam que o que eu ressalto aqui não é o uso do termo, em si, pois se usassem "letramento" nesse sentido restrito aí, de habilidades cognitivas, escolares, seria pior ainda. Seria reduzir o letramento ao letramento "autônomo", como nos ensina Street. Assim, nesse caso, usar outro termo, como literacia, é até mais coerente. A despeito de nem literacia, em Portugal, nem literacy terem um único sentido, também sendo usado (menos) em sua perspectiva mais sociocultural, "literacia" combina melhor com essa visão da PNA. A questão é, para onde jogaram o letramento? E essa é uma escolha motivada, nada neutra.
No blog “Como educar seus filhos”,
de Carlos Nadalim, o professor Luiz Faria diz, com a mesma empáfia e equívoco
que “o termo “letramento” foi inventado no Brasil e tem sido empregado como
substituto do termo ‘literacia’”. Ora, tanto “literacia” quanto “letramento” são termos que derivaram do inglês “literacy”, neologismos que surgiram em
função de necessidades de ampliações conceituais no campo e, como é normal em
toda língua e todo campo científico, novos termos podem ser criados e, por
vezes, a partir de termos usados em outras línguas. Mas o professor comete
nessa breve oração dois pressupostos equivocado e eivado de preconceitos.
Primeiro, quando usa o termo “invenção”, como se o termo letramento não fosse
válido, por ter sido “inventado”, e pelo fato de ter sido inventado no Brasil –
porque, se é assim, “literacia” também foi “inventado”. Só que por ter sido
inventado na Europa (Portugal usa “literacia” para “literacy”) tem valor, não é? O fato de sonoramente se assemelhar mais importa? É tão bandeiroso que diz que usamos
“letramento” como SUBSTITUTO de “literacia”!!! Não, querido, ambos os termos foram
gerados do termo literacy e, no campo das teorizações conceituais, tomaram conceitos diferentes. Quanta
síndrome de colonizado, de vira-latismo, my god! Na verdade, tem ainda isso: o termo literacy, usado com referência a um letramento autônomo (Brian Street), escolar, teve uma tradução brasileira como alfabetismo. O termo letramento, no Brasil, ganhou um sentido mais amplo, vinculado aos estudos dos New literacy studies, que expandem esse conceito para os aspectos sociais, os letramentos críticos, letramento no plural! E nesse caso, se usar letramento com esse sentido expandido de literacy fosse invenção do Brasil, que bom seria, não é? Nosso crédito!
Mas ainda além disso, como já mencionei, o termo literacia também tem,
em Portugal, diferentes sentidos, a depender da perspectiva considerada. Também
lá, como no Brasil, o conceito está em processo de construção no campo, e é
heterogêneo, múltiplo, plural, embora haja a tendência ao seu uso mais restrito, ligado a perspectivas da educação mercantilizada, da testagem, das habilidades cognitivas - já que esse é um movimento mundial, não brasileiro. Mas é fato que o campo de estudo das culturas escritas é complexo e não unificado, como já argumentaram Maurizio Gnerre (1985) e o próprio Brian Street (2014). Faz parte da pluralidade de áreas do conhecimento, ver os conceitos sob óticas diversas. Mesmo o fato de ser ainda impreciso e controverso, tem
relação com a dinâmica do campo. A imprecisão conceitual do termo letramento
referida por esse professor no blog “Como educar seus filhos” existe também em
outros lugares, porque faz parte do processo de constituição de novos
conceitos, porque implica os usos diferentes que são dados a eles em diferentes
perspectivas, diferentes visões de mundo e, aliás, porque é da dinâmica da própria linguagem. Como podemos
ler no editorial da revista Escrita, do Ceale/UFMG, a apropriação do termo
literacy, na França, tem se deu por meio de três formas: littéracie,
littératie, litéracie. Alguns autores parece que resolveram adotar os três,
justamente em função das diferenças conceituais entre eles. Percebe? Outros autores, da perspectiva de alfabetização como processo discursivo, a exemplo de Cecília Goulart, problematizam o conceito justamente por motivos opostos, por enfatizar a dimensão social e discursiva da própria alfabetização. Vale a pena a leitura de artigo da autora nesse sentido. Os conceitos estão sempre submetidos a serem esgaçados, ampliados, reduzidos, reconfigurados, isso não é obra de desarranjos tupiniquins, não, certo? É produção de conhecimento! Além disso, depende também da perspectiva que se adote: antropológica, linguística, psicológica, pedagógica. Não é coisa do Brasil, não, Luiz Faria! Desonestidade é querer fazer parecer que aqui é tudo mal-amanhado e que só a perspectiva de vocês é que vai salvar o campo dessa “bagunça”. Tem dó! A necessidade do conceito pode até ser circunstancial, negociável, como podemos ver no próprio Glossário Ceale, mas não pelos argumentos postos pelos senhores.
Em Portugal, tampouco todos o
conceituam literacia como José Morais, pelo contrário, há pesquisadores que o conceituam
muito mais próximo do conceito brasileiro de letramento – inclusive os
processos que engendraram tal conceito – enfatizando um significado mais amplo,
que se refere à capacidade de utilização da língua escrita em contextos
sociais. Aliás, também lá há instabilidade no uso do conceito, uns o associam
às competências de leitura e escrita, outros a sua utilização social. Mas é
enorme a capacidade desses caras de serem desonestos a ponto de achatar também
os usos dos conceitos e todo o campo científico estrangeiro, além do
brasileiro... Se quiser ver um panorama histórico do conceito de literacia, em
um trabalho acadêmico de mestrado na Escola Superior de Educação de Coimbra,
fique à vontade. Nas páginas 21 a 24. Nessa entrevista esse conceito também aparece aproximado do que entendemos como letramento.
A simplificação da linguagem, para
esses caras, que parecem não saber que os conceitos são historicamente
determinados (é muita ideologia para eles isso, né? Ironia localizada), que não
dão conta da linguagem viva, com seus conceitos que ganham novos sentidos a
depender do contexto de uso, reduz a dinâmica dos sentidos, dos usos dos termos
da língua a um dicionário onde só se encontrasse palavras com uso objetivo,
literal, denotativo. Eita mundo chato!
3. Considerações sobre a consciência fonêmica
Mas sigamos com os problemas
conceituais presentes no vídeo, saído do letramento e indo à especificidade do
sistema de escrita e do papel da consciência fonêmica nessa apropriação. A
certa altura do vídeo, Nadalim usa uma citação do pesquisador José Morais para
“provar” (sic!!!) que a tomada de consciência dos fonemas não é automática, que
depende do ensino explícito do “código” (sic!) alfabético. E ele cita o trecho
abaixo do livro “Os neurônios da leitura”, de Stanislas Dehaene, da Artmed.
Ora, é isso mesmo que afirmam vários
autores e, pasmem, inclusive Emília Ferreiro diz algo semelhante. Embora a
autora, adequadamente, não chame o sistema alfabético de “código”, ela defende
que a consciência fonêmica se dá, justamente, a partir da compreensão do
funcionamento alfabético. Ela, inclusive, usa esse argumento para criticar que
se deva trabalhar com os fonemas na oralidade, previamente à escrita, já que
são unidades altamente abstratas, sem realidade sonora. Para ela, uma vez que
vão aprendendo o funcionamento alfabético, no contexto de palavras que se põem
a ler e a escrever, e não a partir de relações soltas de grafemas e fonemas, é
que a consciência fonêmica se desenvolve. Essa aliás, é uma perspectiva quanto
à relação entre consciência fonêmica e leitura. Há quem pense, como Nadalim,
que a consciência fonêmica é pré-requisito à leitura, há quem pense, como
Emilia Ferreiro, que é uma consequência de ter aprendido a escrita alfabética
(ou seja, a consciência fonêmica não é automática, ela depende da compreensão
do sistema, como diz Morais aí – a diferença é que Emilia coloca foco na
aprendizagem, não no ensino), e há que pense, numa via em meio termo, que há
uma causalidade recíproca, alguns aspectos da consciência fonêmica (que não é
um bloco homogêneo, mas composta de várias habilidades) são necessários para
compreender a escrita alfabética e outras habilidades se desenvolvem com a
compreensão do princípio alfabético. Essa perspectiva interativa é a que José
Morais (2013) admite hoje aceitar. E mesmo antes disso, enfatizava que a
consciência fonêmica se desenvolve com a apropriação da escrita alfabética –
exatamente como defende Ferreiro –, incluindo-se aí a apresentação das letras e
a descoberta do que elas notam. Embora eu ache que o contexto das palavras seja importante na consciência dos fonemas (e não de letras isoladas), vale lembrar que, em seu livro "A arte de ler", José Morais afirma que a análise da fala em fonemas é pouco eficaz sem que sejam tornadas explícitas as suas relações com os signos escritos, que a consciência fonêmica não precede a aprendizagem do funcionamento, ainda que parcial, do sistema alfabético. Ou seja, surgem simultaneamente - o que revela a ideia da causalidade recíproca e não da consciência fonêmica como pre-requisito para aprender o sistema. Ele cita, inclusive, um estudo em que o autor diz que os fonemas se tornam "audíveis" apenas com o alfabeto, a consciência do fonema se dá quando assumem uma forma visível, nas letras. E Nadalim, em seu Ebook fala de apresentar os
fonemas antes das letras, pasmem! Conclusão: já sabem, né? José Morais é tido
por Nadalim como uma referência...mas... Acho até que dá sim para brincar com fonemas - os fricativos, por exemplo, que podemos esticar e os oclusivos em sua repetição em trava-línguas - chamando a atenção para esses sons menores em atividades epilinguísticas, que podem se desdobrar em atividades metalinguísticas, mas é no confronto com as palavras escritas que as crianças tomam verdadeiramente consciência dos fonemas como unidade distintiva. Para discutir mais sobre isso, ver post aqui no blog.
Todas essas três perspectivas têm
defensores e detratores, mas, ao que parece, nosso secretário só conhece e
admite uma delas, ou melhor, nem sabe o que defende, pois se contradiz. Parece
que nem entende bem o que José Morais argumenta aí, pois, em seu e-book, Nadalim fala
claramente em treinar as crianças nos sons isolados das letras previamente à
apresentação das letras, da escrita, que é uma perspectiva didática que supõe
que a consciência fonêmica é pré-requisito para aprender o princípio
alfabético. Percebem a contradição em relação ao que defende José Morais? Pois
é! Nem os autores que ele refere como pares nas suas argumentações, ele parece,
de fato, conhecer. Pega trechos descontextualizados de livros, de vídeos, sem
consideração do todo da obra dos autores, dá nisso!
Ou seja...quem é mesmo que acha que a
consciência dos fonemas se dá de forma automática? Está dialogando com Smith e
Goodman? Certamente não é com Emilia Ferreiro, nem com Magda Soares, que enfatiza,
inclusive, a natureza grafo-fonônica da consciência fonêmica, preferindo,
inclusive, falar em consciência grafo-fonêmica, justo porque as vê de modo
integrado, não os fonemas previamente às letras, às palavras.
Isso para vermos o tanto de equívocos,
de desconhecimento dos autores que ataca e mesmo dos autores aos quais se
alinha.
Bom, na continuidade da conversa sobre decifração e predição abordada aqui, seguiremos no POST 3, falando um pouco mais sobre o processamento da leitura. Esse assunto tem um crocotó, um apêndice, uma barriga, um adendo, um “a mais”, que não podia ficar de fora dessa análise. Então, se você quiser encarar um pouco
mais de aprofundamento no assunto das misturas e imprecisões conceituais de
Nadalim e seus pares, siga adiante... Assunto árido...mas completa esse estudo. Ficou
grande...por isso, fiz o crocotó...o POST 3! J
Referências Obs.: As referências bibliográficas usadas em todas essas postagens da série, salvo os artigos indicados nos links, virão ao final do estudo.
POST 1 - Introdução - análise inicial das premissas do vídeo; concepção de letramento, de funções sociais e práticas letradas; letramento é uma invenção do construtivismo?
O ponto de partida dessa
e das próximas postagens, que fazem parte da série sobre a situação das
políticas de alfabetização nesse governo, é a análise do vídeo do canal de
Youtube “Como educar seus filhos”, de Carlos Nadalim, o nosso atual secretário
de alfabetização no MEC, que tem como título “Letramento, o vilão da
alfabetização no Brasil”. Essa é a primeira postagem da série, após a de
contextualização, que chamei de POST 0. Há um post com o "sumário"
dessa série, para ajudar a "se achar" nos textos. Pode procurar
também no marcador "Políticas públicas de alfabetização". Todas as
postagens dessa série estarão lá. Para saber mais sobre Carlos Nadalim, ver aqui.
Mas vamos ao vídeo. O título do
vídeo, afirmativo – diferente do título dessa postagem, interrogativa –, já
causa bastante estranheza...estranheza essa que se confirma ao assisti-lo.
Claro que o vídeo é anterior a seu posto na pasta do Ministério e ele fala aí
de outro lugar, teremos que esperar para ver o que e como ele falará e
encaminhará as questões, efetivamente, como secretário no MEC. Mas é importante
entendermos o que ele pensa, o chão que ele pisa, para vislumbrarmos o que
esperar dessa gestão na secretaria. Por outro lado, essa postagem não se reduz
a analisar e criticar o vídeo, é também uma oportunidade de discutirmos
diversas questões envolvendo o campo da alfabetização e prepararmo-nos para
esse enfrentamento, seja na Universidade, formando professores, seja nas redes
dos municípios, que, por conta dos financiamentos da educação, talvez sejam
tentadas a “comprar” essas políticas federais. Assim, a crítica ao vídeo é
também oportunidade de discutirmos questões que são importantes enfrentarmos,
bem como minha contribuição para desmistificar assertivas que não se sustentam
nas argumentações que, possivelmente, vão vir de lá. Vejo comentários
favoráveis e cheios de elogio a Nadalim, sempre baseados em premissas errôneas
e avaliações leigas de sua qualificação. Nós, professores e futuros
professores, não podemos cair nessa! Como bem disse minha colega na Faced
e forte aliada nas lutas no campo da educação e linguagem, Giselly Lima, além
das premissas equivocadas, das falácias, da desonestidade intelectual, que irei comentar aqui, é revoltante a edição do
vídeo, a retórica para beneficiar suas assertivas mal-amanhadas, os exemplos fraudulentos, pois fora de contexto, as
falsas relações de causa e efeito, que ele força parecerem naturais... Se analisarmos bem, tem sofismas, deduções falsas, tudo levando, certamente, a um argumento bastante autoritário. Como disse Giselly, ele força interpretações do que é dito para reforçar, por vezes, o
oposto do que é dito, e dou, como exemplo, enfatizar e encaminhar a seu favor, falas descontextualizadas de José Morais, e distorcer falas de Magda Soares. Só isso já merecia mais do que as respostas dela na mídia, a manifestação da ABAlf, e nossas indignações todas. Merece
denúncia! Esse vídeo merecia, inclusive, uma análise de discurso. Quem se habilita?
Agora, como há aspectos do campo teórico e
didático que, de fato, contribuem para o engendramento desses discursos
críticos à alfabetização proposta nas políticas públicas e nos discursos
pedagógicos até aqui, vamos nos dedicar a analisar as premissas, as argumentações, para além do mau caratismo. Precisamos enfrentá-las! Por isso, sem defesas cegas, vou
analisar também as limitações que dão brechas à defesa de que a solução para os
problemas de alfabetização seja a questão dos métodos e que o método fônico é a
alternativa única a uma didática que negligencia o ensino sistemático do
sistema alfabético.
Assim, esse será mesmo um textão! Por
isso, de dividi-lo em várias postagens, numeradas e linkadas, para facilitar a
leitura sequenciada (ou não), vou também tentar dividi-lo em partes, quando achar necessário. Mas é
textão, aviso logo. Inclusive, montei meu componente de Alfabetização e
letramento, da graduação em pedagogia na UFBA, esse semestre, em torno dessa
discussão, e é material de estudo com os estudantes. Ou seja, é um post de
estudo, de esclarecimento, de luta – não me cobrem concisão! Combinado? Para
resumos, posts rápidos e com maior circulação – fan page do blog no Facebook!
Lá tenho também divulgado esses posicionamentos.
1. Para começar...
O vídeo já começa com esse título
inadmissível: letramento = vilão. Mas vamos por partes, desmisturando o que
está aí misturado, desmistificando certezas, premissas postas, falácias.
Na chamada do vídeo afirma-se: “No
Brasil, sobra letramento, mas ler e compreender textos bem é raridade. Conheça
um dos graves problemas educacionais que impede nossas crianças de aprender a
ler com eficácia”. Já aí aparece a incompreensão do conceito de letramento, de
sua amplitude, e de que ler e compreender textos faz parte desse processo. É
como se ler e compreender não fizesse parte do letramento. O vídeo contém, ele
mesmo, inúmeros equívocos conceituais, como esse.
Mas, primeiro, assistam ao vídeo, se
já não assistiram. E tem a postagem no blog dele também.
O vídeo começa falando de informar e
instruir os pais para a tarefa de “livrar seus filhos do analfabetismo
funcional”. Ora, à parte a desqualificação da escola nessa fala, que comentarei
depois, o uso de tal conceito – analfabetismo funcional – parece inadequado aí.
Analfabetismo funcional refere-se, justamente, a quem tem algum domínio da
técnica de decifração e codificação do escrito, mas que não consegue
interpretar e produzir textos simples, ou seja, fazer uso desse conhecimento
técnico – conhecimento técnico que é o foco do método que ele defende. Analfabetismo
funcional equivale justamente a um baixo grau de letramento, não a não saber
decifrar. E se ele acha letramento vilão, há contradição aí...Mas não é
contradição, é desconhecimento mesmo! Ou seja, novamente sua fala denuncia a
incompreensão conceitual que reina em suas argumentações. Se o pressuposto está
equivocado, não tem como todo o resto não estar.
Embora, no video, Nadalim reconheça
que a questão da alfabetização é complexa e envolve problemas de diversas
ordens – que “estamos cansados de saber”, segundo ele diz com certo desdém –
enfatiza a questão dos métodos, dos procedimentos de alfabetização que
considera ineficazes, e a formação dos professores baseadas em teóricos e
práticas que ele julga, enfaticamente, como ineficazes, responsabilizando-os,
de algum modo, pelos fracassos da alfabetização das crianças (e aqui não entram
os outros problemas mais amplos, que ele deixa para trás...não se fala em
investimentos na estrutura das escolas, em valorização do profissional docente,
etc...).
Nem vou comentar sobre
sua vaidade exposta, quando se apresenta como o portador do Relatório do grupo de trabalho
sobre alfabetização infantil, em 2017, ao deputado federal Diego Garcia, membro
da comissão de educação, talvez já costurando sua possibilidade de estar
contemplado com alguma pasta no governo (note-se que esse relatório foi
apresentado,em 2003, à Câmara dos
Deputados, evidenciando a
polarização, referenciada, equivocadamente, como construtivismo X
método fônico); quando mostra “para quem não sabe” (!!!) o Diploma de Mérito
dado pela comissão de educação (o próprio deputado Diego Garcia é que foi a
Londrina entregar!!!), por ter sido indicado ao prêmio Darcy Ribeiro de
Educação 2016, prêmio que é realizado anualmente pela Comissão de Educação e
pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (indicado por quem mesmo?); e quando
indica as entrevistas com especialistas (de uma perspectiva única) que
entrevistou no seu blog, tudo isso como trunfos prévios para qualificar e
validar suas afirmações posteriores....e muitas costuras com intenções à
frente! Mas preciso indicar que prestem atenção como ele fala dos autores/pesquisadores que traz para supostamente validar sua perspectiva, principalmente José Morais, revelando seu complexo de vira-lata colonizado que precisa de tutelas teóricas estrangeiras, e elas têm, sempre, a última palavra. Nenhuma referência de identidade nossa (porque as nossas não prestam?), nenhum contraditório que nuance suas certezas inabaláveis...
Ao criticar a BNCC por continuar
propondo uma perspectiva construtivista (veremos adiante as inúmeras confusões
que faz em torno disso), diz ironicamente que o documento fez algumas CONCESSÕES
(sic!!!) à abordagem fônica, mas, segundo afirma, de forma muito confusa.
Concessões? Com isso, ele pressupõe que apenas a abordagem fônica assume a
importância da apropriação do princípio alfabético do sistema de escrita pelas
crianças, o que é uma visão completamente equivocada. Em seu e-book reaparece
essa ideia de que o método fônico visa o princípio alfabético, como se nenhum
outro visasse. A sua abordagem, o seu método fônico sintético, não é “dono” da
abordagem do sistema alfabético, não é o único que visa à apropriação do princípio
alfabético pelas crianças, nem mesmo da abordagem do phonics que, no Brasil, tem sido associado diretamente ao método
fônico, usado erroneamente como sinônimo daquele método.
Ele critica também a visão de que a
alfabetização só exista no contexto do letramento. E quando explica, a partir
de pergunta retórica irônica “o que é letramento?”, recorrendo à fala de Magda
Soares – uma das “mães do letramento”, como ele diz com risinho irônico no
canto da boca – se apega na expressão “funções sociais”, para arrogantemente
debochar da autora, aparentemente “concordando” com ela, mas deixando nas
entrelinhas a insinuação de que isso não é o importante, e forjando uma relação
dessa expressão com uma suposta ideologização... Compreender a expressão
“funções sociais” como algo necessariamente ideologizado é outra grande
incompreensão conceitual. Funções sociais diz respeito a que funções a
escrita/os gêneros de texto têm em diversas práticas/situações comunicativas da
sociedade em que circulam. Nesse sentido, a fruição estética da literatura; a
função instrucional, injuntiva, e de registro da memória implicadas em uma
receita de bolo; a função injuntiva de um manual de instrução; a função lúdica
de um trava-línguas infantil; a função informativa, argumentativa, de uma
reportagem ou artigo de opinião em jornal; tudo isso envolve funções sociais
desses gêneros. Até mesmo escritas pessoais, como um diário íntimo, que
escrevemos para nós mesmos, tem função social – escrevê-los é uma prática em
nossa sociedade, mesmo que não seja para interação com outros sujeitos. O
diário é um texto que tem um quem escreve, para quem, para que, um quando dizer
o que diz e um como dizer, tem características discursivas socialmente
estabelecidas, é regulado socialmente (sabemos que é íntimo, lê-lo sem
consentimento é, a depender da situação, violá-lo), quando publicizados, também
sua recepção é estabelecida - sabemos as características do gênero. O fato de
um texto concreto não mediar uma interação concreta com outro indivíduo,
não tenha uma resposta concreta de um outro, não significa que o gênero textual
não se constitua socialmente e não tenha função social. Enfim...é uma
prática social, com funções sociais. Bem como uma lista de compras para si
mesma, anotações na agenda... Todas essas práticas são sociais, mediadas por
gêneros com funções sociais, com objetivos no âmbito da situação comunicativa,
ainda que para si mesma. Uma lista de compras para nós mesmos serve para não
esquecermos de nada – somos nós mesmos o destinatário daquele texto, cuja
função social é registrar algo para lembrar – a função de registro é uma função
social da escrita. É impressionante como até mesmo autores de peso fazem essa
confusão de achar que função social diz respeito apenas a textos engajados ou
de comunicação funcional com outros sujeitos. E se é assim, o que esperar de
Nadalim, não é? E quando se quer ver cabelo em ovo...se implanta cabelo em ovo.
Sua argumentação, em um momento do vídeo, desemboca na constatação de que há
uma insistência nessas “práticas sociais” de leitura e escrita, como se essa
expressão – insisto – tivesse um teor ideológico necessariamente nefasto. E
ironiza novamente. Em suma, ele não sabe o que significam práticas sociais,
função social, por isso, não sabe o que significa letramento.
Agora, um adendo: argumentar isso não
significa retirar a força sociopolítica do conceito de letramento, não. Afinal
de contas, como aprendemos com Bakhtin, a linguagem não acontece em um vácuo
social, os textos – sejam eles orais ou escritos – não têm valor fechado em si
mesmos, mas articulados aos interlocutores situados no mundo social, histórico
e político.
O argumento de Nadalim, falando sobre as crianças, segue na lógica do “se
não sabem o básico” – para ele, o funcionamento alfabético – como vão se ocupar
de funções sociais? Ou seja, vê a alfabetização propriamente dita como
pré-requisito para o letramento, coisa que inúmeros autores – não apenas Magda
Soares – relativizam. Ele pergunta: “Como é que elas vão ainda compreender e
interpretar textos (...)”, como vão compreender a função social de algum
gênero, se ainda não sabem relacionar grafemas e fonemas? Pois é, seu
Secretário...você não entendeu o conceito de letramento, você não sabe o que é
alfabetizar em contexto de letramento, você não sabe que as crianças estão
inseridas – se têm oportunidade para tal – no contexto de letramento, muito
antes de se alfabetizarem. Você subestima as crianças, que muito querem saber
sobre os textos e a língua se tem oportunidades de conviver amplamente com a
cultura escrita. E desde muito pequenas! Muitos autores discutem sobre os eventos de letramento ligados a práticas sociais letradas, que envolvem crianças pequenas e adultos não alfabetizados. Mas basta observar as crianças - elas mesmas confirmam isso!
O curioso nisso tudo é que Magda Soares, da qual ele debocha, sem
nenhum respeito, tem sido uma voz importante no campo da alfabetização, para,
justamente, não só defender o letramento, quanto defender a importância do
ensino explícito e sistemático do funcionamento alfabético, ao lado da inserção
das crianças na cultura escrita. Mas, sinceramente, ele não parece ter lido a
autora, e ainda assim, se julga em posição de criticá-la. O livro que empunha,
como bandeira, no vídeo, é um dos mais antigos da autora, de 1986 (!!!), “Linguagem e escola: uma perspectiva
social”, importante, mas que centra a discussão nas relações entre
linguagem, escola e sociedade e, especialmente, na variação linguística, para
compreender a questão do fracasso escolar de sujeitos das classes
desfavorecidas, no ensino de Língua Portuguesa – temática mais específica do
que as que a autora aborda hoje. Mas claro que ele ia escolher esse para
empunhar, não é? Lá, quando a análise do fracasso escolar e sua relação com a
variação linguística era uma questão premente, ela afirma que é “inadmissível
deixar de vincular o ensino da língua materna às condições sociais e econômicas
de uma sociedade” (SOARES, 1991, p.78). Ele recorta o que quer, para
validar suas críticas. Porque não empunhou o livro de 2016, último da autora?
Porque lá tem muitas coisas com as quais ele mesmo teria que concordar, não
fosse tão sectário. Secretário sectário!
Só alguém que não entende os conceitos
e não conhece a realidade de crianças tentando interagir com a escrita pode
subestimar a tal ponto as crianças, para afirmar que elas só conseguirão
aprender o sistema alfabético se for de forma instrumental, descontextualizada.
Sim, é preciso planejar situações de aprendizagem e estratégias didáticas
específicas para refletir sobre a notação da língua e sua base fonológica. Quando
Magda defende que a alfabetização se dá ao mesmo tempo que o letramento, está
falando de aprender o sistema como objeto cultural que se aprende nos processos
reflexivos, cognitivos, mediados pelos professores, no contexto da linguagem
viva, das práticas sociais significativas de leitura e escrita – aprende o
sistema para ampliar a participação nas práticas letradas. E isso porque
concebe a linguagem como interação social e o funcionamento da escrita
alfabética não como pré-requisito ou instrumento para a aprendizagem, mas como
um objeto de ensino efetivo, que é a escrita alfabética, usada para comunicar
os diversos textos, de diversos gêneros, em diversas situações comunicativas,
para interagir através da linguagem escrita. Mas essa visão de linguagem não
parece preocupá-lo, não é? É uma visão de linguagem perigosa para os que querem
que as camadas menos favorecidas fiquem restritas à língua como um código. Sim,
eles precisam ter acesso ao funcionamento da notação da língua, mas precisam
ter acesso a muito, muito mais!
2. Para continuar...
Bom, mas vamos lá, ainda tem muito. Vamos
analisar a afirmação que o youtuber faz nesse vídeo de que “no fundo, o
letramento nada mais é do que uma reinvenção construtivista da alfabetização”
e, mais adiante “o letramento é, em suma, a aplicação do construtivismo no
ensino de leitura e escrita. Ponto final. É uma reinvenção construtivista da alfabetização”.
Quanto descalabro! E quanto autoritarismo nesse “ponto final!”. É certo que, no
campo dos debates acadêmicos, há divergências conceituais e, embora, no geral
todas as perspectivas estejam atentas aos aspectos socioculturais da escrita,
os conceitos de alfabetização e de letramento não são sempre os mesmos nos
diferentes aportes teóricos. Nem todas as perspectivas assumem o letramento
como um conceito necessário, preferindo falar em alfabetização mesmo, abarcando
tanto as questões relativas ao sistema quanto à cultura escrita. Mas a despeito
dessas divergências, nenhuma perspectiva – salvo a que Nadalim traz – vê de
forma negativa esse aspecto sociocultural da escrita e de seu ensino, que pode
ser referido como letramento por uns, como cultura escrita por outros, como
alfabetização por outros. Ele coloca essa visada sociocultural da escrita como
o vilão da alfabetização!
Além disso, não há nada mais
equivocado do que dizer que o letramento é um conceito do construtivismo. Trata-se
aí de uma incompreensão gigantesca do campo das teorias que embasam as
concepções de alfabetização. Os estudos do letramento colocam foco nos aspectos
socioculturais da escrita. O construtivismo é, originalmente, uma teoria sobre
o processo de aprendizagem, relativa à epistemologia piagetiana. Depois,
agregou outros aportes, mas é, essencialmente, isso. A própria Emilia Ferreiro
– que desenvolveu sua pesquisa psicogenética sob o aporte do construtivismo
piagetiano – prefere não usar o termo letramento. O que ela refere como cultura
escrita é similar, quando defende a alfabetização no contexto das práticas de
leitura e escrita que circulam na cultura. O uso do termo “construtivismo” se
ampliou para abarcar outros aportes e é fato que terminou por constituir um
conceito vago, para o qual conflui diversos princípios, inclusive a questão de
aprender a ler e escrever no contexto das práticas de leitura e escrita. É
certo também que, no discurso pedagógico e em propostas das políticas públicas,
esses aportes – os estudos do letramento e a perspectiva construtivista – vieram,
muitas vezes, relacionados, complementando-se. Nos PCNs, por exemplo, há,
inclusive, certo apagamento da especificidade dos estudos do letramento e sobre
os gêneros discursivos, tudo isso sendo colocado na conta do construtivismo.
Mas justificar colocar tudo no mesmo saco pelos usos diversos de um conceito e satisfazer-se
com essa miscelânea para falar sobre o campo da alfabetização é uma
irresponsabilidade. Ainda que Nadalim fale para pais, leigos, essa distorção é
de má fé.Em vez de esclarecer,
obscurece, distorce, simplifica.
Atacar essas diferentes perspectivas –
a perspectiva do letramento e a perspectiva construtivista – como se fossem uma
coisa só, contrapondo-as, em conjunto, ao método fônico, é uma aberração
teórica, uma total imprecisão conceitual, e um modo altamente simplório de ver o
campo da alfabetização hoje, que conta com diferentes concepções em conflito ou
em diálogo. Confundindo numa coisa só concepções diversas, ele achata um campo
complexo reduzindo-o a uma disputa binária – todas elas, igualadas e
polarizadas, em conjunto, ao método fônico, apresentado como uma farcesca
novidade. Mesmo em diálogo (nem sempre, mas frequentemente), essas perspectivas
que ele ataca, amalgamadas, não são equivalentes, e a serem colocados no mesmo
saco. Há grandes diferenças. Um artigo de Mortatti, de 2010, aborda isso muito
bem. Porque, sim, essa reedição da defesa do método fônico não começou com
Nadalim, com esse governo, há uma tentativa antiga, desde o início dos anos
2000, de enfrentamento da perspectiva fônica em relação à hegemonia do
construtivismo nas políticas públicas. Esse enfrentamento, por vezes chama ao
diálogo com pesquisadores que colocam foco na perspectiva fônica – e temos
mesmo que debater –, mas, na maioria das vezes, associando-se a fônica
exclusivamente ao método fônico, chama ao confronto polarizado e desrespeitoso
com os pesquisadores de outras perspectivas. Como já era, antes, com João Batista Araújo e Oliveira (Instituto Alfa e Beto) e os Capovilla - e aqui, nesse outro artigo, de 2008, Mortatti aborda essa questão, analisando a proposta de Capovilla. E é desse lado que está o
secretário, insuflando, como nenhum outro, a animosidade. E sem argumentos sólidos, sem conhecimento de causa, sem estudo próprio...
A despeito de esclarecimentos
recorrentes de autores consagrados no campo, inclusive especialistas da
história dos métodos e concepções de alfabetização, no vídeo, Nadalim mistura
construtivismo e letramento a todo momento, como se fossem sinônimos. Os
estudos do letramento são estudos que não vieram associados à teoria
construtivista nem à didática de cunho construtivista. Há uma tradição
internacional e nacional de estudos sobre o letramento, como estudos de Brian
Street, Shirley Heath, do New London
Group, dentre outros, e os estudos brasileiros de Ângela Kleiman, Leda
Tfouni, Silvia Terzi,Roxane Rojo, e
outros tantos autores, que em nada se aproximam da perspectiva construtivista. Letramento
diz respeito às práticas sociais de leitura e escrita, às situações comunicativas
e aos gêneros discursivos de diversas esferas dacomunicação humana e relaciona-se a uma
concepção de linguagem como interação social. Desde cedo, crianças que têm
oportunidade para tal se relacionam com muitas práticas letradas e aprendem
muito sobre os usos e funções da escrita em diversos gêneros de texto, podem
produzir discurso escrito, ainda que via oralidade, via escriba, e podem
compreender o discurso escrito, para além da decifração do escrito. Ignorar
essas aprendizagens é negar às crianças o acesso à cultura escrita, da qual
elas fazem parte, com a qual interagem, mais ou menos, a depender das
oportunidades familiares, sociais e escolares que têm para tal. Argumentar que
esse contexto é menos importante ou atrapalha a alfabetização é querer reduzir,
novamente, a linguagem a algo técnico, instrumental, neutro – bem ao gosto dos
interesses de quem não quer formar sujeitos conscientes e críticos, capazes de
ler, interpretar, compreender e se posicionar sobre os textos e sobre o mundo.
É importante ressaltar, no entanto, que não é o phonics que é, em si mesma, uma
perspectiva conservadora, necessariamente, ou até uma espécie de “complô da
direita”, massim o modo como essa
ênfase na fônica se dá, sob que organização discursiva e, sobretudo, ao ser alçada
não apenas a assunto educacional, mas a assunto político e religioso, como é o
caso (o e-book de Nadalim, de 2015, refere, na introdução, a um suposto recebimento
de sinal de Santa Teresinha do Menino Jesus que o iluminou a seguir o caminho
que seguiu na educação. E além de todas as motivações políticas e editoriais
que envolve, é digno que nota que ele refere, igualmente, ao “Curso Online de
Filosofia”, de Olavo de Carvalho, que, no cenário político atual, o indicou ao
MEC).
Ou seja, gente, está difícil de
engolir essa forçação de barra para letramento virar sinônimo de construtivismo.
No próximo post, continuação deste, analisaremos mais a fundo essa confusão de
letramento e construtivismo, pois é uma premissa equivocada básica para o
letramento ser tachado como o vilão da alfabetização.
Tenho pesquisado e desenvolvido, desde 2001, como formadora de professores, um acervo de materiais e jogos de apoio ao trabalho de alfabetização, que abrangem a apropriação do sistema de escrita alfabética em diversos aspectos, considerando tanto a sua base fonológica como o processo de alfabetização em contexto de letramento.
Comecei a pesquisar e a desenvolver materiais para utilizar nas minhas aulas de metodologia de alfabetização e, hoje, já como professora da Universidade Federal da Bahia, esse trabalho passou a se constituir em uma pesquisa do Geling - Grupo de pesquisa do qual faço parte na Faculdade de Educação, de 2016 a 2019, articulada ao ensino e à extensão e atualmente constituem os acervos do LAP - Laboratório de Acervos e Práticas, que coordeno na FACED/UFBA.
Trata-se de materiais e jogos confeccionados artesanalmente, mas com muito cuidado estético e funcional, alguns inventados, alguns adaptados de jogos conhecidos, outros criados a partir de propostas de atividades diversas e, ainda, outros confeccionados a partir de ideias advindas de outras pessoas. Devo a Mary Arapiraca, professora e orientadorade meu mestrado e doutorado, o gosto pela alfabetização, pelo riso na escola, pelo incentivo a essa iniciativa.
Devido à boa aceitação desses materiais pelos alunos, por professores alfabetizadores em geral e pela comunidade acadêmica, fui, ao longo do tempo, desenvolvendo oficinas para estudantes de Pedagogia, professores em atividade e coordenadores pedagógicos, com o intuito de divulgar os materiais, sua base teórico-metodológica e de propor a produção de kits desses materiais didáticos pelos interessados.
Esse blog foi criado para apresentar esses materiais, as reflexões e produções em torno deles, regras, variantes, propostas, planos de atividades a partir deles, indicar os livros e textos a partir dos quais são propostos, bem como para trocar informações e divulgar eventos e oficinas de produção que venho desenvolvendo ao longo desses anos, fruto de pesquisa constante.
Algumas das fotos postadas são de materiais de meu acervo pessoal, outras, de materiais produzidos pelas alunas das Oficinas, sob minha orientação. Vale ressaltar que alguns dos materiais produzidos ao longo do tempo foram adaptados pelas alunas em alguns aspectos, outros propostos por elas, em um enriquecimento constante das propostas que fiz a princípio. Aprendo com elas também. A criatividade das pessoas com as quais venho interagindo, as dicas que vêm do uso dos materiais em classes singulares nas quais lecionam e as ideias que surgem no próprio desenrolar das Oficinas, são fontes riquíssimas de pesquisa.
Espero que essa ferramenta - esse blog - possa favorecer novas trocas e boas discussões sobre jogos para alfabetização, materiais, atividades que se preocupam com o letramento, com o acesso mais amplo à cultura escrita e que enfatizam a literatura, a tradição oral, a brincadeira com a linguagem.
Outras coisas, como breves comentários sobre alfabetização, indicações de livros, bem como poemas, parlendas, adivinhas, trava-línguas, cantigas, tirinhas, trechos de textos, essas ricas fontes que são a matéria prima dos materiais e suas razões de ser, farão também presença nessa página, nos inspirando, interpelando, provocando e lembrando-nos de que os materiais do acervo aqui apresentado, antes de se configurarem como materiais para alfabetizar, são constituídos de textos, discursos, inspirações, repertório de nossa cultura oral, escrita e visual, contexto de letramento...
EM TEMPO: eu apenas ensino a fazer e usar os materiais no contexto das oficinas e compartilho aqui com vocês, contando que possa ajudá-los a confeccionar seus próprios acervos. Não produzo materiais nem apostilas para venda, ok?
Meu blog sobre materiais, atividades e oficinas de produção de material para alfabetização, pela via dos jogos, literatura infantil e textos da tradição oral.
Sou Liane Castro de Araujo, graduada em Psicologia e em Pedagogia, professora da Faculdade de Educação da UFBA, atuando especialmente na área de alfabetização, tanto na graduação quanto no PPGE. Minhas atividades de ensino, pesquisa e extensão se relacionam com esse campo. Leciono, na Graduação, o componente Alfabetização e letramento e cuido também dos Estágios Supervisionados em Pedagogia. Em escola particular, fui professora, coordenadora e supervisora pedagógica nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, por muito tempo. Fiz especialização em Psicopedagogia (CETIS/SEDES) e Mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia. O acervo de jogos passou a fazer parte de uma pesquisa desenvolvida no GELING, meu grupo de pesquisa na FACED/UFBA, de 2016 a 2019. Essa pesquisa deu origem a outra, sobre os textos da tradição oral na alfabetização. Minhas atividades de ensino, pesquisa e extensão, a partir de 2019, acontecem articuladas ao LAP - Laboratório de Acervos e Práticas, que coordeno na FACED.
Reflexão fonológica em contextos lúdicos e letrados na Educação Infantil e ciclo de alfabetização (2017)
Textos da Tradição Oral na Alfabetização.
Clique na imagem para visualizar a brochura completa (pode fazer download)
PUBLICAÇÕES MINHAS
ARAUJO, Liane Castro de. Brincar com a linguagem: educação infantil “rima” com alfabetização? RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v. 11, n. esp. 4, p. 2325-2343, 2016. Disponível aqui: http://seer.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/9196/6087.
ARAUJO, Liane Castro de. Ler, escrever e brincar na educação infantil: uma dicotomia mal colocada. In: Revista Contemporânea de Educação, vol. 12, n. 24, p. 344-361, mai/ago de 2017. Disponível aqui: https://revistas.ufrj.br/index.php/rce/article/view/3578/pdf.
ARAUJO, Liane Castro de. Reflexão fonológica em contextos lúdicos e letrados na Educação Infantil e no Ciclo de alfabetização. In: VIEIRA, Juliane Ferreira; YAMIN, Giana Amaral. Um olhar para a sala de aula: reflexões e práticas de linguagem. São Carlos: Pedro & João Editores, 2017, p. 11-49. ISBN: 978-85-7993-409-4.
ARAUJO, Liane Castro de. Clic! E era uma vez: narrativas verbovisuais em histórias escritas por crianças. revista entreideias: educação, cultura e sociedade, Salvador, v. 5, n. 2, p. 55-74, jul./dez. 2016. Disponível aqui: https://portalseer.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/17361
ARAUJO, L. C. . Tá iquito aqui! Eventos de letramento e as práticas de leitura e escrita antes da alfabetização. In: Mary de Andrade Arapiraca; Lícia Maria Freire Beltrão; Cleverson Suzart Silva. (Org.). Estudos e passagens do Proinfantil na Bahia. 01ed. Salvador: EDUFBA, 2012, p. 55-70. Disponível aqui: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/16766.
Seguidores
Mãos que trabalham...
Vejam abaixo alguns flagras de mãos produzindo jogos e materiais em nossas oficinas, em momentos diversos... Cortar, colar, medir, riscar, plastificar, escolher, refazer, mostrar, trocar, ajudar, experimentar, finalizar, embalar, guardar...e prontos para usar!
As mãos não param! Momentos de aprendizagem e de prazer. E de ricas trocas.
Mãos que trabalham...
Apresentação em eventos
Jogos e materiais pedagógicos e a "reinvenção da alfabetização". II Congresso Brasileiro de Alfabetização (Conbalf). UFPE, Recife/PE,12 a 14 de julho de 2015
Jogos e materiais para alfabetização em contexto de múltiplos letramentos, I Seminário Nacional de Alfabetização e Letramento (I SENAL), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Itabaiana/SE, 18 a 21 de maio 2010.
Alfabetização e literatura: jogos e materiais para alfabetização em contexto de letramento literário, II SELED - Seminário de Estudos em Linguagem e Educação, UESB, Vitória da Conquista, 10 a 12 de novembro de 2011
Dezembro de 2006 - Mostra aberta de materiais e Jogos produzidos pelas cursistas do Projeto Salvador, turma 1.
2007.1 - Oficina de Produção de Material desenvolvida no Projeto Salvador, Licenciatura em Pedagogia Faced/UFBa, turma 2. Atividade opcional do currículo do curso.
fevereiro 2007 - Mostra aberta de materiais produzidos pelas cursistas do Projeto Salvador, turma 2.
2007.2 - Oficina de Materiais na disciplina Fundamentos da Educação Infantil I, ministrada por mim no curso de Pedagogia, Unijorge.
maio de 2008 - Mostra de materiais do acervo no Encontro de Psicopedagogia da Bahia, organizado pelo CETIS.
2008.1 - Oficina de Materiais nas disciplinas Alfabetização I e Tópicos Especiais, ministradas por mim, no curso de Pedagogia, Unijorge.
junho 2008 - Mostra de Materiais produzidos pelas alunas na III Mostra de Projetos Unijorge.
junho a julho 2008 - Oficina de Produção de Material para Alfabetização, Módulo I: Textos da tradição Oral, Centro de Desenvolvimento de Capacidades/Casa Via Magia. Com certificado. julho de 2008 - Mostra interna de materiais produzidos pelas alunas da Oficina, Casa Via Magia. agosto 2008 - Oficina de Produção de Material para Alfabetização, Módulo II: kits a partir de gêneros textuais diversos, Centro de Desenvolvimento de Capacidades/Casa Via Magia. Com certificado. outubro a novembro 2008 - Oficina de Produção de Materiais para Alfabetização, Módulo III: Jogos, Centro de Desenvolvimento de Capacidades/Casa Via Magia. Com certificado. 2008.1 - Oficina de Produção de Materiais na disciplina Alfabetização, do curso de Pedagogia, Faced/UFBa, ministrada pela professora Mary Arapiraca. 2008.2 - Oficina de Produção de Materiais nas disciplinas Alfabetização II e Práticas Investigativas Interdisciplinares II, Unijorge, ministradas por mim. 2009.1 - Oficina de Produção de Materiais na disciplina Alfabetização, do curso de Pedagogia, Faced/UFBa, ministrada pela professora Mary Arapiraca. 2009.2 - Oficina de Materiais na atividade Alfabetização, ministrada por mim, do curso de Pedagogia, Projeto Tapiramutá/UFBa, em Tapiramutá/BA. 18 a 21 de maio 2010 - Apresentação de artigo sobre os jogos e materiais, no I Seminário Nacional de Alfabetização e Letramento (I SENAL), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Itabaiana/SE Ver artigo em: http://www.slideshare.net/Licaraujo/jogos-e-materiais-para-alfabetizao-em-contextos-de-mltiplos-letramentos-4028745 junho 2010 - Oficina de Produção de Materiais, na disciplina Alfabetização, do curso de Pedagogia da Faced/UFBa, ministrada pela profa. Mary Arapiraca. setembro 2010 - Oficina de Materiais de Alfabetização (5h), no II SIEPE - Seminário Integrado Ensino, Pesquisa e Extensão, Faced/UFBa. novembro 2010 - Oficina de Materiais de Alfabetização e Oficina de Produção de Materiais, na disciplina Alfabetização, do curso de Pedagogia da Faced/UFBa, ministrada pela professora Raquel Nery. dezembro 2010 - Exposição de Jogos para alfabetizar, na Faced/UFBa. Materiais e jogos produzidos pelas alunas da disciplina Alfabetização, ministrada pela professora Raquel Nery, após Oficina de produção de Materiais. março 2011 - Oficina de Materiais para Alfabetização para professoras da Escola Santa Ângela das Mercês, pelo Laboratório de Epistemologia Genética & Práxis Pedagógica, Programa de Educação Tutorial (PET) em Pedagogia - Faculdade de Educação UFBa. abril 2011 - Oficina de Produção de Material, na disciplina Alfabetização, do curso de Pedagogia da Faced/UFBa, lecionada pela professora Mary Arapiraca.
agosto 2011 - Oficinas de Jogos e Materiais para Alfabetização (Literatura e Alfabetização). 11º Proler em Araxá/MG: "Leituras literárias: sujeitos, linguagens e diversidade". Biblioteca Pública Municipal Viriato Corrêa/Araxá.
setembro 2011 - Oficina: Literatura e Alfabetização: jogos e materiais para alfabetização e letramento literário. II Encontro de Leitura e Escrita do Geling (ELEGE), Faced/UFBa.
outubro 2011 - Oficina: Jogos e Materiais para Alfabetização em contexto de Letramento Literário. II Jornada Pedagógica do DEDC I/UNEB
novembro 2011 - Oficina de Materiais de Alfabetização e Oficina de Produção de Materiais, no componente Alfabetização, do curso de Pedagogia da Faced/UFBa, ministrada pela professora Raquel Nery.
10 a 12 de novembro 2011 - Apresentação de artigo intitulado: "Alfabetização e literatura: jogos e materiais para alfabetização em contexto de letramento literário" no II SELED - Seminário de Estudos em Linguagem e Educação, UESB, Vitória da Conquista.
abril 2012 - Oficina de Materiais de Alfabetização para alunas do 3o semestre do curso de Pedagogia da Faculdade da Cidade do Salvador.
outubro 2012 - Palestra sobre Alfabetização e Letramento em EJA, com utilização de materiais a partir de textos da tradição oral: advinhas, provérbios, quadras, para alunos de 7o semestre do curso de Pedagogia da Faculdade da Cidade do Salvador.
novembro 2012 - Oficina de produção de materiais para alunos do 7o semestre do curso de Pedagogia das Faculdades da Cidade do Salvador.
maio 2014 - Oficina Jogando e Aprendendo na Alfabetização. Centro Universitário Unijorge.
dezembro 2014 - Oficina de produção de materiais para Alfabetização, no componente EDCB85 - Alfabetização e letramento, do curso de Pedagogia da Faced/UFBA, ministrada pela professora Raquel Nery.
junho 2016 - Oficina de produção de materiais para Alfabetização, no componente EDCB85 - Alfabetização e letramento, do curso de Pedagogia da Faced/UFBA, ministrado por mim.
6 e 7 de fevereiro 2017 - Oficina de Produção de jogos e materiais pedagógicos para alfabetização, 12h. Curso de supervisores e formadores do PNAIC-MAIS PAIC/CE, Universidade Federal do Ceará.
26 de abril a 10 de maio de 2017 - Oficina de Produção de jogos e materiais pedagógicos para alfabetização, 12h. Atividade de extensão, Faced/UFBA, ligada à pesquisa desenvolvida no Geling: "Jogos e materiais pedagógicos na alfabetização".
13 de maio a 27 de maio de 2017 - Oficina de Produção de jogos e materiais pedagógicos para alfabetização, 12h. Atividade de extensão, Faced/UFBA, ligada à pesquisa desenvolvida no Geling: "Jogos e materiais pedagógicos na alfabetização".
27 de outubro de 2018 - Oficina de Produção de jogos e materiais pedagógicos para alfabetização, módulo Textos da tradição oral, para o Núcleo de Alfabetização e Letramento de Lagoa Santa/MG. Secretaria Municipal de Lagoa Santa/MG.
29 de novembro a 13 de dezembro de 2018 - Oficina de Produção de jogos e materiais pedagógicos para alfabetização, 12h. Atividade de extensão, Faced/UFBA, ligada à pesquisa desenvolvida no Geling: "Jogos e materiais pedagógicos na alfabetização".
Cartaz Módulo I
Oficina em 2008
Cartaz Módulo II
Oficina em 2008
Cartaz Módulo III
Oficina em 2008
Bibliografia Indicada
ALBUQUERQUE, Eliana Borges. Alguns fundamentos da alfabetização. Seminário Temático, PRADEM, Salvador: UFBA/FCM, 2004
AZENHA, M. G. Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro. 7 ed. São Paulo: Ática, 2001.
BRANDÃO, A.C.P.; ROSA, E.C.S. (orgs.). Leitura e produção de textos na alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Disponível em:http://www.ceelufpe.com.br/e-books/Leitura_Livro.pdf
BRASIL. MEC. SEF. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) - Coletânea do Professor e material videográfico. Brasília: 2001
CAGLIARI, Luiz Carlos; MASSINI-CAGLIARI, Gladis. Diante das Letras: a escrita na alfabetização. Campinas: Editora Mercado de Letras, 1999
CAGLIARI, Luís C. Alfabetização sem ba-be-bi-bo-bu. SP: Scipione, 1999.
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Dica
Manual do CEEL sobre jogos na alfabetização
Mais uma dica
Livro fundamental sobre Alfabetização, com capítulo sobre jogos
Outras publicações do CEEL
http://www.portalceel.com.br/
Almanaque Paralapracá
Organizado por José Carlos Rêgo (Pinduka), para o projeto Paralapracá, do Instituto C&A, voltado para a Educação Infantil.
Estação Paralapracá
Organizado por José Carlos Rêgo, para o projeto Paralapracá, do Instituto C&A
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