Lince
O que tem nesta venda?
.
Oi, gente,
Vou mostrar para vocês em breve um jogo que fiz a partir do livro “O que tem nesta venda?”, de Elias José. É da Editora Paulus, Coleção Ler Brincando (antigamente coleção Patati Patatá), e tem ilustrações de Rogério Coelho. Mas antes, vamos falar um pouco do livro e de suas possíveis explorações. Trata-se de um texto poético que propõe brincar com as rimas, com as palavras. Segue o texto abaixo, só para a compreensão do material proposto. Mas indico a leitura com as crianças no próprio livro, mostrando as ilustrações. Além de ser importante o contato com o próprio livro, é legal depois ele poder ser folheado, “relido”, retomado.
.
O que tem nesta venda?
Elias José
Fui à venda comprar ricota.
Como não tinha, comprei torta.
Fui à venda comprar rabanete.
Como não tinha, comprei sabonete.
Fui à venda comprar leque.
Como não tinha, comprei pé-de-moleque.
Fui à venda comprar chá-mate.
Como não tinha, comprei tomate.
Fui à venda comprar mola.
Como não tinha, comprei cola.
Fui à venda comprar disquete.
Como não tinha, comprei chiclete.
Fui à venda comprar uma bola.
Como não tinha, comprei carambola.
Fui à venda comprar papel.
Como não tinha, comprei pastel.
Fui à venda comprar alho.
Como não tinha, comprei baralho.
Fui à venda comprar repolho.
Como não tinha, comprei molho.
Fui à venda comprar sapato.
Como não tinha, comprei pato.
Fui à venda comprar borracha.
Como não tinha, comprei bolacha.
Fui à venda comprar marmelada.
Como não tinha, comprei torrada.
Fui à venda comprar compasso.
Como não tinha, comprei cadarço.
Fui à venda comprar mala.
Como não tinha, comprei bala.
Fui à venda comprar pandeiro.
Como não tinha, guardei o dinheiro.
Fui à venda comprar apontador.
Como não tinha, comprei grampeador.
Fui à venda comprar caqui.
Como tinha, comprei e comi.
Fui à venda comprar amendoim.
Já está na hora de pôr um fim.
Que a rima não o prenda
Ao falar das compras na venda.
O Lince, por sua vez, é um jogo conhecido, da Grow, cujo tabuleiro tem um monte de figuras pequenas espalhadas, que devem ser encontradas pelos jogadores, no caso do jogo original, a partir de pequenas fichas sorteadas, com as mesmas figuras. Há algumas adaptações no mercado, mas todos mais ou menos nessa mesma linha.
Originalmente, é um jogo de acuidade e percepção visual, atenção e agilidade. Entretanto, aqui, no contexto da alfabetização, ele foi adaptado para favorecer, além desses desafios, a reflexão fonológica e o reconhecimento de palavras (leitura).
Entretanto, antes de jogar o jogo do Lince “O que tem nesta venda”, é preciso ter lido o livro, brincado com ele e, por isso, nesse primeiro post vou dar algumas sugestões de exploração do livro e, em seguida, vou fazer o post sobre o jogo Lince “O que tem nesta venda”? com fotos do jogo e a apresentação de suas formas de jogar, certo?
Sugerimos, então, após apresentar o livro, fazer uma primeira lida com boa entonação, levando as crianças a perceberem as sonoridades, e depois uma lida parando na segunda rima, para os alunos completarem oralmente, com a rima que o livro propõe, ou com outras, como palhaço, braço, abraço, para rimar com compasso e cadarço. Assim vão surgindo novas rimas...
Brincar de falar outras rimas, além das do livro é bem interessante, pois, em si, já é uma atividade de reflexão fonológica sobre rimas, como a brincadeira de “lá vai a barca carregadinha de ______ (feijão): agrião, avião, caminhão, sabão, melão, mamão, pão...”. Pode-se fazer isso apenas oralmente e, depois, dependendo do nível do grupo, listar essas palavras sugeridas por escrito, para fazer atividades diversas de reconhecimento de palavras, como reconhecer uma palavra indicada entre todas, agrupar as palavras que rimam, analisar semelhanças e diferenças, dentre outras propostas.
A rima é uma unidade sonora à qual as crianças são muito sensíveis, desde pequenas. Nessas atividades a criança precisa prestar uma atenção mais deliberada às rimas, constituindo-se em boas atividades de consciência fonológica. A consciência fonológica pode incidir sobre diferentes unidades, rimas, palavras, partes de palavras, sílabas, unidades inter e intrasilábicas e fonemas, quando é então chamada de consciência fonêmica. A rima é a forma mais elementar de consciência fonológica, mas muito interessante para favorecer a familiaridade com a reflexão sobre os sons da língua e, posteriormente, suas representações por escrito. Além disso a rima é matéria da poesia e da linguagem em geral.
A reflexão fonológica favorece a apropriação da leitura na medida em que o nosso sistema de escrita é de base fonológica e as descobertas das sonoridades podem ajudar, em outros contextos, as associações entre sons da língua e os signos da escrita. Através de atividades com poemas, trava-línguas e jogos fonológicos, as crianças vão sendo convidadas a ampliarem suas possibilidades de reflexão fonológica ludicamente, desde rimas a fonemas.
Quanto ao livro de Elias José, sugiro também a ampliação do texto, oralmente de início, com propostas de outros produtos para a venda. O texto permite essa criação livre, apoiada na estrutura repetitiva dos versos. Dependendo do grupo, pode-se propor depois também a produção escrita (coletiva, com o professor escrevendo no quadro ou individual e em duplas). Assim, poderíamos ter o professor iniciando: “Fui à venda comprar feijão. Como não tinha, comprei _______”. (os alunos completam oralmente com algo que rime com feijão: /ão/). O professor pode listar para si mesmo uma série de rimas que não aparecem no texto para sugerir ao grupo. Por exemplo: /igo/: trigo, umbigo, amigo...; /orte/: sorte, morte, corte, serrote...; /ia/: melancia, pia, alegria; /ento/: cimento, vento, assento, coentro (as rimas podem ser perfeitas ou não, vale também as rimas toantes, em que só se repetem os sons das vogais, não das consoantes, como em “ricota” e “torta”, no livro).
Pode propor também os próprios alunos sugerirem ambas as palavras: “Fui à venda comprar _______. Como não tinha, comprei _______”. Não importa se o “produto” for imaterial, como amor, morte, saúde... Afinal, é poesia, né? Nesse caso, para constarem no Lince, esses produtos têm que ser representados por algum símbolo, combinado no grupo – o que em si é uma boa atividade – como, por exemplo, usar um coração para representar a palavra amor, uma cruz para a morte, um sorriso para a alegria...
A partir das rimas surgidas nessas atividades de produção textual, oral e/ou escrita, pode-se montar outro tabuleiro de Lince – além do original, só com as rimas do livro –, mais amplo, com mais figuras, mais cartas de indicação e mais fichas de palavras, tornando o desafio ainda maior. Desse modo, o texto lúdico-poético do livro, as atividades propostas e os jogos de alfabetização articulam-se ainda mais, ampliando a leitura do livro, sua apreciação, sua fruição estética e literária, o jogo das sonoridades, ao mesmo tempo em que se trabalha a reflexão sobre aspectos do sistema de escrita alfabética. Oralidade, alfabetização, letramento literário... tudo articulado. Não é esse o caminho metodológico que queremos?
É isso, gente!
Aguardem o post do Lince, o jogo ficou bem legal!