sexta-feira, 24 de maio de 2019

Alfabetizar em 5 etapas - POST 1

Introdução

Olá, minha gente,
Enquanto aguardamos a Política Nacional de Alfabetização, sigo analisando o material proposto por Carlos Nadalim, o Secretário de Alfabetização no MEC. Nas próximas duas postagens falaremos do E-book de Carlos Nadalim, "As 5 Etapas para Alfabetizar seus Filhos em Casa - O Guia Definitivo", que foi feito para os pais alfabetizarem seus filhos em casa, apresentado como um guia milagroso, um tesouro revelado. Então, sigo na minha luta que é partilhar posições com professores e estudantes de pedagogia, mobilizar o debate com os colegas e trocar conhecimentos, para contribuir com a discussão na detecção de argumentações distorcidas e equivocadas que tentam, nessa querela atual no campo da alfabetização, nos empurrar.

E porque vale analisar o E-book de Carlos Nadalim, se não é isso que baseará a Política Nacional de Alfabetização do MEC? Sim, há gente mais competente na Secretaria da Alfabetização, embora todos de abordagem fônica. Volto a dizer que importa entendermos quem está à frente da Secretaria e, embora o E-book seja anterior a essa gestão, e seja um livro para pais, como o título mesmo já indica, foram essas “produções” de Nadalim que, junto a sua “fama” de youtuber e o apreço do guru influenciador do governo, que o alçaram à posição em que está, justamente por sua visão da alfabetização.

Não sei se temos como esperar ponderações dessa Secretaria, a não ser que as argumentações e deliberações de especialistas de verdade, ainda que de perspectiva fônica, se sobreponham às dele e o canal do diálogo não se feche no obscurantismo. Acho que não será obscurantista, mas será impositivo e reducionista. Afinal, esses especialistas, embora falem de um lugar fundamentado e não de um delírio, como é o caso do próprio secretário, eles também trazem perspectivas que, do ponto de vista de uma outra concepção, são complicadas. Ao se apoiarem em pesquisas em língua estrangeira e procedimentos metodológicos adotados em outros países, sem ressalvas, por exemplo, desconsideram o contexto brasileiro, bem como outras pesquisas nacionais e internacionais não aderentes a esses argumentos. Mas Nadalim não só desconsidera, ele despreza a pesquisa realizada no Brasil – seja de pesquisadores da ciência da leitura, seja de outras perspectivas – e qualquer pesquisa que não seja de seus pares e de natureza experimental. Distorce, mal intencionadamente, os argumentos e posicionamentos de pesquisadores e autores que não se alinham a sua perspectiva, e mesmos os que se alinham, colocando foco apenas nas partes que lhe interessa criticar ou ressaltar. Desconsidera também as especificidades da língua portuguesa e seu grau de transparência, que é diverso dessas outras línguas das pesquisas internacionais e, por isso, nem sempre os mesmos processos são aplicáveis ipsis literis. Ainda que todas as línguas alfabéticas se baseiem no princípio alfabético, e os processos sejam análogos, é muito diferentes alfabetizar numa língua transparente como o finlandês e  em uma língua opaca, de profundidade ortográfica tão intensa quanto o inglês

E, por fim, ele tem toda a retórica de quem “vende” milagre.

É inacreditável já a capa do E-book: diz lá: Guia Definitivo (sic!!!). Nunca vi tamanha pretensão! Ô povo que tem mania de grandeza esse povo aluno do guru que também se acha o suprassumo da inteligência,#sqn. É recorrente em seus vídeos e sua escrita a busca por validar seu ponto de vista, a necessidade de dizer que está habilitado para defender x ou y, numa evidente e flagrante “conversa” com contrapalavras dos que sabem que ele, de fato, não está validado para tal (se tem dúvidas, consulte o texto em vermelho no POST 4 da série que analisa o vídeo “Letramento, o vilão da alfabetização”).

Eis a capa:
E vamos ao milagroso guia de 5 passos e 20 páginas – sim, porque fora os pré-textuais iniciais e os depoimentos finais laudatórios ao blog, ao canal do youtube e aos cursos de Nadalim – são apenas cerca de 20 páginas, e 20 páginas com letras e margens bem grandes, pouquíssimo texto em cada. 

O “livro” se inicia anunciando-se como uma alternativa simples para “livrar os filhos” da situação terrível da escola e “remediar” essas falhas. Livrar! Ele realmente se acha o Vingador, o super-herói da alfabetização... O jeito de começar já diz muito sobre este senhor e sua perspectiva. Depois, ele mesmo valida sua capacitação para formar leitores hábeis, dizendo de sua experiência (!!!) na escola de sua mãe, e os depoimentos de pais que “comprovam” sua habilidade. Conclui ele: “Portanto, conheço o passo a passo para formar um leitor hábil”.  Não sei se essa gente é só oportunista ou se têm mesmo transtorno doentio de grandeza.

Segue fazendo questão de afirmar o papel de Olavo de Carvalho em sua quase “missão”, e vem contando um monte de coisas pessoais e apelando para a religiosidade, indicando um sinal de Santa Teresinha para justificar sua opção pela escola, em vez da universidade: “Carlos, retire-se da universidade, porque o seu lugar não é aí, e vá ao encontro das crianças”. Realmente, só apelando para os santos, para um pavão justificar não ter condições de uma vida acadêmica. Quanto ressentimento!

E, então, confessando não saber NADA de educação, a partir desse sinal foi para a escola da mamis dele e buscar tutela de Luiz Carlos Faria (logo se entende de onde vem tanto obscurantismo e animosidade). Passa a contar de seus estudos e sua aplicação na escola de sua mãe. Afffeee... E, por fim, diz: “Três anos depois, eu já tinha um método de alfabetização e de pré-alfabetização comprovado, eficaz, para alfabetizar crianças de 3 a 6 anos”. Noooooossaaaa!!! Que iluminação!!! E, nisso, já estamos na página 08...

A parte que se segue a essa introdução pessoalista e espiritual chama-se: “Métodos ineficazes: conhecendo o inimigo”. Gente, dá vontade de rir...Gregório Duvivier! Veja, aqui tem piada pronta pra você!!!

De forma bastante simplória, rasa e valorativa, ele começa a descrever o método global e, depois, o método silábico, os tais inimigos! Quanto aos globais, a descrição que ele faz é apenas do global ideovisual, silenciando sobre outras abordagens analíticas que não tem NADA de leitura pela percepção gráfica do todo da palavra. Esse silenciamento é, de seu ponto de vista, bastante providencial, pois lhe serve para desqualificar outras perspectivas, ao associar método global a letramento, a construtivismo, colocando – como o faz no vídeo que analisamos – tudo no mesmo saco. Seja equívoco de fazer vergonha, seja estratagema mesmo, o fato é que a baboseira simplista não tem par.

Quanto ao método silábico, que, embora reconheça como melhor do que o global, ele taxa como ineficaz. Bom, lembrando que não se trata aqui de defender o método silábico tradicional, já que trata-se de um método de base empirista, associacionista, mecanicista, vou no entanto, questionar os argumentos usados para a crítica dele ao método. Primeiro, ele confunde método alfabético com silábico, pois o método que parte do nome das letras como unidade de formação das sílabas não é o silábico, mas o alfabético, ou o método da soletração – aquele do bê-a-ba. O método silábico parte das sílabas completas BA-BE-BI-BO-BU para formar as palavras. Mesmo que se ensine as letras (que método não as ensinas?), não são elas o ponto de partida, nesse caso. Primeiro equívoco conceitual. Grande! E mesmo assim ele estampa em negrito o seu erro, enfatizando-o e repetindo-o: “O erro fundamental do método silábico é estabelecer essa falsa correspondência entre o nome de uma letra e o seu valor fonológico, ou seja, o seu som.” O método silábico não é isso e tanto as pesquisas quanto a empiria mostram que é frequente que as crianças abstraiam os fonemas a partir das sílabas, que é uma unidade sonora menos abstrata para elas do que o fonema, que é uma representação mental do som, e não um som. A mínima emissão sonora é silábica, não fonêmica. E talvez por isso mesmo, os procedimentos silábicos, especialmente no contexto dos métodos mistos, tenham tido uma longa história na alfabetização no Brasil, eles aproximam a grafia de sua emissão sonora de uma forma mais “natural”, menos artificial, pois a consciência silábica é bastante natural em nossa língua. Já a segmentação fonêmica é o sistema alfabético que destaca. Os procedimentos silábicos são importantes, sim, e ele mesmo coloca a consciência silábica em uma das 5 etapas de seu guia.

Ou seja, aqui nessa parte só vi argumentos críticos que são mais ao método alfabético, de soletração. Mas voltaremos a essa questão da sílaba quando falarmos das 5 etapas.

A parte seguinte do Guia intitula-se: “Métodos eficazes: dominando o princípio alfabético”.  E ele inicia dizendo: “O núcleo dos métodos mais eficazes de alfabetização é o chamado domínio do princípio alfabético. O princípio alfabético é o coração dos métodos fônicos”.

Bom, nessa afirmação, aparentemente singela, esconde-se uma premissa completamente equivocada: parece que ele acredita que só o método fônico aborda o princípio alfabético. Como já discutido no POST 2, sobre o vídeo de Nadalim, o princípio alfabético é o princípio que rege nosso sistema de escrita. Não se trata de exclusividade de um ou de outro método. Diferentes métodos chegam ao princípio alfabético por diferentes vias. O fônico foca as relações entre fonemas e grafemas como ponto de partida, mas o princípio alfabético, chave da decifração do escrito, não é propriedade do método fônico, e nem mesmo da abordagem fônica, dependendo do que se considere como essa abordagem. Se estratégias fônicas são as estratégias que levam as crianças a compreenderem as relações entre fonemas e grafemas, elas podem ser usadas em qualquer outro método, inclusive o silábico. Ou seja, é uma barbaridade considerar que esse princípio só está presente e enfatizado no método fônico – é um princípio do sistema! Não do modo de ensiná-lo. É um princípio, não um procedimento exclusivo de um método. A questão é que o método fônico toma esse princípio como ponto de partida e põe grande ênfase na relação fonema/grafema em seus procedimentos, propondo ensiná-las desde muito cedo e de forma bastante artificial. 

Bom, mas ele segue argumentando que “o princípio alfabético consiste em converter, conscientemente, grafemas em fonemas. Isso significa que as crianças precisam converter os sinais gráficos (letras) em seus valores fonológicos (sons)”. E então ele se pergunta – “E como fazê-lo?” E responde: “Primeiro é necessário ensinar às crianças os valores fonológicos das letras, ou seja, os seus sons. Infelizmente no Brasil se faz o contrário: apresenta-se primeiro o alfabeto, o nome das letras, as formas das letras, e assim por diante”.
Oxe! Como é que se ensina os sons das letras, sem que as crianças conheçam as letras e a metalinguagem para se referir a elas (seus nomes)? E que “som” é esse que não tem existência concreta na emissão oral? Vamos vendo...

E ele continua, trazendo o maior equívoco de sua argumentação: “Mas pensemos bem: tanto logicamente, quanto cronologicamente, o som precede a letra que o representa. A realidade sonora, de fato, é anterior à sua representação gráfica. Logo, é evidente que devemos obedecer a essa ordem no processo de alfabetização”.

Geeeeente, isso é uma asneira sem tamanho e sem fundamento! Nem na ciência da leitura, nem nos autores que ele mesmo se apoia, vocês leriam tal afirmação. E ele repete isso algumas vezes ao longo do Guia. “O som precede a letra que o representa” – onde isso? O que é “preceder”? Claro que a linguagem oral precede a escrita e as palavras faladas precedem a sua grafia (e mesmo assim, a escrita reorganiza a fala, fornece um modelo de análise da fala). Mas o som da letra isolada não precede à escrita, justamente porque o fonema não é um som, é uma unidade abstrata, não tem realidade sonora concreta, não tem realidade isolada, nem mesmo é pronunciável isoladamente (apenas de forma artificial). Até José Morais, que ele idolatra, insiste nesse ponto. Como já argumentado, a menor unidade natural de emissão sonora é a sílaba, não o fonema, quando segmentamos a fala em unidades menores, essa emissão é silábica: MA-CA-CO. E nossa língua é extremamente silábica – aliás, diferente do inglês. Não existe realidade sonora do fonema previamente à escrita, o fonema é uma unidade que a estrutura alfabética é que destaca, que chama a atenção, não estando previamente na mente do sujeito. É abstrata, uma unidade mental, não sonora, e mesmo o “fone”, esse som das letras, não é natural. Para Nadalim, por não ser, deve ser treinado, justo por não ser.  Tem que meter guela abaixo, previamente à escrita alfabética interpelar a criança, antes mesmo de tornar-se uma necessidade. Como pode isso?

Como as unidades sublexicais fonêmicas não são produzidas como unidades isoladas, mas sim em um fluxo contínuo, está certo que é preciso que tomemos consciência delas, mas isso de ser uma consciência prévia à escrita, um pré-requisito para aprender o sistema alfabético, isso já não se sustenta. A despeito dessa ideia de pré-requisito da consciência fonêmica para se alfabetizar ser uma das vertentes na análise da relação entre consciência fonêmica e aprendizado da língua escrita, o que as pesquisas tendem a indicar é que é o processo de alfabetização que garante a consciência do fonema. A tendência dos pesquisadores, mesmo da perspectiva cognitiva à qual Nadalim se alinha, é a de colocar a compreensão do sistema alfabético e a consciência fonêmica como numa relação de causalidade recíproca, não de pré-requisito, como ele apresenta. Aliás, a consciência dos fonemas tende mais a ser consequência da alfabetização do que pré-requisito para ela. A causalidade recíproca significa dizer que há elementos necessários para se alfabetizar e outros cuja alfabetização é que permite, um influenciando o outro. Vejam o que diz José Morais, importante autor no campo da ciência da leitura, guru de Nadalim, em "A arte de ler": 
Numa palavra, a consciência fonêmica e o conhecimento do código alfabético surgem simultaneamente. Nenhuma é a ‘causa’ da outra. Entretanto, veremos que elas se influenciam e se reforçam mutuamente. Juntas, elas contribuem para o sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita (MORAIS, 1996, p. 176) (Ver nota 1). 

Ou seja, Nadalim está defendendo algo, com tanta firmeza, que nem seu queridinho José Morais defende!!! Outros tantos autores, como Byrne (1995), por exemplo, insistem nesse ponto, de que a consciência fonêmica e o conhecimento da relação letra-fonema atuam de maneira complementar para a apropriação do funcionamento alfabético. A conclusão de Nadalim quanto a essa argumentação em seu E-book é completamente equivocada. Ele conclui: “portanto, em primeiro lugar, as crianças devem aprender, por meio da experiência auditiva, os sons que compõem o nosso sistema alfabético”, argumentando, como já referido, ser esse o caminho natural, lógico e cronológico. O mais natural, lógico e cronológico seria apresentar os “sons” sem as letras? Previamente às letras? Em abstrato? Não! E olha, isso aí, que no início é só citado, mais adiante aparece como orientação proibitiva: “Inicialmente, não ensine às crianças os nomes das letras e o reconhecimento visual delas, mas os sons das letras”.

José Morais, dentre outros (cito ele justamente pelo lugar que ele ocupa como queridinho de Nadalim...), afirma que só tomamos consciência dos fonemas consonantais – unidade muito abstrata – porque são representados pelas letras do alfabeto. Ele analisa pesquisas que mostram que a análise fonêmica sem o respectivo conhecimento das correspondências entre as letras e os “sons” (os fones) não é tão eficaz e potente quanto quando esses dois elementos vêm juntos.  E diz: “[...]  o treinamento para a análise da fala em fonemas é pouco eficaz se não tornarmos explícita sua relação com os signos escritos” (MORAIS, 1996, p. 177). No seu livro “A arte de ler” (MORAIS, 1996, p. 175-176), bem como em outros textos seus (aliás, ele indica lá um artigo em inglês que trata especificamente desse argumento), ele argumenta explicitamente que os adultos iletrados (não alfabetizados) não têm consciência dos fonemas, pois, ao que parece, a consciência fonêmica não precede a aprendizagem da leitura, ou melhor, não precede a algum conhecimento, mesmo que parcial, do “código” que relaciona fonemas e grafemas. Diz ele, mais adiante, que expostas ao alfabeto é que as crianças interrogam sobre as correspondências fonêmicas das letras – inclusive nas relações familiares. Outros autores (dentre os quais BRAD­LEY e BRYANT, 1983) discutem que há pesquisas de intervenção didática que mostram – assim como as pesquisas experimentais controladas citadas por Morais – que as situações de reflexão fonológica, e fonêmica em especial, realizadas paralelamente à reflexão so­bre a notação escrita são mais produtivas do que as que não fazem tal articulação, investindo na consciência prévia dos fonemas. Ora, isso tudo é, justamente, contrário ao argumento de Nadalim. Percebem?

E olha que aprendizagem mais mecânica essa de aprender primeiro pela experiência auditiva “sons” que compõem o sistema alfabético! Nadalim, com a indicação desse procedimento, se filia a um método fônico bem mecânico, bem tradicional, sintético, que é diferente do que propõe contemporaneamente e cientificamente a ciência da leitura. Ademais, pesquisas – inclusive de autores da ciência cognitiva da leitura – mostram que os NOMES das letras dão pistas sobre seus sons e contribuem, assim, para as crianças descobrirem os seus valores sonoros, na alfabetização inicial – bem ao contrário do que ele afirma. Uma brasileira, Claudia Cardoso-Martins, de perspectiva cognitiva, considerada por José Morais, tem estudos sobre essa questão dos nomes das letras, bem como outros autores estrangeiros da ciência da leitura. Mas uma pesquisadora, mulher, brasileira, não teria a atenção dele, né?

E mais ainda, as letras do alfabeto fazem parte das práticas sociais, estão nos livros, no ambiente, nos jogos, nos imãs de geladeira,  nos outdoors, nas placas, na mesa do café da manhã, em seus nomes gravados em seus pertences...estão por todo lado! As crianças se interessam por elas, querem saber sobre elas, seus nomes, suas formas. Vamos criar situações artificiais (não sociais) de esconder as letras ou fugir das curiosidades das crianças, para esperar aprenderem a pronunciar fonemas isolados a troco de nada? Loucão isso! Situação altamente controlada em contexto familiar?! Socorro! O natural é fazer de conta que as letras não existem, para que primeiro se apropriem desses “sons” isolados que, sem as letras, não fazem nenhum sentido para as crianças???? Qual o propósito de ensinar o valor sonoro da letra F sem falar em letra, mas “soprando uma vela: fffffffff” (!!!)? Nadalim, que tal brincar, só brincar, de “Farofa feita com muita farinha fofa faz uma fofoca feia”? Que tal em vez de falar em isolar fonemas, chamar a sua atenção pela repetição (aliteração)? E que tal observar com as crianças que, justamente, esse som que se repete e trava a língua, aparece no texto escrito também repetido – “Ah, pró! É a letra F!!! Ela é que faz travar a língua”. Que bobagem isso de não apresentar as letras! Vai esconder a criança do mundo letrado? Das inúmeras escritas? Fazer cara de paisagem se elas perguntam? Valha-me! Não só quer que a pesquisa experimental guie o ensino, sem outros referenciais, como quer fazer virar a espontaneidade das interações sociais e familiares uma farsa controlada. E depois acusa os professores de fazerem arremedos de situações de letramento (no vídeo Letramento, o vilão da alfabetização”)...

Que tal considerar os estudos de Émile Gombert, também da perspectiva cognitiva da leitura, que articula as atividades epilinguísticas e metalinguísticas? Essa articulação que ele enfatiza mais recentemente em suas argumentações fornece inúmeras possibilidades para pensarmos em explorações epilinguística significativas das sonoridades, explorações essas que chamam a atenção à dimensão sonora da língua e, que podem, depois, serem provocadas no nível metalinguístico, inclusive no nível do fonema, numa continuidade muito mais interessante do que “soprar vela” para fazer o som de um F que nem se sabe o que é... Vou de Claudemir Belintane aqui, para argumentar que só brincar com os textos da cultura tradicional, que exploram as sonoridades da língua, tornam essa língua “altamente alfabetizável” pelas segmentações que provocam em sua enunciação: “Co-rre co-ti-a na-ca-as-da-ti-a...co-rre-ci-pó na-ca-as-da-vó...”. Com os trava-línguas, até mesmo os fonemas ganham destaque em sua aliteração, em situações orais e epilinguísticas. Ver no texto escrito as letras que provocam essa trava na língua para pronunciar o texto, traz a reflexão para o nível metalinguístico – e olha que maravilha! Sem artificializar a língua, muito pelo contrário. Sobre essa discussão, indico meus artigos sobre textos poético-musicais em que discuto sobre situações orais de exploração epilinguística no contexto da cultura lúdica infantil, aqui, aqui, aqui e, em breve, num outro artigo sobre textos da tradição oral na alfabetização, no prelo. Um outro artigo, só sobre trava-línguas e a consciência fonêmica e grafofonêmica está no forno...por ora, apenas no prelo do desejo!

Bom, adiante, Nadalim simplifica ao extremo as explicações linguísticas para orientar os pais a não apresentarem os sons das letras pela ordem alfabética. O que ele quer dizer aí (mas diz muito mal amanhadamente) é que há fones consonantais mais fáceis de serem observados e pronunciados isoladamente das vogais (e sustentados pelas crianças, ele diz) do que outros, e diz que é por esses que os pais (!!!) devem iniciar. Entendo que fonologia, para esse público, não é possível explicar sem simplificações, mas aí já é informação incorreta. Não se trata de as crianças conseguirem ou não “sustentar por mais tempo” esses sons. São os fones (sons) que são mais ou menos pronunciáveis, a depender de seu modo de articulação. Os fricativos são mais “esticáveis” e, portanto, mais pronunciáveis isolados da vogal: /ffffffff/, /vvvvvvvv/, /xxxxxxx/, /jjjjjjjjjj/, /ssssss/, /zzzzzz/. Já os oclusivos, não: /p/, /t/, /b/, /d/, /k/, /g/. Sim, é mais fácil as crianças observarem os fones fricativos e vibrantes (/R/ e /r/) do que os oclusivos, mas a explicação, ou melhor, a simplificação, é incorreta, inadequada e desloca a questão para um elemento que não é bem o que está em jogo.

Depois disso, ele dá a tabela com a ordem de facilidade de pronúncia dos fones, sem discutir porque as vogais são mais fáceis. Ora, são mais fáceis porque são fones que soam isoladamente – e é por isso que são núcleo das sílabas, enquanto os fones consonantais “soam com”, por isso “consoantes”. Tampouco aborda que não é necessário mapear TODOS os fones (sons) para a criança se apropriar do princípio alfabético. E isso seria importante? Claro! Os pais massacrariam menos as crianças, nem precisariam chegar nos oclusivos, porque é o fim da picada ficar pronunciando o impronunciável! O desserviço de fazer parecer que a escrita é espelho da fala é incomensurável... Já repetidos em um trava-língua, até os oclusivos são observáveis: “Quando digo Digo, digo Digo, não digo Diogo...”

Além de não ser necessário isolar fonemas, muito menos previamente à escrita, nem mapear todos eles, pois as crianças entendem o princípio alfabético antes de chegar a todas as correspondência (segundo SNOW e JUEL, 2013, também pesquisadores da ciência cognitiva da leitura), tampouco é necessário treinar a segmentação fonêmica de palavras. Artur Gomes de Morais argumenta que a consciência fonêmica é muito mais do que apenas a capacidade de segmentar fonemas de uma palavra ou pronunciar os fones isolados das letras. O que esse autor, bem como Magda Soares, dentre outros nos quais me incluo, defendem, é que a consciência fonêmica pode ser desenvolvida em presença da escrita, como consciência grafofonêmica, de forma não artificial. Isso inclui a reflexão sobre palavras, seus sons iniciais e finais, a comparação de palavras iniciadas pelo mesmo fonema, ou de palavras semelhantes, que se diferenciam em apenas um fonema. Há pesquisas que mostram que observar a invariância dos fonemas, ou seja, observar a identidade dos fonemas em palavras diferentes, e ensinar a segmentação fonêmica de palavras não garantem a transferência de conhecimento em termos de consciência fonêmica e da apropriação do princípio alfabético (BYRNE, 1995), e só combinando-as com a correspondência entre letras e "sons" é que surtem algum efeito positivo. Só que a situação de reflexão sobre a invariância e distintividade do fonema são infinitamente menos artificiais do que segmentar ou isolar fonemas, como discuto nesse post (Ver nota 2)

No caso da aproximação das crianças menores com as sonoridades em geral, mais globais, como a rimas, as sílabas, e com as unidades fonológicas abstratas que estruturam o sistema, os fonemas – isso pode ser feito de uma forma mais lúdica, como em jogos e pelos textos poético-musicais, como os trava-línguas, em atividades epilinguísticas e sem criar situações artificiais de consciência fonêmica – e no Ensino Fundamental, “puxadas” para as atividades metalinguísticas no nível do fonema. Pesquisa não é prática pedagógica – na prática, há a Pedagogia! Outros fatores precisam ser considerados, e o ensino da língua em contextos significativos, letrados, lúdicos, reflexivos é um valor! Não à toa andamos muito preocupados com o que vai se tornar a Educação Infantil com essa tal “pré-alfabetização” que o Nadalim propõe, baseada nesses tantos equívocos e visão estreita da própria concepção de alfabetização que ele defende.

Diferente disso que eu argumento, o que se segue no E-book são orientações para trabalhar esses “sons” através de uma série de situações artificiais e descontextualizadas – que Nadalim chama de “dramatizações”. Orientações essas  que, na forma, se apresentam como mágica. Quer ver? Veja: “Peça que a criança coloque uma folha sobre a mão e assopre até que a folha voe, ou que apague uma vela soprando. Ela produzirá o som: f-f-f-f. Assim a criança aprenderá o valor fonológico da letra f”. Oi? Que afirmação mágica e irresponsável! Primeiro, emitir um som (fffff) não resulta, necessariamente em aprender algo. E uma só vez assim, resulta na verdade em NADA. E também não aprendeu aí o valor fonológico da letra F, porque não tem letra F na situação descrita... A afirmação é totalmente descabida de lógica, em um enunciado que chega a ser ingênuo, quase pensamento mágico mesmo. E quando diz “aprenderá o valor sonoro da letra f” ele mesmo se contradiz, já que era “sem letra” (é som sem letra, lembram?), e a menção à letra e a própria letra surgem aí não sei de onde... Ele o diz, mas não diz como faz. Percebe? Assim, esse aprendizado do valor fonológico das letras fica completamente vago, mágico. Mas isso deve ser porque, sendo a escrita um código (para ele), deve bastar dizer: “Viu filho, esse fffff é o som da letra F”. Pronto, aprendeu! Simples assim. Tão simples que até se dispensa de dizer claramente no seu Guia.

Depois de retomar a última orientação, que é “Comece pelos sons mais simples e passe aos mais complexos, sempre por meio de brincadeiras e dramatizações”, sugerindo mapear todos os sons, ele emenda: “Quando o seu filho tiver dominado o princípio alfabético, estabelecendo a correlação entre grafemas e fonemas, sinais gráficos e valores fonológicos, letras e sons, será capaz de ler palavras simples, como a palavra ‘uva’”. Proooonto! Mágica, que ele não diz como acontece essa apropriação do princípio alfabético – mas é isso, a chave do funcionamento do sistema é só um monte de informação técnica. Depois de 26 zoadas soltas no ar, eis o menino alfabetizado! #sqn. Será que o exemplo com  “uva” foi um ato falho que retoma o “Ivo viu a uva”? é um clin d’oeil, né? Se não foi, fica sendo, na minha visão da sua argumentação...

Se a escrita fosse esse código tão simplório, não teria tanta celeuma em torno da alfabetização, né? Mas...pelo que vem depois, é simples assim mesmo, mas é um segredo que a escola guarda a 7 chaves!!!

Gente, e isso tudo aí ele sugere para a Educação Infantil, a partir de 3 anos, viu? É uma etapa da “pré-alfabetização”! Socorro!

Ele termina essa parte (página 18!) com uma revelação que é de rir, para não chorar! Eis a pérola: “Por fim, quero agora contar-lhe um segredo, que as escolas costumam cobrar caro para revelar. Antes de ensinar às crianças o princípio alfabético, é necessário conduzi-las por 5 etapas. É sobre esse assunto que passarei a tratar no próximo capítulo”.

Gente! Eu li isso mesmo? Seria hilário, não fosse trágico. Ele é o salvador da pátria da alfabetização, vai revelar um segredo de estado que as escolas guardam a 7 chaves – escondem para quê? Para não se tornarem dispensáveis? A insinuação deve ser essa, né? Oxe, mas se têm esse segredo mágico, porque é mesmo que não alfabetizam, como ele insiste em dizer? Para se autoboicotarem? E aliás, os próprios professores não sabem, segundo ele. É um segredo de estado dos donos das escolas ou dos gestores das escolas públicas, sabe-se lá para proteger o quê. Realmente, fica difícil imaginar porque as escolas guardam esse segredo e cobram (para quem?) por isso... Não faz o mínimo sentido, e é um enunciado valorativo, gratuito, sem nexo, sem lógica, sem substância, só para fazer fita. Enunciado-bombástico-fake-delírio. Enunciado-fita, enunciado-lacre! É de uma irresponsabilidade sem tamanho! Bom, mas ele, como o salvador dos filhos dos brasileiros, vai revelar para os pais esse segredo...Estou tão curiosa!!!

E o texto que se segue – que ele chama  de “o caminho das pedras” e constitui o segredo das escolas malvadas – apresenta as tais 5 etapas. Vamos a elas! Ainda temos estômago?
No próximo post, falarei das 5 etapas. Inté já!
Postado aqui.
Notas 
1.Atenção à tradução do original do livro em francês, em que conhecimento/connaissance é feminino, ou do artigo referido, em inglês, sendo os termos para “conhecimento” em geral, também femininos. Em português, não, “conhecimento” é masculino, havendo aí, me parece, um problema de concordância.
2.Convém lembrar que essas pesquisas não levam em conta como as crianças estão pensando sobre a escrita alfabética e, portanto, seus resultados mostram apenas a relação entre o que se ensinou e o que ficou e foi passível de transferência e generalização.

LETRAMENTO, O VILÃO DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL? – Post 5


Post 5 – Fechando e algumas considerações sobre o construtivismo, a didática  construtivista; a linguagem viva e as abordagens dialógicas e discursivas; leitura e escrita como interação, produção de sentidos, de discursos; os diálogos em um campo de conflitos e a prática pedagógica.


EM BREVE 

quinta-feira, 9 de maio de 2019

LETRAMENTO, VILÃO DA ALFABETIZAÇÃO? - POST 4, Parte 3


4.3. Políticas de formação de professores e homeschooling


Diante dos conflitos e disputas no campo da alfabetização, é claro que muito ainda precisa, de fato chegar às escolas. Na dinâmica entre tematizações, normatizações e concretizações da qual fala Mortatti (2000), a apropriação, pelas práticas, das teorias, e mesmo das políticas, não é algo direto e imediato. Assim, podemos relativizar muito a suposta responsabilidade do “construtivismo” e do “letramento” pela situação atual da alfabetização, já que, em grande medida, muito dessas perspectivas nem chegaram de fato às escolas, como indicam muitas pesquisas. Ressonâncias do PNAIC tampouco são ainda sentidas amplamente, embora, onde o programa teve força, resultados positivos são constatados, no sentido da ampliação das possibilidades de uma abordagem mais produtiva de articulação entre as dimensões sociocultural, interativa e linguística da apropriação da linguagem escrita. Precisamos prestar atenção a tais indicativos, sem deixar, no entanto, de considerar que ainda há muito, sim, a avançar em todas essas dimensões – não apenas na faceta linguística, mas também na interativa (que podemos, dizer, talvez, corresponde, em muito ao tal conceito de literacia defendido por José Morais, pois remete ao letramento na dimensão das habilidades individuais), e na sociocultural. Há abordagens do letramento que, didatizadas inadequadamente, focam aspectos estruturais deixando de lado ou minimizando as funções sociais e discursivas dos diversos gêneros textuais;  há, ainda, pouco investimento, de fato, na compreensão leitora, e muito menos nos procedimentos de produção textual; há pouquíssima ressonância de uma perspectiva discursiva, tal qual defendida por Smolka, Goulart, e mesmo da perspectiva de Geraldi e Mortatti. Sim, há muito ainda a avançar na instância das práticas...
É fato também que a formação inicial de professores precisa, sim, considerar mais os conhecimentos didáticos e uma perspectiva explícita de abordagem dos aspectos notacionais e fonológicos da escrita, no contexto mais amplo das práticas de leitura e escrita. É preciso, sim, fazer esse debate. Muitas vezes o foco dos cursos de formação inicial é nos fundamentos conceituais, epistemológicos, e numa abordagem mais psicológica ou social da alfabetização – também necessárias – mas pouco foco na didática da alfabetização e no seu aspecto linguístico. Ainda há mesmo pouco conhecimento do papel da dimensão fonológica na alfabetização e, muito menos, de metodologias para abordá-la de forma não mecânica, em contextos reflexivos e letrados, em como alfabetizar letrando, de fato, de forma indissociável. Muito pouco! Menos ainda em como alfabetizar no âmbito de práticas discursivas referenciadas em uma perspectiva de linguagem viva e dinâmica. Mas reconhecer essas lacunas não implica em desdenhar – como Nadalim faz – a formação docente. Se a formação precisa de melhorias, vamos investir nisso, não explodi-la! Não implica tampouco em propalar e assumir um método fônico, sintético, como alternativa única, muito menos essa vertente carregada de sectarismos. A abordagem do funcionamento alfabético – como já discuti em posts anteriores – não é exclusividade do método fônico. Ponto! E a alfabetização, em um sentido amplo, não se reduz a isso.
Trago essa discussão porque Nadalim, falando de formação de professores, critica essa formação nas instituições superiores não pelo fato de carecer de uma abordagem mais contundente de conhecimentos didáticos e linguísticos – o que eu concordaria, como Magda também concorda, como o vídeo mostra. E claro, muito menos por carecer de uma visão sociocultural e discursiva mais potente – essa parte é, justamente, a que eles querem banir do ensino. Ele critica essa formação por trabalharem com autores como Paulo Freire, Vygotsky, Magda Soares, Emília Ferreiro!!!!!!!!! É risível, não fosse trágico. E pior, como já discutido inúmera vezes aqui – e fica patente no vídeo – ele elege Magda Soares, em especial, para ser seu “saco de pancadas”, bode expiatório para todas as suas insatisfações, vomitando críticas, ironias e arrogância, exaustivamente repetidas, num total desrespeito a uma autora consagrada no campo da alfabetização, com uma obra reconhecida mesmo por pesquisadores de concepções diferentes da dela. E mias, concentra-se nela todas as críticas, atiradas para todos os lados. Uma coisa feia, muito feia. Deselegante ao extremo para um discurso que se diz científico.
Nadalim cola, de forma fraudulenta, uma fala de Magda sobre Paulo Freire numa fala do próprio Freire referindo-se a Marx, com intenções explícitas de desqualificar a autora, num falseamento quase criminoso, numa retórica para beneficiar suas assertivas agressivas e mal-amanhadas. Não fosse a agressividade e o mau caratismo, se assemelharia a uma birrinha de Playgroud. Tão satisfeito se mostra ao fazer esse “achado” com essa “colagem”. Quanto desrespeito! Deve precisar apelar mesmo para tentar desbancar autores da qualidade de Paulo Freire – já bastante atacado nesse governo – e Magda Soares, diante de pais leigos e professores desavisados ou embrutecidos, que podem mesmo acreditar que ele tem bagagem para isso! Não tem! Olha, e a falta de conhecimento dele salvou Bakhtin, importantíssimo autor no campo da linguagem e base da concepção dialógica e discursiva de linguagem como interação social. Imagina se ele não iria colocar Bakhtin no mesmo saco! Claro que sim! Talvez até esquecesse um pouco de Freire!
Sobre a formação de professores, ele fecha textualmente seguinte forma pretensiosa:
E a conclusão é uma só: a maioria de nossos pedagogos e profissionais da área da educação é formada para construir edifícios sem fundação sólida. Há tanta preocupação em fomentar a socialização e em promover uma visão crítica na criança, que resta pouco tempo e pouco investimento para ensinar o básico, o fundamental”.  (grifos meu)
Só uma criatura como essa para fazer, num período com três orações, três aberrações:
1) Quem ele acha que é para ser portador da verdade última sobre o que é fundamental e sobre o que os professores estão fazendo, de fato? Esse “e a conclusão é uma só” me diz mais dele mesmo do que do tema que ele comenta. Quanta arrogância! O campo da alfabetização, das definições quanto ao que, como, por que e para que ensinamos quando ensinamos a ler e escrever é um campo de divergências, conflitos, confrontos, diálogos e complementaridades, seja no âmbito teórico, político ou didático. Bem vindo ao time, querido! Você não é portador de uma verdade! Está faltando humildade para se reconhecer como defensor de uma concepção de alfabetização e não como o arauto da verdade última, única solução legítima para os problemas da alfabetização no Brasil. Falta a ele, como a outros de outras perspectivas também (inclusive construtivistas), saber-se concepção e não colocar-se, arrogantemente, como o portador da verdade única, última e definitiva. Além disso, o que você sabe sobre como os profissionais da educação estão sendo formados e o que os professores estão fazendo? Pesquisou? Fez pesquisa pelos cursos nas Universidades? Nas escolas? Não, né?
2) Diante dos argumentos sobre o campo complexo das concepções de alfabetização, só podemos concluir que diferentes perspectivas contam com diferentes fundações sólidas! Quem é você para decidir o que é fundação sólida?
3) Quem decide sobre o que é básico e fundamental? Você? Quem arbitra sobre o lugar da educação em formar a visão crítica e promover a socialização? Você? Os seus? Vá estudar, meu senhor! Você não é da educação e quer arbitrar sobre o que é educação?
Olha, eu jurei para mim mesma que não entraria nessa baixaria de puxar certos argumentos para combater esses descalabros, mas diante da situação, dos estratagemas tão sórdidos, não me contive. Vão ver o Lattes do cara! Vão ver o único artigo que ele tem, falsamente, publicado, vão ver sua “produção acadêmica”...e julguem vocês mesmos se ele tem condições de se colocar nesse lugar de tais “conclusões definitivas”. E por essa minha indignação, faço um parêntese, em outra cor:
Como um cara, formado em direito, com especialização em filosofia e mestrado em educação, que apresenta em seu Lattes uma única produção “científica” (uma só em qualquer área!), em revista sem  qualificação no mundo acadêmico, se acha em condição de questionar todo um campo de discussões complexas que ele não alcança, desrespeitar autoras e autor importantes do campo? É uma revista de faculdade particular, UNIFil – onde ele leciona ou lecionou (o Lattes dele é sem nenhuma confiança), que não consta na plataforma Sucupira avaliada em nenhuma área entre 2013 e 2016 (na área de educação foi qualificada como C no triênio 2010-2012, mas sem classificação em 2013-2016, e antes de 2010, quando ele "publicou", não era qualificada). É uma publicação sem reconhecimento acadêmico. Mas não para por aí... Até essa publicação chinfrim pode também ser farsa, pois não há referências suficientes para identificá-la. O número da revista que ele indica na referência do artigo NÃO traz o seu artigo, traz outros. No Google, o título do artigo aparece APENAS no Escavador/Lattes do próprio Nadalim. Suspeito, não? Muito suspeito. Mas o artigo existe, está disponível na internet...Só que não na revista indicada, não em revista nenhuma...Seria fake o aceite da revista?  Ele submeteu e ele mesmo considerou aceito? Aliás, o aceite indicado no artigo em relação à data de submissão é recorde! Como editora de revista séria, questiono essa rapidez. Alguma obscuridade há...ou muitas. No site das revistas da UNIFil consta como regra editorial a apreciação por parte do Conselho Editorial e dos pareceres emitido por “Consultores”. Pelo visto não há avaliação por pares, às cegas, como uma publicação científica qualificada. Tudo muito estranho e suspeito...Mas, no fim, o  pior é que o artigo nem consta no número indicado da revista. Não é um sinal de fraude? Não será a primeira nesse governo. A estratégia apareceu até mesmo no Lattes de ministros! 
Passando os olhos no artigo, a sensação é que é fraudulento do início ao fim...uma sucessão de clichês que aspiram a ter ares de filosofia, com uma linguagem rasa. Tem mais cara de aluno formado no curso online de Filosofia de Olavo de Carvalho – que “completou” sua formação filosófica – do que aluno de uma Universidade. Vergonha alheia. Como pode um cara desses, sem nenhum reconhecimento acadêmico em nenhuma área, inclusive educação, querer ter razão, querer dizer o que é prioridade em educação, querer desbancar autores como Magda Soares, Emilia Ferreiro, Paulo Freire, sem nenhum conhecimento sólido sobre nada? Tudo o que ele diz é de segunda mão. Nem a perspectiva que ele abraça, ele, de fato, conhece. Não vou perder meu tempo lendo sua dissertação de mestrado em educação (!!!), tampouco sou qualificada para avaliar pertinência conceitual e argumentativa nos campos da filosofia e do cinema (sou exigente comigo, diferente de alguns que se acham), mas já passei o olho na introdução e vi: eivada de juízos de valor; comprometida com a ideologia que defende com unhas e dentes, sobre a escola;  indicações de desqualificação do professor. Não duvido ser tudo uma aberração, afinal, o cara, típico “olavete”, atira para todo lado: direito, educação, alfabetização, filosofia, cinema, arte, música... E se ele não tem o brilho de quem até pode e sabe fazer tudo isso com maestria, bem capaz de ser fraude em tudo, tão ruim quanto é em educação e alfabetização, campos dos quais posso falar. E aí, já viu o que achamos, futucando seus argumentos, não é? Ao menos nos ajuda a desfazer mais ainda a farsa dos argumentos baseados em estratagemas fraudulentos e as premissas equivocadas. 
Mas voltemos aos argumentos do vídeo...e o papo agora é a questão da homeschooling (educação domiciliar), ligada, em seu próprio discurso, à questão da formação de professores.
Diante dos inúmeros problemas que contribuem para as questões de educação e de alfabetização no Brasil, inclusive da formação docente, mas igualmente de valorização profissional, temos que lutar para melhorar a situação (ainda mais ele, no lugar que agora ocupa no MEC), e não fazer disso justificativa para defender o homeschooling, ou supor que seja os pais que estão qualificados para alfabetizar, ainda que em complemento ao trabalho escolar. Mas essa é, sim, para ele, a solução, pois o que ele quer é dar substância a sua desqualificação da escola, do professor e da universidade que os forma, e justificar seu trabalho de youtuber e blogueiro que fala para pais e vende seus cursos. É isso que temos como indicado para uma secretaria do MEC. É de chorar! Não posso nem dizer: Espero que diante de seu cargo, ele veja que não pode seguir nessa linha de argumentação. Foi escolhido justo porque tem essa linha, não?
O problema de  Nadalim não é só a falta de base no campo da alfabetização, mas no campo da educação em geral e da formação docente. Ele propala em seus vídeos, a exemplo deste, que não é preciso ser especialista para ensinar, que a instrução é uma coisa prática, técnica – e afirma que isso (que esse segredo, né?), as instituições de formação de professores não dizem (sic!!!). Genteeee! Temos um segredo que não contamos pra ninguém, que se contássemos, resolveria o problema da alfabetização!!! Que coisa!!! Porque será, heim? Para ele (claro) qualquer pai bem conduzido (por ele, né?), pode aplicar a “instrução”. Nesse outro vídeo, ele defende, claramente que os pais devam ser responsáveis pela educação formal, associando as mazelas da educação escolar aos métodos adotados – e o único método eficaz é o fônico. E indaga: “Sabendo de tudo isso, você ainda quer confiar a alfabetização formal de seus filhos às escolas?”. E aí convida os pais para sua “jornada da alfabetização em casa”, no qual ele irá transmitir dicas simples para alfabetizar.
Com essas falas, palhaçada, ele nega a Pedagogia, nega o professor como profissional docente, nega a função distintiva da profissão docente – como pode um cara desses cuidar de políticas públicas para a educação? Quem quiser saber mais a quantas andam as discussões sobre a profissão docente e sua desvalorização crescente, sugiro a leitura desse artigo de Maria do Céu Roldão, que, dentre muitos outros autores e autoras, é especialista nessa temática.
Com Roldão (2017, p. 1148), eu digo que o que precisamos é ressignificar e afirmar a “profissionalidade” docente (que implica em valorização de diversas naturezas), esse agente que, além de sua função intransferível, é essencial “ao futuro de uma democracia real”. E com Cagliari (2007, p. 71) digo: “tudo na escola depende do professor!”. Agora, de um professor, com tamanha desvalorização social, que ainda por cima precisa “se virar nos 30” para dar conta de condições péssimas de exercício docente, vamos esperar o quê? E olha, muitos fazem, apesar de..., viu? Você está mal informado... Temos que melhorar muita coisa, sim. A formação precisa dar conta dos fundamentos e da didática (sim, precisa de fundamentos, viu? Educar não é aplicar receitinha...), os cursos de formação inicial precisam ser constantemente reformulados e, no caso da alfabetização, é fato que é preciso investir mais nos saberes sobre o objeto de conhecimento (o funcionamento alfabético do sistema, mas não apenas isso, tudo o mais que a escrita e a leitura demandam) e o conhecimento didático. Mas isso se faz não é explodindo as Universidades públicas, dando receitinhas em faculdades privadas, tornando a formação tecnicista, retirando as crianças das escolas e desvalorizando ainda mais os professores, já tão desvalorizados socialmente, transformando-os em meros aplicadores de receitas, de sistemas fechados, de materiais pré-fabricados nesse enorme mercado da educação. Precisar afirmar a profissão docente para um cara que está no MEC é inacreditável!
Já ele, tosco e contra o professor, a escola e a Pedagogia, termina essa argumentação sobre formação de professores, perguntando a seus interlocutores preferenciais: “E aí? Você quer confiar seus filhos a esses educadores? Ou prefere que eles tenham uma fundação sólida em sua educação?” E aí, claro vai se apresentar como portador da solução mágica, e olha a pretensão: ele tem o segredo da fundação sólida! Quem, em sã consciência, argumentaria que pais sem formação específica para a função docente estão mais qualificados do que professores, até mesmo mal formados? Só a parte interessada, não é? Caso dele. Ele tem o antídoto! Ele resolverá tudo! Siga e descubra o segredo! Que vá resolver a alfabetização de quem acha que a família é um comercial de margarina e a educação uma fábrica de robôs, mas para ser Secretário no MEC é um descalabro!
Mas claro, ele não podia fazer esse argumento sem antes atacar, novamente, Magda Soares, não é? Pois é...não cansou, não. Para defender sua perspectiva de convocação dos pais a alfabetizarem seus filhos, novamente traz a autora para confrontá-la quanto à afirmação de que essa tarefa não cabe aos pais. E ela diz isso, evidentemente, porque não concebe o ensino como um passo a passo instrumental que qualquer um poderia seguir, como ele concebe. Porque não concebe a notação da língua como um código de transcrição da língua falada, porque não desqualifica os professores. Porque reconhece a especificidade da função docente. Porque valoriza a escola e seu papel, apesar de suas mazelas, contradições e ajustes necessários. Mas esse cenário complexo não cabe nos binarismos desses “cabeça de planilha” mercantilizados. Ele, malandramente, aponta a suposta contradição da autora ao ela assumir, por um lado, as falhas na formação docente e sua defesa, por outro, do ensino como responsabilidade da escola – ele quase se regozija com seu “feito”, como se tivesse pego a adversária com “calças curtas”. Claro, para quem só funciona na base do binarismo, qualquer complexidade é contradição; para uma “cabeça de planilha’, argumento é 0 ou 1. Mas o argumento dela não se constrói, como o dele, na lógica do se “a escola não está cumprindo o seu papel, elimina a escola. Os professores são mal formados? Elimina os professores.” Como ele mesmo iniciou o vídeo dizendo, a questão da alfabetização é complexa e os problemas são inúmeros, mas até aqui, Nadalim, seu problema, ao que parece, é Magda Soares.  Está muito “bandeiroso” isso, viu? Mas minha hipótese sobre essa fixação em Magda Soares, isso eu não falo!
E para dar ares científicos a esse argumento da formação precária dos professores (que, no fim, é o que embasa seu canal no youtube), ele recorre, novamente e de forma bem forçada, a José Morais – alegando seu reconhecimento internacional – para rebater Magda (como se fosse só ela...como se ela fosse a representante desse argumento) e justificar sua perspectiva dos pais alfabetizarem seus filhos em casa (sempre essa babaquice de achar que trazendo a voz autorizada, a tutela estrangeira, vai fazer suas baboseiras parecerem científicas). Novamente, ele traz um trecho descontextualizado, e novamente, enfatizando apenas o que ele quer destacar – e, nesse caso, ele quer destacar a frase final do parágrafo:

Ele deve ter achado que o “pais adequadamente informados e instruídos” coube certinho para ele, foi escrito para ele! Tanto que repetiu isso com gozo.
Sim, a família é uma agência de letramento importantíssima, porta de entrada riquíssima para a cultura escrita, quando se trata de famílias letradas (e atenção aí...nem todas o são...e dependem da escola para ampliar suas oportunidades de convívio com as práticas letradas). Os pais contribuem para a inserção das crianças na cultura escrita, no contexto letrado, no convívio com gêneros de textos nas situações comunicativas do dia a dia, programas culturais, lendo histórias... E tudo isso relaciona-se ao letramento (preste atenção!) das crianças no contexto familiar. Mas contribuem por oportunizar o convívio com práticas de leitura e escrita que são comuns nas famílias, não por esses pais se colocarem no lugar de ensinar deliberadamente, como professores, conteúdos escolares, mas só por serem (quando são)  uma família letrada. Ângela Kleiman (1985) diz que a família é a agência de letramento mais poderosa justamente por oportunizar essas práticas discursivas em situações reais de interação social, e não em práticas escolares, didatizadas, por vezes, inclusive, mais artificiais (o que a perspectiva discursiva e a do letramento defendem que sejam o mais próximas possíveis das interações reais). E ele quer artificializar as interações familiares! Tutelar as práticas familiares...escolarizar as interações familiares...
É evidente que os pais contribuem também com aprendizagens linguísticas, como, por exemplo, dos sinais gráficos da escrita, seus nomes, porque letras circulam, nas casas, em  livros, nos bilhetes, listas, receitas, manuscritos diversos, e são, frequentemente “recortadas” como objeto de atenção das crianças em seus eventos de letramento, nas práticas cotidianas em que as letras circulam. Também aparecem para as crianças marcando coisas, e são disponibilizadas em jogos, imãs de geladeira, alfabetos móveis. A curiosidade pelas letras, palavras, e os aprendizados linguísticos, também circulam nas casas das crianças, são conhecimentos sociais, convencionais, que envolvem práticas socioculturais, também vividas na família. Uma coisa é isso, outra é os pais serem professores dos filhos, sem conhecimentos didáticos para tal.  
Ou seja, sim, os pais podem, se têm condições, contribuir muito (e se não têm, maior a responsabilidade da escola!). Mas daí a minimizar a escola...é bem diferente. Há, claramente, nessa defesa do ensino domiciliar por parte dele (seja paralelo à escola ou substitutivo), um desconhecimento da educação pública e nenhum compromisso com as crianças e famílias das classes menos favorecidas, com poucas oportunidades de convívio com práticas letradas... Como é que, justamente para essas crianças, o método fônico bem mecânico seria a solução? Como, se antes da faca e do queijo, das ferramentas, precisam da fome? A fome de saber, a fome de querer saber, a fome de querer participar da cultura escrita... Adélia Prado é quem diz: “Não quero faca nem queijo; quero é fome”, queremos a faca, queremos o queijo, queremos a escrita, queremos a chave para ler e escrever com autonomia, mas a fome é que nos move a querer todo o resto. Querem dar a faca para as crianças...sem nem saber para quê... É perverso, muito perverso, defender que o que vai resolver a leitura e escrita competentes de crianças de famílias pouco letradas é aprender, primeiramente, as relações entre fonemas e grafemas, e que esse é o conhecimento fundamental e básico em suas vidas.

Homeschooling é matéria de debate, ok, os argumentos pro e contra são muitos, mas, nesse contexto, nesse governo, sabemos que essa discussão está firmada, essencialmente, em motivos políticos e religiosos. Nesse contexto, a preocupação de fundo é evitar a socialização, o convívio com a diferença, evitar a apropriação de cultura e o livre pensamento, além dos inúmeros interesses mercantis e privatistas (sim, já pensou nos inúmeros materiais didáticos para os pais usarem em casa?). Quiçá, também não se configura como instrumento de propaganda, pois quem vai controlar esse ensino domiciliar – pois, sim, terá controle, não ficará na mão dos pais, para fazer de qualquer jeito – será o governo federal, e não os Estados e municípios, como é no caso da educação escolar.

Nadalim destaca e enfatiza a tal frase de Morais: “desde que devidamente informados e instruídos” os pais podem sim ensinar a seus filhos, justo para emendar nessa ênfase a insinuação de que é esse o papel dele. Ele é que vai ensiná-los e instruí-los! Nos seus “guias práticos”: seu canal, seu blog, seu e-book, seus cursos, sua “Jornada da alfabetização em casa”, e livros que fez em parceria com outros. E mais, nem ocorre pensar para que pais ele está falando, não é? Que pais são esses que estão em condições de compreender os processos didáticos, ainda que simplificados ao extremo e instrumentalizados, como é o caso de seus vídeos e e-book? Que pais são esses que terão tempo de fazê-lo? Certamente ele não só fala para pais (e não para professores), como fala para “certos” pais... Não é para quem precisa trabalhar dois turnos e cuidar dos filhos no terceiro turno, não é para a mãe-professora que trabalha dando aulas na escola para compensar seu baixo salário, e que a noite e no final de semana ainda tem planejamentos e correções de trabalhos a fazer. Pais ideais, para crianças ideais, para um ensino “ideal”, para os privilegiados. Para pais que não se importam se seus filhos precisam de um espaço sem seu controle absoluto, pois defendem essa infância totalmente administrada pela família, em que a escola, lugar de diversidade, de trocas com outras crianças e com outros adultos, é vista com maus olhos. Como um cara desses vai cuidar da alfabetização das crianças do nosso país, e pior, das crianças de classes populares, da escola pública, que nem conhece?
Só no mundo onde o ensino de reduz a um passo a passo instrumental, o professor um mero aplicador desse passo a passo supostamente eficaz que qualquer um pode aplicar, e a língua reduzida a um código, os pais serão os alfabetizadores ideais (e olhe lá! Porque há outros aspectos a considerar ainda). Só num mundo onde se desqualifica a escola, os professores, os formadores de professores e as instituições formadoras, bem como todos os especialistas que não se afinam a uma determinada concepção, pode-se achar que a solução para todos os problemas é o ensino domiciliar. Só num mundo onde as disputas de interesses editoriais e políticos são disfarçadas de divergências teóricas e didáticas, pode haver tanta animosidade com os autores de outras perspectivas e tanta  mediocridade discursiva disfarçada de novidade e panaceia para os males da alfabetização no nosso país.
O vídeo, claro, termina com o “conte comigo” para assumir a tarefa que a escola não estaria cumprindo, e “livrar” os filhos de seus interlocutores do analfabetismo funcional (de novo isso, e erroneamente compreendido, com certeza, pois esse conceito tem relação com a baixa habilidade de uso efetivo da escrita, dos textos, ou seja, falta de letramento). Convida, no final os professores que queiram também melhorar sua prática através de uma alfabetização eficaz – os que só ele pode salvar! Para fechar “com chave de ouro”,  bem próprio aos vaidosos, traz um post laudatório a “seu” “método” – aqui com bastante aspas, porque não é dele (é um requentado e mal fundamentado método fônico), e não chega nem a ser propriamente um método, mas um passo a passo bem genérico...e equivocado. Fecha com convites próprios a um youtuber, para os pais participarem da tal “jornada da alfabetização em casa”!
A posição desse senhor quantos aos professores e a sua formação, por si só, o desqualificaria para esse cargo no MEC. Se você não está convencido, veja o que ele diz, e como diz, sobre os pedagogos e professores nesse outro vídeo, a partir dos 10m45s mais ou menos, e o que conclui "diante disso". Isso é lá solução digna de um secretário do MEC? É de um youtuber que não tem lastro nenhum para fazer essa discussão. O blog dele, acessando os pais, diz ele, rompe "essa burocracia" estatal, para chegar diretamente na criança (!!!). Só em um MEC como esse, num governo como esse, em que a regra é o obscurantismo, a ignorância e o desrespeito reinam, um cara desses poderia ser indicado ao cargo de secretário da alfabetização. É vergonhoso. Mas, como estamos vendo, a questão não é com a alfabetização, está em todo o campo da educação, o problema está em TODAS as áreas da sociedade, o desmonte e obscurantismo é geral. 


Ressalto, aliás, que nesse vídeo indicado acima, ele diz que alfabetização e letramento é uma proposta nefasta, uma praga alastrada por "esse pessoal" socioconstrutivista (já também igualando construtivismo e socioconstrutivismo, letramento, tudo, como lhe é de praxe). Além de vilão, é praga nefasta...Praga que deve ser retirada dos currículos escolares. E Emilia Ferreiro - apesar de Paulo Freire ter sua culpa, diz ele - é a maior responsável por essa tragédia na alfabetização do país. Pelo visto, ele ainda não tinha sido apresentado a Magda Soares nessa época... Nota também para as perguntas enviesadas do entrevistador. 
É isso, gente...de início, era a análise de um só vídeo, mas gerou tantas reflexões...que puxam outros vídeos, outros textos, outras tantas reflexões...Como fiz algumas considerações críticas, que julgo importantes, à didática construtivista, na próxima postagem, vou esclarecer um pouco mais sobre o que penso, entre o reconhecimento e as ressalvas a essa perspectiva. Faz parte ainda, por isso, dessa série de posts referentes ao vídeo de Nadalim.
Enfim...já cansada de tudo isso...deixo-os com outro vídeo, dessa vez para rir. O Greg News falando do circo de horrores no MEC e, inclusive, desse senhor secretário da alfabetização.
Haja paciência, minha gente...vamos ver se o “pote da calma” dele dá certo? Ao menos isso devia dar, né?  Estamos precisando... Mas também não é invenção dele, viu, minha gente? É Maria Montessori.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

LETRAMENTO, O VILÃO DA ALFABETIZAÇÃO? POST 4, Parte 2

4.2. Ciência cognitiva, prática pedagógica, os cegos e o elefante

Parte 2 do POST 4, conforme o sumário
    ...e voltando aos aspectos linguísticos também (não me largam!)

Bom, mas após o desabafo acima (Parte 1 do POST 4), voltemos ao vídeo, no qual ele continua seu argumento dizendo que, por outro lado, falta a esses documentos do MEC, propostas baseadas em “evidências científicas” atualizadas e comprovadas... Vou fazer uma postagem só sobre esse negócio de “evidências” adiante. Por ora, comento que, com essa afirmação, novamente ele demonstra desconhecer a obra da professora Magda Soares, a perspectiva de vários pesquisadores e centros de pesquisa no campo da alfabetização, como o Ceale e do CEEL, que consideram sim estudos advindos da psicologia cognitiva da leitura (ou ciência da leitura) em suas propostas, que vêm abordando há tempos questões como consciência fonológica e fonêmica, bem como sistematizando estratégias didáticas para abordar esses aspectos, e insistindo, justamente, na importância do componente fonológico e fônico na alfabetização. Mas, não, ele só contrapõe sua perspectiva a uma didática que, supostamente, negligencia esses aspectos, borrando as fronteiras entre diferentes perspectivas que ele ataca como uma só e achatando a complexidade do campo – como já discutido em outros posts dessa série. Não são todas as concepções/didáticas de alfabetização hoje que defendem aprender sobre o funcionamento e as regras do sistema de escrita de modo mais natural, incidental e implícito. Diversos autores/pesquisadores no país estão defendendo a abordagem da dimensão sonora da língua e o ensino explícito do sistema. Só que essas perspectivas não defendem a abordagem fônica como única preocupação na alfabetização, nem a faceta linguística como a única a ser abordada, e abordar o sistema de um modo transmissivo, como código, passando por cima dos processos de aprendizagem das crianças.

Magda – a mais atacada de todas – embora já aborde isso há tempos, sistematizou essa abordagem da faceta linguística, mas nessa perspectiva mais conciliadora, no seu livro “Alfabetização: a questão dos métodos”, de 2016, que Nadalim, por suas crítica, demonstra claramente que não leu, e despreza, porque não interessa o diálogo, não interessa perspectivas que não reduzam a língua a um código, não interessa se não for 100% como ele acha que deveria ser, só importa a imposição de uma perspectiva única, só importa de o foco for só na fônica, e só se for nessa visão dele, porque se for silábico, também não serve (falaremos sobre isso quando da análise do E-book). A discordância verdadeira entre os defensores dos métodos fônicos e os que não o defendem é quanto a COMO ensinar o princípio alfabético. Querer fazer parecer que a discordância é entre tomar isso como um objeto importante ou não de ensino é desonestidade intelectual! Fazer parecer que fora os defensores do método fônico, todos os outros defendem alfabetizar pela leitura de palavras globalmente como figuras, por reconhecimento da forma visual, aí já é mau-caratismo mesmo. E ele faz isso no vídeo inteirinho, querendo fazer parecer que é isso que Magda defende: o não ensino ou o ensino incidental e implícito do funcionamento alfabético.

Ele demonstra também desconhecer que o PNAIC trouxe essa visão conciliadora, preocupada com o letramento, mas com foco também na dimensão fonológica e do ensino explícito do funcionamento alfabético da língua escrita. Mas, referindo-se à BNCC lembra do que ele falou? Que a Base faz algumas “concessões” à abordagem fônica (sic!!!), porque só lhe interessa o pacote inteiro – método fônico sintético, bem mecânico, e banimento do letramento. Nem seus pares acham isso do PNAIC e da BNCC, ver aqui o que diz Renan Sargiani, coordenador-geral de Neurociência Cognitiva e Linguística do MEC, ligado à Secretaria da Alfabetização que, lógico, é um dos que têm que estar lá respondendo pela fundamentação da Política Nacional de Alfabetização (PNA) do governo, e “salvar” um pouco o nível da discussão desse obscurantismo de Nadalim. Ainda que eu não concorde com coisas que Sargiani defende,  ele tem base, fundamentos, e é um pouco mais ponderado quanto a essas polarizações, reconhecendo, inclusive, que a eficácia de um determinado método depende também de vários outros fatores. Sectarismo nunca ajudou ninguém nem nenhuma causa, de lado nenhum. O ensino da fônica (ensino da relação entre fonemas e grafemas) de forma sintética (ensino dos “sons” das letras e de como se juntam para formar as palavras), por exemplo, é um ponto de discordância, porque penso que ensinar sons isolados das letras artificializa a língua. A consciência fonêmica não implica, necessariamente, pronunciar isoladamente os fones, nem separar os fones em uma palavra, como Artur Gomes de Morais discute. Em situações de reflexão muito mais contextualizadas, tanto a invariância do fonema quanto sua natureza como unidade distintiva podem ser “observadas” metalinguisticamente pelas crianças. Como a que discuto nesse post, por exemplo. As operações de análise e síntese acontecem nesse processo de refletir sobre as sonoridades (silábicas, fônicas, etc) no contexto das palavras inteiras apenas. Não concordo também que, pelo fato de o sistema alfabético representar a fala no nível dos fonemas, para que se possa ler e escrever, deve-se PRIMEIRO conhecer o princípio alfabético, pois ao se enunciar isso, se deixa de fora todas as aproximações e entendimentos parciais que as crianças vão fazendo em suas tentativas de compreender o funcionamento da escrita. Além de se reduzir o ler e escrever apenas a decifrar e a grafar alfabeticamente. No momento certo, sim, é preciso sistematizar esse funcionamento pelo princípio alfabético, mas temo pelos pequenos, que serão treinados desde muito antes de poderem de fato dar conta disso, a associarem “sons” isolados a letras. É desse jeito que Nadalim entende essa assertiva de Sargiani, do campo cognitivo, percebe?

Como já venho defendendo não é de hoje, e como a própria Magda o faz (o que mostra que ele fez uma leitura superficial da autora), bem como outros autores, SIM, o referencial das ciências cognitivas da leitura contribui muito para pensarmos a alfabetização, em seus aspectos linguísticos e metalinguísticos, seja em relação à consciência fonológica, seja em relação a outras habilidades metalinguísticas, seja o conhecimento grafofonêmico (= fônica, que também a própria linguística aborda), seja em relação às rotas de leitura e ao processamento leitor e sua relação com a ortografia e a fluência da leitura, dentre outros aspectos. Temos sim que estabelecer os diálogos com a ciência cognitiva, considerar os resultados de pesquisas – e sem sectarismos políticos de ambos os lados. Mas colocar esse referencial como única ciência válida (e supostamente a única neutra), e seus resultados como suficientes para validar reducionismos nas metodologias para a alfabetização, é uma imposição que desconsidera a Pedagogia. Esse referencial de pesquisa precisa passar por interpretação pedagógica e ser ressignificado no âmbito de uma concepção outra de linguagem e de seu ensino, ou renunciaremos aos valores caros que, para nós, unem linguagem e educação, linguagem e sociedade, linguagem e sujeito, linguagem e vida. Há muitas pesquisas em várias áreas das ciências cognitivas que precisam ser consideradas, mas elas não podem se confundir com prática pedagógica, na qual é preciso dar conta de diversos aspectos. E não assim, reduzindo a língua escrita a um código, a um código neutro, esvaziado de sentido e, pior, associando o ensino a técnicas que qualquer um pode seguir. E ainda por cima, desqualificando a escola, os professores, os especialistas que não sejam aqueles alinhados a sua concepção. Constatar que as crianças aprendem os fones correspondentes às letras se treinadas a pronunciá-los e identificá-los isoladamente não se reverte diretamente e necessariamente em uma metodologia na qual as crianças vão ficar pronunciando /ffffffffffff/, /aaaaaaaaa/, para formar FA, numa repetição de práticas altamente mecânicas e descontextualizadas que foram questionadas no passado, e que tampouco resolveram os problemas de alfabetização. Nesse sentido, por que essa birra com a reflexão linguística no contexto de práticas de leitura e escrita? Ensino explícito e sistemático não precisa ser mecânico nem descontextualizado. Por que não valem as situações didáticas que, além de propor práticas sociais lúdicas e letradas, podem também ser contexto para a reflexão fonológica e fonêmica, e para o ensino do funcionamento alfabético? Por que ao lado disso, não pode haver também as situações de convívio e de reflexão sobre as funções da escrita e dos diversos gêneros? Vê que não faz sentido esse reducionismo, essa defesa impermeável quanto a propostas mais nuançadas – que ele chama de “concessões”? Por outro lado, ele lançou dois livros de cantigas, especialmente para serem contextos para a alfabetização...e tem vídeos indicando a leitura literárias para as crianças desde cedo. Vê a contradição? Vê que tem um componente birrento? Vê que tem uma indisposição para o diálogo? E lógico, como o que vem de lá é reducionismo e chumbo grosso, ninguém que está num lado mais conciliador nem do outro lado, se dispõe tampouco a dialogar, ouvir...E desse modo, tendo o referencial das ciências cognitivas chegado ao Brasil pela via desses defensores sectários do método fônico, polarizou-se o debate, fechou-se o diálogo. Perdemos todos. Perdem as crianças.

Agora, ninguém, e “evidência” nenhuma, vai me convencer que o caminho sintético e mecânico é o mais efetivo para alfabetizar as crianças, ainda mais aquelas de classes menos favorecidas, sem oportunidades mais amplas de experiências com a cultura escrita. Isso é um argumento altamente pernicioso... Estamos labutando aí com diferentes concepções de alfabetização – que para nós não é algo só técnico, é também sociopolítico, e não se separa do processo de letramento. Argumentar que o letramento e as orientações construtivistas servem para crianças de famílias letradas e que o método fônico é mais indicado para essas crianças que não têm tais oportunidades, justamente porque não têm, é negar-lhes, justamente, o direito de tê-las! Quando o letramento emergente, familiar, não dá conta, aí é justamente quando a escola precisa dar. Ou supõem que, para as classes desprestigiadas, basta uma leitura e escrita rasa? É isso, né? E depois, não é ideológico! Meu deus! E ainda invertem a questão – as crianças de famílias letradas são ensinadas a decifrar em casa, por isso se alfabetizam aparentemente pelos métodos “globais”, então, concluem que as crianças não letradas devem aprender a decifrar e a grafar ortograficamente na escola, e se letrar ONDE????? Ou julgam que uma vez alfabetizados, vão se tornar bons leitores e produtores de textos automaticamente? Me poupe, viu? Mas a questão aí é outra...De fato, trabalhar sistematicamente essa dimensão fônica nas situações contextualizadas de reflexão sobre palavras, não se presta bem à sistematicidade controlada e instrumentalizada que interessa para criar materiais didáticos com um passo a passo bem objetivo e restritivo. Custa mais, muito mais, formar bons professores, para, sabendo o trabalho que têm que fazer, possam fazê-lo em situações diversas de leitura, escrita e análise linguística na sala de aula. Mas custa muito menos um receituário asséptico do que bancar uma alfabetização rica, com mil trajetos possíveis, porque são diversas as experiências discursivas de cada turma.

Percebem também que tanto Nadalim, como esses caras todos, também abordam pouco a consciência fonológica mais global, de rimas, sílabas, por exemplo? Que poderiam ser tão ricamente exploradas a partir da cultura lúdica, de jogos, da tradição oral, da poesia e da música? Não, a ênfase é no fonema – e esse peso no fonema é, de fato, um ponto de discordância em relação ao que todos esses autores discutem, mas também a muitos outros da própria ciência cognitiva. Ainda que a unidade que estrutura o sistema seja o fonema, outras unidades de reflexão fonológica são importantes para chamar a atenção das crianças para a dimensão sonora da língua.

Ao colocar ênfase na habilidade de prestar atenção, de identificar e manipular, individualmente, os menores sons da fala, e concluir que são os fonemas, há aí um equívoco porque as menores unidades da emissão sonora são as sílabas, não os fonemas (abstratos). Ao reconhecerem que a dimensão do fonema não se aprende naturalmente, justamente por isso, concluem que, então, ensinar as relações das letras com os fonema precisa ser prévio a tudo, desde a Educação Infantil. Ou seja, joga-se fora todas as outras coisas... Concordo que não haja discussão quanto à necessidade de ter que aprender as relações entre fonemas e grafemas para se alfabetizar, mas sobre ao modo de fazê-lo! Justamente. E aí é que está a discordância verdadeira entre os defensores dos métodos fônicos e os que não o defendem.

A nossa resistência – no que me concerne – é a de reduzir as práticas alfabetizadoras ao que alguns achados de pesquisa experimentais apontam, pois eles focam apenas parte da questão...e silenciam sobre outras. Pesquisas indicam um monte de coisa, mas não dizem que essa ditadura do fonema vai resolver nada. Precisam ser consideradas, mas não são os únicos elementos que importa considerar. A alfabetização é um processo complexo, não pode se reduzir a isso. Evidências científicas precisam ser consideradas, mas muito cabe à Pedagogia, à pesquisa pedagógica e à prática concreta das situações singulares, para definir como conduzir o trabalho, que caminhos tomar, como ajudar cada turma e cada aluno em suas especificidades. Cada compo científico, cada concepção de alfabetização foca em determinadas facetas, mas a Pedagogia lida com todas elas!

Sabe a fábula hindu dos cegos e do elefante?

Vamos ouvir a história “Sete camundongos cegos”, de Ed Young, que uma das versões dessa fábula, para ilustrar meu ponto de vista.


Pois, percebem? Cada perspectiva vê uma parte da questão. A perspectiva construtivista nos interpela para lembrarmos do foco na aprendizagem, e não só no ensino, e a não descuidarmos de que as crianças pensam e  fazem hipóteses sobre os objetos de conhecimento, mesmo antes de dominá-los. A perspectiva sociointeracionista e discursiva nos lembram de que há uma dimensão muito mais ampla na apropriação da escrita do que o dimensão concreta da língua. A abordagem fônica foca nas relações entre fonemas e grafemas – necessária, claro – mas não apenas e não necessariamente de forma associacionista e com exclusividade de atenção ao fonema. A questão é o peso que cada uma coloca em que parte desse todo que é a linguagem.

Com isso, não estou querendo, de forma simplória, dizer se resolve tal complexidade fazendo uma mistureba de todas as abordagens que, muitas vezes, têm perspectivas epistemológicas muito diversas. Não podemos, no entanto, desconsiderar que as contribuições dos diversos campos ora se combinam para dar conta de um objeto de conhecimento multifacetado, ora se apresentam em disputa, havendo tendências e tensões. Assim, ainda que alertas quanto ao “ecletismo teórico-conceitual” e ao silenciamento das tensões no campo, que Mortatti (2015) denuncia, como a “tentativa de imposição de falso consenso, por meio da homogeneização de pluralidade de pontos de vista e posições teóricas e políticas, sabidamente em disputa”, me parece, por outro lado, que preciso atentar também, como afirma Belintane (2006), à necessidade de consensos mais amplos e diversificados, ao que completo, menos reducionistas e sectários. Diz ele que

Se um consenso científico é necessário para que os educadores e gestores possam contar com sugestões de programas e currículos em um esforço coletivo de enfrentar as complexas demandas brasileiras, é fundamental que ele se dê a partir de uma articulação mais ampla que considere o movimento dialético típico do conhecimento científico contemporâneo que, salvo raras exceções, cultua a interdisciplinaridade, respeita a heterogeneidade e a complexidade dos processos e das diversidades culturais (BELINTANE, 2006, p.273).

O que quero dizer é que, pensar a alfabetização, hoje, exige atenção a diferentes perspectivas, que são advindas, muitas vezes, de diversas áreas do conhecimento, diferentes campos de estudos, com suas contribuições específicas. Determinada perspectiva, qual seja, embora possa ser considerada fundamental ao campo, não dá conta de todas as facetas da apropriação da linguagem escrita, como discute Soares (2003), demandando que o campo pedagógico possa articular diferentes perspectivas de modo coerente e produtivo. O que quero dizer é que, na prática, o professor tem que fazer o todo, montar o elefante!

Mas quanto a Nadalim, digo ainda mais, ele parece também não ter lido (de verdade!) autores da própria ciência cognitiva da leitura, pois mesmo nesse campo, como já referi, ele comete vários equívocos – e voltaremos a esse argumento quando comentarmos sobre seu e-book com sua proposta metodológica para alfabetizar.

Mas vamos ainda à Parte 3 do POST 4, depois ao POST 5, último sobre esse vídeo infame.

Nota sobre a ciência da leitura: a Ciência Cognitiva da Leitura consiste em um conjunto de resultados envolvendo a leitura, advindos de pesquisas produzidas em áreas como a Psicologia Cognitiva, a Neurociência Cognitiva, dentre outras.